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História O Vigia - Long Live


Escrita por: lavegass

Notas do Autor


Eu ia postar só no sábado, mas resolvi adiantar, por isso acabei não revisando o capítulo então se tiver algum erro peço desculpa. Novamente espero que vocês prestem atenção e cada detalhe porque todos serão cruciais para o que vai acontecer. Espero que gostem!

Capítulo 4 - Long Live


“It was the end of a decade

But the start of an age.”

 

Terça-feira, 8 de dezembro de 2015.

Eu juro que não aceitei a proposta do senhor Erasmo imediatamente. Ele teve que insistir muito. E após analisar cuidadosamente, acabei percebendo que não seria de todo o mal passar o meu dezembro andando atrás de Letícia, afinal se eu fosse solteiro provavelmente estaria fazendo isso de graça. Sentia-me como Julia Roberts em “Uma Linda Mulher”, mas estava na duvida se o meu Richard Gere era o Erasmo ou a Letícia.

- Você teve muita sorte de ficar sabendo dessas palestras de Odontologia a tempo. – Comentou Márcia enquanto tomávamos o café, eu e Carolina nos entreolhamos e demos um sorriso disfarçadamente debochado. Márcia havia chegado pela manhã com algo próximo a um bom-humor, contamos a ela sobre a viagem de Carolina e isso a animou. Por incrível que pareça o meu novo emprego também a deixou mais satisfeita. – Fernando, como você vai levar o Erasmo e a Carolina até o aeroporto hoje eu vou para o trabalho no meu carro.

- Tudo bem. – Respondi.

- Ok. Eu já vou indo porque estou cheia de papeis para organizar. – Falou Márcia levantando-se. – Tchau. – Falou para Carolina dando a ela um beijo no rosto. – Tchau. – Disse para mim me dando um selinho. Sim, Márcia havia acabado de me beijar, um contato que não tínhamos há uns seis meses. Carolina que olhou assustada e eu fiz o mesmo. Sem perceber o que havia feito ou fazendo-se de boba Márcia foi embora.

- O que aconteceu com ela? – Perguntou Carolina assim que ouviu o carro dar partida.

- Eu não tenho ideia. – Respondi, e eu realmente não tinha.

...

Carolina estava colocando sua mala no carro quando fui até a casa dos Padilha, o voo de Erasmo e Julieta assim como o de Carolina era ás 10h e eu combinei que ás 8h30 sairíamos, como já eram quase isso resolvi ir até lá para chama-los. Quem atendeu a porta foi Letícia.

- Oi. – Falou surpresa.

- Oi. – Respondi. – Eu vim saber se os seus pais já estão prontos para ir.

- O que?

- Para o aeroporto.

Letícia me olhou confusa.

- Pensei que quem os levaria é o moço que o meu pai contratou para... Então é você? – Perguntou animada.

- Sim sou eu. – Respondi.

- Ainda bem, eu já estava preocupada que um estranho iria ficar me levando para baixo e para cima.

- Você pretende andar tanto assim? – Brinquei.

- Já esta com preguiça?

- Talvez um pouco. – Letícia riu e vimos o senhor Erasmo se aproximar.

- Já estamos indo Fernando, Julieta se atrasou um pouco. Sabe como são as mulheres. – Explicou Erasmo.

- Papai! – Repreendeu Letícia.

- Não se preocupe senhor Erasmo. Ainda estamos com tempo de sobra. Posso ir levando as malas para o carro?

- Claro, só um minuto que vou busca-las. Vem me ajudar Letícia. – Pediu e ela o seguiu.

Levei as malas para o carro e as organizei no porta-malas. A quantidade era bem maior do que eu esperava e tive dificuldades para fazer com que tudo coubesse. Erasmo se sentou na frente junto á mim. Letícia, Carolina e Julieta foram atrás. As três conversaram todo o caminho, por isso mesmo com receio me senti na obrigação de puxar um papo com Erasmo, por sorte ele correspondeu e tivemos uma conversa agradável sobre carros, viagens e futebol. O aeroporto ficava na saída da cidade e tivemos sorte que transito milagrosamente não estava tão movimentado.

- Já vamos indo para o nosso bloco. – Falou Erasmo. Como eles iriam em um voo internacional o bloco deles era do lado oposto do de Carolina. – Me mantenha informado. – Sussurrou colocando a mão no meu ombro.

- Pode deixar. – Respondi apertando a sua mão. Despedi-me de Dona Julieta com um abraço desejando-os uma boa viagem. – Onde quer que eu te encontre para irmos embora, Letícia?

