– Alicia me contou do ocorrido no aniversário do Nott...
Harry surgiu sussurrando ao sofá da comunal, me tirando da distração do livro de estudos. Ao mesmo tempo em que eu o encarei, Rony o fez, mas curioso. Muito provavelmente nós dois não queriamos que Ronald soubesse do ocorrido, mas era tarde demais.
– O que esse idiota fez?
– Não, Rony... – Suspirei.
Os dois me encaravam, e Harry parecia não poder impedir Rony dessa vez, e, por mais que soubesse da história, também queria escutar de mim.
Expliquei-lhes toda a história, e até ficaram curiosos em descobrir como conseguiram o soro da verdade, mas depois que contei-lhes de Draco, esqueceram.
– E depois disso? – Harry perguntou.
– Eu fui embora. Não ia atrapalhar o aniversário dele.
– Foi embora e nem deixou um nariz quebrado?
Harry soltou um pequeno sorriso no canto da boca, por mais que quisesse segurá-lo. Eu queria retribuí-lo enquanto Rony permanecia bravo, mas o episódio com Draco ainda me deixava muitas dúvidas.
Esse seria um dos últimos diálogos que os dois teriam naquele ano.
×
O torneio tributo tinha um prazo pra ser iniciado. Enquanto isso, as academias já haviam chegado a Hogwarts, e o cálice já havia sido colocado em prática selecionando os três bruxos que iriam participar do torneio e, inesperadamente, um quarto, Harry. A escola toda se mantinha calada e pisoteada por um clima extremamente pesado. Todos queriam entender o segredo que Harry fizera pra conseguir estar no torneio, mas nem ele mesmo sabia, e parecia não querer estar. Muitos de seus colegas o questionavam e até mesmo passaram a se afastar, e Rony, ah o Rony... Mais uma vez vencido pelo ego, marcou uma briga tão forte com Harry que colocou em sua cabeça que Harry havia entrado no jogo sem lhe contar. E eu? E eu...
Harry enlouquecia pelo medo e curiosidade do começo desses jogos, e, pelo que tinha descoberto, me deu uma dica de algo relacionado a dragões, e, depois de todas as aulas, eu saia em busca da biblioteca pra caçar algumas informações.
O toque de recolher ia ser acionado e eu ainda mantinha uma pilha de livros em cima da mesa enquanto a ponta da minha pena, molhada de tinta, se arrastava pelo rolo de pergaminho que eu havia levado pra me acompanhar. Interrompi-o, arrancando um pequeno pedaço e marcando a página do livro que eu precisaria voltar pra acompanhar. Fechei-o e me levantei, erguendo minha cabeça que fora direto ao encontro da figura que estava em pé segurando dois livros.
Draco.
Suspirei, uma vez que o garoto já percebeu minha presença e estava tão próximo quanto qualquer outra pessoa. Estávamos distantes demais de todas as pessoas ali.
– Granger...
– Eu já estava de saída. – Apanhei todos os rolos que ali estavam e joguei-os na minha bolsa, junto com a pena limpa, o tinteiro e os objetos que eu deixei na mesa. Restavam os livros, mas, ao jogar três dos menos pesados em meus braços, percebi que colocar os outros quatro seria impossível.
– Por que ir tão cedo? – Draco encostou em mim, fazendo-me virar. O garoto observou os outros livros na mesa e os pegou, me acompanhando para guardá-los. – Então... como está Potter? – Me encarou. Ele sabia que aquela conversa não fazia sentido. – Ok... – Riu. – Já que eu to aqui, estou levemente interessado e curioso sobre os truques que Potter usou pra conseguir entrar no torneio.
Eu jogava alguns livros pra cima para que conseguissem voltar a seus lugares, e, por um momento, me virei e ri junto com ele.
– E por qual motivo você veio perguntar pra mim, e não pra ele?
– Ora, Granger, ele não iria conseguir isso sem você. Desvendei que isso fosse obra sua, tão empenhada e carregada de informações... – Draco, quase que ironicamente tentava usar seu (podre) charme. Me rodeava, se aproximando cada vez mais de mim.
