História Obrigado por curar minhas feridas : snames - Cervo

Cervo

Era noite e os alunos de Hogwarts já estavam em seus dormitórios. James olhava para o teto de seu quarto pensando em todos os acontecimentos daquele dia, estava tão distraído que nem notou o falatório de Sírius ao seu lado, acabando por ignora-lo.

— Prongs! Está me ouvindo?! - a voz irritada do Black cortou a linha de pensamentos do outro, fazendo com que o garoto o olhasse atordoado.

— Hã? O que? - o Potter balbuciou confuso.

— Você não escutou nada que eu disse?! Céus! Onde você está com a cabeça?! - o garoto de cabelos longos indagou irritado, afinal havia ficado vários minutos falando para a parede.

— Ele foi acertado por um feitiço Sirius, James deve estar cansado - a voz de Remus saiu arrastada, quase exausta, enquanto colocava o livro que lia sobre a cômoda ao lado da cama — E ninguém é obrigado a ficar escutando as bobagens que você diz. - terminou a fala em um tom seco e grosseiro antes de se deitar e fechar o cortinado tampando a visão que seus amigos tinham de si.

Sírius se calou, a expressão irritada sendo substituída por uma magoada e chateada, a fala fria do Lupin o afetando profundamente. Ele suspirou sentindo um toque suave em seu ombro encontrando o olhar gentil de James que tentava lhe consolar. 

Todos sabiam o quão sensível e irritadiço Remus ficava durante os períodos próximos da lua cheia e durante ele, mas mesmo assim ainda doía ser tratado de forma tão bruta. O grifinorio balançou a cabeça tentando afastar aquelas sensações ruins que se instalaram em seu peito.

— Como foi sua visita à enfermaria? - o Black perguntou, tentando deixar de lado aquele apertou em seu coração e também para tranquilizar o Potter que parecia bastante preocupado com suas emoções abaladas.

— Foi tudo bem, Madame Pomfrey disse que eu estava perfeitamente saudável e que provavelmente nada de mal vai acontecer comigo. - respondeu, enquanto procurava uma posição melhor para se deitar novamente, Sírius também o acompanhou deitando em um ângulo esquisito na cama do colega.

— Você parece pensativo, tem certeza que não aconteceu nada lá? - indagou novamente, enquanto colocava as pernas sobre as de James para ficar mais confortável. 

O Potter fixou mais uma vez seu olhar no teto, não iria dizer o que tinha visto na enfermaria, conhecia Sírius muito bem para saber que ele tentaria descobrir os mínimos detalhes do que havia acontecido com Severus e não seria de uma forma delicada. James podia não ser o maior fã do rapaz, mas com certeza não seria cruel ao ponto de mexer de forma tão indiciplinada com uma situação que parecia tão delicada.

— Tenho, está tudo bem. - sorriu antes de tirar o óculos redondo o colocando sobre a cômoda.

O Black não insistiu mais no assunto indo para sua própria cama.

~✿~

Na ala hospitalar de Hogwarts, havia uma intensa movimentação do único paciente ali presente. Severus se mexia violentamente sobre seu leito enquanto o lençol fino que cobria seu corpo estava grudava em sua pele pelo suor frio.

Madame Pomfrey correu até o rapaz tocando-lhe a testa sentindo como a temperatura corporal do sonserino estava alta. Ela olhou pesarosa para o garoto enquanto ouvia suas lamúrias acompanhadas de um choro baixo, quase silencioso. Era óbvio que Severus estava tendo um terrível pesadelo, talvez memórias ruins sendo revividas.

A enfermeira caminhou até uma estante onde guardavam vários poções diferentes, pegando uma para febre e outra para uma noite sem sonhos. A mais velha aproximou-se novamente do sonserino, sentando-se ao seu lado, as manchas roxas nos braços e no tronco do rapaz já haviam quase desaparecido graças aos tratamentos mágicos que tinha usado, ela ergueu suavemente a cabeça de Snape para poder fazer com que o garoto ingerisse as poções, não demorou para a face franzida em dor ser substituída por uma mais serena.

Madame Pomfrey soltou um longo suspiro antes de olhar tristemente para o mais novo. Ela acariciou levemente os fios negros de Severus, podia estar curando as feridas superficiais dele, mas os piores machucados estavam marcados na alma e no coração daquele garoto.

“Espero que encontre alguém que lhe ajude a cicatrizá-las.” Pensou enquanto se afastava do sonserino.

