História Ocean eyes secrets - Take my hands now

      Jade e eu combinamos que o primeiro local que iríamos para que ela fizesse as filmagens, seria a biblioteca municipal. Conversando sobre os possíveis locais, ela me perguntou o que eu gostava de fazer e onde gostava de ir. Falei que eu gostava muito de estudar e ler, foi assim que chegamos ao destino.

      Marcamos para sábado à tarde. Não definimos um horário para que não ficássemos aflitos caso alguém atrasasse. Mas, pensamos em chegar entre quatro da tarde e seis da noite. Nos encontraríamos na porta da biblioteca e foi pra lá que eu fui.

      Vestindo roupas mais bonitas e discretas, me arrumei frente ao espelho. Escolhi uma blusa de botões num tom claro e vesti um jeans preto sem detalhes ou rasgos no joelho. Coloquei meu equipamento dentro de uma bolsa de ombro e sem demora, me adiantei para ir ao ponto de ônibus.

      A condução estava cheia e eu precisei ficar em pé. Fiquei ouvindo música pelos fones de ouvido até chegar lá e quando chegou ao lugar certo, eu desci. Andei um pouco até chegar à porta da biblioteca e ali continuei com as músicas.

      Mas, para a minha sorte, Jade não atrasou. Esse era um de seus costumes – que eu sempre relevava – mas naquele dia, talvez por ansiedade, ela chegou quase junto comigo. Creio que quinze minutos depois que eu já tinha chegado, ouvi sua voz vindo por trás.

      – Jungkook? – Ela falou, como sempre falava.

      Me virei para o lado oposto e logo vi Jade diante de mim depois de uns dias em que estivemos afastados. Ela vestia roupas para um dia ameno e carregava sua bolsa de sempre no ombro. Mas, se teve uma coisa que me chamou a atenção, foi o azul de seu olho direito que tinha sumido.

      – Olá, Jade. – Falei ainda reparando nisso.

      – Está bonito. – Falou ao ter me olhado bem.

      – Você também está.

      – Obrigada. – Assentiu. – Essa produção é para as filmagens?

      – Eu quis usar algo diferente para ficar menos feio. – Dei risadas. – É a primeira vez que fazem um vídeo meu e por mais que ninguém vá ver isso, eu quis vim assim hoje.

      – Estas roupas lhe caem bem.

      – Me sinto um pouco estranho com essa camisa, mas é por uma boa causa e eu decidi vim com ela mesmo assim. – Sorri.

      – Entendo. – Assentiu. – Chegou há muito tempo?

      – Por pouco não chegamos juntos. Me vi ansioso então quis adiantar logo a minha chegada.

      – Eu também me senti animada em me distrair fazendo algo novo. – Falou e um silêncio se iniciou.

      – Onde está o oceano de seus olhos?

      – Em alto mar, as águas são mais escuras.

      – Por isso é mais bonito nas partes mais rasas, pois são azuladas num tom claro e diferente.

      – Depois de uma tempestade, não há azul que se sustente.

      – Tempestade? – Falei e logo pensei em lágrimas.

      – Será que já podemos entrar? – Desviou o local.

      – Não quer me falar sobre isso?

      – Prefiro começar aprender a lidar com a câmera.

      – Tudo bem, então vamos indo. – Assenti e aceitei.

      A resposta de Jade quis me dizer algo que eu acabei não entendendo totalmente. Havia um tempo que ela não estava mais usando lentes escuras e isso era bom. Era um progresso. Mas agora, por algum motivo, ela voltou a usar e falado em tempestade, isso só me fez pensar que ela chorou recentemente.

      Decidi não insistir para que ela não se sentisse pressionada. Chatear Jade era uma das principais coisas que eu jamais queria fazer. Então, sendo assim, entramos no local como ela havia pedido. Assinamos o livro de visitas e logo fomos até as escadas.

      – O que acha de começarmos a partir daqui? – Falou.

      – É o que quer?

      – Ao menos me passe as instruções. Lá dentro não podemos falar muito, então acho que é melhor começar agora.

      – É, você tem razão. – Assenti. – Venha, vamos até aquelas poltronas!

      Jade me seguiu até onde indiquei e ali nos sentamos. Peguei minha bolsa de ombro, a coloquei em meu colo e logo a abri para pegar as câmeras. Primeiro, eu lhe mostrei algumas, de variados modelos. E só depois, lhe entreguei a que ela iria usar.

      – É muita coisa. – Falou olhando tudo que eu tinha.

      – Eu levo isso tudo bem a sério, digamos. – Sorri.

      – Deve gastar todo o dinheiro que ganha em câmeras.

      – Em cursos online de edição também.

      – É, você leva isso tudo bem a sério mesmo. – Sorriu.