- Eu não sei... Que tal perto dos restaurantes? – Sugeriu.

- Ótimo. – Respondi e caminhei com Carolina até onde ela iria desembarcar.

Patrícia mandou várias mensagens para Carolina preocupada com o nosso pequeno atraso. Corremos para que ela não sofresse um infarto antes mesmo de pegar o avião.

- Eu só posso ir até aqui. – Falei. – Assim que chegar me liga. Boa viagem! – Completei puxando Carolina para um abraço.

- Obrigada, se cuida, ok? – Pediu.

- Claro. – Respondi beijando-a no rosto. – Te vejo em uma semana.

Carolina acenou e seguiu um pouco apressada em direção ao seu bloco. Fiquei lá até que a perdi de vista. Quando desci até a praça de alimentação Letícia já estava esperando por mim.

- Finalmente!

- Desculpa, mas esse aeroporto é muito grande. E agora, o que você vai fazer?

- O que quer dizer?

- Bem eu, estou trabalhando para você. Então você precisa me dizer o que eu devo fazer.

- Na verdade você esta trabalhando para o meu pai e eu não tenho ideia do que ele pediu para você fazer.

- Ele me pediu para te levar em todos os lugares e te alimentar direito, mas a principal ordem é para te manter o mais longe possível do seu namorado, mas para que eu possa fazer isso primeiro você precisa me dizer quem é o seu namorado.

- Na verdade eu não tenho um namorado.

- Não? – Perguntei surpreso.

- Não! Ele me viu conversando com o meu ex e agora nada tira da cabeça dele que estamos juntos de novo. E ele o odeia então...

- Então ao que parece eu passei de vigia para dama de companhia.

- Basicamente isso, mas não se preocupe eu vou fazer valer cada centavo que o meu pai te pagou. – Falou Letícia. – Eu vou abusar de você, mas de uma boa forma. Oh, ok. Isso saiu meio errado, mas você entendeu. – Tentou se explicar e pude notar que seu rosto havia ficado vermelho.

- Não se preocupe, eu entendi. Você não é a primeira que me diz isso. – Brinquei. E logo em seguida meu telefone começou a apitar, o tirei do meu bolso e encarei a notificação na tela. – É uma mensagem do meu ex-chefe...

- O seu pai? – Perguntou Letícia aproximando-se de mim.

- Não, é do Leonardo do McDonald’s, ele esta me perguntando o porque eu estou atrasado... OH MEU DEUS EU ME ESQUECI DE PEDIR DEMIÇÃO.  Precisamos passar lá. – Falei fazendo sinal para que Letícia me acompanhasse.

- Você é inacreditável. – Resmungou ela.

- Acredite. Você ainda não viu nada.

...

Fomos até o McDonald’s e por ser longe talvez eu tenha acelerado um pouco, o que aparentemente havia assustado Letícia, pois a vi com os olhos esbugalhados enquanto eu ultrapassava alguns carros. Estava nervoso. Sei que apenas trabalhei lá por um dia, mas me demitir de um lugar que havia me acolhido com tanto carinho não seria fácil.

- Finalmente você apareceu. – Falou a baixinha atrás do balcão lançando-me meu uniforme. Mais tarde descobri que o nome dela era Marta. Peguei o uniforme no ar e o encarei por um tempo, até receber uma cotovelada de Letícia. 

- Pode me cobrir? Eu preciso conversar com o Leo, onde ele esta? – Perguntei.

- Vai se demitir não é? – Questionou Marta. Estava tão obvio assim? Apenas assenti e ela soltou um longo suspiro. – Você me fez perder R$ 20,00, apostei que você duraria uma semana, mas você durou menos.

- Sinto muito. – Respondi e pude ouvir Letícia soltar um riso abafado.

- Ele esta no escritório e sim ela pode entrar com você. – Falou Marta como se lesse meus pensamentos.

- Obrigado. – Respondi puxando Letícia desajeitadamente até o escritório.

Antes mesmo que eu batesse na porta, Leo a abriu. Provavelmente deve ter me visto através da câmera.

- Olá Fernando! Pensei que não veria, vejo que recebeu minha mensagem. Marta já entregou seu uniforme?

- Sim! – Respondi mostrando a ele a camisa que ela havia jogado em mim.

- Ótimo. – Respondeu Leonardo sorridente.

- Posso conversar com você?

- Claro, entre.

- Ah, essa é Letícia, minha...

