História O Vestido, o Baile e a Seleção - SuperLílian em Ação

É realmente intrigante a forma como as pessoas ainda conseguem me surpreender. Viktor, por exemplo, me surpreendeu naquela noite. Eu esperava o príncipe, uma das criadas, até Layla, mas não ele, e certamente não por aquele motivo. Mas, como melhor amiga, tudo o que eu pude fazer foi sentar na cadeira com minha melhor pose de terapeuta particular e começar a ouvir os dramas de um guarda. Como Thomas estava de prontidão em minha porta, não me preocupei tanto com sermos pegos. Aparentemente, ele e Viktor eram amigos e, como Viktor contara a ele que era gay e não havia riscos de traição ao príncipe, haviam combinado aquele encontro.

“Lily, eu estou para enfartar. Não sei mais o que fazer da minha vida neste castelo! E ainda tenho que aguentar seguir aquela desbocada da Layla o tempo todo!” ele despejou.

“Calminha aí, vamos por partes. O que a Layla tem a ver com sua saúde cardíaca? E como você pode não estar com ela agora?”

“Ela. É. Insuportável. Simples. Fica o tempo todo andando por aí, tem o acesso aos jardins permitido pelo príncipe na hora que quiser, vive sumindo do nada e me deixando louco atrás dela para depois surgir bem na minha frente apanhando uma flor ou desenhando algum jarro que encontra por aí... Eu estou ficando com cabelos brancos antes do tempo, não entendo por que me colocaram justo com a louca artista! Ah, ela está com o príncipe, por isso estou de folga. Mas durante a noite eu troco mesmo de posto com outro guarda, para poder dormir, claro, então já tive minha dose de Layla por hoje.”

Estranhei o relatado por meu amigo, mas não falei nada. Se ele não havia notado comportamentos suspeitos, eu não iria questionar sua avaliação. Mas que Layla era estranha, era! E todas aquelas autorizações dadas pelo príncipe fizeram com que eu sentisse certo ciúme. Porque eu não tinha autorizações também?

Balancei a cabeça para afastar aquele pensamento infantil.

“Além dos mais... tem o Dominic”, meu amigo continuou.

Opa! Um alerta começou a piscar em todas as cores dentro da minha mente e um sorrisinho se desenhou em meus lábios. Teria Viktor sido fisgado por um pescador esperto?

“Conte-me mais...” falei.

E Viktor contou. Bastante.

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Quinze minutos depois, eu já havia me autodeclarado madrinha de um casamento imaginário e Viktor estava hiperventilando no tapete do chão do meu quarto. Dominic era um guarda um ano mais velho que meu amigo e que havia sido selecionado para o castelo no ano passado. Ele havia orientado Viktor em seus primeiros dias no palácio e agora meu amigo estava caído de amores por ele; não parava de repetir como ele era forte, inteligente e como seu sorriso tímido escapava quando Viktor fazia alguma piada. Dominic já parecia ser conhecido por mim, depois de tantos detalhes dados por meu amigo. Eu sabia desde a cor do cabelo – castanho-claro, como seus olhos – à sua estatura – cerca de um metro e setenta e cinco, pouco mais alto que eu.

“Quando é que eu vou conhecê-lo?” indaguei.

“No baile! Seria meu sonho se realizando se eu pudesse dançar com ele...” Viktor falou com ar sonhador, depois ergueu as mãos para o teto. “Mas nããããão, vou ter que dançar com a chata da Layla!”

Ri, observando-o em seu drama particular.

“Mas e aí, por que você quer minha ajuda?” pergunto. Afinal, durante todo aquele tempo, tudo o que meu amigo havia feito fora despejar um relatório apaixonado sobre Dominic, que, aparentemente, ainda não sabia de nada sobre os sentimentos de Viktor.

“Beeeeem... na verdade, é bem simples. E o Thomasinho ali vai ter que nos ajudar também.” Thomas pôs a cabeça para dentro do quarto e revirou os olhos, depois voltou ao seu posto. “Deixa ele! Só está assim porque é o único que não se beneficia. Na verdade, ele e a Layla, mas para ela eu não estou nem aí. Agora vamos ao plano.”

Observei em silêncio enquanto meu amigo se sentava no tapete, fazendo um drama básico antes de começar a falar.

“É o seguinte: durante o baile eu pretendo... declarar-me para o Dom” Viktor falou a última parte tão baixo que eu tive que me esforçar para ouvir. “E para que eu consiga ficar a sós com o meu... digo, com ele, preciso que Layla esteja ocupada dançando ou conversando com outra pessoa, e é aí que você entra.”

“Quer que eu dance com ela?!”

“Calma, senhorita apressadinha! Ainda não terminei” Viktor diz com um indicador erguido. “Você terá que fazer o príncipe dançar com você.”

“Hein?!I”

“Eu sei, segundo as regras, ele deve escolher com quem dançar, mas, se você aparecer lá com vestes dignas de uma princesa, tão deslumbrante que ele não vai poder resistir a te chamar para dançar antes que outro guarda o faça, tenho certeza que nosso plano dará certo!”

“O que te faz pensar que só o fato de ele me achar arrumadinha vai fazer com que ele me chame para dançar?” indago ceticamente.

“A mídia! E você não vai estar arrumadinha, vai estar incrível! Querida, é uma questão de lógica simples: a garota mais atraente e bem vestida do baile vai chamar a atenção da mídia, e os fotógrafos vão enlouquecer ao redor dela. O que você acha? O príncipe vai deixar que um guarda qualquer saia nas fotos ao lado dessa garota? É claro que não! Tudo que você tem que fazer é ser essa garota!”

“Certo, mas onde Thomas entra?”

“Os guardas tem a autorização de trocar de pares entre si, ou mesmo de deixar sua selecionada vigiada dançando com outro guarda enquanto sai para usar o toalete ou coisa do tipo. Thomas vai ficar livre depois que você estiver com o príncipe, e eu vou entregar a Laylinha pra ele. Depois disso, corro para encontrar o Dom.”

“Tudo bem, já entendi. Agora me diz: o que você vai fazer quando encontrá-lo?”

Para a minha surpresa, Viktor ficou tão vermelho quanto um tomate e coçou a nuca sem jeito. A cena era simplesmente épica: Viktor Alceu, o rei da conquista, corando só de pensar em um homem! Eu não conseguia acreditar que estava viva para ver aquilo!

“Na verdade, Lily... essa parte eu ainda não planejei. Eu só... queria que você topasse antes para que eu pudesse... bem, você sabe!”

“Tudo bem, eu te ajudo! Mas vai ficar me devendo uma!”

Viktor deu um pulo e me abraçou, surpreendendo-me. Depois pôs as mãos em meus ombros e me encarou com um sorriso que mal cabia em seu rosto.

“Eu amo você, amorinha! Obrigado!”

De repente, Thomas surgiu na porta do quarto gesticulando freneticamente com uma mão.

“Ei!” sussurrou, “Alguém está vindo para este corredor, Viktor, você tem que sair daí agora!”