      – Esta é a que irá usar, trata-se uma filmadora de alta resolução e foi uma das primeiras coisas que comprei.

      – Não tira fotos?

      – Essa não, é específica para vídeos e tem um bom espaço para armazenar filmagens de longa duração.

      – Não é difícil manusear?

      – Eu vou colocar as configurações agora e só o que você terá que fazer é filmar o que pretende e o que achar interessante.

      – Menos mal. – Sorriu.

      – Só mais alguns ajustes e pronto! Este é o botão que usará para iniciar e terminar as filmagens. E este, é para pausar. – Apontei.

      – Está bem.

      – Pegue! – Lhe estendi a câmera. – Agora podemos começar!

      – Podemos fazer como você fez na minha vez?

      – Ao que se refere?

      – Sobre você ficar a vontade aproveitando a biblioteca enquanto eu filmo sem perceber.

      – Claro, assim ficará mais espontâneo. – Assenti. – Vai ficar bom se fizer assim.

      – Então está tudo certo. – Colocou a alça da câmera em seu pescoço. – Deixe sua bolsa comigo e vá como se eu não tivesse aqui.

      – Ela está pesada. – A fitei. – Não se importe com isso, eu posso ficar com ela nas gravações.

      – Deixe-a comigo, Jungkook.

      – É sério, está pesada e...

      – Estamos perdendo tempo, sabia disso?

      – Está bem! Pode ficar! – Concordei, mesmo me sentindo contrariado em deixar o peso com ela.

      Entreguei a bolsa para Jade e logo ela ficou com a sua e com a minha. Ainda com a alça da câmera no pescoço, ela olhou bem pra tela e para os botões. Enquanto isso eu apenas a esperei, e então, ela disse que eu poderia começar a explorar o local.

      A biblioteca tratava-se de um prédio antigo e rústico, que tinha sobrevivendo com o tempo com o intuito de transmitir cultura a todos da região. A arquitetura do local era bem bonita e tudo era muito cheio de detalhes.

      Comecei a subir as escadas com corrimão desenhados e logo comecei a admirar o local como eu gostava de fazer. Andando de forma não tão rápida, fiquei a vontade enquanto sabia que Jade estava bem ali atrás com o foco em mim.

      Assim como eu a deixei a vontade, ela fez o mesmo comigo. Começou a filmar desde as escadas e enquanto eu admirei o local antes de chegar perto dos livros. Me vi diante da porta de entrada que dava acesso – finalmente – a todas as obras que o local abrigava. E foi nesse momento que eu vi que Jade focou em minha reação ao chegar lá.

      Soltei um sorriso.

      Eu gostava de estar ali e nunca me enjoava do local. Normalmente eu fazia meus trabalhos escolares usando o material que a escola oferecia. Mas havia coisas que só na biblioteca municipal eu poderia encontrar. Sendo assim, eu a visitada com frequencia.

      Entrando lá, olhei de um lado a outro toda aquelas prateleiras lotadas de livros novos e antigos. Sorridente outra vez, olhei para trás e apontei para que Jade visse tudo aquilo. Ela sorriu de volta, certamente gostou de minha interação com ela e sua reação me mostrou que foi um dos momentos que ela mais gostou de filmar.

      Segui até o corredor de livros acadêmicos. Olhei os livros de artes e de literatura de alta complexidade, feito por autores já com seu doutorado. Olhei para livros antigos e novos. Peguei alguns e até folheei.

      – Gosta de literatura? – Jade falou, ainda focando em mim.

      – E gosto de escrever poesias também. – Assenti.

      – Qual é este em sua mão?

      – Fragmentos perdidos. – Amostrei pra câmera.

      – Do que se trata?

      – São versos sobre a correria do dia a dia e do que se espera sobre um futuro bem próximo. Isso me deixa muito inspirado, gosto muito.

      – Estou vendo. – Vi quando usou o zoom. – Siga em frente, veja se acha algo mais que lhe agrade.

      Assenti e logo voltei a andar enquanto Jade me seguiu. Gostei por ela ter interagido comigo, pensei que ela não falaria nada e que só me filmaria de costas. Porém, não foi o que ela fez.

      Em alguns momentos, ela filmou-me de frente. Vi ela usando o zoom por mais algumas vezes e quando eu escolhi um título para ler e fui até uma das mesas, ela foi atrás. Focou em meu rosto, depois disso, em meu dedo marcando a página. Ela estava perto então não consegui não ver o que ela fez.

      E foi enquanto eu terminei uns versos no final do livro de poesias, que ela saiu e foi fazer alguns takes só da biblioteca. E foi nesse momento que eu não tive como não fitá-la de longe. Sendo assim, notei o quanto ela parecia estar empenhada enquanto deixei a câmera com ela.