– Ok, pode parando. – Encarei-o, não largando mão do sorriso forçado. – Devo me sentir honrada por acharem que eu conseguiria um feitiço tão poderoso a ponto de enganar o maior bruxo da atualidade?
– Vai me dizer que não era o que Potter queria? Entrar no torneio?
– Draco, não... Isso está sendo um pesadelo! Harry não queria estar nisso. – Joguei o último livro pra cima.
Por um momento paramos e nos encaramos, ambos viajavam em seus pensamentos. Draco interrompeu-o, sorrindo.
– Vai me dizer que você queria estar lá? – Questionei-o com uma risada, franzindo o cenho.
– Creio que não preciso desses… joguinhos. Acredito no texugo, e Fleur é muito egocêntrica pra isso. Potter é ingênuo... – O encarei seriamente, distraindo-me mais uma vez enquanto imaginava jogar um daqueles livros em cima dele. – OK! Me desculpe... – Draco virou o rosto para encarar uma outra pessoa que estava na porta da biblioteca. Parecia vagar pelo castelo e ter parado por ali. Me encarava tão fortemente que parecia atravessar meus olhos.
– Vitor Krum... Não parece querer conquistar mulheres... – Krum de repente sumiu de vista me deixando paralisada, e Draco só me observava, sussurrando. Suspirou. – Mas seria interessante, sabe... Ganhar alguns prêmios, alguns prestígios, ganhar tudo isso por passar em cima de alguns...
– Sangues ruins? – Travei-o atrás de mim, quase muito próximos.
Draco não respondeu. Depois de muito tempo ele tossiu uma risada forçada. – Take it easy! Eu ia dizer babacas...
– Simulando uma batalha em que, prontos, estamos eu e Krum para duelar com você. Quem você atacaria primeiro? – Parecia não ter o deixado confortável. Mas nós ainda não nos movíamos e estávamos próximos.
– E por que você acha que eu não enquadro você na lista de babacas?
Eu ri.
– Então eu devo estar na sua lista de babacas que Malfoy tem uma quedinha por.
Draco finalmente havia saído de sua postura e começou a gargalhar.
– Eu tenho uma quedinha por você? Devo perguntar por que você pensa isso?
– Deve ter um motivo pra você não tirar os olhos de mim. – Respondi. Nesse momento ele havia me encarado de verdade. – Ou deve ter um mesmo motivo pra você recusar um soro da verdade quando mente sobre seus sentimentos por mim. – Eu havia me aproximado demais dessa vez, e estávamos tão próximos que eu até conseguia sentir sua respiração na minha bochecha. Nesse momento, olhei para o lado e dois amigos de Draco haviam chegado.
Afastei-me, e o garoto continuou onde estava. Sai de lá tão rápido que eu parecia querer voar, mas meu corpo não reconheceu que eu não tinha asas e, ao sair da biblioteca, minhas pernas se enrolaram. Percebi que havia ido de encontro ao corpo de um aluno na porta, mas apenas o meu corpo foi para o chão. O corredor estava vazio, e, estando do lado de fora da biblioteca, ninguém havia nos visto. Olhei para cima encolhida, e uma mão se ofereceu para eu me apoiar. Era Krum.
– Me desculpe... – Recusei sua mão. Não por ser rude, mas me sentia extremamente envergonhada.
– Você se machucou? – Sua voz era grossa, e ele camuflava as letras tentando pronunciar o inglês. Distraí-me.
– Não... Quer dizer... Não! Obrigada. – Ri. – Me desculpe mesmo. – Eu não sabia se ele conseguia entender minha língua, mas aquilo estava cômico. – Me desculpe...
– Eu entendi. – Fez que sim com a cabeça. – Desculpada, três vezes.
– Você está bem?
– Estou. – Ele abaixou a cabeça. – Estou. Estou.
Por um momento eu ri, e, logo em seguida sem saber agir, me retirei mais uma vez.