~✿~

O dia já havia amanhecido e todos os alunos estavam no salão principal prontos para seu desjejum, o barulho das conversas e som dos talheres tintilando era a sinfonia que compunha o ambiente alegre, mas está alegria parecia não alcançar o quarteto dos marotos, todos eles pensativos e distantes.

Remus era quem mais estava disperso, mexendo em sua comida com desinteresse e uma olhar desfocado no rosto. Estava cansado daquele dia que mal havia começado e tudo só pioraria durante a noite. Um suspiro pesado saiu de seus lábios enquanto desistiia de seu café da manhã, afastando o prato intocado para longe, não tinha apetite, seu estômago estava embrulhado ao pensar que daqui a algumas horas viraria novamente um monstro.

Sirius parou de comer olhando atentamente para o Lupin, vendo como o semblante dele estava triste e abatido. Sentiu-se mais uma vez frustrado e inútil por saber que não havia nada que pudesse fazer para acabar com o sofrimento da pessoa que amava, se fosse possível ele trocaria de lugar com Remus apenas para não ver aquela angustia e dor estampadas nos belos olhos dele.

— Moony você deveria comer ou vai acabar passando mal. - a voz de Sírius era cautelosa, sabia como o outro estava sensível naquele dia.

— Não estou com fome. - dessa vez a resposta não havia sido grosseira e sim tristonha.

— Sendo assim eu também não vou comer! - o Black exclamou, afastando seu prato para longe nem percebendo os olhares curiosos de seus colegas pela situação inusitada.

— Pare de besteiras Sirius. - o Lupin suspirou, seus olhos castanhos mel agora focados nos acinzentados do outro garoto.

— Não, só vou comer se você comer também. - o olhar e a fala seria do rapaz não deixavam brechas para contestamentos.

— Você vai passar mal.

— Você também! - Remus suspirou pela teimosia alheia mesmo que também estivesse sendo bem teimoso.

— Por que tudo isso Sirius? - ele já estava começando a ficar irritado com aquelas atitudes do Black.

— Porque eu gosto muito de você e não vou ficar apenas parado vendo você se prejudicar ou deixa-lo sozinho quando sei que precisa de mim. - as palavras amorosas saíram naturalmente dos lábios de Sírius, acompanhadas de seu olhar carinhoso e preocupado, ambos os garotos ficaram parados se olhando por longos segundos, absorvendo aquela declaração tão profunda e íntima.

Remus foi o primeiro a desviar o olhar sentindo as bochechas tão quentes como se estivesse prestes a entrar em combustão, o Black abaixou a cabeça logo em seguida se batendo mentalmente por ter deixado escapar seus sentimentos em um momento como aquele, nem um pouco propício e muito menos romântico.

— Padfoot não é o único preocupado com você, Moony - James falou em seu costumeiro tom animado tentando deixar o clima estranho de lado — Nós todos gostamos muito de você e não queremos o ver mal. - sorriu para o amigo que assentiu ainda atordoado com as palavras amáveis de Sírius, mas voltando a comer seu café da manhã sentindo que a comida tinha adquirido um sabor muito mais agradável agora.

— Você me deve uma…- o Potter sussurrou divertido, vendo o Black murmurar em concordância enquanto voltava a comer, seu semblante tão disperso quanto o de Remus.

Prongs balançou a cabeça achando graça de como seus dois amigos complicavam as coisas até demais.

~✿~

O restante do dia havia passado depressa e quando menos perceberam já era noite. Remus tinha ido para a casa dos gritos onde poderia se transformar sem machucar ninguém, Sirius, James e Peter se preparavam para irem o ajudar em sua transformação não deixando com que o Lupin saísse da velha mansão.

— Vamos logo Prongs. - Sirius sussurrou, se ajeitando melhor de baixo da capa de invisibilidade que usavam para sair do castelo.

— Calma Padfoot. - James sussurrou de volta, tomando cuidado para não tropeçarem em nada durante o caminho.

— Estamos quase chegando. - Peter resmungou sentindo o cotovelo do Black acertando suas costelas — Cuidado Sírius. - o maior sussurrou um pedido de desculpas quando finalmente alcançaram o lado externo do castelo.

Os três garotos foram a passos rápidos até o velho salgueiro lutador prontos para entrarem na passagem da árvore que dava até a casa dos gritos. Eles rastejaram pelo apertado túnel até chegarem a antiga sala onde Remus estava sentado no chão.

— Vamos nos preparar, já é quase meia noite. - Sirius falou para James que assentiu em concordância. o Black respirou fundo antes de assumir sua forma animaga de um gigantesco cachorro de pelos negros, logo em seguida foi a vez do Potter dar início a sua transformação.