      Fiquei sorridente ao ver Jade filmando os livros. Ela foi cuidadosa ao fazer takes diferenciados para o meu vídeo e isso me deixou animado em auxiliá-la. Fiquei observando-a de longe, até que ela voltou e sentou-se ao meu lado.

      – Terminou sua leitura?

      – Ainda não. – Disfarcei.

      – Como ainda está na mesma página de antes?

      – Eu... Eu voltei a esta, pois gostei de um verso em específico.

      – Qual? – Interessou-se.

      – Bom, é... – Fiquei nervoso. – É... Este aqui.

      Escolhi um qualquer e virei o livro na direção dela. Eu não sabia do que se tratava aqueles versos, mas tive que pensar rápido para sair da situação que eu mesmo criei. Torci para que ela gostasse e para que o verso não fosse uma completa loucura.

      – Interessante... – Passou a página.

      – Gostou?

      – Fez um pouco de sentido pra mim.

      – Este é o poder dos versos. – Sorri. – Sempre encontramos ao menos um que parece falar com a gente.

      – Talvez seja. – Assentiu. – Vamos continuar? Há uma parte multimídia do lado direito e há um filme sendo exibido numa TV.

      – Tudo bem, vamos até lá. – Concordei.

      Segui indo na frente de Jade até a parte que ela se interessou. Ali, assisti um pouco do que era passado para que ela fizesse os takes que pretendia e depois disso, seguimos em frente para uma parte mais descontraída da biblioteca.

      Chegando a área infantil, encontrei quadrinhos até em outros idiomas. Achei coisas em japonês e isso me deixou surpreso, pois eu nunca tinha notado. E isso, eu quis dividir com Jade.

      – Veja só, estão em outros idiomas!

      – Qual é?

      – Este está em japonês.

      – Sabe ler japonês?

      – Não, mas é uma variedade interessante de conteúdos que há por aqui. – Soltei uma risadinha.

      – Amostre pra mim. – Ela apertou o zoom.

      Amostrei a ela enquanto fiquei sorridente por minha descoberta. Continuei andando por ali e por mais uma vez eu parei para ler e soltei sorrisos enquanto achei algumas falas engraçadas.

      Porém depois, devolvi o livro até a prateleira. Por um instante eu peguei meu celular e fotografei um livro em especial. Olhei a foto e logo postei em minha rede social. E nem nesse momento, Jade parou de filmar.

      Nosso passeio pelo local demorou uma hora e quarenta. Além de andar de lá pra cá, às vezes parei pra ler. E Jade, fez o mesmo ao assistir o vídeo que tinha acabado de fazer. Tivemos um tempo em paz ali na biblioteca e só depois disso, decidimos finalizar.

      – Aqui está sua câmera. – Me entregou.

      – Fique com ela para pegar os vídeos.

      – Eu posso levá-la? – Se surpreendeu.

      – Sou um pouco ciumento com meus equipamentos, mas sei que irá ser cuidadosa e que não haverá problemas. – Assenti. – Leve-a e salve os vídeos.

      – Preciso de algum cabo pra isso?

      – Você tem um computador de mesa ou um notebook?

      – Notebook.

      – A câmera tem um cartão de memória acoplado. Apenas o retire e encaixe na entrada específica no notebook. – Expliquei. – Ele fica perto das pilhas.

      – Onde?

      – Aqui. – Abri e lhe mostrei.

      – Então ta bom.

      – Eu poderia fazer isso e enviar a você depois, mas prefiro que faça sozinha já como forma de aprender desde o princípio. E além do mais, eu quero ver os vídeos apenas quando estiver finalizado.

      – Não espere muito de mim, é a primeira vez que estarei fazendo coisas do tipo e ainda tenho muito que aprender.

      – Eu irei ajudá-la no que precisar, com certeza irá se sair muito bem! Confie nisso!

      – Se você diz. – Sorriu.

      – Agora já pode devolver minha bolsa. – Falei ainda incomodado. – Pretendo fazer umas fotos deste lugar antes de ir embora e vou começar agora.

      – Aqui está. – Me devolveu.

      Enquanto Jade continuou com a filmadora em mãos, assistindo um pouco do que tinha acabado de gravar, eu fui fazer algumas imagens como eu tanto gostava. Ainda perto dos livros, eu usei algumas técnicas que tinha aprendido e assim fiz boas fotos.

      Demorei meia hora, creio eu. E ao olhar pela janela do segundo andar, notei que já tinha anoitecido. O tempo estava mais frio e o céu estava totalmente mais fechado do que antes.

      Então, finalizei minhas fotos. Eu pretendia ficar ali mais tempo, mas decidi adiantar para que Jade não fosse obrigada a ficar tanto tempo sem fazer nada. Guardei tudo, lhe dei mais algumas indicações e logo segui para o lado de fora junto com ela.