×
Naquela sexta feira havia um aviso em todas as comunais de que as academias iriam oferecer um exemplar de aula para os alunos a partir do terceiro ano. Não que todos fossem obrigados a participar, mas a substituição de algumas aulas na sexta por um período integral significava que todos os alunos estavam disponíveis, e isso era uma subliminar mensagem de Minerva afirmando que todos deveriam, por questões éticas, comparecer. Junto ao aviso havia instruções de que deveríamos usar roupas acadêmicas e confortáveis, o uniforme das aulas de quadribol opcionalmente. O time de quadribol era pouco e consideravelmente baixo comparado a todos os alunos do terceiro ano acima, e isso representava uma porcentagem menor de alunos com uniforme de quadribol (pelo menos cabíveis). Tudo o que me restou foi um conjunto de moletom que eu havia separado. Rony havia me acompanhado em direção ao grande salão, balbuciando pelo menos a metade de um caminho inteiro uma espécie de reza para que não houvesse nenhuma atividade que o fizesse correr, pular, ou coisas do gênero (irônico de quem já considerava a ideia de entrar para o time de quadribol). Harry não apareceu e não deu notícias de sua presença, e isso já era considerado uma falta.
Ao chegarmos ao grande salão, todas as mesas haviam desaparecido e todos os alunos se agrupavam em pequenos grupos. Os alunos de Durmstrang estavam espalhados, e não pareciam estar todos, apenas alguns que se comportavam como mestres - Karkaroff, e Krum, que não havia me visto ainda, e me facilitou a esconder atrás de Rony por um tempo -.
O relógio bateu o horário e em segundos Minerva apareceu com a voz inconfundivelmente clássica e alta, aguda como uma flauta.
– Bom dia, meninos e meninas, alunos e alunas, senhores e senhoritas. A instituição de Durmstrang se ofereceu para compartilhar conosco um pouco de sua importantíssima carga educacional. Passo minhas palavras ao senhor Poliakoff. – Poliakoff era um dos alunos próximos a Krum, e esse se juntou ao garoto no instante em que tomara a atenção de todos.
– Obrigada Sr. McGonagall. Hoje iremos compartilhar e ensiná-los uma das aulas práticas que os alunos de Durmstrang mais precisam bondar. É uma técnica ministrada há muito tempo por um mestre de defesa contra as artes das trevas em Durmstrang, e é totalmente camuflada e pouco conhecida. Esse fato traz vantagens aos alunos que assim fazem parte. Asgard Solberg foi um professor que criou ou pelo menos ensinou a arte da defesa do corpo. – Poliakoff andava enquanto falava. – Enquanto se participa de um duelo, você utiliza pelo menos cinquenta por cento do seu precioso tempo utilizando feitiços de defesa. E se pudéssemos simplesmente nos desviar?
Poliakoff parou por um instante enquanto Krum seguia para o andar onde o amigo estava, e ambos permaneceram em posição de duelo. Poliakoff assentiu, e Krum jogou a mão para cima em um movimento para que o feitiço saísse de sua varinha. Quando o feitiço estava próximo de atingir Poliakoff, ele se abaixou tão rápido que aquele passou longe do seu corpo e se quebrou ao chegar à parede. Antes que Poliakoff pudesse se levantar novamente, uma linha de luz saiu praticamente embaixo de seu braço, surpreendendo a todos e principalmente ao Krum, atacado pelo feitiço. Ele caiu, e ambos riram.
– Viram o que aconteceu logo em seguida? Desviei do feitiço, e o ataquei de maneira sutil. Essa foi a segunda prática. Todo bruxo treina sua mente para ser ágil e perceber que será atacado a partir do momento que o oponente levanta sua varinha para fazer o ataque, mas se o feitiço for realizado um pouco mais distante do campo de visão do oponente, sua agilidade terá de ser bem mais rápida para se defender. – Poliakoff se aproximou de Krum para ajudá-lo a se levantar. Nesse meio tempo, Vitor me encarou por alguns segundos.
– Quero que formem duplas para duelarem e quero que usem essas duas práticas. Evitem feitiços de defesa e evitem mostrar seus ataques antes de realizá-los. Usem o corpo. E, por favor, seria bom se parássemos apenas no feitiço de desarmamento. Não queremos levar ninguém pra ala hospitalar.
