História O vizinho - Estamos flertando?

Que o Yeaguer é um pirralho abusado, eu já sei, mas me chamar de anão demoníaco depois de pegar meu número sem o meu conhecimento foi demais.

Um sorriso de escárnio saltou nos meus lábios quando sabia exatamente o que faria.

Como ainda estou agarrado com a mesma operação no trabalho, os dias passaram rápidos e cansativos, eu amo o que faço, claro, mas são dias assim que me sugam a alma, o espírito, o sono, me sinto como um zumbi viciado em trabalho.

Não que eu não seja um pouco.

Já é sábado e eu estou sentado na cama lendo o mesmo relatório pela milésima vez, o cansaço e provavelmente a frustração sexual me fez ler sem entender absolutamente nada.

Nunca passei tanto tempo sem ficar com ninguém, em situações assim, eu iria no bar de sempre e escolheria alguém interessante, olharia e esperaria ele vir até mim, alguns se arriscariam pagando uma bebida, e nesse estado eu tenho certeza que não pensaria muito sobre quem ficaria por cima, eu só quero relaxar.

Olhei para a porta de vidro da sacada, a noite não estava fria e nem muito quente, soprava apenas uma leve brisa, deixei as cortinas abertas, podendo ver a luz que vinha do quarto em frente, posso ouvir também as vozes que vem da casa ao lado.

Suspirei, eu disse que iria, não poderia simplesmente fingir que não confirmei, eu sempre cumpro com o que falo.

Coloquei uma camisa branca em V sem detalhes, de mangas curtas, uma calça jeans escura e coturnos, estava bom, talvez umas cervejas podem me ajudar a relaxar.

A frustração sexual eu já não poderia fazer muito, tenho noção do que Eren está passando e não vou ser eu a forçar que ele decida qualquer coisa, não posso fazer isso quando sei que não sou homem de relacionamento.

A campainha da minha casa soou e eu fui atender me perguntando quem seria, já que eu não trago desconhecidos e menos ainda contatos sexuais.

Abri a porta e Hange me encara com o seu sorriso de sempre, pronta para me abraçar, fui mais rápido dessa vez e esquivei enquanto saia e trancava a porta.

-Vim te buscar para a festa do Moreno.

-Não precisava, quatro olhos, eu já estava indo.

-Ele te convenceu é? -Começamos a andar em direção a casa vizinha -O que ele fez? Um boquete?

-Foi o Arlet.

-Armin te chupou?

-O que? Não, ele só pediu, louca.

Encarei Hange com o cenho franzido enquanto ela tocava a campainha, a oficina está fechada e como a casa fica no segundo andar, suponho que é necessário que tenha algo barulhento o suficiente para conseguir escutar a chegada das visitas.

-Você não costuma ceder tão fácil assim, Levi.

Sua voz soou estranhamente séria e eu resolvi ignorar, quem atendeu foi Mikasa, ela nos cumprimentou com um aceno preguiçoso e nos disse para ficar a vontade, cruzamos um corredor ao lado da oficina e encontramos uma escada, subimos rápido e logo estávamos em frente a enormes portas de vidros, dando visão para que víssemos uma parte da sala conjugada com cozinha em conceito totalmente aberto.

É uma bela casa, pensei quando entrei, esses pirralhos ou trabalham muito ou são herdeiros de alguém.

No sofá uma mulher loira de olhos azuis conversava agora com Mikasa que se dirigiu até lá, no outro sofá um cara alto, musculoso demais e loiro estava sentado com as pernas abertas, do seu lado, sentado mais decentemente estava um cara aparentemente mais alto ainda, e em frente aos dois uma mulher também alta, de cabelos negros e sardas no rosto, conversavam baixo, apesar do restante falar um pouco alto.

Eren estava na cozinha com uma mulher loira baixinha e um cara esquisito com o cabelo em duas colorações, Armin estava junto rindo de alguma coisa.

Sentindo meu olhar, o Yeaguer olhou em nossa direção e pediu licença enquanto vinha, eu sorri sabendo que talvez fosse arrumar problema depois do que faria.

Eren corou, entendendo completamente errado meu sorriso, Hange me olhou um pouco chocada.

Eu não sorrio abertamente sempre, só quando...

-Levi, achei que não -Foi interrompido com o soco no estomago que lhe dei, seus olhos lacrimejaram e seu corpo se curvou, o som que saiu dos seus lábios foi agonizante e alguns dos amigos dele olharam na nossa direção, de repente todos ficaram em silêncio observando o moreno agonizar curvado enquanto eu o encaro de cima com a expressão neutra de sempre.

-Isso é pelo apelido carinhoso que me deu.

-Eu sabia que só podia ser isso, você só fica feliz quando bate nos outros. –Hange falou sorrindo e acudindo o aniversariante, lhe entregando um embrulho.

-Você ficou louco?

A voz de Mikasa parecia mais grossa quando ela surgiu ao meu lado parecendo com raiva, a encarei com tédio.