      – O que acha de fazermos um lanche?

      – Agora?

      – Sim. – Assenti.

      – Não posso.

      – Tem algum compromisso?

      – Não, eu vou direto pra casa mesmo.

      – E não pode ficar nem mais meia hora?

      – Não.

      – Conheço uma lanchonete por aqui que é muito...

      – Jungkook, eu vim somente para as gravações.

      – Sim, mas já que estamos aqui, podemos fazer algo juntos com o resto de tempo que temos. O que acha?

      – Eu ainda continuo com a ideia de dispensar uma aproximação maior entre nós, Jungkook. Sei que você não quer isso e sei que eu aceitei sua ajuda com as edições, mas isso é tudo e eu não quero nada mais.

      – Mas era só um lanche...

      – Nos encontramos só por um motivo. E caso aconteça de novo, assim será. Não quero estar contigo mais do que devo.

      – Eu pensei que tinha mudado de ideia em relação a isso. – Lamentei pela quebra de expectativas.

      – Não, eu não mudei. Você pode querer se aproximar, mas no que se refere a mim, eu não terei a mesma atitude.

      – Jade, já disse que está tudo bem! Não precisamos ficar assim, você sabe que eu a compreendo e que mesmo assim quero ficar perto.

      – Acontece que sempre é assim. Até que você se decepcione e vá embora como já me aconteceu muitas vezes. E isso, é uma coisa que não quero ver.

      – Eu não irei embora, Jade.

      – Você cria expectativas comigo e isso não é bom. Eu não sou uma pessoa alegre e feliz, sem limitações e parecida com você. Tudo pode estar bem agora, mas eu sei que não irá durar.

      – Eu não criei expectativa alguma.

      – Agora mesmo disse que pensou que eu tinha mudado de ideia e ao ver que isso não aconteceu, você deixou seu sorriso ir embora.

      – Jade, mas também não é assim...

      – Eu só quero aprender o que prometeu me ensinar.

      – E é isso que farei.

      – Mas isso é tudo. – Me fitou, ainda séria.

      – Está bem. – Concordei contrariado. – Se quer assim, é assim que faremos.

      – Obrigada.

      – Voltaremos a filmar outro dia?

      – É bom para a variedade de cenas. – Respondeu ela.

      – E quando poderá? Já sabe?

      – Podemos nos encontrar na terça, depois que eu levar Wonju para sua aula de dança.

      – Que horas?

      – Três da tarde.

      – E aonde iremos?

      – Sugira algo. – Me fitou. – A primeira sugestão foi minha, agora você pode fazer o mesmo.

      – Se lembra da sorveteria que tínhamos combinado de ir um tempo atrás?

      – É, eu... – Ficou incomodada ao lembrar que naquele dia ela não foi e não me avisou. – Eu lembro.

      – Podemos ir dessa vez. Você pode fazer filmagens lá e também enquanto ando pelo parque que tem lá perto, com muitas árvores e lugares bonitos.

      – Está bem, porém não posso demorar muito. Tenho horário para buscar Wonju e jamais posso deixá-la esperando.

      – Certo, então estamos combinados. – Assenti.

      – Então até terça feira. – Ela disse. – Boa noite!

      – Até, Jade! Dirija com cuidado! – Acenei.

      Sem pensar duas vezes, Jade me deu as costas e saiu andando segurando sua bolsa. Aquela conversa não agradou a ela e isso foi notório. Ela queria se afastar o quanto antes e isso me deixo um tanto triste por ela se esforçar tanto para estar longe de mim.

      Segui para o ponto de ônibus e voltei pra casa. Fui direto ao banho e vesti o meu pijama de sempre. Me deitei na cama para descansar antes do jantar e enquanto isso, voltei a pensar nela.

      Jade ainda era muito insegura e não confiava tanto em mim como eu imaginava. Pode ter desabafado, pode ter confiado um pouco. Mas levar tudo aquilo a frente era algo que ela parecia não saber fazer.

      Ainda pensando nela, lamentei por ela querer tanto estar longe de mim. Ainda dizia que não era uma pessoa boa, mas na verdade ela era sim – e sequer sabia disso. Jade acreditava no que fizeram ela pensar sobre si mesma e isso era algo muito ruim.

      Ela pensava que faria mal a outras pessoas. O seu jeito frio, o modo como não se importava e a forma que não tinha sentimentos era algo que ela sabia que poderia ser uma decepção a alguém. Eu pensava que isso poderia ser contornado, mas ela tinha certeza de que isso jamais seria possível.

      Lamentei, até que minha mãe chegou para me chamar para o jantar. Novamente perguntou como foi meu passeio – que eu ocultei a parte de Jade e falei apenas das fotos na biblioteca – e logo quis ver as imagens que eu tinha feito.