Havia uma fileira grande de duplas com um espaço considerável. Nenhuma dupla estava atrás da outra para que não houvesse feitiços atacando outros alunos. Também havia pelo menos um aluno de Durmstrang para duas ou três duplas como orientação. Minha dupla era Ana Abbott, e aquilo me preocupava. Krum deu o sinal e a menina soltou um feitiço, me fazendo infelizmente lançar um feitiço de defesa. Se eu não me sentia muito confortável em mexer o corpo, talvez começasse pela prática dois. Todos os alunos pareciam divertir um pouco os meninos, principalmente os terceiros e quarto anos. Já os sextos e sétimos anos aparentavam agradá-los, até mesmo Cedrico que se divertia toda vez que atacava ou era atacado por seu amigo e oponente. Do outro lado, Malfoy parecia se aborrecer cada vez que o aluno de Durmstrang tentava ajudá-lo, e isso facilitava para seu oponente o atacando.
Krum passava por todos os alunos, mas eu não havia observado isso tentando me proteger da minha oponente. Eu continuava tentando lhe atacar por surpresa. Procurei jogar minha mão por baixo do braço, mas o feitiço já não havia saído pela falta de espaço para o movimento. Em segundos, senti alguém pegar meu braço e meus ouvidos haviam sido invadidos pelo sotaque forte:
– Tente fazer o movimento antes de esconder sua mão. E não a encaixe tanto no seu braço, se não ele pode ser atingido. – Krum pegou meus dois braços e repetiu com uma leveza o movimento pela primeira vez, mas na segunda vez a velocidade acelerou o bastante para o feitiço sair e Ana ser acertada. Krum assentiu para mim, e eu acompanhei seu olhar até não conseguir virar mais o pescoço. Encolhi o rosto e o sorriso que saltara involuntariamente em meu rosto, e meus olhos correram para o salão novamente, passando por Draco. Me observava há minutos com um semblante desprezível, e eu corei.
O tempo passava e muitos se divertiam. Poliakoff interrompeu:
– Parece que aprendemos uma base, que tal agora juntarmos em um grupo? Separem um círculo no centro do salão, escolherei seis alunos para virem, faremos rodízio. – Poliakoff começou escolhendo os alunos. Rony havia sido escolhido e, para segurança, criaram uma barreira defensora entre os alunos escolhidos e os alunos que esperavam do lado de fora. Depois de muitas rodadas, eu finalmente havia me posicionado com mais quatro alunos, dois do quinto ano, um do sexto e, do seu lado, o pesadelo. Draco.
Isso deve ser brincadeira. Sussurrei novamente enquanto me posicionava. Draco me encarou e sorriu de leve, maliciosamente, e aquilo me ferveu e me impediu de interromper. Tudo o que eu conseguia pensar era em levá-lo dali para a enfermaria pelo o que aconteceu alguns dias antes, quando ele me atacou e fez meus dentes crescerem enquanto brigava com Harry. Talvez fosse a melhor hora para me vingar. Poliakoff deu o sinal e não pensei duas vezes em atacá-lo. Não me preocupei em camuflar movimento algum, eu queria era que ele explodisse, mas por algum milagre o feitiço sumiu e ninguém percebeu minha tentativa infantil de eliminá-lo. Depois de alguns ataques, a garota do sexto ano havia me lançado um feitiço e, antes de pensar em me defender, me joguei de bruços para o chão para me desviar. Estava em posição de flexão de braços, impressionada com o primeiro sucesso em não utilizar um feitiço de defesa. Logo em seguida ergui o braço com a varinha para atacá-la de volta. Levantei-me rápido antes que alguém pudesse me atacar, mas, dessa vez, era Draco. Havia me atacado tão de surpresa que tive de me render a um escudo novamente, e ele não parecia querer continuar uma brincadeira. Depois do primeiro feitiço, lançou-o uma segunda vez e tão rápido que novamente me rendi à defesa, mas ele não parou. Dessa vez, todos haviam parado e estavam nos encarando.
Em uma terceira vez, eu já não me atentei ao feitiço, sendo atacada e empurrada para longe. Ao bater contra o chão, senti minha coluna gritando de dor. Passei a observar para onde minha varinha havia sido jogada enquanto Krum desarmava Malfoy, mas era tarde demais. Em um reflexo involuntário eu já havia recuperado minha varinha e, sem mesmo levantar, gritei:
– Petrificus Totalus! – Lancei, atacando-o de surpresa e jogando-o ao chão, petrificado.
