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História O Vestido, o Baile e a Seleção - A Carta


Escrita por: K_A_Costa

Capítulo 47 - A Carta


Fanfic / Fanfiction O Vestido, o Baile e a Seleção - A Carta

P.O.V. Lillian

Miriam acelerou pela estrada de terra enquanto eu olhava pelo vidro de trás. Antes que ela fizesse uma curva à direita, consegui ter um vislumbre de alguns rebeldes se aproximando da garagem enquanto Marid acenava ordens. Voltei a olhar para frente, as árvores que ladeavam a estrada passando por nós como borrões na escuridão.

“Vão nos seguir”, afirmei o óbvio.

“Não de carro. Layla atirou nos pneus deles.”

“Como você viu?”

“Retrovisores. Sei que ela acertou pelo menos um deles, mas depois de três tiros...”

“Ela foi atingida”, murmurei.

Miriam ficou em silêncio. O velocímetro beirando os oitenta quilômetros por hora não ousava baixar.

“Essa estrada termina numa bifurcação, segundo Layla. À esquerda, vamos em direção à fronteira com Fennley, à direita iremos em direção ao centro de Angeles. Chegar à fronteira levará metade do tempo que chegar ao palácio. Se houvesse algum posto policial, poderíamos pedir ajuda. Só não dá pra saber se haverá, porque não é uma rodovia.”

“E se formos em direção a Angeles, tem mais chances de nos seguirem”, completei.

“Por outro lado, há uma vila a alguns quilômetros nesta direção.”

“Quando tempo até lá?”

“De dez a quinze minutos, acho.”

“Abandonamos o carro em algum lugar e pedimos abrigo.”

Miriam acenou afirmativamente.

Seguimos pela estrada.

Quando chegamos à bifurcação, tomamos a entrada da direita, que era asfaltada. O velocímetro, então, começou a beirar os cem. Meu coração palpitava de medo e ansiedade. E se eles nos alcançassem? Confiei na vantagem que Layla nos dera ao prejudicar os carros. Um último sacrifício, pensei impulsivamente, então sacudi a cabeça para afastar a ideia. Layla tinha que estar viva. Marid não mataria sua própria namorada, filha de seu chefe. Forcei-me a olhar para a estrada e não pensar mais naquilo por enquanto. Os faróis cortavam a escuridão enquanto percorríamos a estrada, iluminando o asfalto da rodovia e dando um aspecto fantasmagórico aos arbustos que se projetavam na direção da pista.

Enfiei a mão dentro da roupa e tirei de lá o pacote que Layla me entregara antes da fuga. Cuidadosamente, desdobrei o papel madeira e enfiei a mão no envelope, puxando lá de dentro inúmeros outros, dobrados ao meio e fazendo volume. Cada um tinha uma identificação.

Controle dos gastos, funcionários, sedes, registros...

Dados sobre os rebeldes.

Passei por todos os envelopes até chegar ao último, que, assim como os outros, não estava lacrado. Na frente dele, havia simplesmente “Arthur”. Era a carta para ele à qual ela se referira mais cedo. Virei o envelope para ver seu verso, e nele estava escrito “Lillian, se quiser, pode ler – e eu sei que você quer”, o que me fez soltar uma risada curta. Amenizava minha culpa por estar sentindo um profundo desejo de saber o que ela queria dizer para Arthur. Não por ciúme ou por simples curiosidade: eu queria entender por que ela tinha feito o que fez – por que tinha nos salvado e traído os seus próprios companheiros.

Eu leria. Mas depois.

Voltei a colocar os envelopes em sua embalagem original e a enfiei novamente dentro da roupa. Caminhar com aquilo às vistas era perigoso demais. Quando voltei a olhar para a estrada, notei que, mais adiante, luzes se destacavam em meio à escuridão.

“A vila?”, perguntei para Miriam.

“Sim. Vamos parar um pouco antes, vou tentar esconder o carro.”

“Certo.”

