O estacionamento da boate estava lotado de carros brilhando sob a luz dos postes, criando sombras alongadas no asfalto. A noite estava fresca, com uma brisa suave que agitava os cabelos de Akaashi enquanto ele descia do carro, tentando controlar a aceleração de seu coração. O som abafado da música ainda vinha de dentro da boate, misturado com risadas e vozes distantes. Ele não costumava frequentar lugares assim, mas a mensagem de Atsumu, alertando sobre o estado de Bokuto, o fez correr para lá sem pensar duas vezes.
Akaashi tinha sentimentos por Bokuto há anos, sentimentos que ele cuidadosamente guardava, nunca ousando confessá-los. Ele valorizava a amizade deles demais para arriscar, mas naquele momento, a preocupação com o amigo foi maior do que qualquer receio. O que ele não esperava era o que estava prestes a acontecer na saída daquela boate.
Quando Akaashi finalmente avistou Bokuto, o impacto foi imediato. Bokuto vinha correndo em sua direção, os olhos brilhando mesmo sob a influência do álcool, com um sorriso enorme no rosto.
— AKAASHI! VOCÊ VEIO! — Bokuto gritou, quase tropeçando enquanto se aproximava, mas conseguindo se equilibrar a tempo de envolver Akaashi em um abraço caloroso. O cheiro de álcool misturado ao perfume familiar de Bokuto era intenso, mas Akaashi não se importava.
Por um momento, Akaashi ficou paralisado, tentando processar tudo. Ele não estava acostumado a ver Bokuto tão vulnerável, tão... aberto. Mas antes que pudesse reagir, Bokuto o soltou do abraço, mas manteve as mãos nos ombros de Akaashi, os olhos fixos nos dele.
— Eu... Eu sabia que você viria, Akaashi. Você sempre vem quando eu preciso de você — Bokuto murmurou, sua voz mais suave agora, quase como um segredo.
Akaashi tentou manter a calma, mas sentia o coração disparado.
— Claro que vim, Bokuto. Eu sempre estarei aqui para você. Mas talvez a gente devesse ir embora agora, está tarde e você... bem, você parece que bebeu um pouco demais.
Bokuto riu, um riso alto e despreocupado que fez Akaashi sorrir, mesmo que nervosamente.
— É, acho que bebi mesmo. Mas sabe... eu... — Bokuto hesitou, e pela primeira vez naquela noite, seus olhos mostraram um brilho de incerteza. — Eu sempre soube que você é especial pra mim, Akaashi.
Antes que Akaashi pudesse responder, Bokuto, impulsionado pela coragem líquida, aproximou-se mais, diminuindo a distância entre eles. Então, com um movimento rápido e repentino, ele inclinou-se para a frente e pressionou seus lábios contra os de Akaashi.
Akaashi ficou sem fôlego, surpreso pelo gesto, mas não recuou. Pelo contrário, ele fechou os olhos e, por um breve momento, correspondeu ao beijo, sentindo o calor de Bokuto se espalhar por seu corpo. Era algo que ele desejava há tanto tempo, mas nunca imaginou que aconteceria assim, no meio de um estacionamento, depois de uma noite na boate.
No entanto, a magia do momento foi interrompida por uma voz baixa, mas audível, que quebrou o silêncio ao redor deles.
— Eu vi isso. — Kiyoomi Sakusa, que estava próximo, observando tudo com seus olhos semicerrados e uma expressão de desgosto, falou. Ele se aproximou, mantendo uma distância segura, como se até o ar ao redor fosse contaminado. — E para constar, um beijo tem mais bactérias do que aquela boate insalubre. Vocês dois... definitivamente estão em uma situação de alto risco.
Akaashi rapidamente se afastou de Bokuto, corando violentamente. Bokuto, por sua vez, parecia meio confuso, tentando processar tanto o beijo quanto o comentário de Sakusa.
— Sakusa! — Bokuto exclamou, ainda um pouco atordoado, mas sua alegria inabalável não diminuiu. — Você sempre com esses comentários... mas o que importa agora é que Akaashi veio me buscar! — ele disse, ainda com um brilho de satisfação nos olhos.
— Claro, Bokuto. Só... não se esqueça de se higienizar depois. E Akaashi, espero que você esteja ciente dos riscos. — Sakusa apenas revirou os olhos.
Akaashi não sabia se ria ou se enterrava o rosto nas mãos de vergonha. Mas, de qualquer forma, ele se sentia estranhamente feliz, mesmo com toda a situação. Ele lançou um olhar a Bokuto, que ainda sorria para ele como se nada mais no mundo importasse, e sentiu um calor reconfortante em seu peito. Mesmo que as circunstâncias fossem bizarras, ele não trocaria aquele momento por nada.
