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História Obscurus - Há algo pior que a tortura psíquica?


Escrita por: SrtaFritzi

Capítulo 2 - Há algo pior que a tortura psíquica?


“É sempre nos meus pulsos o limite.
         É sempre nos meus lábios a estampilha.
           É sempre no meu não aquele trauma.”
 
    - Carlos Drummond de Andrade.


       Stela ficou sem reação. As coisas estavam acontecendo rápido demais para pensar em formular qualquer palavra. Não sabia o que dizer. Sentiu um nó formando-se em sua garganta, como se tivesse engolido de uma vez centenas de cubos de metal.
— Como...? – Ela precisou engolir em seco. Sua voz havia sumido e definitivamente não voltaria tão cedo.
— Não se preocupe querida! Não vamos machucar você... Pelo menos, não agora. Apenas fique tranquila e nos acompanhe.
 Espere. “Não vamos”? Mas não havia mais ninguém ali, exceto... Como se ouvissem seus pensamentos, outros dois homens aproximaram-se do primeiro, que deu-lhes a ordem de imobilizar a garota, um de cada lado, obrigando-a a segui-lo enquanto ele caminhava na frente. Stela se debateu intensamente gritando e tentando atacar com os pés – sem sucesso, claro. Lembrou-se de que havia uma faca em sua bolsa e talvez, se conseguisse escapar, poderia usá-la contra eles. Mas como? 
O homem que estava na frente parou e voltou-se para ela:
— Se eu fosse você, garota, não me debateria tanto assim. Por favor, poupe esforços! – Ele falava de maneira calma e despreocupada. - Se não vier por bem, virá por mal. E garanto que nada é tão ruim que não possa piorar. Então, colabore.
 A menina parou de tentar se soltar, pois teve um plano. 
 Andaram havia alguns minutos – onde será que estavam indo? – quando Stela deu-se conta de que os caras que a imobilizara estavam afrouxando as mãos e então, deduziu que haviam ficado exaustos.
 Aproveitou a oportunidade, diminuiu o ritmo da caminhada e com um gesto súbito empurrou, com força, um dos capangas contra o muro. Em seguida, impulsionou seu braço esquerdo para baixo e para cima, deixando-o livre para pegar a faca. Antes que o homem recobrasse o equilíbrio, ela esfaqueou freneticamente o braço do outro, que soltou um grito. Um misto de raiva e dor.
Stela fugiu sem dar importância ao velho que a seguiu, mas não por muito tempo.
A garota percorreu um longo caminho até chegar a uma igreja, a qual era pequena e rústica. Sem hesitar, entrou e procurou um lugar para se esconder. Não era religiosa e se quer cultuava alguma religião definida, mas gostaria de ser salva por alguma entidade divina, paranormal ou qualquer coisa que a fizesse submergir das trevas em que se encontrava. 
Olhando ao redor, lembrou-se de quando a mãe levava ela e irmã, toda semana, até uma igrejinha na antiga cidade onde moravam, para receber as bênçãos do padre. Logo depois, sempre com um sorriso maternal estampado no rosto, sussurrava no ouvido da garota:
— Pronto, minha garotinha. Está protegida agora! Você foi escolhida por Deus.
E depois a mãe abraçava as duas. Um abraço acolhedor como se ela tentasse, de todas as formas, proteger as filhas que qualquer mal que fosse. 
Inevitavelmente, as lembranças de Stela voltaram-se para a última coisa a qual ela queria se lembrar:
                                                                                                       ~*~  
5 de setembro de 1993.
Sol. 
Passeio. 
Alegria. 
O sorriso da mãe. 
A última vez que estaria com ela e a irmã. 
Era uma manhã ensolarada, própria para um piquenique. Stela tinha 10 anos e Susan, apenas três. Estavam de mãos dadas com a mãe, rindo e se divertindo quando foram abordadas por dois homens estranhos.
— Bom dia, senhora. Ótimo dia para sair de casa, não? Será que podemos conversar ali na sombra, por alguns minutos? Prometo não roubar seu tempo e dessas coisinhas fofas.
