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História Oceans - 3. Convivência


Escrita por: btsfucks

Notas do Autor


Olá~
Eu ia postar esse capítulo antes, mas aconteceram umas coisinhas aí e não deu. Entretanto, vou postar hoje - mesmo que tarde - porque não aguentava mais segurar esse capítulo hihi
Então, espero que gostem e boa leitura!
xoxo

Capítulo 4 - 3. Convivência


Fanfic / Fanfiction Oceans - 3. Convivência

Assim que saíram da escola, Jungkook soltou o pulso de Jimin bruscamente.

Respirou fundo antes de se virar para ele com uma carranca palpável. Nunca foi de se importar com as coisas que aconteciam ao seu redor, porém daquela vez, era diferente. Desceu os olhos para os pés descalços de Jimin e percebeu que estavam machucados, talvez pela longa caminhada, ou por não evitar pedras no caminho.

Ficou tentando a voltar ao seu armário e pegar o tênis que usava na educação física.

 Porém não voltou.

— Poderia ter se perdido. Se te descobrirem, você vai parar num aquário ou pior, num laboratório. — Jungkook tornou a repreendê-lo.

Taehyung já tinha visto Jungkook chateado, mas geralmente, ele contradizia o sentido da palavra raiva. Apenas ficava sério e ignorava todos, até mesmo Taehyung. Mas agora, ele estava realmente irritado com Jimin e isso deixou o amigo espantado.

— Jungkook, não precisa ficar assim. Ele só ficou entediado sozinho... — falava tentando apaziguar o clima. 

— Claro que precisa! Se souberem dele, tem noção do que vão fazer com a sua sereia? — Jungkook sussurrou a última parte.

Taehyung abriu a boca para perguntá-lo se estava remotamente preocupado com Jimin, quando um barulho o fez olhar o garoto de fios róseos, assim como Jungkook.

— O que foi isso? — perguntou o vendo tocar a barriga.

— Eu vim porque estou com fome. — disse Jimin para Jungkook.

— Podemos ir à lanchonete dos Jung. — sugeriu ele, soltando um suspiro exasperado.

Era como cuidar de uma criança.

— Ainda bem que você disse isso, Jimin. Eu estou morrendo de fome! — Taehyung exclamou. — Espere, você está descalço...? — perguntou rumo ao ponto de ônibus, seguido por Jimin.

Duas crianças, corrigiu Jungkook indo atrás deles.

Após entrarem à lanchonete próxima ao litoral, fazendo o sino próximo a porta tilintar, Jimin correu até o balcão. Onde tinha um cheesecake de morango e Jungkook se aproximou do atendente pedindo três fatias. Não era exatamente um almoço, mas Jimin estava quase babando e sabia que Taehyung provavelmente iria preferir um doce ao invés de um hambúrguer.

Devidamente sentados, Jimin comia avidamente o doce. Agora estava calçado com um par de Jungkook e o outro de Taehyung, que deu a brilhante ideia, deixando os descalços de um pé. Jungkook notou que a lanchonete estava quase vazia e antes que os clientes começassem a chegar para comer, achava melhor tocar no assunto o quanto antes.

— Isso é muito bom! O que é? — perguntou Jimin com o canto da boca sujo com calda de morango.

— Cheesecake de morango, o melhor da cidade! — Taehyung o respondeu.

— Se está dizendo isso só para ter desconto, pode parar, Taehyung. — disse Hoseok se aproximando dos garotos com um sorriso cortês nos lábios. — Oi Jungkook e... garoto do lado do Taehyung.

— Me chamo Jimin. — disse para Hoseok, que sorriu para ele, como faz com todos.

— Certo... Até mais, pessoal!

Com isso, ele foi para a porta da cozinha, provavelmente para vestir o fardamento e começar ajudar seu pai. Foi então que Jungkook aproveitou a saída dele para lembrar Taehyung sobre as perguntas.

— Ah sim! — falou parando de comer por um minuto e voltar se para Jimin, que não deixou o doce de lado. — Você era humano antes? O que aconteceu?

— A maioria das sereias eram originalmente humanos. — explicou fitando os morangos com um olhar vazio. — Tudo começa com o fim de uma vida humana, então o mar nos dar uma “segunda chance” sob uma condição.

— Que condição? — Jungkook indagou um pouco incomodado.

Jimin o encarou com os olhos vazios e vítreos.

