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História Odiosamente atraídos - Naruhina - Capítulo nove: Meu raio de Sol



Notas do Autor


OIE! Gente, só agradecendo mais uma vez a vocês por todo o incentivo, comentários, favs e listas de leitura *-* Quando eu e Rafa começamos a escrever não imaginamos que nosso surto realmente teria tanto retorno! Obrigada, de verdade. Aproveitem a leitura, e se divirtam!

Capítulo 9 - Capítulo nove: Meu raio de Sol


Os dias pareciam mais felizes agora na vida do Uzumaki, que se sentia completo e satisfeito. Por anos o loiro ansiou e almejou a sensação de pertencer a alguém, contar com um laço forte e intenso compartilhado, ter uma pessoa que o levasse ao céu e demonstrasse que tudo o que passou valeu a pena. E agora, ele tinha… e era simplesmente a melhor pessoa do mundo. 

 

Mesmo que estivesse oficialmente namorando, Naruto não deixava de surpreender Hinata diariamente. Preparava o café da manhã quando ele acordava mais cedo que a perolada, lhe dava flores, guloseimas favoritas, presentes, a enchia de beijos inesperados, a massageava quando esta se mostrava estressada, frequentemente a levava para sair e a amava com fervor e entrega. O loiro não media esforços para demonstrar o quanto estava feliz, e ser o causador da maioria dos sorrisos da Hyuuga era seu passatempo favorito. 

 

Pensando no que faria naquele dia, Naruto finalmente abriu os olhos e olhou para o lado. Contudo, para a sua surpresa não encontrou a namorada ali, o que era estranho — já que ele era sempre o primeiro a acordar, ou acordavam juntos. Teria dormido tanto assim? 

 

Buscou seu celular e vislumbrou o horário: 09h. Não era tarde. Entretanto, quando ia se levantar, a porta de seu quarto se abriu e revelou sua linda deusa passando por ali. O cabelo preso em um coque despojado ameaçava cair a qualquer momento, e ela também usava a camisa que Naruto vestia na noite anterior antes de irem se deitar. 

 

— Ah, não é possível. Eu estava certa de que hoje conseguiria te surpreender! — Hinata exclamou ao notar que as íris safira do Uzumaki já estavam fixas nela. Em suas mãos, equilibrava uma bandeja repleta de alimentos, leite e suco. — Até acordei cedo para preparar tudo…

 

— Você acordou cedo mesmo que tenha ido dormir tarde? — Naruto perguntou, observando a morena azulada deixar a bandeja em seu colo. Na noite passada, a Hyuuga chegara absolutamente estressada e cansada do trabalho, alegando que alguns clientes causaram uma confusão imensa no estabelecimento, o que resultou em fortes dores de cabeça e corpo da estudante de Psicologia. Assim, o loiro a mimou durante horas até irem enfim se deitar, onde Hinata finalmente esqueceu dos problemas e se entregou antes de dormir, muito perto do amanhecer. 

 

— Achei que você ia deixar pra lá esse espírito de velho e se render à juventude, dormindo até tarde. 

 

— Ei! Eu sou saudável. Não é culpa minha se você não aproveita melhor seu dia, espertinha. 

 

— Queria te surpreender! — ela revirou os olhos, as olheiras visíveis e o cabelo desgrenhado. Ainda assim, Naruto a considerava o ser vivo mais lindo que já pisara na face da Terra. 

 

Os olhos do loiro desceram até o colo, onde no centro da bandeja um bloquinho de poucas folhas de post-it colorido se fazia presente. A olhando sugestivamente, começou a folhear os pequenos papeizinhos, cada um contendo a continuação do que parecia ser um texto.

Você sempre diz que eu te salvei, mas acho que é o contrário. Seu sorriso me salvou de diversas maneiras, Naru… e todos os dias luto contra a vontade de gritar para todo mundo ouvir que ao meu lado tenho o amor da minha vida. 

Sei que você me surpreende a cada dia e se estivéssemos contando, eu estaria perdendo de lavada. 

Mas quero ser a dona de cada sorriso teu, e te abraçar a cada conquista sua, quero ser sua para toda a vida e te mostrar o quanto sou grata por sua presença. 

Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo.

 

O coração de Naruto batia tão forte, que o loiro se perguntava se sua namorada podia ouvir. Ele lutou contra as lágrimas — elas vinham com muita facilidade quando se tratava de Hinata, mas o Uzumaki não se envergonhava de demonstrar o quanto a morena mexia com ele. Ele era tão solitário e vazio que simplesmente se deparar com aquela novidade de estar sendo amado e cativado verdadeiramente por alguém o fazia querer chorar abundantemente, tamanha a felicidade. Mesmo quando morava com os pais, sentia-se só. O quarto sempre às escuras, os pensamentos sendo sua maior companhia na maioria das vezes, a falta de atenção sendo sua melhor amiga por longos anos. 