Quando chegamos a cerca de quinhentos metros da vila, Miriam desacelerou e procurou um espaço entre as árvores que margeavam a estrada à esquerda. Passando por troncos quebrados e quase colidindo com um quando a mata se tornou mais fechada, conseguimos esconder o carro a poucos metros da pista. Rapidamente, descemos do veículo, desligando-o e atirando a chave para longe. Corremos pela vegetação rasteira por entre as árvores em direção à vila, temendo sermos vistas se fôssemos pela estrada. Quando as árvores se abriram de repente, encontramos uma casa.

Era simples, parecia velha e tinha um ar melancólico. A única luz acesa era a dos fundos, e, iluminado por ela e nos encarando com indisfarçada surpresa enquanto segurava uma panela nas mãos, estava um velho homem magricela. Por alguns segundos, tudo o que fizemos foi encararmos uns aos outros, estáticos, então ele começou a berrar do meio da escada que levava para a porta dos fundos.

“Saiam daqui, malditos rebeldes! Já falei que não quero negócios com vocês! Mais um passo e eu...”

“Não somos rebeldes!”, interrompi, erguendo as mãos em rendição e sendo seguida por Miriam.

O velho piscou, como se não esperasse que fôssemos falar, e então voltou a guinchar com sua voz rouca.

“Vocês pensam que me enganam?! E esse uniforme aí, hein? Façam-me o favor!”

“Senhor, por favor”, Miriam começou a falar. “Nós estamos falando a verdade. Não somos rebeldes. Fomos sequestradas por eles e fugimos.”

“Vocês não têm cara de quem fugiu de lugar nenhum...”, o homem semicerrou os olhos.

“Viemos de carro.”

“Hein?!”

“Longa história”, finalizei.

“E o que vocês querem aqui?”, a desconfiança ainda pintava o rosto do senhor.

“Precisamos nos esconder por um tempo. Eles estão nos seguindo, e nós não conseguiríamos chegar até Angeles sem sermos pegas.”

“Hum...”, o homem nos olhou passando a mão no queixo. “Vocês têm rostos familiares... de onde conheço vocês?”

“Nós somos... éramos selecionadas do príncipe Arhur”, Miriam respondeu.

Isso foi suficiente.

Imediatamente, o homem nos chamou para dentro de casa e nos mostrou um quarto vazio. Ele tinha uma porta que dava para o porão, e nós poderíamos nos esconder lá se fosse preciso. Por enquanto, iríamos tomar um banho e trocar de roupas – porque ele “não suportava ver aqueles uniformes na frente dele”. Sem querer abusar da hospitalidade, não fizemos perguntas. Ele nos mostrou um armário com roupas femininas recém lavadas, e eu imaginei se ele tinha uma esposa ou filha e onde ela estaria.

Depois do banho, escolhi um vestido lilás simples e longo, que precisou ser preso à minha cintura com um cinto por ser um pouco grande para mim – onde prendi o pacote com as informações que Layla me dera. Peguei, também, um casaco verde de botões e o vesti, escondendo o precioso volume. Miriam pegou uma calça cáqui – que também precisou ser usada com um cinto, embora tenha ficado menos frouxa nela do que ficariam em mim – e uma camisa branca, e amarrou uma jaqueta jeans na cintura. Foi quase como voltar à minha casa. As roupas tinham cheiro de sabão e eram macias e gastas, confortáveis.

Quando saímos do quarto, o velho homem me olhou com surpresa e então foi para a cozinha. Quando voltou, alguns segundos depois, trazia duas xícaras fumegantes de chocolate quente, que nos entregou com a mesma carranca de antes – sobrancelhas unidas, testa franzida e a boca curvada para baixo. Tocada pelo gesto gentil, comecei a realmente gostar do homenzinho, embora ele tivesse modos hostis, e o agradeci do modo mais cordial possível.