— O humano em questão, deve abrir mão das memórias de sua vida, tornando se um ser errante e amargurado no mar. — baixou o olhar, tornando a comer.

Taehyung não sabia se era uma boa ideia continuar com as perguntas, talvez fosse um assunto delicado para Jimin.

— Então, o que mais quer saber? — falou de repente, assustando ele.

— Hum... Você pode virar humano quando quiser? — questionou hesitante.

— Sim, também posso virar sereia quando estiver submerso na água.

Ele balançou a cabeça, buscando falar de qualquer coisa para distraí-lo daquilo.

— Você falou que ouviu uma música quando salvou o Taehyung ontem, o que isso quer dizer? — Jungkook se pronunciou, atrapalhando o plano do amigo, que lançou lhe um olhar ferino e foi ignorado.

— Os humanos escutam uma melodia quando estão se afogando, ou então quando a água está apagando suas memórias relacionadas a nós. — disse com descaso.

— Então se eu já tiver visto uma sereia, não irei lembrar, por que a água toma as minhas memórias. — concluiu.

Jimin murmurou confirmando.

— Espera, a água pode fazer isso? — Taehyung franziu o cenho.

— Claro. O mar é uma entidade e não apenas onde sereias e peixes habitam. — alegou como se fosse óbvio.

— Sabe, isso é informação demais para digerir. Sem contar tudo o que aconteceu ontem, então, por hora, vamos comer. — Jungkook encerrando o assunto.

E então Jimin bateu as mãos na mesa repentinamente fazendo os talheres tilintarem, os alarmando e por um momento, Jungkook pensou tê-lo ofendido.

— Podemos levar mais disso para casa? — perguntou sem jeito.

Taehyung gargalhou o achando adorável, enquanto Jungkook piscou rapidamente, imaginando ter escutado errado. “Casa”? Ele estava se referindo à casa de Jungkook?

— Hã, claro.

Mas eles não foram para casa de imediato, Taehyung fez questão de mostrar o lugar favorito deles, o cais. Dizendo que Jimin agora era um deles. Os três se sentaram como, ele e Taehyung sempre faziam, e Jungkook observou Jimin pousar a sacola com o cheesecake no colo e admirar a amplitude azul impassível.

Não conversaram entre si, ficaram do mesmo modo quando os amigos iam até ali. Simplesmente aproveitavam a companhia um do outro em silêncio, quando Taehyung não estava em meio às pesquisas malucas. Só que dessa vez, Jungkook não conseguia relaxar, pois só pensava no intruso entre eles.

A chuva começou a fustigar e os três correram a fim de procurarem abrigo na casa de Jungkook. Uma hora, Jungkook chegou a ponderar que Jimin iria virar metade peixe no caminho, por causa da demora dele para correr. Mas lembrou de que tinha dito que só se transformava quando estava submerso na água e também tinha o fato dele não estar acostumado a ter pernas.

Pararam em sincronia, ao menos, Taehyung e ele, Jimin veio depois. Entraram e Jungkook bateu os pés para tirar a água da chuva do único sapato que usava e notou Jimin o imitando com seu outro par. Eles subiram para o quarto de Jungkook, e Taehyung correu para o controle do vídeo game oferecendo o outro a Jimin, que o aceitou.

Eles dois se sentaram com as pernas cruzadas, como índios e Jungkook antes de sair para buscar toalhas, revirou os olhos. 

— Eu acho que ele me odeia. — disse Jimin.

— Ele? Ah, Jungkook? — Taehyung tirou os olhos do jogo por momento e seu Roadhog morreu. — Droga! — praguejou fazendo Jimin pular, surpreso. — Olhe, ele apenas está... como posso dizer, inseguro.

Jimin também foi abatido na partida, pois ele era consideravelmente pior que Taehyung em Overwatch.

— Inseguro?

— Sim, até ontem ele afirmava que isso tudo era mitologia e não existia. Então, aceitar você significa admitir que tudo que ele acredita está errado, acho que a reação dele é compreensível, não? — falou dando lhe um sorriso. — Ainda é difícil para ele, mas não acho que te odeie.

— Não acredito, mas é muito gentil da sua parte dizer isso.

Taehyung abriu a boca para respondê-lo, mas no mesmo instante Jungkook entrou e ele desistiu, dando início à outra partida.