-Está tudo bem, Mika, eu mereci -Eren interveio entrando no meio, Mikasa me encarou mais um pouco antes de se afastar. -Se eu soubesse que a surpresa era essa teria me preparado melhor.

-Tsc -Respondi observando seus cabelos soltos, é a primeira vez que o vejo assim e ele realmente fica fudidamente bonito desse jeito.

-Se eu soubesse que gosta de apanhar de homens bonitos já tinha te dado alguns socos -Falou o loiro musculoso aparecendo do nosso lado, quebrando o momento em que estávamos apenas nos encarando e ignorando tudo ao nosso redor, presos nos olhos um do outro. Que merda eu tô fazendo?

-Para de falar besteira, Reiner.

-Eu sou Reiner -O tal loiro me estendeu a mão e eu apertei, devolvendo o cumprimento.

-Levi Ackerman.

-Então você é o vizinho gostoso.

Encarei Eren e ele parecia um tomate de tão vermelho, de repente uma cerveja voou na minha direção e eu agarrei antes que batesse na minha cara.

-Mas que porra?!

-Vê se relaxa, levizinho –Era Hange da cozinha, totalmente a vontade na casa alheia.

-Hange tem razão, sua sobrancelha tá mais enrugada que o normal.

Disse Eren desviando de um chute em sua canela, ele me chamou em direção ao sofá onde o tal laina, raina? Estava, o segui decidindo deixar passar, por hora.

-Essa é a Ymir e esse é Berthold, o Reiner você já conheceu.

Cumprimentei todos e logo uma conversa animada se iniciou entre eles, eu apenas assistia o quão animado e radiante Eren estava, seu sorriso não saia, sorria tanto que os olhos estavam pequenos, quase escondendo as lindas esmeraldas, suas bochechas levemente coradas pelo álcool mostraram que provavelmente estivessem bebendo a um tempo já.

Eren prendia e soltava o cabelo, como uma mania, percebi também que seus olhos as vezes voltavam para mim esperando minha confirmação em alguma parte da conversa, eu o continuei analisando não me importando muito em estar secando o moreno bonito. Não é como se eu conseguisse controlar isso muito bem.

Também Percebi que Reiner simplesmente não parava de olhar para a boca de Eren enquanto ele falava, as vezes colocava a mão em sua cintura e se aproximava, logo Eren se afastava sem nunca interromper o diálogo. Ele parecia não entender as intenções do loiro, como se fosse inocente, e sabendo que o moreno provavelmente ainda está no armário, me pergunto o quanto ele sabe sobre chamar a atenção de pessoas o sexo masculino.

-Então você é policial?

Reiner me perguntou e eu o encarei confirmando com a cabeça.

-Quem sabe um dia você não me prende. -Ele disse, me olhando como o típico predador, a voz mais grossa e os olhos apertados, o sorriso malicioso.

Cheguei perto encostando em seu peito, fiquei na ponta dos pés e alcancei sua orelha, sorrindo de canto antes de falar ao ver sua pele arrepiada, abri a boca e disse alto suficiente para não só Reiner, mas o Yeaguer e quem mais estivesse por perto escutar.

-Você não aguentaria.

Me afastei e encarei Eren que mordia os lábios parecendo nervoso, peguei outra cerveja com a garota loira baixinha que se apresentou como História e me encostei no balcão observando a todos.

Durante algum tempo fiquei sozinho bebendo algumas latas de cerveja, não me incomodei, diferente de Hange que é completamente social, eu não poderia sair socializando com completos desconhecidos, mesmo meus vizinhos eu mal conheço. Então preferi manter uma distância enquanto observo o aniversariante andar pelo ambiente dando atenção a todos, pelo menos até seus olhos pararem em mim.

Eren se aproximou um pouco ruborizado encostando ao meu lado.

-Você deixou o Reiner sem palavras, acho que seduziu ele.

-Ele não tem chance.

-Que bom.

-hum?

-Não seria bom arrumar briga com meu amigo por causa do cara que estou flertando.

-Estamos flertando, é? - decidi continuar com o assunto, a bebida provavelmente fazendo efeito.

-Não tem como não flertar com a pessoa mais bonita na casa.

-Nisso eu concordo.

-Você é muito convencido.

-Não estou falando de mim, Yeaguer.

Eren riu, prendendo o cabelo que estava solto.

-Deixa solto.

Quando vi já estava falando, quis me bater, mas fiquei encarando esperando sua reação, ele apenas soltou me olhando ruborizado de novo.

-Chega de se comer com os olhos, vamos cantar parabéns para o moreno delícia aqui.

Hange se meteu entre nós dois com um bolo na mão, de onde ela tirou um bolo?

-Eu mandei entregar aqui, seu bobo. -Hange respondeu ao meu olhar interrogativo, as vezes me pergunto se ela lê mentes ou se apenas é boa demais em me ler.

Eren agradeceu e logo todos estavam em volta do pirralho cantando parabéns e fazendo trocadilhos toscos com a música.

E Eren sorria.