 

E então ele se mudou, o apartamento vazio que era um eco de seu próprio ser. A cama fria, os alimentos sem sabores, a vida sem tanta cor. 

 

Até que Hinata apareceu, e os sorrisos do loiro se tornaram tão largos a ponto de suas bochechas doerem. As cores eram ainda mais vívidas, os sabores intensos e chamativos, a cama quente e confortável… e o apartamento cheio de lembranças, físicas ou não. Por todo o lado, havia um pouco de Hinata. E Naruto simplesmente amava. 

 

— Obrigado, minha princesa — sorriu lindamente na direção da morena azulada. Esta, por sua vez, sentiu o coração saltar em seu peito ao vislumbrar aquele sorriso sincero e emocionado que o Uzumaki dirigia somente a ela, apenas ela. 

 

— Eu te surpreendi? — sorriu de volta, debruçando-se a fim de roubar um beijo. 

 

Ela recebeu em troca cinco beijos antes de se afastar, ainda sorrindo bobamente. 

 

— Todos os dias você me surpreende, propositalmente ou não. 

 

Além de trocarem mais beijos, o casal dividiu o café da manhã ali mesmo e conversaram durante toda a manhã. Ainda parecia um sonho para ambos, mas aproveitavam como nunca e curtiam a sensação gostosa que tomava conta de suas almas. Estavam intensamente conectados, e a cada dia tal ligação se solidificava mais. 

 

Quando o horário que almoçavam costumeiramente se aproximou, Hinata levou a louça para a cozinha e Naruto foi a esperar para o banho, tendo outra surpresa ao olhar para o espelho no banheiro. Outros post-its rodeavam o vidro, cada um contendo uma frase ou declaração, formando um enorme coração.

 

O Uzumaki sorria tanto, que jurava que nada naquele dia poderia estragar aquela felicidade. Nada, ninguém. 

 

Ele aguardou com ansiedade a chegada de sua morena, a todo momento lendo e relendo cada recadinho e prometendo a si que nunca os tiraria do espelho. Ficariam ali por toda a eternidade. 

 

Entretanto, quando sua namorada apareceu ao pé da porta, não sorria. 

 

Naruto desceu o olhar até a mão estendida da estudante de Psicologia, onde esta lhe entregava o celular do loiro, que continha chamadas perdidas no visor e algumas mensagens que acabavam de chegar. E, de repente, o sorriso bobo e sentimento leve que sentia há poucos minutos foi embora.

[ Mãe: Por favor, venha. Estamos com saudade. ]

[ Mãe: Seria muito importante se viesse hoje ]

[ Mãe: <mensagem de voz> ]

[ Mãe: Espero que seja o suficiente para convencê-lo… ]

 

— Quer ouvir o áudio? — Hinata indagou num tom compreensivo, sabendo que era um assunto delicado. Pensou que o loiro apenas ignoraria as mensagens, mas para sua surpresa, Naruto por conta própria abriu a conversa e ouviu a mensagem de voz.


— Eu podo’ falar, mamãe? — uma vozinha perguntou timidamente, e ao fundo puderam ouvir a voz de Kushina, que dizia que sim e a incentivava. — Oi maninho! Você vem hoje? Vai ter balão, bingadeiro’ e bolo mais tarde. Eu catro’ aninhos hoje! Você vem, né?

Hinata, rendida, suspirou. Naruto, por sua vez, estava inexpressivo e permaneceu da mesma forma por longos momentos até que a perolada por fim rompesse com aquele silêncio.

 

— Você vai? 

 

— Eu não sei.

 

A Hyuuga franziu a testa, incrédula. Será que seu namorado tinha ouvido o mesmo que ela? 

 

— Como assim você não sabe? — indagou, notando apenas o balançar de ombros do loiro. — Ela deixou claro que quer você lá! 

 

Naruto desviou o olhar. 

 

— Não sei se estou preparado para isso. Ainda não. 

 

Hinata esperou, mas ele só tinha aquilo para dizer. Era inacreditável. 

 

Sem se conter, ela respirou fundo e falou de uma vez, nem esperando que o namorado voltasse a encará-la. 