- Vizinha. – Completou ela estendendo sua mão a Leo, o qual rapidamente a apertou. – É um prazer conhecê-lo.

- O prazer é todo meu. Sentem-se, por favor. – Pediu puxando as duas cadeiras na frente de sua mesa e assim fizemos. – E então... O que tem para me dizer? Alguma duvida sobre o trabalho? Ou reclamação sobre os funcionários?

- Não, não é nada disso. Na verdade eu... – Droga, até dizer aquilo para o meu havia sido mais fácil. Leo me recebeu também ontem que me lembrar disso tornava as coisas ainda mais difíceis. – Eu quero pedir demissão. – Falei por fim e pude notar que o sorriso que Leo carregava desde que entramos havia diminuído. Letícia me olhava de forma curiosa, como se estivesse assistindo um novo programa na televisão.

- Oh, eu não esperava por isso. – Disse Leo. – Quer dizer, eu esperava, mas não tão cedo. Apostei que você duraria um mês. – Completou ele. Ok, aparentemente o McDonald’s inteiro não tinha esperança de que eu ficasse por muito tempo. Incrível. – Sabe por que eu te promovi para o caixa no primeiro dia? – Perguntou ele.

- Não. – Respondi sincero.

- Porque uma cliente te viu pela janelinha e comentou com a amiga que um homem como você deveria ficar a vista. Então eu fiz o que ela sugeriu e obtive resultado imediato.

- O que você quer dizer? – Perguntei confuso e Letícia revirou os olhos.

- Não está evidente Fernando? – Falou Letícia. – As mulheres começaram a vir aqui só para te ver.

- O que? Não, isso não aconteceu. – Neguei.

- Ela esta certa. – Disse Leo. – É uma pena você se demitir porque sim, você é bom com as batatas, mas é melhor ainda em aumentar o numero de clientes, principalmente as mulheres. Eu nunca vi isso aqui tão cheio em uma segunda-feira como estava ontem. O que um homem bonito não faz não é?

- Então é por isso que eu recebi uns telefones? Pensei que fosse um procedimento comum dos clientes aqui. Eu até trouxe para te entrega-los. – Falei colocando a mão no meu bolso e tirando vários papeis de lá.

- Você pode me entregar ainda se quiser. Eu estou solteiro.

- Ok. – Respondi dando a eles os papeis.

- O caixa vai sentir sua falta Fernando. – Falou Leo enquanto guardava os papeis em sua agenda. – Se mudar de ideia as portas estão abertas para você.

- Vocês não contratam em outros turnos, como por exemplo só para o final de semana? – Perguntou Letícia o que me fez olha-la surpreso. O que ela queria com aquela pergunta?

- Sim, nos contratamos. – Respondeu ele. – Você estaria interessado Fernando? – Questionou Leo se animando novamente.

- Eu não posso eu estou trabalhando para...

- Se você tiver duas vagas tenho certeza que ele adoraria. – Interrompeu Letícia.

- Duas? – Eu e Leo perguntamos ao mesmo tempo.

- Sim, uma para mim e uma para ele. – Letícia me olhou notando que eu continuava confuso e começou a me explicar. – Nos trabalhamos aqui nos sábados e domingos, você fica de olho em mim e ainda fazemos um dinheiro extra, o que me diz?

- Por que você precisa de dinheiro extra? – Sussurrei e notei que Leo nos assistia.

- Porque eu vou viajar depois do ano novo e não quero que meu pai pague tudo. Por favor, Fernando. – Pediu.

- Mas eu soube que você é horrível da cozinha. – Disse mais baixo ainda para que Leo não ouvisse.

- Você tem até sábado para me ensinar. – Insistiu ela. E eu suspirei em reedição.

- Se você realmente tiver duas vagas para o final de semana nos adoraríamos trabalhar aqui Leo. – Falei. O sorriso de Leo se aumentou de forma assustadora e sua mão se estendeu para mim.

- Então está combinado! Vejo vocês dois no sábado. – Respondeu ele. E Letícia sorriu satisfeita. Esse era o primeiro emprego dela e eu já havia começado a rezar para que não fosse um desastre, ou que pelo menos ninguém saísse machucado. – Ah, antes que eu me esqueça, aqui esta. – Completou Leo me entregando um envelope.

- O que é isso?

- Aparentemente você recebeu algumas gorjetas pelo seu excelente serviço no caixa. – Explicou. Eu abri o envelope e me assustei. Tinha mais de R$ 200,00.

- Eu amo esse emprego.

...

- Você quer ir a algum lugar? – Perguntei para Letícia assim que entramos no carro.

