Sehun
Sehun sabia que era errado escutar atrás da porta, mas não pôde evitar.
Seus pais conversavam com o médico do lado de fora do quarto. Levantou-se da maca hospitalar e foi sorrateiramente até a porta entreaberta para poder ouvir melhor o que diziam.
-Os resultados dos exames mostraram que, infelizmente, nem a senhora e nem seu marido são compatíveis.
-Mas como pode ser isso? Nós somos os pais dele. –Sehun ouviu a mãe em desespero e seu coração ficou apertado.
-Senhora Oh. A senhora sabe que mesmo que fossem os pais biológicos a chance ainda seria pequena. –Arregalou os olhos. Teria ouvido direito? Abaixou-se e se aproximou mais da porta. –Se pelo menos ele tivesse irmãos biológicos o caso poderia ser diferente.
-Irmãos? –O pai de Sehun se adiantou. –Um irmão de sangue tem chance de ser compatível?
-Um irmão com o mesmo pai e mãe tem 25% de chance de ser compatível. É uma chance muito maior do que com qualquer outro grau de parentesco.
-Você se lembra, meu bem, que quando chegou em casa Sehun sempre perguntava por seu hyung? Esse garoto talvez seja a salvação que nosso filho precisa. -O senhor Oh falou um pouco mais animado.
-Mas... Como vamos encontra-lo? Não temos nenhum contato com ninguém da família dele.
-Eu vou dar um jeito. Sei quem poderá me ajudar com isso.
-E se ele não quiser fazer a doação? Não podemos chegar em um estranho e pedir uma coisa dessas.
-Ele era um pouco mais velho do que o Sehun talvez se lembre dele. Que ser humano seria capaz de negar salvar a vida do próprio irmão? Eu vou começar hoje mesmo a procurar, nosso filho não tem tempo a perder e você sabe que se dependermos da fila de espera de doação ele pode nunca encontrar um doador de medula compatível.
-Você está certo, vamos encontrar esse rapaz e fazer de tudo para que ele aceite nos ajudar.
Sehun ouviu o médico se despedir e correu de volta para se deitar antes que seus pais entrassem. Se cobriu e fingiu estar dormindo.
Poucos segundos depois ouviu a porta se abrir totalmente e sentiu um carinho leve em seu cabelo das mãos delicadas da sua mãe.
Sentia vontade de chorar e gritar com seus pais por nunca terem contado que era adotado, mas não era justo fazer isso agora. Não nesse momento em que os dois estavam devastados e desesperados achando que o perderiam.
Se ele morresse com raiva dos pais os dois jamais iriam se perdoar e por mais que estivesse magoado os amava demais para fazer algo do tipo.
Pouco tempo depois foi deixado sozinho no quarto novamente. Se sentou e afundou a cabeça entre os joelhos.
Tinha criado uma certeza, iria encontrar seu irmão e iria descobrir toda a verdade sobre si mesmo.
Uma lembrança veio à tona em sua mente, uma lembrança que tinha bloqueado por achar que era apenas fruto da sua imaginação na época de criança.
“Estava frio e escuro. Segurava firme a mão do seu irmão mais velho que tremia.
-Vamos. –Uma voz grave falou e o homem o segurou e pegou no colo.
-NÃO. Solta ele. –Seu irmão deu socos nas pernas do homem que o chutou.
-Hyung. –Gritou vendo o outro cair.
Seu irmão correu atrás do homem alto, mas foi segurado por outro que o pegou no colo com facilidade.
-Sehun. –O irmão gritou mais uma vez.”
Sehun fechou os olhos forçando mais a memória. Quando era criança tinha muitos desses flashs de lembranças e sempre eram acompanhados de uma sensação de medo e tristeza. Seus pais sempre diziam que eram apenas pesadelos e ele repetiu tanto isso para si mesmo que passou a acreditar que estavam certos, mas agora que queria lembrar-se do nome do irmão não conseguia, nem mesmo lembrava com exatidão o seu rosto. Só tinha uma certeza: O irmão mais velho tinha olhos verdes como os seus. Se lembrava bem daqueles olhos arregalados em sua direção vendo-o se afastar.