Minerva aproximou-se correndo, e um dos alunos de Durmstrang agiu, retirando o feitiço do garoto.
– Vocês dois. Na minha sala, agora!
×
Minha cabeça estava baixa. Eu conseguia sentir o ar saindo do meu nariz e indo de encontro ao meu peito. Vez ou outra eu me ajeitava na cadeira pra evitar o incômodo da pequena dor na minha coluna, consequência do golpe. Eu procurava refletir sobre todos os segundos. Eu nunca tinha o visto daquela maneira. Eu não via raiva nele. Eu via ódio.
Em segundos, a porta se abriu com o tom de voz alto de Minerva. Continuei de cabeça baixa, mas conseguia perceber que Minerva entrou primeiro e em seguida, Draco. A professora se sentou, e Draco repetiu seus movimentos, mesmo que um pouco pesados.
– Estamos diante de uma das melhores academias de bruxos da história da magia, que se voluntariaram a passar-lhes um pouco do conhecimento e da cultura deles, e é assim que recompensam? Malfoy, a escola não precisa saber e não deve interferir no seu relacionamento com a senhorita Granger e aos alunos, principalmente os nascidos trouxas, mas faça-me o favor de não demonstrá-los e ter um mínimo de respeito. Seu pai...
– O que tem meu pai? – Malfoy interrompeu-a, como se falasse com qualquer conhecido, e isso me fez levantar a cabeça.
Minerva observou-o por uns instantes e, antes mesmo de começar a falar, o garoto continuou.
– Não acho que você queira me comparar ao meu pai, não é mesmo, professora? Ele não está em uma posição muito exemplar essas horas...
– E quanto a respeito, Sr. Malfoy... – Minerva interrompeu-o. –... Eu peço que pelo menos tenha consciência sobre hierarquias nessa escola e saiba muito bem assumir seus erros, principalmente quando pensa em me interromper dessa maneira. Se quer mesmo falar por mim, saiba exatamente do que eu vou falar, e não coloque palavras em minha boca. – Minerva cuspiu as palavras. – Seu pai não ia gostar nada das suas atitudes, era o que eu ia dizer antes de me interromper.
Nesse momento, Malfoy havia abaixado a cabeça enquanto bufava, vorazmente. Já Minerva, dessa vez, virou os olhos a mim.
– Srta. Granger, admito que a confusão não tenha sido tão desafiadora a você, entretanto, deve controlar e respeitar seus conhecimentos em feitiços utilizados nessa escola uma vez que a senhorita já havia sido resgatada pelos alunos de Durmstrang. Não devia ter respondido ao Sr. Malfoy daquela maneira.
Apesar de compreender as palavras de Minerva, eu entendia perfeitamente que ter que me colocar naquela situação a feria e ela não queria ter de fazer mal algum a mim.
– Infelizmente eu terei de dar detenção aos dois, principalmente para aprenderem que essa escola tem como objetivo a união e não o desrespeito, e talvez se ambos trabalharem juntos poderão perceber isso. Entretanto, a Srta. Granger ficará com uma carga menor. – Enquanto falava, Minerva pegou um pedaço de pergaminho e molhou a ponta da pena apressadamente, passando a anotar. – Farão algumas horas de detenção, quero que auxiliem e biblioteca e ala hospitalar juntos, e isso também inclui a organização do baile de inverno. Cuidarão da organização do evento e ficarão atentos a todos os acontecimentos no dia do evento. Com isso, o Sr. Malfoy também estará auxiliando no que possa ter colaboração para os eventos do torneio, além de ajudar Filch com as corujas.
Eu queria bufar, suspirar, gritar, qualquer ação física que demonstrasse que eu queria que aquilo acabasse, que ela dissesse que não faria aquilo, mas eu só conseguia observar Draco demonstrar sem sutilidade alguma, mesmo que não fizera nada para impedi-la.
Enquanto isso, Minerva esticou o braço para que eu pudesse pegar o pergaminho e levá-lo ao mural, e isso só fez eu me levantar e perceber que eu já podia me retirar da sala.