- Na verdade não. Acho que hoje pretendo ficar em casa.

- Se importa de passar no shopping comigo?

- Não. O que você vai fazer lá?

- Gastar o meu dinheiro. – Falei abanando o envelope na sua frente.

- Comprando o que?

- A minha intenção era comprar um ar condicionado, mas como isso não é suficiente vai um ventilador mesmo.

- Você ainda não tem um ventilador? – Perguntou Letícia abismada.

- Eu tinha, mas Márcia o quebrou na minha cabeça na nossa ultima briga. – Letícia disparou a rir, apenas assentido. – Eu estou falando serio.

- Ok, desculpa. – Respondeu assustada.

- Tudo bem, não dois mais. Mas dessa vez preciso encontrar um mais resistente.

- Tenho certeza que encontraremos.

- Ótimo. Pronta para ir?

- Claro. – Respondeu ela puxando o sinto de segurança.

Dessa vez, como eu não estava com pressa dirigi devagar. Não queria assustar Letícia novamente. Chegamos ao shopping e mesmo sendo uma terça-feira o estacionamento estava lotado. Com dificuldade acabei encontrando uma vaga.

- Como você se sente sendo o Miss McDonald’s? - Perguntou ela enquanto entravamos no elevador.

- E isso existe?

- Se não existia, você provavelmente acabou de criar. Aposto que sábado o Leo vai sugerir que você fique sem camisa no caixa.

- Eu não faria isso, estou fora de forma.

- Não é o que parece. – Respondeu ela automaticamente me deixando envergonhado.

Uma das melhores coisas em passar tanto tempo com Letícia é que eu não ficava mais nervoso quando a via, ou ficava, mas já havia me acostumado. Era fácil conversar com ela, Letícia fazia com que eu me sentisse a vontade.

- Acredite, tem muito tempo que eu não faço nenhum exercício físico. – Falei enquanto caminhávamos até uma loja de eletrodomésticos.

- Algumas mulheres do nosso bairro me convidaram para caminhar com elas e eu prometi que começaria amanhã. Você pode vim com a gente se quiser. – Sugeriu.

- Acha que elas vão deixar um homem entrar para o grupinho?

- Se for você, com certeza. – Falou e eu resolvi não questionar o porque. Ela fazia com que eu me sentisse a vontade, mas alguns comentários me deixavam ligeiramente constrangido e ela parecia simplesmente não perceber que havia os feito, ou se percebia não se importava.

- Ok, então eu vou, mas se me rejeitarem a culpa vai ser sua. – Avisei.

- Combinado! – Falou ela já adentrando a loja. Fomos para a ala onde havia uma grande quantidade de ventiladores de todas as cores e tamanhos. – Como você quer o seu? – Perguntou ela.

- Eu não sei, mas pensei em um grande e que faça muito vento, não esta fácil dormir naquele calor. E eu ainda não consigo dormir sem cobertor e acabo suando muito.

- Você se cobre mesmo sentindo calor? – Perguntou indignada.

- Sim. Dos pés a cabeça.

- Isso é tão estranho e sem sentido.

- Não é para tanto! Eu só me sinto indefeso quando estou descoberto.

- E do que você tem medo?

- Longa história. – Falei tentando mudar de assunto, não queria que Letícia soubesse que eu tinha pesadelos com o Cujo desde os sete anos. – O que você acha desse? – Perguntei apontando para um ventilador na tentativa de mudar de assunto.

- É bonito e grande, mas honestamente eu não entendo muito de ventiladores. – Eu também não entendia e por isso resolvi abrir a caixeta. – O que você esta fazendo? Ficou maluco?

- Calma, eu só vou testar. – Falei procurando pela tomada mais próxima.

- Eu não que isso seja permitido...

- Relaxa, a loja é enorme. Ninguém vai ver. – Falei finalmente encontrando uma tomada. Liguei o ventilador e me sentei na frente dele. – Senta aqui também chamei Letícia. Ela hesitou, mas logo se sentou ao meu lado. O ventilador era bom, o vento batia forte e por um breve momento me senti a própria Beyoncé. – Finalmente não estou me sentindo como se estivesse derretendo.

- Esta muito calor esses dias. – Resmungou Letícia, também relaxando em frente ao ventilador.

- Antigamente dezembro era época de frio. Agora parece que estamos presos a um verão eterno.

- Não é para tanto. Às vezes o tempo esta fresquinho.

- Coloca ás vezes nisso. Eu odeio essa amostra grátis do inferno.