      Voltou a me elogiar por um bom trabalho que fiz e logo nós fomos juntos até a cozinha. Nos juntamos com meu pai e começamos a comer sem demora. Tive meu tempo com eles e depois disso, voltei com Júpiter ao meu quarto.

      E mais uma vez, voltei a pensar em Jade. Voltei a pensar em como tudo seria difícil pra ela, mas em nenhum momento – repito, nenhum momento – eu pensei em desistir de ajudar. Jade era uma boa pessoa e era isso que eu queria que ela descobrisse.

Terça feira

Três horas da tarde

      Saí da escola e fui voando até em casa. Naquele dia eu tinha ido de ônibus por estar chovendo, então na hora de voltar, não tive minha bike ali me esperando. Aceitei a carona que Jimin ofereceu ao me ver sem guarda chuva e sendo assim, cheguei cedo.

      Fui almoçar sem demora. Requentei a comida e tive minha refeição ali mesmo no sofá da sala enquanto assisti TV ao notar Júpiter cobiçando meu prato.

      Na hora de me arrumar, já depois do banho enquanto enrolei a toalha na cintura, fui até meu guarda roupa. Dessa vez, por não ter muito tempo, resolvi não me arrumar tanto. Pensei numa jaqueta, um jeans e um tênis all star.

      Sacudi o cabelo usando a toalha para retirar a umidade, coloquei minhas argolas, passei perfume e logo fui me vestir de forma simples como eu tinha pensado. Peguei o que tinha que pegar e coloquei numa mochila mais simples. Encontrei o guarda chuva e logo saí de casa.

      Saí em cima da hora, mas por ser perto, acabei chegando antes de Jade. Ao chegar e não ver ela na entrada, fiquei feliz por não tê-la deixado esperando. Fui pra debaixo da marquise e ali fiquei me distraindo com meu celular até que eu vi ela se aproximar.

      – Olá! – Ouvi a voz dela.

      – Oi, Jade! Como está? – Falei novamente vendo que o azul de seus olhos estava sendo deixado de lado pela lente.

      – Aí está algo que não sei dizer. – Olhou pro chão. – Já chegou há muito tempo? Espero não tê-lo deixado esperando.

      – Como no dia da biblioteca, chegamos quase juntos. – Sorri.

      – Trouxe sua câmera. – Me mostrou. – Veja só, está inteira e em bom estado.

      – Sei que é cuidadosa. – Assenti. – Conseguiu passar os vídeos para o computador? Conseguiu assisti-los?

      – Até que foi fácil. Eu nunca tive uma câmera dessas e não sabia como fazer, mas consegui me virar.

      – Gostou das filmagens?

      – Até que eu não fui tão ruim assim como cameragirl. – Sorriu simples e até eu fiz isso ao ver sua reação.

      – Isso me deixa ansioso para ver o resultado final.

      – Isso eu já não garanto que ficará bom.

      – E você continua não acreditando que se sairá bem.

      – Acostumei a ser assim. – Sorriu sem jeito. – Vamos entrando? Está frio aqui fora e logo começará a chover.

      Assenti e logo vi que Jade começou a preparar a câmera. Notei que ela pretendia começar a fazer os takes desde o lado de fora da sorveteria, então eu a esperei. E só quando ela disse para eu ir, que eu realmente fui.

      Segui pelo caminho na lateral da sorveteria e ali fui até a porta de entrada. Sem demora, fui até a parede onde estava estampada uma placa com todos os sabores de sorvete. Olhei para Jade e apontei para alguns sabores diferentes e dei risadas. Fiz o meu pedido, esperei sorridente e logo que peguei o copinho, fui até uma das mesas.

      – Não vai querer? – Perguntei enquanto ela assistia aos vídeos que tinha feito.

      – Não.

      – Não mesmo?

      – Não mesmo.

      – Não quer um sorvete ou não quer que eu pense que você está aceitando tomar um sorvete comigo?

      – Jungkook... – Lamentou.

      – Vai me lembrar de novo que só veio para as filmagens?

      – Não gosto de sorvete.

      – Há outros doces na vitrine.

      – Eu não quero.

      É, eu já tinha entendido tudo. No dia de suas filmagens, eu mesmo paguei um sorvete para Jade e até ofereci outro. Ela já tinha aceitado um sorvete antes, mas isso foi quando ela não queria fazer de tudo para se afastar de mim.

      Lamentei, mas não deixei isso transparecer. Jade tinha voltado a focar a lente da câmera em mim e eu não queria estragar o take. Sorri pra ela enquanto aproveitei meu doce e depois disso, vi ela filmando meu rosto depois de ter filmado o copinho vazio.

      Não demoramos lá dentro. Jade teria que ir embora em breve, sendo assim, se quiséssemos fazer takes pelo parque, deveríamos ir logo.

