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História Odio que no te odio - ZURENA - Capítulo 1


Escrita por: alwayszurena

Capítulo 1 - Capítulo 1


MACARENA POV
Junho de 2020

Faço a curva saindo da estrada e adentro nosso pequeno bosque, faz 2 anos que rodamos com a caravana por aí e 3 meses paradas nesse lugar, de longe foi o mais bonito que encontramos então decidimos ficar, foi amor a primeira vista, não que a Zulema tenha expressado verbalmente mas a conheço, desde o primeiro dia ela acorda cedo para contemplar o amanhecer e toda noite coloca a cadeira em cima da nossa casa para olhar as estrelas, depois de algumas semanas passei a acompanhá-la nessa rotina, desde então fazemos isso todo dia. Assim como ela criou o hábito de caminhar após o café da manhã, como eu iniciei fazendo, nunca convidamos diretamente uma a outra pra nenhuma de nossas atividades particulares mas sempre entramos na rotina da outra e nunca ouve desconforto nessas ações, acontecia de forma silenciosa e gradativa se tornando confortável para ambas.

Giro a chave desligando o motor, antes de sair do carro dou uma suspirada, confesso que a cada saída temia a volta, não um medo diretamente dela, mas da surpresa que pudesse vir, talvez soe contraditório mas a vida com ela é imprevisível, posso estar ao rumo de uma armadilha, abandono ou sei lá, com Zulema tudo é possível. Tomo coragem e saio, fecho a porta da frente e caminho até o porta-malas e o abro carregando os sacos com algumas compras, organizo os três sacos no meu braço e fecho a porta com a mão livre. Estava a poucos passos da caravana quando avisto uma cama elástica, realmente, a vida com ela era imprevisível, deixo o sorriso abrir olhando a cena.

— O que é isso Zulema? - a vejo deitada de barriga pra cima no brinquedo.

— Uma cama elástica, não está vendo? - ela me responde com seu jeito habitual e pouco simpático, não me surpreende.

— Sim estou vendo, só não estou entendendo – minha testa se enruga em questionamentos internos, dou mais alguns passos me aproximando dela e deixo as sacolas no chão, apesar do estranhamento o que vejo me causa diversão.

— Não tem o que entender – ela responde se virando deitando de bruços com os cotovelos apoiados na cama elástica, a olho através das lentes amarelas do meu óculos de sol analisando seu rosto, um tanto serena mas vejo em seus olhos que algo não está bem.

— O que você tem? - pergunto mesmo sabendo que ela jamais iria me responder, seja lá qual motivo for — eu te conheço Zulema, algo está acontecendo – ela segue me olhando e dá de ombros permanecendo em silêncio, dou mais alguns passos e me sento na beirada da cama e ela deita novamente como estava quando cheguei.

Repito o gesto dela jogando o corpo mais para o centro da cama e me deito de barriga pra cima, meus movimentos faz com o que a mola do brinquedo se faça presente jogando nossos corpos para cima e para baixo, Zulema apoia os braços debaixo da cabeça e ouço um riso baixo da mesma, não evito em sorrir também.

— Alguma coisa está acontecendo – insisto novamente.

— Você é insuportável rubia.

— Lide com isso! – ficamos aqui deitadas, cada uma no seu mundo olhando a imensidão do seu, não trocamos nenhuma palavra, sempre respeitamos o espaço da outra, assim era nossa relação, poucos centímetros nos separavam a todo momento mas permanecíamos distantes em nossas cabeças e em nossas particularidades.

2 dias depois...

Através do vidro da pequena janela da cozinha vejo Zulema andando de um lado para o outro na beira do lago, vez ou outra ela para e chuta alguma pedra em direção a água. Conheço esse comportamento dela, as mãos dentro dos bolsos da calça, a cabeça inclinada para baixo e os lábios formando um leve biquinho é sinal que ela está com algo dentro da cabeça, algo que incomoda e que a faz refletir por dias e dias até encontrar uma solução, esses eram os piores momentos para mim, me incomoda o fato dela nunca conversar, sim, nos conhecemos mais que ninguém, sabemos tudo da vida da outra mas isso não se deve a longa conversas e trocas sentimentais, é devido a ligação infernal que temos, nos entendemos apenas com uma troca de olhares e isso bastou por muito tempo mas agora eu quero saber o que está acontecendo, quero saber o que se passa na cabeça dela, cheguei ao ponto que estou cansada de viver trocando frases esporádicas durante o dia, dessa forma é melhor estar sozinha.

— Zulema está acontecendo alguma coisa? - questiono assim que ela entra pela porta, a vejo sentar na beirada da cama e estirando as pernas com os pés fixados no chão. Ela suspira e levanta a cabeça no mesmo instante que inclina o corpo para trás usando a palma das mãos apoiadas no colchão para sustentar o peso do tronco, depois de alguns segundos ela resolve me encarar.

— Não – curta e grossa como sempre e novamente não me choca. Respiro fundo procurando paciência em todas as partes do meu corpo, as vezes queria que isso fosse vendido em farmácia, tomaria longa doses antes de lidar com Zulema.

— Já estou cansada de lidar com você.