- Você é um exagerado. – Brincou Letícia me dando uma cotovelada.

- Com licença senhores. – Ouvi uma voz masculina dizer atrás de mim. Ele estava vestido com o uniforme da loja e tinha uma feição seria. Não sei o ventilador estava muito forte, mas naquele momento senti meu corpo gelar. – Não se pode abrir o produto e usa-lo em nossa loja. – Continuou ele. Olhei para Letícia e assim como eu ela parecia assustada. Minha vontade era de pedir desculpa e sair correndo, mas me controlei, dando a ele um sorriso amarelo.

- Eu acho que vou levar esse aqui. – Respondi ignorando tudo que ele havia dito anteriormente.

Comprei o ventilador sob os olhares desaprovadores do vendedor. Letícia sempre que olhava entrava em crise de riso e foi assim até o nosso caminho ao estacionamento. Ela narrava repetidas vezes a cara que eu havia feito quando homem nos surpreendeu e parecia achar aquilo uma das coisas mais divertidas do mundo. E eu me divertia em poder apreciar sua risada.

- O que vamos fazer agora? – Perguntei e ela deu de ombros. – Vamos Letícia, eu estou trabalhando para você. Você é a minha chefe, precisa mandar em mim.

- Ok. Vamos para sua casa e você vai me fazer um bolo de chocolate. Você sabe fazer um bolo de chocolate?

- É claro que eu sei. – Respondi. – E será o melhor bolo de chocolate que você já comeu.

- Veremos. – Respondeu ela de forma desafiadora.

...

Antes de ir para casa passamos no supermercado e compramos todos os ingredientes para o bolo. Sim, eu realmente sabia fazer e já havia feito para Carolina em grande parte dos seus aniversários. Aquele seria um dos melhores bolos que Letícia já havia comido ou meu nome não era Fernando. E meu nome era e é Fernando.

- Onde eu coloco tudo isso? – Perguntou Letícia assim que entramos em minha casa. Ela estava tendo dificuldades em carregar as sacolas.

- Pode colocar em cima da mesa da cozinha. – Falei enquanto carregava desajeitadamente a caixeta do ventilador.

Tirei o ventilador de dentro da caixa e fui em busca de uma tomada para liga-lo, quando estava prestes a fazer isso a campainha tocou, me apressei para abrir. Era Omar.

- Oi! – Falei assim que o vi. – Como foi meu exame de urina? – Perguntei e nesse momento Letícia chegou á porta cumprimentando Omar.

- Não muito bem. – Respondeu ele. – Você esta com o inicio de uma infecção, precisa tomar esse remédio e logo vai ficar bem. – Falou entregando-me uma sacola com algumas caixas de medicamento.

- Obrigado! Eu não fazia ideia de que tinha algo de errado comigo, não estou sentindo nada.

- Como eu disse, esta no inicio. – Respondeu ele. Omar parecia extremamente desanimado.

- Como você esta? – Perguntou Letícia como se lesse meus pensamentos.

- Bem, quero dizer. Estou tentando. Vocês sabem... É difícil no inicio.

- Você precisa fazer coisas para se distrair. – Sugeri.

- Tipo o que? – Perguntou ele.

- Praticar algum esporte, fazer algum curso... – Olhei para Letícia como se pedisse ajuda.

- Para começar você pode nos ajudar a fazer um bolo. – Sugeriu ela, vamos assistir um filme depois.

Omar nos encarou por um tempo como se buscasse por uma desculpa para recusar aquele convite, mas para a minha surpresa ele acabou aceitando.

- Tudo bem. Eu não tenho nenhum compromisso mesmo. – Suspirou. – Mas antes eu preciso pedir autorização ao meu pai. Ele esta cronometrando tudo o que eu faço.

- Liga para ele. – Disse Letícia.

- Eu não acho que seja necessário. – Falei ao notar um homem estacionando um carro na frente da casa de Omar. – Aquele é seu pai, certo? – Perguntei apontando para o homem do outro lado da rua.

Omar virou-se e afirmou com um meneio de cabeça.

- Sim, é ele. – Nesse momento o pai de Omar olhou para o nosso lado o qual fez sinal para que ele viesse até aqui. E logo o vimos se aproximar. Rapidamente joguei a sacola de remédios dentro da minha casa.

- Pai esses são Fernando e Letícia, nosso vizinhos. – Apresentou Omar.