      Fora da sorveteria, fui andando na frente outra vez. E assim, Jade foi vindo atrás de mim como tinha feito antes. Porém, não ficou assim o tempo todo. Fez takes só do parque – que estava bastante movimentado mesmo num dia frio – e também me filmou de frente enquanto andei junto com todos.

      Mais a frente, encontrei o local que vendia comida específica para alimentar os patos que viviam naquele lago. Fiquei animado com isso e não demorei a ir até lá comprar. Depois disso, fui à beirada do lado e comecei a alimentá-los.

      Fiquei muito animado com isso e fiquei sorridente ao ver que os patos gostaram do que eu fiz. Continuei dando aquela ração a eles e notei que Jade ficou alegre ao ver isso. Posso dizer que eram poucos os momentos que ela ficava assim, então ao ver ela mais animada, fiquei animado também.

      Depois de já estar ali por um tempo, pensei em comprar mais uma embalagem de comida. Porém, Jade disse que já estava na hora de ir embora para buscar Wonju e disse que não havia mais tempo.

      – Acho que o material que já tenho é o suficiente para começar as edições. – Disse isso já negando qualquer pedido meu para novos passeios para as filmagens.

      – Sim, para um vídeo breve, isso já é o suficiente.

      – Fico com a câmera?

      – Sim, fique para salvar os vídeos.

      – E quando me dará as instruções?

      – Será que um dia desse eu posso te ligar? Assim eu iria te indicando algumas ferramentas enquanto você fazia o mesmo pelo seu computador.

      – Não prometo que isso será possível, eu fico até muito tarde com Wonju enquanto sua mãe não chega. E até que isso aconteça, eu não posso desviar minha atenção dela.

      – Você usa o Kakao?

      – Sim.

      – Posso lhe enviar uns vídeos por lá. Posso filmar a tela de meu computador enquanto mostro as ferramentas e caso precise, envio mensagens de áudio.

      – Assim será melhor.

      – Então combinamos assim. Farei isso o quanto antes para que possa começar logo, está bem?

      – Está bem. – Assentiu e guardou minha câmera. – Agora preciso ir, terei que voar para buscar Wonju a tempo.

      – E quando nos vemos de novo?

      – Eu não sei. – Falou sem jeito. – Mas não se preocupe, devolverei a câmera assim que acabar.

      – Não, não é por isso. Eu só não queria ficar sem notícias sua por tanto tempo.

      – Não se preocupe, eu fico bem.

      – Por que isso me parece mentira?

      – Porque talvez realmente seja. – Falou e arrumou a bolsa no ombro. – Até breve, Jungkook! Espero suas mensagens!

      – Até logo, Jade! Se cuida! – Acenei com o coração apertado.

      Jade me mostrou um sorriso simples ao acenar de volta e logo seguiu por onde tínhamos vindo. Já eu, fiquei ali sentado por um tempo. Não parei de pensar em tudo que ela disse e isso me deixou de cabeça cheia.

      Tentei me distrair e pensei em voltar até a barraquinha e comprar mais comida para os patos. Porém uma chuva iniciou-se e eu tive que me abrigar. Peguei o guarda chuva, fui até o ponto de ônibus e fiquei feliz por ele não ter demorado.

      Quase meia hora depois, após um forte congestionamento, eu cheguei em casa. Fui trocar a roupa úmida que eu vestia e quando fiz isso, fui passar um pouco de meu tempo no celular. E foi ao ver meu grupo com Jimin e Taehyung que eu acabei de lembrando de algo.

      Eu teria uma avaliação no dia seguinte.

      Foi nesse instante que eu decidi começar a estudar o quanto antes. Eu tinha prometido a Jade que começaria a mandar as indicações em breve, mas para que isso fosse possível, eu teria que terminar minhas obrigações primeiramente.

      Fui até meu quarto e separei todo o material. Olhando em minha agenda de tarefas, vi que a matéria era extensa e isso me deixou com medo de não conseguir terminar a tempo. Até me esforcei e fiquei acordado até mais tarde, porém acabei não conseguindo mesmo.

      A matéria eu revisei.

      Mas o que prometi a Jade, não iria cumprir.

      Ao final de tudo, quando lamentei por ter que ir dormir tarde e acordar cedo, finalmente fui me deitar. Fiquei olhando pro teto enquanto pensei em muitas coisas e uma delas, foi na parte que ao se despedir, Jade disse que não sabia quando nos veríamos de novo.

      Isso me deixou triste. Quanto mais eu estava com ela, mais queria estar. Então ouvir algo desse tipo me deixou sem expectativas. Eu queria pensar em algo para mudar a situação, mas não sabia o que fazer. E isso, me deixou chateado.