“Humpf. Não é nada”, ele bufou e se sentou numa poltrona enquanto nos indicava o sofá com uma mão. Então acrescentou em um tom irritado de quase-desculpa: “Não tenho nenhum dos luxos ao qual as senhoritas estão acostumadas. E não tenho TV.”

“Nós agradecemos muito por ter nos recebido e pedimos perdão pelo incômodo, senhor...”, Miriam respondeu, lembrando-me que ainda não sabíamos o nome dele.

“Nicolaj Johnson”, ele completou.

“...Senhor Johnson.”

“Agora... eu gostaria que vocês me explicassem como, exatamente, vieram parar aqui”,  ele exigiu.

Miriam olhou para mim, e eu ponderei o quanto poderíamos revelar. A família real teria noticiado abertamente os acontecimentos recentes? Eu duvidava muito. Beberiquei um pouco o chocolate para ganhar tempo. Aliás, não conhecíamos aquele homem, por mais gentil que ele estivesse sendo. Será que poderíamos confiar...

Então eu vi que estava sendo idiota. Nós estávamos confiando nossa vida àquele homem.

“Tudo começou no Baile de Escolha”, comecei depois de um gole do chocolate – que estava delicioso, por sinal. “O senhor soube dos ataques?”

“Sim. O rei falou que foram aqueles rebeldes. Ou pelo menos é isso que estão todos comentando.”

“E o que mais ele falou?”, perguntei.

“O de sempre: que está tudo sobre controle”, ele bufou e revirou os olhos em desdém.

Eu também não achava que o rei tivesse controle sobre muita coisa naquele momento.

“Bem...”, voltei a contar. “Durante o ataque, enquanto tentávamos encontrar um abrigo, fomos encontradas por rebeldes. Eles nos levaram até esse esconderijo e nos prenderam lá. Ao que parece, queriam chantagear o rei de alguma forma.”

Não queria deixá-lo informado demais, também.

“Quando estávamos no palácio, havia essa garota, Layla, ela tinha um... comportamento suspeito. Achávamos que era tudo em nome da competição, até que ela apareceu no esconderijo rebelde. Ela era um deles. No entanto, ela não era como eles. Layla os traiu. Nos ajudou a fugir e foi alvejada no processo.”

“Layla... seria Layla Allison?”

“Sim...? O senhor a conhecia?!”

“Infelizmente. Foi ela que...” Ele pigarreou, seus olhos marejando. “Foi ela que me deu a notícia.”

“Notícia?”, perguntei sem entender.

“Eu tinha uma filha. O nome dela era Erica. A mãe dela morreu no parto, e fomos nós dois desde então. Quando ela completou vinte anos, conheceu esse rapaz. Estava apaixonada, falava em casar. Disse que o traria para apresentá-lo a mim. Eu estava feliz por ela... queria vê-la feliz... Apoiava seus sentimentos... até que o vi. E o reconheci. Ele era um dos rebeldes.”

“Fiquei a sós com ele e o perguntei se ela sabia. Obviamente, não. Ele falou que estava tentando sair do grupo, recomeçar a vida... como se eles fossem deixar. Quando minha filha soube, sugeriu que fugissem. Eu fui contra, mas ela estava apaixonada demais. Me deixou durante a noite e partiu com ele.”

“Na tarde seguinte, essa Layla apareceu aqui. Se apresentou como amiga da minha filha e pediu para entrar. Bem, elas não eram amigas. E ela tinha vindo me contar que Erica e seu namorado haviam sido pegos na estrada. Estavam mortos. Eles não toleram traição.”

“Então ela me ofereceu uma grande quantia em dinheiro para ficar calado e dizer por aí que minha filha realmente tinha ido embora com o noivo. Não aceitei. Um dos comparsas que estava com ela se adiantou com a arma para me matar, mas ela o impediu. Eles foram embora e nunca mais voltaram aqui. Acho que ela os convenceu a não fazer nada comigo.”

O chocolate quente estava, agora, gelado em minhas mãos. Em minha cintura, o pacote queimava. Quem era Layla, afinal?