 

 

Depois de conseguir enrolar Jin, Jungkook voltou ao quarto com as toalhas e comida. Da qual, eles devoraram numa velocidade absurda, principalmente o garoto de fios róseos. Taehyung continuava jogando, agora com Jungkook e nesse meio tempo Jimin se ocupava em olhar para a janela. Para ser mais preciso, para o mar.

Enquanto Jungkook fitava a televisão concentrado, Taehyung dizia:

— Olha o Reaper, Jungkook!

— Eu estou vendo.

— Venha aqui, seu filho da mãe! — gritou, torcendo o controle nas mãos. — Preciso de cobertura, Jungkook!

Quando finalmente conseguiram vencer, Jungkook olhou Jimin por cima do ombro e em seguida encarou Taehyung, que estava distraído escolhendo um herói para outra partida.

— O que você planeja fazer com ele? — perguntou num tom de voz contido.

— Não pensei muito nisso. Quer dizer, eu não tinha o intuito de pegá-lo para expor ao mundo e ganhar o prêmio Nobel por pescar uma criatura mitológica, sei lá. Eu só queria provar a você que estava certo, sabe como eu fico quando meu orgulho é ferido, não é?

— Eu sei. — falou ainda sussurrando. — Mas não podemos ficar com ele pelo resto da vida e-...

Taehyung tirou os olhos da televisão, bufando.

— Jungkook, ele não faz mínima ideia do que está acontecendo ao seu redor. — estava começando a ponderar a ideia sobre Jungkook odiá-lo, qual era o problema dele com Jimin? — Eu sei que você está incomodado por estar errado e tal, mas é realmente necessário tratá-lo assim? Você mais do que ninguém sabe como é ficar só, mas ao menos, sabe que tem pessoas que se importam com você.

— Compre uma escova de dente e cuecas, ele não vai usar as minhas. — disse por fim, fechando a cara.

— Você vai dividir a conta comigo? — brincou e Jungkook não resistiu e sorriu, o empurrando.

— Seu pão duro.

Jungkook ainda não era familiarizado com o fato de Taehyung estar certo. Raramente recebia sermões dele, geralmente era sempre o contrário. E por mais que lhe custasse admitir, Taehyung tinha razão. De novo.

Jimin não tinha ninguém. Estava completamente sozinho, vivendo no mundo fora d’Água sem nenhuma memória de sua vida antiga e de como ser um humano.

As nuvens cinza se aglomeravam no céu, engolindo as estrelas e a lua daquela noite e logo, ao longe, Jimin viu as ondas do mar se agitarem. Jungkook e Taehyung discutiam ao mesmo tempo em que jogavam e riam das mortes consecutivas de Taehyung.

— Vai chover. — Jimin anunciou cessando a conversa.

— Mas estiou há horas! — Taehyung falou.

— E estamos na primavera. — acrescentou Jungkook.

Um trovão rugiu nos céus, fazendo ambos os amigos pularem.

Começou com uma fina garoa até se tornar pingos fortes e os estrondos aumentarem. Jungkook correu para a tevê, mudando o canal para os jornais e pegou o telefone, intercalando olhares entre um aparelho e outro. Jimin se aproximou curioso, enquanto Taehyung sentava na cama, ao lado do amigo a fim de dar lhe apoio e tranquilizá-lo.

— Algum problema? — Jimin encarou o rosto aflito de Jungkook.

— O pai dele está no alto mar e toda vez que tem tempestades, Jungkook fica nervoso. — respondeu Taehyung.

— Isso te deixa com medo? Quer que eu pare? — perguntou se dirigindo à Jungkook, que franziu o cenho para ele.

Os olhos castanhos o fitavam com tanta intensidade, que Jungkook foi obrigado a tornar sua atenção para a tela do celular. Não respondeu a pergunta do garoto de fios róseos, pois não era preciso. Estava claramente estampado na cara dele o temor de perder o pai.

Taehyung não pôde demorar muito ali, precisava ir para casa antes que a chuva se transformasse num aguaceiro. Despediu-se dos garotos com receio de deixar o amigo sozinho, mas então recordou que Jimin estaria ao seu lado e ficou mais tranquilo. Embora os dois ainda se estranhassem, sabia que iriam ficar bem.

Ao menos, era o que esperava.

 

 

Aproximadamente quinze minutos depois da saída de Taehyung, Jungkook avisou que ia deitar-se. Embora não fosse o horário que costumava a dormir, ele não queria ficar ansioso a cada vez que olhava o tempo no celular ou o noticiário na televisão, esperando o pior. Não iria ficar se martirizando, tinha que pensar positivo. Nada ia acontecer com seu pai.