      Peguei meu celular e para dar uma explicação a Jade, resolvi lhe enviar uma mensagem de texto bem simples. Eu queria falar porque não enviei tudo como tinha prometido e queria dar a ela ao menos uma previsão de quando mandaria.

NOVA MENSAGEM

Para: Jade

“Olá, Jade! Boa noite! Desculpe estar entrando em contato a essa hora, mas eu precisava lhe falar. Terei uma avaliação importante amanhã na escola, então por isso não lhe enviei as instruções que tinha prometido. Farei isso assim que estiver resolvido essa pendência, está bem? Até logo! Entro em contato em breve!”

      Enviei pra ela a mensagem, mas eu sabia que não receberia uma resposta tão cedo. Jade certamente estaria dormindo, certamente acordaria cedo no dia seguinte para ir cuidar de Wonju e já deveria estar descansando.

      Conectei meu celular no carregador e para desencargo de consciência, eu voltei a ler a matéria para a avaliação. Peguei o resumo que fiz no caderno e comecei a ler tudo de novo. Eu pretendia ir muito bem na prova, então quis me dedicar extremamente.

      Estava com sono, mas isso ficou de lado. Voltei a relembrar a matéria tão importante e quando eu já estava na terceira lida, meu celular tocou, fazendo um barulho alto ao som de Justin Bieber.

      Arregalei os olhos e logo o tomei nas mãos. A música tomou proporções enormes com seu volume, já era tarde e o silêncio fez tudo parecer mais escandaloso. Coloquei a mão em cima para abafar o som e quando olhei na tela, meu coração disparou.

      Já passava de duas da manhã quando Jade me ligou. Ela nunca tinha feito isso antes e jamais faria naquele horário. Fiquei aflito temendo o pior e fiquei um pouco desesperado. Então, resolvi atender o quanto antes.

      – Jade? – Atendi ainda surpreso e preocupado.

      – Olá, Jungkook. – Falou calmamente.

      – O que foi? Aconteceu algo?

      – Acabo de receber sua mensagem. Não se preocupe, não tenho pressa quanto às indicações. Eu posso esperar o melhor momento pra você poder me passar tudo.

      – Está ligando por isso?! – Ainda preocupado, eu falei.

      – Sim, eu só queria que soubesse que não precisa se apressar tanto. Foque em sua avaliação e depois se lembre de mim.

      – Puxa vida, eu acabo de ficar muito preocupado!

      – Por quê? – Continuou falando calmamente.

      – Você nunca me ligou antes e jamais pensei que faria isso a essa hora. Pensei que algo ruim teria acontecido ou algo do tipo.

      – Fique calmo, estou bem. Estou acordada a essa hora, pois sofro de insônia e ansiedade como você já deve imaginar. Sou completamente desregulada neste quesito, então já é normal que isso aconteça.

      – Me prometa que é só isso mesmo.

      – Na verdade... Não foi só por sua mensagem que eu quis ligar.

      – E o que mais?

      – Eu queria ter dito algo a você hoje quando nos encontramos, mas fiquei sem coragem e um tanto desconsertada.

      – Dizer algo? O quê?

      – É que... Eu queria te contar sobre algo que fiz.

      – Pode falar.

      – Marquei uma consulta com minha antiga psicóloga para começar novamente meu acompanhamento médico.

      – Sério?! – Abri um grande sorriso.

      – Levei em consideração o que me disse quando esteve aqui. Você falou que um médico me poderia ser útil para tentar contornar um pouco de minha situação e eu não parei de pensar nisso desde então.

      – Puxa vida, eu fico muito feliz que tenha feito isso!

      – Eu não fico. – Lamentou. – É difícil que eu tenha que reconhecer novamente que estou mal a ponto de precisar de um médico outra vez. É complicado ver que não tenho nenhum avanço.

      – Não fale assim, Jade. Agora é hora de pensar positivo e é isso que terá que fazer! Reconhecer que precisa de ajuda é um bom começo e isso acarretará em uma melhora.

      – Eu não encaro dessa forma, mas entendo o que quer dizer.

      – Sua atitude foi muito boa! Acredite! Isso com certeza irá te fazer sentir um pouco melhor! E aos poucos, isso irá ficar cada vez mais simples de superar!

      – Otimista como sempre. – Deu uma risadinha.

      – E você também deveria ser, sabia? – Sorri.

      – Um dia eu chego lá.

      – Sei que vai chegar. – Fiquei feliz. – Quando será a consulta?

      – Depois de amanhã.

      – A que horas?

      – As três, quando Wonju estiver novamente na aula de dança.

      – Vai dar tudo certo, está bem? Fique calma e confie, sei que isso lhe fará muito bem! Fico muito feliz por ter feito a coisa certa!

      – Muito pelo contrário, eu sempre fico muito aflita nas consultas.

      – Por quê?