- Muito prazer. – Falei estendendo minha mão para ele o qual a encarou por um tempo. O pai de Omar diferente dele tinha uma feição seria e parecia estar mal humorado. E eu já começava a ficar sem graça por estar com a mão estendida e não obter uma resposta. Finalmente ele a apertou e eu quase suspirei aliviado.

- Eu sou Vicente, o pai de Omar. Nunca te vi por aqui antes. Só sua esposa mexendo nas rosas do jardim.

- É, eu ando trabalhando muito. – Expliquei. E ele apenas me olhou desconfiado. Aquele homem me dava calafrios.

- Como você conheceu meu filho? – Perguntou. E eu arregalei os olhos olhando para Omar que fez sinal para que eu não dissesse a verdade, e eu já estava ciente que não poderia.

- Na livraria. – Menti. – Nos temos interesses de livros em comum e por isso nos tornamos amigos. – Foi a única coisa que veio na minha cabeça após me lembrar de que o quarto de Omar era cheio de livros.

- Você não acha que é muito velho para ver amigo do meu filho? – Perguntou o pai dele. Eu não sabia o que responder então acabei soltando um riso sem graça. Letícia novamente parecia se divertir em me ver em mais uma situação constrangedora, as quais ultimamente pareciam me perseguir. – Foi um prazer conhecê-lo. – Falou ele, e pela sua cara eu duvidava de que fosse verdade. – Vamos embora Omar. – Chamou.

- Na verdade pai, eu queria ficar para assistir um filme com eles... Vamos fazer um bolo. – Pediu Omar. O pai dele o encarou por um tempo e eu tive a sensação de que logo ele começaria a gritar. Por sorte eu estava errado.

- Tudo bem. Só não volte muito tarde. – Falou por vim caminhando em direção a sua residência novamente.

...

Entramos em casa e seguimos para a cozinha iniciar a preparação do bolo. Eu indicava o que eles deveriam fazer e os dois obedeciam sempre prestando atenção nas minhas dicas. Especialmente Letícia a qual precisaria ser ao menos mediana na cozinha até sábado, mas honestamente ela era um desastre. Quando a pedi para quebrar o ovo metade da casca acabou indo junto e ela aparentemente não tinha força suficiente para mexer a massa.

- Onde vamos coloca-lo? – Perguntou Letícia.

- Droga! – Resmunguei lembrando-me que eu não tinha mais travessar para bolo. A ultima havia sido quebrada por Márcia há algumas semanas. – Eu não tenho. Pode buscar alguma na sua casa? – Sugeri para Letícia.

- Na verdade eu não sei onde a minha mãe guarda essas coisas e pode ser que demore...

- Pode pegar na minha casa. – Falou Omar enquanto mordia uma maçã. Aquela era a quarta desde que havia chegado ali. – Mas um de vocês vai ter que ir, porque seu eu for é provável que meu pai não me deixe voltar.

- Eu vou. – Se ofereceu Letícia. – Qual o nome da sua mãe?

- Vitória.

- Esta bem. Já volto. – Falou ela saindo apressadamente.

- Vem vamos para sala. Vou ligar meu novo ventilador. – Chamei Omar e ele me acompanhou. Assim como na loja o ventilador funcionou perfeitamente e eu relaxei naquela poltrona sentindo o vento bater em mim. Omar estava ajoelhado próximo a mesinha da sala jogando damas sozinho.

Letícia adentrou a casa assustada, mas assim que nos olhou sua expressão se aliviou um pouco.

- Você esta bem? – Perguntei. E ela disparou a rir. – Letícia? O que aconteceu? Tinha algum cachorro ali fora?

- O que? Não, não é nada disso. – Falou colocando a travessa em cima da mesinha. – Eu estava olhando vocês da Janela da cozinha da casa de Omar, enquanto a mãe dele pegava a travessa para mim, e por um momento eu pensei que vocês estavam fazendo uma coisa completamente diferente do que realmente estão.

- O que quer dizer? – Perguntou Omar, ele estava tão confuso quanto eu.

- Bom... – O rosto de Letícia corou e ele começou a rir novamente. Assim que se recuperou coseguiu explicar. – Fernando se sentou todo relaxado na poltrona e logo depois Omar se abaixou e de longe pareceu que...

- Não. Não. Não. Pode parar por ai. – Interrompi. – Você realmente pensou que? Oh meu Deus.

- Desculpe. – Pediu ela começando a rir novamente.

- Eu não entendi. – Disse Omar.

- Nem queira. – Respondi honestamente.

...