“Eu vou encontra-lo hyung.” Disse para si mesmo em pensamento.
Kai
Kai se espreguiçou, desligou o computador e pegou as chaves do carro se levantando.
-Onde pensa que vai? –Suho perguntou se levantando também.
-Para casa. Já deu minha hora. –Kai respondeu de maneira informal fazendo o mais velho fechar ainda mais a expressão.
-Hoje estamos esperando uma resposta importante no caso das crianças, você não pode ir ainda, podemos precisar sair em campo.
-Meu trabalho é puramente burocrático não vejo nenhuma necessidade de me prender aqui nessa delegacia só por que vocês precisam ficar.
-Eu sou seu superior e estou mandando você esperar. Quer que eu coloque você fora do caso? –Suho se aproximou e espalmou as mãos na mesa do mais novo que voltou a se sentar.
-Espero que me paguem hora extra. –Kai disse mau humorado.
-Um bando de criminosos presos não seria recompensa suficiente?
-Um bando de criminosos presos não paga as minhas contas chefe. Mas não é uma má ideia ver aqueles filhos da puta finalmente atrás das grades. Quais as novidades do caso? Já que vou ter que ficar quero estar por dentro do assunto.
-Recebemos uma denúncia anônima que um rapaz que trabalha na companhia de eletricidade está envolvido nos casos. Ele passava informações aos criminosos sobre as casas em que haviam crianças pequenas e pouca segurança. Estamos cruzando todas as informações e logo teremos o canalha em nossas mãos. Assim que o pegarmos ele vai abrir a boca, pode ter certeza.
O telefone tocou e Chen atendeu. Depois de poucos minutos de conversa ele desligou e os outros dois policiais o olhavam apreensivos.
-Parece que estamos com sorte. –Chen falou com um sorriso. –Pegaram o tal de Yinxing.
Suho deu um soco na mesa comemorando. E Kai engoliu em seco, mas manteve a expressão impassível.
-Vamos. –Suho falou pegando o casaco e a chave do carro de polícia.
Chen também se levantou e já ia em direção a porta.
-Posso ir junto? –Kai perguntou se levantando de repente e os dois policiais o olharam surpresos.
-Não foi você mesmo que disse que seu trabalho é puramente burocrático? Por que quer ir? –Suho o olhou com o cenho franzido.
-Eu prometo não atrapalhar vocês. Só queria poder participar de alguma forma.
-Nós não temos tempo a perder. Se quer tanto assim vamos logo. –Chen falou e Kai praticamente correu atrás dos dois.
Dentro da viatura ouviu a breve discussão dos dois mais velhos sobre autoridade e revirou os olhos com aquela mania de Suho sempre querer dar a última palavra naquela delegacia mesmo que fosse sobre o sabor da pizza que iam pedir.
Desligou a atenção da briga dos dois e ficou olhando a paisagem noturna pela janela. Mil coisas passavam em sua mente. Teria que dar um jeito de Yinxing perceber sua presença para ter certeza que o chinês se manteria calado. Não podiam colocar tudo a perder quando estavam tão perto.
Pegou o celular e mandou uma mensagem.
“Pegaram o Lay. Acho que vou precisar da sua ajuda.”
Chanyeol
Chanyeol sentiu o celular vibrar no bolso da calça e pegou o aparelho. Sentiu um frio na espinha ao ler a mensagem de Kai e respondeu no mesmo instante.
“onde?”
A resposta levou apenas alguns segundos.
“Assim que eu chegar lá te mando a localização, mas estamos atualmente na avenida 215 em direção a região do centro da cidade.”
“Vou estar nas redondezas para chegar o mais rápido possível.” Respondeu e guardou o celular no bolso.
Pegou as chaves do carro e foi até a sala.
-Pai eu vou sair. Não tenho hora pra voltar.
-De novo filho? –Kyungsoo o encarou por cima do jornal. -Tome cuidado e vê se não engravida ninguém por aí.
-Eu sou um santo e o senhor sabe disso. -Chanyeol disse rindo e saiu.