      – Todos os meus problemas vêm em mente e isso me deixa abalada antes mesmo de desabafar.

      – Lembre-se dos problemas apenas no momento de falar. Não permita que eles te abalem antes disso.

      – É complicado, mas foi pensando nisso que eu tive uma ideia.

      – Qual?

      – Eu queria que...

      – O quê?

      – Que fosse comigo até a consulta.

      E foi nesse momento que eu me enchi de alegria de uma vez por todas. É sério? Ela estava mesmo querendo que eu fosse com ela? Num momento como aquele? Será que... Ela finalmente enxergou em mim a confiança que eu sempre quis passa pra ela?

      – Você... Você quer que eu vá? Quer que eu a acompanhe?

      – Sei que falei muitas vezes que não queria me aproximar, mas... Acontece que eu me sinto insegura sozinha e você é a única pessoa que posso contar.

      – Eu pensei que você nunca entenderia isso. – Confessei. – Eu sempre quis que confiasse em mim dessa forma e fico feliz por saber disso agora.

      – Tudo bem se não puder, como você já havia falado de sua avaliação, penso que talvez não dê. Mas é que... Eu precisava ao menos tentar e falar com você sobre a companhia.

      – A avaliação é amanhã e depois disso não tenho nada para fazer. Fique tranquila, eu irei contigo! Faço questão de ir!

      – Sério? Você... Irá comigo?

      – E farei bobagens para que se distraia ao máximo, não quero que fique aflita antes da consulta. – Sorri.

      – O horário é bom pra você?

      – Mesmo se não fosse, eu daria um jeito.

      – Obrigada, Jungkook! Eu sabia que poderia contar contigo!

      – Não sabe como me sinto feliz por você ter me procurado neste momento tão importante.

      – Você é o único que suporta todas as minhas problemáticas até agora, não tinha como não ser você.

      – Até agora? Saiba que estarei aqui sempre, já falei e repetirei quantas vezes quiser. Não pense que irei desistir, está bem?

     – Você me parece tão tolo às vezes, Jungkook... Tão inocente para tudo de ruim que há no mundo.

      – Talvez este seja meu ponto forte. – Sorri bobo. – A inocência nem sempre é um ponto negativo.

      – Deveria ser resguardado longe de qualquer problema, mas o que quer é exatamente o contrário quando decide estar comigo.

      – A vida tem dessas coisas. – Sorri outra vez.

      – Eu ainda não compreendo, mas fico em paz em tê-lo por perto.

      – Fica em paz?

      – Sim.

      – Talvez seja este o motivo de eu insistir tanto. Talvez eu deva estar do seu lado justamente para te fazer sentir assim.

      Fui falando as primeiras coisas que me vieram à cabeça, mas isso deixou Jade confusa e tímida. Não falei com maldade, apenas falei sobre estar com ela e ajudá-la. Porém, ela não se sentiu a vontade com isso e levou a conversa a outro lugar.

      – Posso contar contigo no dia e no horário que falei?

      – Sim. – Assenti a mim mesmo.

      – Passo em sua casa para buscá-lo, está bem? Ainda tenho o endereço que você anotou em meu celular e sei como chegar.

      – Está bem! Combinado!

      – Agora vou deixá-lo dormir em paz, não quero atrapalhar mais do que já atrapalhei.

      – Você jamais me atrapalharia, Jade.

      – Boa noite! E boa avaliação amanhã!

      – Obrigado, Jade! E boa noite pra você também!

      Falei isso e logo desligamos. Com o celular na mão, desabei na cama novamente e fiquei sorridente ao olhar pro teto. Eu ainda não acreditava naquilo, mas ao invés de me perguntar se era verdade ou não, eu decidi apenas ficar feliz pelo convide de Jade.

      Sim, ela sabia que poderia contar comigo. Ela sabia que era bom que estivéssemos perto um do outro. Ela sabia que nossa aproximação poderia sim não ser um problema. Mas pra ela ainda era difícil aceitar.

      Ela queria um afastamento.

      Mas se sentia bem estando comigo.

      Pensei sobre isso e logo imaginei que até eu estava conseguindo entender o que se passava com Jade. Mas ela mesma, não sabia fazer isso. Ela ainda estava com problemas na cabeça e não aceitava mudanças.

      Mas, isso com o tempo eu sabia que mudaria. Eu sabia que aos poucos toda a situação melhoraria e isso era o que eu mais queria. Deitado na cama, ainda sorridente e animado por ela ter me escolhido, criei expectativas.

      E se antes estive triste por não saber quando iria vê-la de novo. Agora, me sinto feliz por seu contato e por seu convite. Não tínhamos previsão de outro encontro e agora... Nos veremos em dois dias. E isso, me deixou mais feliz do que eu poderia imaginar.