Despedi-me, indo em direção ao corredor até ser totalmente esbarrada pelo corpo de Draco. Estava furioso e extremamente apressado pelo corredor de cabeça baixa. Ao passar por mim, virou-se percebendo minha curiosidade. Eu realmente queria me desculpar, demonstrar que eu estava arrependida, que eu não queria que aquilo acontecesse, mas seus olhos em direção aos meus demonstravam mais ódio, o que me fez mudar meu semblante igualmente, como um espelho. Isso me fez repensar, que eu não tinha nada a dizer, que ele estava errado. Qual o seu problema?
Eu estava pronta pra dizer algo, e ele parecia querer cuspir algumas palavras, mas tudo o que ele fez foi virar-se e sair, apressado da mesma maneira.
Eu me encontrava congelada naquele corredor, totalmente parada, sem pensar, reagir. Ele havia me petrificado.
×
O sol conseguia se esconder atrás de um dos postes que sustentavam o corredor a caminho da Ala Hospitalar. Me esquecia completamente de que deveria cumprir algumas horas como auxiliar, mas os trabalhos haviam me deixado horas em cima dos livros, junto ao desespero do Harry em tentar descobrir a próxima fase do torneio. Eu estava muito mais próxima da comunal do que da Ala, e a neve trazia para o castelo uma brisa tão gélida que me fez procurar por um banho e um uniforme muito mais quente antes de me direcionar ao recinto.
Ao chegar, havia pelo menos quatro estudantes sobre as macas, e todos pareciam estar adormecidos. Papoula estava preparando o casaco para jogar sobre o corpo enquanto tirava a pequena bolsa apoiada em uma das cadeiras, até me ver.
– Srta. Granger! – Ela terminou de se arrumar. – Ainda bem que você está aqui. Eu preciso jantar, mas há sopas para serem feitas e eu ainda preciso terminar de etiquetar os béqueres e potes, então tento voltar o mais rápido poss...
– Sra. Pomfrey, não se preocupe. Eu pretendo cumprir quatro horas hoje, a professor McGonagall permitiu que houvesse quebra do toque de recolher, e amanhã a minha primeira aula é só no período da tarde. Pode descansar depois do jantar, qualquer coisa eu peço para o Filch lhe chamar.
Aquela já era a quinta vez que eu colaborava com a Ala, o que fazia com que Papoula tivesse mais confiança. Eu já tinha na ponta dos dedos os cuidados para se fazer tarefas básicas e demoradas, como alimentar, etiquetar, organizar e limpar o âmbito. Ela simplesmente concordou, parecendo aliviada, e pediu que finalizasse o que ela iria começar com minha ajuda.
Ao ajustar um pequeno avental sobre o meu corpo, cuidei de amarrar o cabelo para que conseguisse primeiramente arrumar os béqueres. Enquanto isso, o barulho de passos conseguiu me distrair e automaticamente me assustar. Era Draco.
Ao me virar, o garoto pareceu se assustar, dando um sutil passo para trás. Ele não havia notado minha presença antes de entrar. Evitei encará-lo nos olhos, abaixando minha cabeça para voltar aos potes. Essa era a primeira vez que estávamos cumprindo a tarefa juntos. Talvez fosse a primeira vez que estávamos sozinhos desde o ocorrido no grande salão.
– Se quiser estar a par de tudo, madame Pomfrey pediu que fossem feitas as sopas. Os pratos já estão organizados com o caldo e alguns remédios, se quiser ir colocando algumas ervas…
Eu falava mesmo sem notar se Draco ainda estava ali ou não, mas os passos (agora lentos) do rapaz fizeram-me notar que ele não havia ainda sequer me insultado. Não parecia brincar ou caçoar de algo, muito menos tinha o intuito. Ao analisar, virei-me, e lá estava ele, jogando o avental sobre o corpo enquanto encaixava as luvas nas mãos. Por fim, buscava por um dos potes de uma das ervas que Pomfrey deixou empilhados naquela pequena prateleira. Parecia cabisbaixo, quieto demais, descontente com algo.
Ele não havia levantado a cabeça um segundo, enquanto isso, tentava organizar a planta e tentava cortá-la, resultando em algo pouco delicado. Soltei o pote brutalmente e me direcionei ao garoto, que se afastou do balcão.