James fez o mesmo processo de sempre para sua trasfiguração, mas havia algo estranho, seu corpo estava formigando como havia ocorrido mais cedo ao ser atingido pelo feitiço e tudo ao seu redor começou aumentar de tamanho.

— O que?! - Peter gritou confuso ao olhar para o que parecia ser um gorducho filhotinho de cervo.

— Prongs?! - Sirius desfez sua forma animaga, olhando assustado para o amigo.

Antes que pudessem raciocinar sobre o que estava acontecendo, um barulho vindo do canto da sala chamou a atenção de todos. Os três garotos olharam para Remus vendo o brilho da lua sobre ele, o grifinorio tinha as mãos na cabeça enquanto grunia dorido, os dedos se alongando e as unhas se transformando em garras, pelos cinzas cresceram em todo seu corpo, e suas feições se modificaram mostrando que realmente era um licantropo.

Sirius olhou assustado para seus dois colegas, mandando que ambos fugissem dali para o mais longe possível, enquanto ele tentaria segurar Remus sozinho. James não queria ir, mas estava pequeno demais para ajudar em algo.

O Lupin rosnou alto olhando para os três seres parados no meio daquela sala, o lobisomem avançou sobre eles para atacá-los, mas o Black foi rápido voltando a sua forma animaga impedindo que ele acertasse os outros dois. Rabicho chiou assustado antes de também assumir sua forma animaga virando um pequeno rato e correndo para debaixo de algum móvel, enquanto o James corria para a passagem do salgueiro lutador, saindo da casa dos gritos, ele apenas parou de correr quando os uivos e rosnados ficaram mais baixos.

O Potter soltou um grunido sentindo seu corpo mais cansado do que o habitual, ele já iria deixar sua forma animaga, que havia sido bem útil para escapar da casa dos gritos, quando ouviu passos ligeiros o fazendo entrar em alerta.

— O quê? - o grifinório levantou seu rostinho de cervo, vendo uma figura famíliar.

“O que o ranhoso está fazendo do lado de fora uma hora dessas?” James se questionou, vendo o sonserino se aproximar cautelosamente lhe entendendo algo que parecia ser um pedaço de maçã.

O animago entrou em alerta, enquanto Severus se aproximava cada vez mais dando um sorriso amigável e deixando o pedaço de maçã sobre a grama. James não quis parecer suspeito então cheirou a fruta sentindo aquele aroma doce.

— Não tenha medo, pequenino - Snape sorriu novamente como se incentivasse o cervo a comer aquilo que lhe foi oferecido. O Potter exitou por um momento pensando no quão idiota aquilo iria ser, mas ele comeu a fruta sentindo quando a mão de Severus pousou sobre sua cabeça fazendo um carinho ali.

O sonserino sorriu ainda mais largo, tinha saído do castelo para respirar um pouco de ar fresco e espairecer, mas quando começou a ouvir os gritos, grunidos e até uivos ele resolver que era melhor voltar, só não esperava encontrar um animalzinho como aquele ali, nos arredores de Hogwarts.

— Eu devo voltar para o castelo agora - Severus afastou-se sorrindo amavelmente para o pequeno cervo — Você também deveria voltar para sua casa, é perigoso estar sozinho aqui - disse vendo a bolinha continuando parada no mesmo lugar — Você não tem casa? - ele se ajoelhou novamente, tocando os pelos castanhos e suaves do bichinho, sem saber que era James Potter ali e que ele não poderia entrar no castelo sendo seguido pelo seu olhar afiado.

Snape suspirou observando o pequenino cervo, acabando por tomar uma decisão arriscada. Ele se aproximou ainda mais do animalzinho o pegando em seus braços sentindo a criaturinha se agitar.

— Calma, eu não vou machucá-lo, irei levá-lo para o castelo assim você não vai ficar sozinho e correndo perigo aqui fora - murmurou sentindo o cervo parando de se movimentar bruscamente — Pelo visto você entendeu o que eu disse - sorriu — Você é muito esperto. - Snape novamente acariciou a criaturinha enquanto caminhava para uma parte afastada da entrada do castelo abrindo uma passagem secreta na pesada parede de pedra.

— Esse vai ser nosso segredo. - o sonserino piscou o olhou para o pequeno cervo, antes dois dois atravessarem a passagem diretamente para um dos corredores do castelo.

James observou o caminho sabendo para onde estavam indo, as masmorras. Precisaria dar um jeito de sair de lá e voltar para seu salão comunal, mas por hora iria continuar com Severus, afinal não podia voltar a sua forma original na frente dele.