 

— Então você quer que ela se sinta da mesma forma que você, só que abandonada pelo irmão mais velho? — disparou, atraindo um olhar de dor que veio do loiro. 

 

— Por que está me dizendo isso? 

 

— Porque é exatamente o que está acontecendo. Você quer que a história se repita? Vai deixar a esperança dessa criança inocente morrer aos poucos, a cada ano que esperar o irmão mais velho passando pelas portas de casa e não o ver? — perguntou, consciente do quanto estava mexendo com ele. Contudo, mesmo que o amasse, sabia que deveria ser justa e dar puxões de orelha quando necessário. — Ela não tem culpa, Naruto. Não tem. Não é justo deixar esse peso todo acima de uma inocente. Sua irmãzinha só quer te conhecer, sentir como é ter um irmão que seja seu amigo e parceiro. Não negue isso a ela só por causa de seu passado, seja diferente. Faça diferente… por ela.

 

— Tome seu banho primeiro. — foi a única coisa que disse, depois de pensar um pouco.

 

Naruto achou prudente somente se manter calado depois disso, por mais que tivesse vontade de rebater o argumento de sua namorada, sabia que ela estava certa. Respirou profundamente antes de sair do banheiro e caminhar até a área de serviço, para que pudesse pensar melhor em tudo o que estava acontecendo e também, no que tinha escutado há pouco. Não soube dizer exatamente quanto tempo tinha permanecido ali, em silêncio, até que olhou para o maço de cigarros na bancada e ouviu passos em sua direção.

 

— Você não ia fazer o que eu estou pensando, não é? — a voz de Hinata pareceu um pouco trêmula ao ver os dedos do loiro próximos do cigarro. 

 

— Eu ia jogar fora. — disse a primeira coisa que veio na cabeça, não estava pensando direito e se a morena não tivesse chegado a tempo, certamente teria cedido à tentação.

 

 — Está esperando o quê, então? — indagou com as sobrancelhas erguidas, o loiro a olhou de soslaio e suspirou profundamente. 

 

— Eu precisava pensar. 

 

— Não sabia que tinham substituído o cérebro por cigarros para ter essa capacidade. — rebateu enquanto cruzava os braços e batia o pé direito no chão de maneira contínua. — Jogue isso fora, você não precisa disso.

 

— Preciso sim, um só não vai fazer mal. — se defendeu, mas quando ia pegar um cigarro, a perolada agarrou o objeto e o jogou no lixo. Naruto observou a caixinha despencar e encarou a namorada, indignado. — Por que você fez isso?

 

— Você mesmo tinha dito que ia jogar fora, só te dei um empurrãozinho. — ironizou e se aproximou do loiro. — Pare de mentir para si mesmo, você sabe muito bem que nunca é um só. Esses cigarros não vão te ajudar em nada, muito pelo contrário, só vai te tornar mais um viciado e um número a mais nas estatísticas. — a perolada ficou próxima o bastante do loiro para levar suas mãos até o rosto deste e fazer com que ele a olhasse. — Você não precisa disso.

 

O Uzumaki respirou fundo diversas vezes, tentando controlar sua respiração e não desabar. Percebendo isso, Hinata o puxou para um abraço e lhe prometeu que estaria ali, que ela sempre estaria ali. E era tudo o que o loiro precisava ouvir. 

 

Naquele momento, o loiro decidiu que apesar de tudo que sentia em relação aos seus pais, iria para o aniversário de sua irmãzinha, afinal ela era apenas uma criança inocente em meio a problemas familiares passados. Não demorou muito para que partissem para a casa onde Naruto cresceu, a mente do rapaz estava mais barulhenta que o normal, mas tentou ignorar para que não desistisse de ir para a festa no meio do caminho.

 

Quando pararam no sinal vermelho, olhou para sua namorada e sorriu ao admirá-la mais uma vez. A perolada usava um vestido soltinho de alça com pequenos girassóis, o tecido de lastex no busto era levemente justo e se ajustava a este, enquanto a saia era composta por duas camadas: uma de cetim que ia até o meio da coxa e outra camada mais fina e transparente de musseline que caía até seus joelhos, sendo esta estampada como todo o vestido que era revestido por girassóis. Seus pés estavam adornados por um par de sapatilhas brancas, mas mesmo que a Hyuuga tentasse ser simples, sua beleza ao todo jamais seria modesta. Ela era simplesmente linda, não havia como fugir e nem se esconder por baixo de visuais leves. 

 

— O que foi? — a perolada perguntou ao notar o olhar sobre si, mas sorria. 

 

— Apenas adicionando você mais uma vez na lista das maiores maravilhas do mundo, ao meu ver. 