Ele passa os olhos pelas irmãs, mas o fixa em Stela e abre um sorriso um tanto exagerado. Um calafrio percorre o corpo da menina, mas ela não entende o porquê.
— Hãm... Desculpe. Quem são...?! – A mãe alterna o olhar entre os homens e se sente confusa por não saber de quem se tratam.
— Oh! Mas que indelicadeza a minha. Eu sou o novo dono da imobiliária, a qual a senhora é cliente. Eu me chamo Anthony Macklynn e esse é o meu assistente, Mitchell Collins. Ambos estenderam a mão para a mulher, que recusou-se a cumprimentá-los, desconfiada.
— Sinto muito. Mas deixei de ser cliente dessa imobiliária há pelo menos três anos. Estão cometendo algum engano, senhores. Até ma... 
Anthony insiste. Agarra o braço da mulher, a puxa para perto de si antes que ela pudesse reagir e sussurra:
— Peço que nos acompanhe. E não faça nada que possa levar você e as garotas para dentro de uma cova acidentalmente. – Novamente, ele se volta para as meninas com o mesmo sorriso de anteriormente. – Quero lhes mostrar uma coisa.
Anthony e Mitchell conduzem-nas até uma residência aparentemente abandonada e decidem levá-las para o porão da casa. Quando chegam, a mãe é amordaçada e amarrada numa cadeira do lado direito da sala, enquanto Mitchell faz a mesma coisa com as meninas, porém do lado oposto e de frente para a mulher. 
 Após 4 minutos de espera – ou uma eternidade -, os dois homens dão inicio ao show de horrores.
O silêncio é quebrado quando Mitchell se pronuncia pela primeira vez:
— Achou que seria fácil escapar de Boston e nunca mais ser vista, Rosa? – Ele pega um punhal e faz um pequeno corte no rosto da mulher. - Talvez tenha se enganado quando pensou que estariam livres depois que seu marido, Harry, morreu. Aquele desgraçado ainda me deve muita coisa! 
Enquanto isso, Anthony afaga o cabelo de Stela com interesse. Rosa tenta se soltar, mas leva uma facada na barriga e puxões de cabelo de seu agressor.
— Mesmo depois de todos aqueles anos sendo humilhada, ainda sobrou forças para se defender?! Palmas para nossa garotinha valente! 
Anthony dá risada. Uma risada histérica, sem vida.
— O que a gente faz com elas agora, Tom? – indaga Mitchell.
O rapaz ignora a pergunta do amigo, vai até Rosa e lentamente começa torturá-la na frente de suas filhas. De seu bolso, tira uma lâmina com extremidades afiadas e passa sob os dedos da mulher, fazendo cortes horizontais e retilíneos e prosseguindo por seus braços até alcançar o pescoço. A mãe solta gritos de agonia, o som abafado pela mordaça.
Do outro lado da sala, Mitchell decide brincar de "Vamos ver quem consegue ficar sem respirar até morrer?" com Susan, que se contorce toda ao ter sua cabeça forçada para dentro em um balde contendo água e uma pequena dose de ácido fluoroantimônico¹ .
                                                                                                          ~*~ 
  Stela voltou à realidade num sobressalto. Seus olhos estavam marejados. Notou que estava encolhida e suas mãos em forma de garras, agarradas à cabeça. Sua mãe sofrera tanto para deixá-las em segurança e morreu de uma forma tão vulnerável. A garota não suportou ter que ver aquelas cenas horríveis. Desde aquele dia, jurou a si mesma que faria justiça pela morte de sua família e nunca mais daria o luxo de repassar o fim daquele martírio em sua mente, por mais impossível que fosse. 
Stela mudara. E sabia que, de onde quer que sua mãe e sua irmã estivessem, ambas a apoiariam satisfeitas. Aqueles bandidos pagariam por terem destruído sua vida e a justiça, enfim, seria feita.
 Palmas para nossa garotinha valente!
                                                                                                           ...

 ¹O ácido fluoroantimónico é 10¹³*³ vezes mais forte que o ácido sulfúrico puro. É uma combinação de fluoreto de hidrogênio e SbF5.



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