— O que está esperando pra ir embora? - mais do mesmo, já perdi as contas das vezes que ouvi essa mesma frase. Era típico dela me atacar quando eu a colocava contra parede. Zulema se arma como se eu estivesse atacando com alguma arma perigosa, vejo seu corpo se enrijecer formando uma espécie de capa protetora para evitar que alguma resposta sincera escapasse de seu corpo. Tentar qualquer diálogo era como dar murros contra a parede, eu me estressava, tentava passar esse limite, ela me feria com essa distância e eu insistia até sangrar e desistir. Essa é a sensação que tenho.

— Ótimo... - soltei o pano e o prato que estava enxugando de qualquer jeito dentro da pia, soltei meus cabelos em seguida pego minha jaqueta e saio daquele lugar sem ao menos olhar pra ela, me irrito mesmo já sabendo previamente que ela não cederia e da mesma forma eu tento, porque alguém aqui tem que mudar essa situação.

1 hora depois

Entro na caravana e vejo que ela está na pia limpando a louça que deixei antes de sair, tiro a jaqueta e penduro novamente onde estava e me sento na cama para tirar as botas dos meus pés, após retirar as meias faço uma massagem nas pontas dos dedos como forma de relaxamento, meu corpo rapidamente sente o prazer daquele ato e solto um leve gemido de satisfação, anotei mentalmente que precisava de um dia em algum spa para um tratamento completo.

Eu e Zulema não trocamos nenhuma palavra mas isso era rotineiro, eu ou ela fazia uma cena dramática e iria embora para logo voltar pouco tempo depois, não sei que droga viciante que existe na nossa aproximação que não me deixa ir, sempre permaneço, sigo cravada nessa relação louca que prometi não me deixar levar, mas sempre me perco e mergulho totalmente.

1 dia depois...

— Precisamos conversar e espero que você me responda dessa vez – estamos sentadas uma de costas pra outra em nossas cadeiras de praia em cima da caravana, ambas mergulhadas na imensidão do céu estrelado, após uma hora de silêncio decidi quebrá-lo em mais uma tentativa de me libertar da dúvida que me atormenta durante esses dias — não adianta me mandar embora ou dizer que não está rolando nada porque sei que está.

O silêncio segue por alguns segundos até que ouço o chiado a cadeira se arrastando levemente no chão quando Zulema se levanta, levanto a coluna e giro o corpo olhando para trás e a vejo descendo as escadas, fugindo novamente. Então rapidamente me levanto e a sigo, percebo que ela vai entrar na caravana, provavelmente para pegar a chave do carro e sair por aí como já fez antes, então dou um salto do degrau que estou, sinto o impacto do meu corpo em contato com o solo, retomo o equilíbrio e entro em casa atrás dela.

— Você não vai fugir dessa vez – fecho a porta atrás de mim e encosto nela bloqueando a passagem, Zulema se aproxima de mim em uma distância que sinto sua respiração em contato com meu rosto.

— Ou o que? - ela pergunta me desafiando. Nos encaramos por longos segundos quando de repente vejo seus olhos piscarem numa frequência mais rápida que o normal, ela dá um passo para trás e seus braços se movimentam para os lados como se procurassem apoio, sem pensar duas vezes vou ao seu encontro e a seguro pelo tronco quando vejo seu corpo sedendo parecendo que está perdendo as forças, a levo diretamente para cama onde ela senta com um pouco de dificuldade.

— Você bem? Está sentindo algo? - a raiva de instantes atrás se transforma em preocupação.

— Não é nada... - ela responde baixo sem me olhar nos olhos, vejo como ela esfrega os dedos nas têmporas e faz algumas caretas de dor.

— Zulema para de fazer a forte, vou te dar um analgésico – levanto e vou em direção ao armário em busca do comprimido, pego um copo e encho com água e volto para junto dela — toma, bebe isso – ela resistente alguns instantes e vendo que não abaixei a mão ela decide tomar. Pego o copo de sua mão e o deixo em cima da pia, me encosto ali no balcão e repito o gesto dela esfregando minhas têmporas, minha cabeça queima com isso tudo que me parece muito estranho.

— Eu sei que desde sempre ninguém nunca te ouviu, que você esteve sozinha por toda a vida mas agora não é mais assim, você decidiu viver aqui junto comigo e eu gostaria de ter uma relação melhor com você, trocar mais que duas frases no dia pelo menos... - ainda permanecia no mesmo lugar, as palavras saiam da minha boca em um tom amigável porque não queria iniciar outra briga e escolhi levar as coisas assim, se vivêssemos em batalha essa convivência não seria mais possível — não estamos mais presas, nem em assaltos ou coisas do tipo, te lembro que estamos juntas por opção.

— Eu já te disse que pode ir embora quando quiser – ela arrasta o corpo com um pouco de dificuldade para trás e se deita na cama, agora já não vejo mais seu rosto.

— Como você é difícil Zulema, é muito difícil ter que lidar com você e esse seu temperamento! - subo um pouco o tom de voz devido a raiva que começa a me consumir.

— Não estou te obrigando a me suportar e como você disse, sempre estive sozinha... se você for embora não vai fazer diferença – sinto meus olhos se umedecendo com as lágrimas se formando, é a primeira vez que me vejo querendo chorar depois de uma briga com ela, isso mostra o quanto estou no limite e frustrada com essa situação, talvez seja o momento de dar fim a essa tortura.



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