 Jimin estava sentando no chão, ao lado de Jungkook, o vendo rolar de lado para o outro como se estivesse tendo um pesadelo. O ruído do vento forte, o som dos pedaços da telha sendo arrancadas e o rangido das molas da cama. Todos os pequenos barulhos fizeram Jungkook se acordar assustado.

Desistindo de tentar dormir, sentou se na cama e virou se, esperando ver Jimin coberto no saco de acampar. Porém, não encontrou nada além da escuridão de seu quarto. Talvez ele tivesse ido ao banheiro, Jungkook tentou enganar a si mesmo. O cômodo estava quieto, somente a chuva fazia barulho lá fora e ele sabia que não havia mais ninguém além de si naquela casa.

— Jimin? — chamou.

Levantou de súbito da cama e começou a procurá-lo. Desceu as escadas após verificar cada cômodo do andar de cima, e então olhou na cozinha, encontrando somente uma fatia e meia do cheesecake de morango em cima do balcão.

 Jungkook respirou fundo, tentando se acalmar. Reconhecia que tinha tratado Jimin mal, e mais, tinha noção de que ele sabia, pois tinha ouvido a conversa com Taehyung. Se Jimin tivesse ido embora era meramente culpa sua. 

 

você:

Taehyung? [21:23]

temos problemas [21:23]

 

taetae:

o que aconteceu? [21:25]

você:

tente ficar calmo mas [21:25]

eu acho que o jimin fugiu... [21:26]

 

taetae:

O QUE??! [21:26]

 O QUE VOCÊ DISSE PRA ELE? [21:26]

 

você:

eu não disse nada!!! [21:26]

argh! deixe para lá! [21:27]

só me diga se vai me ajudar a procurá-lo ou não? [21:27]

 

taetae:

ÓBVIO [21:28]

vamos nos separar, teremos mais chances [21:28]

 

você:

certo [21:28]

 quem encontrar ele primeiro liga [21:29]

 

taetae:

positivo [21:30]

 

Guardou o telefone no bolso, pegando seu casaco, um guarda chuva e saiu de casa. A rua estava silenciosa, escura. As luzes das outras casas estavam completamente apagadas, todos provavelmente estariam dormindo. Graças a forte chuva e pouca iluminação da rua, Jungkook precisava prestar atenção no chão para evitar topadas e tropeços.

Tentou pensar o local mais provável que Jimin iria, então sem hesitar caminhou com mais velocidade em direção à colina de onde Taehyung pulou. Atravessou a rua sem se dar o trabalho de conferir o tráfego, por que sabia que àquela hora não haveria carros.

Jungkook desistiu do guarda chuva que dificultava sua corrida, por causa do vento forte que vinha na direção oposta, e optou por usar a mão para proteger seus olhos dos pingos da chuva. 

Parou ofegante, olhando para os lados. Mas tudo o que encontrou foi o poste mal iluminado e o banco de madeira velho. Jungkook respirou fundo, tentando examinar com calma a situação. 

Será que tinha voltado para o mar? Jungkook não podia culpá-lo, depois da maneira que foi recebido era plausível ele querer ir embora. Não era isso que queria? Por que estava se sentindo culpado?  

Talvez por Jimin o lembrar de si mesmo com oito anos após perder a mãe. Perdido e sozinho. 

No entanto, não podia deixar Taehyung procurá-lo sozinho, seu amigo se importava com Jimin como uma pessoa e não uma criatura mística, Jungkook devia ter feito mesmo. Esperava que não fosse tarde demais para se redimir. Puxou o capuz azul do casaco e tornou a busca, não podia desistir sem, ao menos, checar todos os lugares possíveis. 

Estava de pés no início do cais, que estava sendo brevemente iluminado pelo farol e a água agitada do mar rebatia violentamente na lateral do concreto. As lufadas de ar fresco arrepiavam os braços de Jungkook, que fitou a sua frente e apertou a vista, quando uma forma se materializou na escuridão.

— Jimin? — falou.                                                  

Ele estava em ponto de ligar para Taehyung e avisá-lo que havia o encontrado. Mas Jimin não prestou atenção em Jungkook e se aproximou ainda mais da extremidade, com os braços abertos para o oceano. Jungkook o alcançou imediatamente, o segurando pelos os ombros para impedi-lo de pular na água.