Ligou o carro e começou a dirigir em direção a avenida indicada sentindo as mãos suando frio. Se Yixing resolvesse abrir a boca ele e Kai estavam ferrados. Tinham que dar um jeito de tirá-lo das mãos da polícia antes que o pior pudesse acontecer.
Como ele pôde ser tão idiota a ponto de ser pego? Devia ter aberto a boca pra alguma das vadias que costumava pegar.
Chegou na avenida e depois de um tempo parou em um posto de gasolina para esperar a próxima mensagem de Kai.
Recebeu uma mensagem, mas não era de Kai. Era de Baekhyun.
Baekhyun
Baekhyun jogou fora a bituca de cigarro e pisou em cima. Suspirou frustrado ao ler a resposta de Chanyeol.
“Me desculpe, eu tive um imprevisto. Meu pai passou mal e tive que trazê-lo ao hospital. Eu não vou conseguir te encontrar hoje. Me perdoa meu bem. Juro que amanhã te recompenso pelo vacilo de hoje.”
Guardou o celular no bolso sem nem se dar ao trabalho de responder. Sabia que era mais uma das mentiras do namorado e estava cansado disso.
Tinha quase certeza que estava sendo traído e estava decidido a colocar um fim naquela relação, mas não ia fazer isso por telefone. Não achava justo terminar um namoro de dois anos e meio sem o olhar nos olhos durante a conversa, mas Chanyeol vivia arrumando desculpas para não se encontrarem. Parecia até que estava sentindo que queria terminar.
Entrou em casa e encontrou seu irmão sentado no sofá.
Se jogou no sofá e deitou a cabeça em seu colo recebendo um carinho em seu cabelo recém tingido de loiro.
-O que foi hyung? Brigou com o Chanyeol de novo?
-Não consegui brigar com ele e esse é o problema. Eu quero terminar, mas ele fica fugindo de todos os encontros que marcamos. Me fala, Taehyung qual o problema comigo? Por que eu sempre acabo namorando babacas que me traem?
-Não tem nenhum problema com você hyung. Você é lindo, ainda mais com esses olhos verdes de dar inveja. O Chanyeol que é um grande idiota por te deixar de lado quando você é maravilhoso. Tem um monte de caras que dariam tudo pra ter uma chance com você. Inclusive alguns amigos meus.
-Assim fico convencido irmãozinho.
-Isso você já é. –Ele riu e Baekhyun se levantou bagunçando os cabelos do mais novo.
-Mas agora falando sério nenhum dos seus amigos serviria pra mim. Eu não vou servir de babá pra nenhum adolescente.
-Eu tenho amigos mais velhos também. Tem alguns da sua idade, posso apresentar.
-Eu ainda não terminei com o Chanyeol e... Pra dizer a verdade... Eu não sei se vou ter coragem de terminar quando o encontrar. Eu sempre amoleço quando vejo aquela cara de gato de botas que ele faz quando falo pra darmos um tempo.
-Eu acho que você já deu chances demais pra ele hyung.
-Se pelo menos eu tivesse a certeza que ele me trai seria mais fácil terminar. Eu sempre fico pensando na possibilidade dele estar escondendo alguma outra coisa. Talvez algum problema de saúde ou coisa do tipo e eu não quero ser injusto.
-Eu tenho uma ideia. –Taehyung falou empolgado se levantado. –Vamos contratar um detetive pra segui-lo igual nos filmes.
-Detetive? Não acha meio exagerado?
-Você quer ou não quer descobrir se o Chanyeol está te traindo?
-Eu quero.
-Então está decidido. Vou começar a procurar agora mesmo na internet alguém que ofereça esse tipo de serviço. Não deve ser difícil achar. Vai ser emocionante.
-Acho que você anda assistindo filmes demais. O máximo que esse tal detetive vai fazer é tirar algumas fotos dos lugares que ele foi e com quem. Nada emocionante.
-Ah.. Nada de entrar num táxi correndo e dizer: “Siga aquele carro.”?
Começaram a rir alto.
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