—×—
A quadra da Black Jackal estava vibrando com a energia do treino intenso. O som das bolas de vôlei batendo contra o chão e o eco das instruções dos treinadores preenchiam o espaço. A iluminação brilhante das lâmpadas fluorescentes lançava um brilho claro sobre o piso polido, e as arquibancadas, normalmente ocupadas por torcedores e famílias, estavam vazias, exceto por alguns membros da equipe que assistiam com atenção.
Akaashi estava sentado nas arquibancadas, ao lado de Kenma, observando o treino com um olhar atento. Kenma, que estava ao seu lado, parecia imerso na cena à sua frente, mas também havia uma leveza em seu comportamento, quase como se ele estivesse mais interessado em observar o desempenho do marido do que em qualquer outra coisa.
— Hinata continua sendo ótimo — Akaashi comentou, seu olhar fixo em Hinata, que saltava graciosamente em direção à bola com uma energia contagiante. Hinata estava em plena ação, movendo-se com a agilidade e a determinação que sempre o caracterizavam.
— Ele não perde uma — Kenma respondeu, seu olhar fixo em Hinata, mas seus pensamentos claramente distantes. — Na nossa lua de mel, passamos no Rio de Janeiro, no Brasil. Em Copacabana, Shoyo nos fez procurar alguma praia que tivesse vôlei de praia. Confesso que foi divertido.
— Isso é tão a cara do Hinata — Akaashi comentou com um sorriso, observando o cabelo alaranjado de Hinata enquanto ele fazia uma jogada impressionante. No entanto, seu olhar logo se desviou para Bokuto, que estava visivelmente lutando com os saques. — Ele errou de novo.
Kenma levantou uma sobrancelha e olhou na direção de Bokuto, que estava claramente frustrado.
— Ele era ruim assim? — Kenma perguntou, tentando entender a situação enquanto observava o grisalho errando todos os saques.
— Ele deve estar nervoso — Akaashi respondeu, seu olhar fixo em Bokuto. — Ele está incomodado com aquilo.
— O que seria aquilo? — Kenma perguntou, virando-se para olhar para Akashi com curiosidade.
Akaashi hesitou por um momento, tentando formular suas palavras. Ele ainda estava processando o beijo inesperado de ontem à noite e os sentimentos que isso trouxe à tona.
— Nós nos beijamos ontem — Akaashi finalmente disse, sua voz baixa, mas clara, enquanto sua mente se lembrava da sensação do beijo.
Kenma o olhou, com uma expressão que era uma mistura de surpresa e decepção.
— Então é isso. — Ele parecia um pouco desapontado, como se esperasse uma resposta mais elaborada ou emocionante.
Akaashi ergueu uma sobrancelha, um pouco confuso com a reação de Kenma.
— É isso o quê?
— Ah, nada. — Kenma balançou a cabeça, como se estivesse tentando se livrar de um pensamento. — Só achei que seria algo mais, sei lá, dramático ou complexo. Mas se é só um beijo, então...
— Não, não é só um beijo. — Akaashi interrompeu, sentindo a necessidade de esclarecer. — É complicado. É mais do que isso. É... algo que eu estou tentando entender, mas é difícil.
— Entendo. Apenas não deixe o Bokuto com mais questões do que o necessário. E se ele começar a falar sobre sentimentos e coisas desse tipo, é melhor você estar preparado. — Kenma deu um sorriso pequeno e divertido.
— Eu só espero que ele consiga superar isso e que o treino não seja um desastre completo. Ele é um dos melhores jogadores que temos no Japão, mas parece que essa noite realmente mexeu com ele. — Akaashi soltou uma risada leve.
— Não se preocupe — Kenma disse com um tom de tranquilidade, mas um olhar perspicaz. — Tenho certeza de que ele vai encontrar seu ritmo de novo. E se precisar de ajuda para decifrar seus sentimentos, você sabe onde me encontrar. Afinal, eu passei por algo parecido.
Akaashi sorriu, apreciando o apoio de Kenma. Ele olhou novamente para Bokuto, que estava tentando se recompor e focar no treino, e sentiu uma onda de empatia por seu amigo. A quadra estava cheia de movimento e energia, mas para Akaashi, o verdadeiro desafio estava em entender e lidar com os sentimentos que haviam surgido daquela noite inesperada. E, enquanto a quadra continuava a vibrar com a energia dos treinos, Akaashi sabia que o caminho à frente seria tanto desafiador quanto potencialmente gratificante.
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