Os olhos de Jimin pareciam absortos em algo importante, fitava o horizonte como se mais nada ao redor existisse e parecia extremamente concentrado no que fazia. Seja lá o que fosse. Jungkook não se sentiu especialmente à vontade em estar ali agora, naquele cais.

Apesar disso, não iria deixá-lo mergulhar naquele mar tempestuoso, mesmo sendo uma sereia, ele não parecia em si no momento para nadar.

— Jungkook? — falou baixinho, como se tivesse despertado do seu transe.

— Está tudo bem? — perguntou, analisando o rosto estarrecido do garoto, a procura de ferimentos. — Você me assustou, eu pensei, — ele fez uma pausa. — que tinha ido embora. 

— Desculpe. — murmurou encabulado.

— O que você veio fazer aqui? Você... quer voltar? — indagou incerto.

Jimin arregalou os olhos e sacudiu a cabeça fortemente, negando.

— Vim acalmar a tempestade por que você estava com medo. — falou e Jungkook ficou estático.

Tirou os olhos do garoto e só então percebeu que agora o mar estava estagnado, como se nunca tivesse tempestuoso há minutos atrás. O céu estava estrelado e a lua pálida deixava seu rastro refletido na água. Os únicos indícios do recente temporal eram a vegetação próxima, que estava molhada e suas roupas, que estavam completamente encharcadas.

— Você... parou a chuva? — ele piscou rapidamente, perplexo.

— Sim.

— Certo... — Jungkook puxou o ar fortemente, tentando absorver a nova informação.

Não tinha percebido que estava tão ocupado procurando Jimin, que esquecera momentaneamente de seu pai no mar. Tirou o celular do bolso e ligou para Taehyung, avisando que tudo estava bem aparentemente. Não podia negar, ficou tocado pelo ato de Jimin. Afinal, não era qualquer um que iria — e poderia — parar uma tempestade poruma pessoa. 

Observou seus cabelos róseos grudados da testa, as gotículas de água percorriam pela pele alva fazendo um rastro de seu rosto até o pescoço e o moletom de Jungkook, que ele usava, estava ensopado. Mas o que fez sua consciência pesar, foi quando pousou os olhos nos pés feridos de Jimin. Ele tinha ido até ali descalço novamente.

Num suspiro, Jungkook virou se de costas, agachando se e estendeu os braços para trás. Jimin o assistiu se posicionar sem entender nada.

— Suba.

— O quê?

— Nas minhas costas. — explicou.

— Por quê? — Jimin parecia uma criança de três anos curiosa, pensou impaciente.

 Soltou o ar, exasperado. Se aproximando dele e o suspendeu de repente. Jimin arquejou ao ser erguido e por reflexo, passou os braços ao redor dos ombros de Jungkook, o segurando firmemente para não cair.

 Eles começaram a andar em silêncio, com Jungkook o carregando nas costas. Ele tinha um aroma forte de baunilha mesclado com a chuva, mas Jungkook ainda podia sentir o cheiro fraco da maresia. Era uma fragrância inebriante, que pôde sentir ainda mais, quando Jimin apoiou sua cabeça nos ombros largos de Jungkook.

Provavelmente, acalmar a tempestade tenha exigido um pouco de si, concluiu deixando-o adormecer.

Jimin despertou quando chegaram à casa de Jungkook, e ambos foram direto para o quarto. Jungkook esticou as mãos com uma muda para Jimin, que o olhou de uma maneira que não soube interpretar e então aceitou as roupas, seguindo para o banheiro.

Ele fez o mesmo, tomando um banho quente para relaxar e vestiu uma roupa confortável. Foi ao banheiro do piso inferior, que era próximo à cozinha e remexeu nos armários. Após achar a caixa de primeiros socorros de seu pai, subiu as escadas bem a tempo de Jimin aparecer no quarto.

— Sente na cama. — pediu e Jimin o obedeceu.

Ele assistiu Jungkook passar remédio com cuidado nos ferimentos de seus pés, cobrindo os com gaze em seguida. Tentou reprimir um sorriso, pois fazia tempo que não sentia se assim. Acolhido. Esteve todo esse tempo só no fundo mar, vagando pelas águas.

Era triste e deprimente.

— Obrigado. — a voz de Jungkook o assustou.

— Huh? — pestanejou atônito.