_-*-_

Quando o relógio marcou as oito e meia da noite, o sr. Johnson nos deu lençóis e nos ofereceu o quarto que antes pertencera à sua filha – onde havia uma cama de casal. Antes de se recolher, nos mostrou um esconderijo sob o tapete ao lado da cama. Pressionando a viga certa, poderíamos encontrar a fechadura de uma porta que levava ao porão. O velho homem nos entregou a chave e disse que, caso algo acontecesse durante a noite, deveríamos imediatamente nos esconder. Ele lidaria com tudo.

Fomos dormir.

Quando Miriam deitou-se ao meu lado, pensei na carta. Deveria lê-la agora? Meu lado racional me mandou descansar, mas eu não consegui. Minhas mãos imploravam para que eu abrisse o envelope.

Desistindo de lutar contra a ansiedade, sentei-me na cadeira ao lado da janela e abri um pouco a cortina para deixar um faço de luz da lua iluminar o papel.

Arthur,

Quando eu entrei na Seleção, achei que seria simples te colocar na palma da minha mão. Eu era filha de um homem influente que tinha toda a sua família sob um cano de revólver e acreditei que você faria tudo, tudo que eu quisesse. Ledo engano. Você nunca esteve sob o meu controle. Ou melhor, não do jeito que eu queria.

Você fingia estar comigo, fingia estar me dando preferência para proteger quem amava, mas a verdade é que seu coração nunca foi meu.

Era até ridículo pensar que estaria. Eu fiz tudo errado.

Inclusive... eu me apaixonei por você.

Você lembra de quando veio me visitar inesperadamente naquela noite depois do baile? De quando você viu aquele machucado roxo no meu ombro e perguntou o que havia acontecido e não descansou até eu falar a verdade? Foi aí que eu me apaixonei, acho. Você nem sequer gostava de mim, mas ficou indignado ao saber que Marid me batia. Meu “ex-namorado” – foi o que eu disse pra você. Na verdade, Arthur, ele é meu noivo.

E você era minha única esperança de, talvez, escapar dele.

Eu queria que você me amasse. Queria que você sentisse por mim ao menos um décimo do que eu sentia por você para assim eu ser capaz de ao menos tentar mudar os planos do meu pai. Mas seu coração já tinha dona. E todas as minhas tentativas de te afastar dela tiveram o efeito exatamente oposto. E te afastaram cada vez mais de mim.

Eu jamais teria conseguido, mas gosto de pensar que, se tivéssemos nos conhecido em outro contexto e sem toda essa bagunça, talvez eu tivesse uma chance.

Gosto de pensar que seus olhos brilhariam verdes só para mim.

Mas, exceto pelo dia em que você descobriu meus machucados – quando seus olhos assumiram os mais diferentes tons esmeralda de cólera –, você sempre me olhou com aquela sua expressão opaca. Aquela máscara impenetrável. Eu sei que você a usa.

Eu sei, porque faço o mesmo.

Nós somos mais parecidos do que você pensa.

 

Eu quero te pedir perdão, Arthur. Pela chantagem, por não ter confiado em você, por ter mentido...

Eu não sei se vou poder fazer isso pessoalmente e do jeito que eu queria. Sou uma traidora do reino e do meu próprio grupo. Tenho certeza de que na próxima vez que você me ver estarei presa.

Então é isso: sinto muito. Por tudo.

Eu errei com muitas pessoas, mas machucar você foi o erro que mais doeu.

Espero que me perdoe. Eu nunca quis causar tanto mal.

E obrigada.

Layla.

 

P.S.: Seja feliz.

_-*-_


Notas Finais


BOM DIAAAAAA
Gente, sorry pelo atraso. Final de semestra, semanas de provas e trabalhos...
Uma loucura.
Até a hemorragia mensal atrasou. SURTO
MAS EH ISTO
To aqui com cólica demais pra pensar em qualquer coisa kkkkkkkkk
Beijoooos *3*
Até o próximo! XD


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