– Deixa que eu faço isso. Sabe... – Estiquei a luva para que minha mão se encaixasse. – As urtigas possuem inúmeras finalidades terapêuticas. São ricas em proteínas, e possuem minerais e vitaminas. Se souber cortá-las corretamente, saberá aproveitá-las melhor, li no segundo ano em um livro de herbologia. – Peguei a faca, e ele ainda me observava, buscando minha atividade antiga para finalizá-la em meu lugar. – Se cortá-la na diagonal, poderá aproveitar o caule em cada pedaço na hora de secá-las... – Mostrei-lhe se quisesse ver, cortando a folha como dito. Finalizei com um pequeno sorriso, mas logo o desmanchei. – Draco, Minerva não queria falar daquele jeito sobre você e seu pai...
– Não se preocupe. – Ele suspirou, e eu involuntariamente interrompi minha atividade por alguns segundos para assistí-lo. – Não me preocuparia em saber o que os outros estão pensando do meu pai porque eu sei o que eles acham. - Virei-me, pensativa no momento, e Draco percebeu que eu me calaria. – O máximo que aconteceria era você não pegar essa detenção comigo se não tivesse me atacado com o feitiço.
Dessa vez, eu já o observava, e ele possuía um semblante calmo, quase como se eu não o conhecesse. Enquanto isso, eu havia me esquecido completamente de quem ele era. Peguei-me levemente presa no seu olhar, e aquilo estava fazendo com que eu quisesse me aproximar dele.
Ao fazê-lo lentamente, a faca apoiada na tábua havia escorrido sobre meu dedo e fazendo-lhe um pequeno corte.
– Ai!
Eu quase havia gritado, e logo soltei a faca. Coloquei o dedo machucado espremido sobre os outros dois da outra mão. Draco também se assustou e se aproximou para verificar, procurando por um curativo enquanto disfarçava uma risada sutil.
– Isso não tem graça, doeu! – Ri junto, e ele voltava com alguns pequenos curativos e pedia pra eu me aproximar.
– Você pode me dar um sermão sem que haja uma enorme infecção nesse dedo.
Enquanto ríamos, Draco delicadamente pousou o adesivo sobre meu dedo depois de acrescentar algum remédio que o deixou fresco e ardido. Observei-o.
– Eu estava pensando... – Ele me observou, e eu quase havia ficado presa em seu olhar novamente. –... Já que precisamos cuidar dos preparativos para o baile, e precisaremos ficar atentos durante, o que acha de não nos comprometermos em irmos como alunos? Digo, não levarmos nenhum par, não que eu esteja insinuando de nós irmos juntos, mas... Não, eu nunca iria com você, só... Iremos precisar passar o tempo juntos, e não podemos nos distrair, e... Você entendeu!
Me interrompi. Eu estava gaguejando, e eu não sabia de onde vinha aquele nervosismo todo. Draco estudava entender, franzindo o cenho. Largou minhas mãos, afastando-se.
– Nunca iria comigo? Estou ofendido. – Riu, e aquilo me aliviou. – Mas eu entendi o que você quiser dizer. Não se preocupe, posso pensar nisso. E isso não é um convite para o baile.
Olhei torto para o sarcasmo do garoto, e me deparei com as horas. Ele me acompanhou ao olhar para o relógio.
– Acho que você precisa se encontrar com Filch agora. – Malfoy bufou, se apoiando no balcão. – Não se preocupe, entregue as sopas, eu cuido dos potes até você voltar para cumprir duas horas. Eu vou cumprir quatro. – Lhe afirmei, e ele suspirou novamente, voltando-se ao balcão para pegar os potes que estavam com a janta dos enfermos.
Enquanto se afastava, Draco se virou.
– E, Granger, me desculpe...
– Obrigada, Merlin! Achei que essa palavra nunca sairia dai. – Afirmei, um pouco alto para os alunos que ali estavam, e Draco começou a rir, por mais que um pouco impaciente.
– Eu só ia pedir desculpas pela aula. Mas não se aproveite muito disso...
Draco terminou de entregar os potes e logo se retirou, e eu mantive ali, na mesma posição, novamente parada por segundos, até virar minha cabeça para observar o enfermo mais próximo. Era um garoto que havia sido petrificado.
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