Como o esperado meu bolo havia ficado delicioso e eu perdi a conta de quantos pedaços havíamos comido, só sei que antes mesmo da metade do filme ele já havia acabado. Estávamos assistindo Up in the Air.

- Eu estou muito cheia. – Resmungou Letícia com a mão na barriga.

- Eu também. – Falou Omar.

- Eu estou bem. – Falei.

- É claro você mal comeu. – Disse Letícia ajeitando-se no sofá.

- Vocês pareciam estar com mais fome do que eu. – Impliquei e os dois me encaram com raiva. Letícia voltou a prestar atenção no filme e suspirou como havia feito desde o inicio dele.

- Esse homem é maravilhoso. – Falou pela décima vez.

- Eu não ele tudo isso. - Comentei.

- Você não o acha tudo isso? – Perguntou Letícia indignada. – Ele é o George Clooney.

- Concordo com Fernando. Existem homens mais bonitos.

- Por exemplo? – Questionou Letícia.

- O Fernando. – Respondeu Omar me pegando de surpresa. Letícia me olhou e disparou a rir, provavelmente se lembrando do que pensou ter visto há alguns minutos atrás. – O que foi? Não posso achar o Fernando mais bonito que o George Clooney?

- É claro que pode. Eu não quis dizer isso. – Explicou-se Letícia.

- Obrigado Omar. Você também é muito bonito. – Falei para aliviar aquela situação.

- É, eu sei. – Respondeu serio.

O restante do filme seguiu de forma agradável apesar de que nenhum de nos três estava prestando atenção. Conversamos sobre vários assuntos, eu consegui me divertir com os dois de uma forma que não conseguia com os meus ex-colegas de trabalho.

- Droga. Meu pai já quer que eu vá embora. – Falou Omar lendo a mensagem que havia acabado de receber. Ele se levantou e eu e Letícia fizemos o mesmo. – Espero que a gente faça isso de novo.

- Eu adoraria. – Respondeu Letícia.

- Eu também.

O acompanhamos até a porta e depois voltamos para a sala. Letícia me olhava sorridente.

- O que foi? – Perguntei.

- Acha que o Omar tem uma queda por você?

- O que? Não. Não.

- Então porque ele faz tantos elogios?

- Ele tem interesse em Carolina.

- Sério? – Perguntou Letícia surpresa.

- Sim. Ele comentou isso no dia que nos conhecemos. Ele a conheceu na livraria, eu roubei a historia deles para contar ao pai dele.

- E onde você o conheceu?

- Em uma festa, ele me ofereceu drogas.

Letícia começou a rir novamente. E só Deus sabe o quanto eu amava aquela risada.

- Você e suas histórias me divertem tanto.

- Obrigado.

- E você o aprova?

- O que?

- Omar com Carolina.

- Eu não sei. No momento não, mas ele mudar... Posso pensar em ser o sogro dele. É claro que isso também depende da Carolina e no momento não a vi mostrar interesse.

- Você parece ser um pai ciumento.

- Eu não pareço. Eu sou. – Respondi e ela sorriu com ternura olhando-me. – Posso te perguntar uma coisa? – Pedi. E ela apenas afirmou que sim. – Por que o seu pai não gostava do seu ex-namorado? – Letícia deu um pequeno sorriso e encarou o tapete.

- Digamos que meu pai nunca confiou nele, e me avisou diversas vezes sobre isso, mas eu era muito nova. Tinha a idade de Carolina. Acabei não ouvindo. E acredite eu deveria. Meus pais viram o quanto eu sofri com o termino e tem medo de que eu tenha uma recaída, mas acredite. Isso nunca vai acontecer.

- E por que vocês terminaram? – Perguntei afinal ela não havia explicado nada direito.

- Na verdade, eu não quero falar sobre isso, pelo menos não agora. Você não vai ficar chateado não é?

- Claro que não. – Respondi para tranquiliza-la. Eu não estava chateado, apenas curioso.

- Mas para compensar eu posso te mostrar uma foto dele. Eu a encontrei ontem no meio das minhas coisas e coloquei-a na minha bolsa para jogar fora. Sempre que a vejo as calças dele me fazem rir. – Falou enquanto vasculhava a bolsa a procura da foto.

- Como assim? – Perguntei, mas assim que Letícia me entregou a foto disparei a rir também. – Ok, agora entendi. Parece que ele esta usando suas calças. – Letícia riu concordando.

- Dá para acreditar que eu achava isso atraente?

- Na verdade não. Eu estava bem melhor do que ele quando tinha a idade dele. – Comentei. E ela me olhou com ternura.