— Estou agradecendo não só por parar a tempestade, mas por ter salvado a mim e a Taehyung naquele dia. — diz encarando os pés de Jimin, com vergonha. — E desculpa por ter te tratado mal, eu deveria ter sido mais legal com você.

Finalmente reuniu coragem para olhá-lo e ficou desconcertado com o que via. Jimin sorriu. Seu sorriso era encantador, de modo que fazia seus olhos se fecharem como se estivessem sorrindo também.

Ele chegava até ser infantil daquele jeito. Jungkook estranhamente se viu repetindo o gesto.

— Bom, você quer ver um filme antes de dormir? — sugeriu e Jimin concordou com afinco.

Eles subiram em silêncio, enquanto isso, Jungkook o olhava de esguelha absorto nos pensamentos. Iria ajudar Jimin juntamente com Taehyung, mesmo que ainda não soubesse exatamente com o quê.

 

 

Na manhã seguinte, enquanto Jungkook estava na escola, Jimin ficou um bom tempo parado na frente da janela repassando as palavras de Jungkook na noite passada em sua mente e ao lembrar o quão elas foram sinceras, fazia seu coração aquecer.  

Afinal, quando se passa muito tempo debaixo da água, sendo privado de qualquer contato humano, não sabe se deve confiar em uma pessoa ou não. Os seres humanos costumavam ser cruéis, manipuladores e interesseiros. Jimin presenciava o que eles faziam com o ambiente, o destruindo e o modificando ao seu favor, enquanto ignoravam outras espécies de vida que ali habitava. 

Entretanto Jungkook e Taehyung não passava esse temor para ele, e sim ao contrário.  

Deixando a janela e o mar de lado, observou ao redor. Não sabia muito bem como ocupar seu tempo sem eles por perto. Se fosse atrás deles na escola, Jungkook iria ficar chateado e não queria vê-lo irritado consigo de novo. Não quando agora estavam se entendendo.

Por isso, tentou se ocupar vagando pela casa como um espírito bisbilhoteiro. Parou na sala de estar, no móvel que ficava em baixo da televisão pendurada na parede, e fitou os retratos. Tinha fotos de Jungkook pequeno, outras dele no meio de duas pessoas, que Jimin deduziu serem seus pais.  Eles pareciam felizes, Jungkook tinha um sorriso bonito no rosto.

Ele não sorria muito assim agora, constatou.

Desviou sua atenção para um objeto jogado no sofá e o pegou, apertando seus botões aleatoriamente. Acabando por ligar a televisão, assustando-o. Mas logo Jimin fitava o eletrodoméstico fascinado, vendo o programa que passava. Provavelmente, quando era humano, devia ter visto aquilo. Contudo, não recordava na sua atual situação.    

Só conseguiu parar de assistir o drama, quando sua barriga roncou e o obrigou a ir até a cozinha. Não sabia o que fazer, pois normalmente essa era a hora que Jungkook voltava e dava lhe comida.

Findou seus pensamentos, quando escutou um barulho de plástico e virou se contente ao pensar que Jungkook tinha chego. Mas não era ele e sim um garoto alto, com cabelos castanhos e que avançou nele no mesmo instante em que se olharam. Jimin não teve tempo de ter uma reação, seu corpo apenas foi lançado contra o chão com violência.

— Quem é você? — gritou o garoto, em cima de Jimin.

— Solte essas pernas! Eu acabei de ganhar! — se debateu nervoso.

— O que está acontecendo?! — uma terceira voz se fez presente.

Os dois pararam, e encararam Jungkook parado na entrada da cozinha com Taehyung boquiaberto do seu lado.

— Jin? — Jungkook agora estava espantado.

O mais velho foi até ele se colocando na frente dele e de Taehyung, de forma protetora.

— Jungkook, quero que você corra com Taehyung para a porta e chame a polícia, enquanto eu cuido desse intruso. Ele pode ser violento. — instruiu, ainda de costas.

— Meu nome não é intruso, é Jimin e eu não sou violento! — disse levantando se, com o rosto vermelho. — Foi você que me atacou!

— Hyung, espere! — disse caminhando até Jimin, parando ao seu lado.

— Não é o que está pensando! — Taehyung se pronunciou imitando Jungkook, se pondo à esquerda de Jimin.  

A expressão intimidadora de Jin deu espaço para uma totalmente perdida.

— Hã? Vocês o conhecem?