- Na verdade você ainda esta. – Disse soltando mais um dos comentários que me deixava constrangido, mas dessa vez ela percebeu. – Desculpa.

- Não se deve pedir desculpa por ter elogiado alguém. Eu honestamente me sinto lisonjeado. – Falei na tentativa de contornar a situação.

- Sendo assim, tudo bem. – Letícia novamente me olhou e eu é claro também não conseguia parar de olha-la. Seu sorriso terno me encantava, era como um imã e eu me sentia na obrigação de aprecia-lo sempre que ela o exibia para o mundo. Estávamos em silêncio apenas olhando um ao outro, mas por incrível que pareça não ficamos envergonhados. Muito pelo contrario. Nenhum dos dois cogitou em desviar o olhar ou iniciar outro assunto. Continuamos nos encarando e ao olhar em seus olhos percebi que ela olhava a minha boca. Sorri. E ela sorriu também aproximando-se. Senti o meu corpo se arrepiar só com a ideia do que essa aproximação poderia sugerir, mas antes que eu descobrisse qual seria sua intenção a porta se abriu bruscamente. Letícia se afastou e nos dois olhamos em direção ao barulho. Era Márcia.

Márcia me olhou com raiva e depois olhou para Letícia dedicando a ela um dos seus melhores sorrisos sínicos.

- Não sabia que estaria aqui querida. – Falou.

- Fernando estava me ajudando na cozinha, mas eu já estou de saída. – Falou Letícia levantando-se, e eu fiz o mesmo.

- Não se preocupem, podem continuar com o que quer que vocês estavam fazendo. – Disse Márcia ironicamente e eu não pude evitar em revirar os olhos.

- Eu realmente preciso ir. – Insistiu Letícia. – Vejo você amanhã. – Falou para mim me surpreendendo com um abraço. Olhei para Márcia e ela nos encarava incrédula.

- Sim. Se precisar de alguma coisa á noite pode me ligar, esta bem? Me dá seu celular. – Letícia me entregou e eu anotei o meu numero nele. – Depois me manda uma mensagem para que eu salve o seu também. – Pedi e ela assentiu. Pude ouvir quando Márcia caminhou com passos longos e pesados até as escadas.

Letícia apenas assentiu e eu a acompanhei até a porta, ficando em minha varanda até que a visse entrar.

Assim que o fez voltei para minha casa, pedindo a Deus paciência para o que eu estava prestes a encarar. Assim que entrei no quarto Márcia me fuzilou com o olhar.

- Eu não sabia que o Senhor Erasmo havia te contratado para comer a filha dele. – Falou.

- Que merda é essa que você esta falando Márcia?

- Merda? Eu vi jeito que vocês dois estavam se olhando! Provavelmente transaram na casa todo.

- Você esta errada. Eu não sei que tipo de homem você acha que eu sou. – Falei.

- Você é como os outros. Só pensa nisso.

- Se eu fosse como os outros e pensasse só nisso, não estaríamos a dois anos sem. – Ela olhou para mim com mais ódio ainda.

- Então é isso? Você quer? Então vem! Vem! – Falou deitando-se na cama e abrindo as pernas. – Pode vim Fernando.

Eu a olhei sem acreditar que aquilo realmente estava acontecendo, Márcia havia enlouquecido de vez.

- Não vai vim? – Insistiu ela me puxando e beijando o meu pescoço. – Se é isso o que você quer para não sair por ai me traindo com vizinhas vem, pode vim. – Continuou levando sua mão para abrir a minha calça, e eu a parei logo ali.

- Eu não sei quem você pensa que eu sou mais esta errada Márcia. Eu cansei. Cansei de você. Cansei de nos. Eu quero terminar esse casamento que honestamente já não existe há muito tempo. – Falei. E acredite aquilo era algo que há anos eu estava tentando dizer. E quando finalmente o fiz foi como se um enorme peso saísse de cima de mim.

- Você esta brincando não é? – Perguntou ela alterando o tom de voz.

- Não Márcia, na verdade eu provavelmente nunca falei tão sério em toda a minha vida. – Disse me afastando dela. Peguei o meu travesseiro e caminhei até a porta do nosso quarto. – Acho que é melhor que eu fique no quarto de hospedes. – Falei saindo de lá, mas no caminho pude ouvir Márcia choramingar algo quase inaudível.

 

 

 

 


Notas Finais


GENTE! O próximo o capítulo é um dos meus favoritos e é provavelmente o mais engraçado e fofo. Mal posso esperar que vocês o leiam!


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