— Ele é um primo de quarto grau... que chegou na cidade antes de ontem do exterior... — Taehyung viu o amigo se embolar todo com as palavras e resolveu intervir antes que Jin notasse algo errado.

— Infelizmente ele foi assaltado e tomaram todo o dinheiro dele e as malas foram levadas. Então ele pediu para ficar por aqui um tempo. — mentiu descaradamente.

Esperou que Jin não caísse naquela desculpa esfarrapada, mas ele sorriu em seguida e se aproximou de Jimin, pedindo lhe desculpas. Jungkook e Taehyung trocaram um olhar cúmplice. E após a confusão toda, eles sentaram se juntos a mesa, algo que não acontecia há muito tempo. Como era somente ele e Jin na maioria das vezes, mal a usavam.

Inesperadamente, agora com todos eles comendo juntos ali se parecia um lar. Porém, o que era mais surpreendente para Jungkook, era o fato de estar satisfeito com aquela sensação. Não tinha percebido o quanto tinha sentido falta daquele sentimento acolhedor assim como Jimin, que tinha um sorriso agradável nos lábios enquanto comia e conversava com Jin e Taehyung.

— Aliás, hyung, o que veio fazer aqui? — Taehyung perguntou a Jin, o despertando.

 — Queria preparar o jantar do Jungkook mais cedo para fazer uma surpresa, já que choveu ontem... — falou com um jeito fraterno que ele sempre teve ao se referir a Jungkook. — Mas fico feliz que Jimin esteja aqui agora. — então ele franziu o cenho fitando os amigos. — Vocês demoraram a chegar em casa, por quê? 

— Ah, o Jungkook queria ir ao centro para... — dizia Taehyung, até Jungkook cobrir sua boca com a mão.

Taehyung continuava falando com a voz abafada, enquanto Jin e Jimin via Jungkook ficando vermelho até as orelhas. De repente, ele soltou Taehyung gritando e o outro, puxou o ar que lhe faltava.

— Você me babou! — reclamou Jungkook, sacudindo a mão.

— Você quase me matou! — retrucou estendendo a língua para o amigo, que fez uma careta a ele.

— Uma pena que foi quase.

Jin riu.

— Está bom, chega vocês dois.

 Assim que terminaram de comer, Jin ensinou Jimin lavar a louça, enquanto Taehyung e Jungkook enxugavam e guardavam as coisas, respectivamente. Não demoraram muito, quando escureceu Taehyung e Jin se despediu dos dois, indo embora. Ao fechar a porta, Jungkook observou Jimin de esguelha. Estava sentindo o constrangimento se apossar novamente, mas tentou ignora-lo ao virar se completamente para o garoto de fios róseos.

— Tenho uma coisa para você. — disse fazendo Jimin olhá-lo.

Com isso, ele sai do hall de entrada e Jimin o segue. Seja lá o que for, consegue ver o quanto Jungkook parece inquieto, o que por sua vez, o faz rir. Eles pararam na sala e Jungkook agora tinha sua mochila preta da escola nos braços.

— Primeiro, sente e feche os olhos. — pede e Jimin o faz. 

Ele sente o sofá afundar ao seu lado e ouve abrir o zíper da mochila, em seguida coloca uma coisa nas mãos de Jimin. Uma caixa, conclui ao abrir os olhos.

— É um par tênis. — diz ele. — Para você.

As mãos de Jimin voam até a sua boca e ele arregala os olhos, sua reação faz Jungkook sorrir.  Era o sorriso bonito que Jimin havia visto na foto mais cedo, e isso fez seu coração dar uma batida descompassada.

— Eu posso mesmo aceitar isso? — sussurrou tocando o calçado, atônito.

— Se você tiver gostado...

— Eu gostei! Muito mesmo! — ele interrompe Jungkook rapidamente. — Obrigado, Jungkook.

Jimin olhava o presente como se fosse um tesouro, ele vira a cabeça para Jungkook, que o encara de volta. Observa seus olhos, seu rosto e abre um sorriso feliz, que se alarga ao receber o mesmo gesto de Jungkook.

Jungkook concordava com Jin.

Também estava feliz por Jimin está ali, o fazendo companhia.


Notas Finais


Uma breve observação aqui, eu estava pesquisando sobre sereias para fazer essa fic e acabei achando que estava entre os poderes de uma sereia - além do comum encantamento por voz - que podiam acalmar tempestades.
Por hoje é só, logo vão aparecer mais personagens e Taegi
xoxo


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