 

— E qual fiquei em qual ranking? 

 

— Hum, talvez em quarto lugar. 

 

— Ah, é? Qual o primeiro? — rebateu com as sobrancelhas arqueadas, o olhando curiosamente. 

 

— Mais tarde eu te conto — ele piscou para ela de modo sugestivo, e voltou a dirigir antes que a Hyuuga compreendesse. 

 

Embora o loiro tivesse brincado, o clima acabou esfriando quando este estacionou em frente a residência dos Uzumaki. Com um profundo suspiro, tirou o capacete e desceu do veículo para em seguida ajudar a namorada, tentando a todo custo reprimir a vontade urgente que tinha de fugir e não voltar mais. 

 

Hinata o olhou empaticamente e enfim encarou a casa à sua frente, concluindo que realmente namorava com um riquinho. Foi exatamente isso que saiu de seus lábios, arrancando um resmungo indignado de Naruto ao ouvir, mas a perolada apenas riu. O som da risada da Hyuuga foi o que deu forças ao Uzumaki, que se certificou sobre a moto estar estacionada em um local adequado e então tomou uma das mãos de sua namorada, recebendo um aperto firme em troca. Acontecesse o que fosse, estariam juntos. Sempre. 

 

A residência Uzumaki era absolutamente bonita, apesar de estar em meio a árvores e flores, era de uma estrutura moderna. A casa tinha dois andares, era completamente branca, no entanto algumas partes possuíam uma textura diferenciada e não faltavam flores decorando a parte de fora, dando a casa um ar aconchegante. A Hyuuga reparou que no segundo andar havia uma espécie de cesta com flores diversas em frente a uma janela enorme, que supôs ser a do casal, acima do pequeno cercado na sacada. O mesmo padrão se aplicava a outras janelas do segundo andar.

 

Caminharam até o grande portão, a morena franziu o cenho quando viu Naruto se esticar até alcançar o galho de uma árvore, retirando dali uma caixinha, objeto este que continha a chave do portão.

 

— É um lugar interessante para se guardar uma chave, nunca pensaria em procurar a chave em uma árvore. — declarou enquanto observava o loiro guardar o objeto no mesmo lugar depois de abrir o portão.

 

— Uma das poucas ideias minhas que levaram a sério. — a olhou e deu um sorriso pequeno, não conseguia pensar em piadas para deixar o clima mais leve, seus pensamentos não estavam o ajudando de maneira alguma, apenas o deixava mais nervoso e tentado a desistir daquela loucura. 

 

Uma música infantil soava abafada, o Uzumaki tentou vasculhar na memória alguma lembrança como aquela, mas o máximo que encontrou foi sua imagem sentado na cadeira da sala de jantar, sozinho e com um cupcake em sua frente. Ainda se lembrava do pequeno bilhete que estava junto ao doce:

“Feliz aniversário, querido! 

Se tudo correr bem, de noite levaremos você ao parque de diversões, tudo bem?

Aproveite seu cupcake, te amamos!

 

- Mamãe e papai.”

 

Suspirou profundamente ao se lembrar de como havia contado os minutos para que a noite chegasse, esperançoso de que sairia com seus pais finalmente, no entanto o casal chegou exausto e nunca saíram para o parque. Tentaram se desculpar dando presentes para o loiro, mas na época o Uzumaki apenas desejava um tempo de diversão com seus pais, esse era o único presente que queria de verdade. Agora, sua irmã mais nova estava tendo tudo isso…

 

O loiro se sentia péssimo toda vez que comparava sua infância com a de sua irmã, mas era inevitável não sentir inveja. Quando se mudou para aquele apartamento desejando ter seu próprio espaço, se sentiu mais sozinho, nunca soube o porquê. Tinha a sensação de que seus pensamentos ecoavam repetidamente em sua residência, por vezes refletia se seus pais se arrependiam de tê-lo colocado no mundo, afinal não tinha sido uma gravidez planejada. Teria atrapalhado algo? Planos importantes? Atrasado suas vidas? Interrompido sonhos? Era exatamente o que parecia.

 

Ainda se lembrava de algumas discussões vindas do quarto de seus pais, no entanto nunca conseguiu identificar a razão destas, apenas podia ouvir as vozes alteradas e sons de passos. Quando estava um pouco mais velho, comentou sobre a situação com um colega de classe e este lhe disse que seus pais se divorciaram depois de várias brigas, a resposta desse colega ecoou em sua mente por dias até que finalmente perguntasse o que era um divórcio para seus pais.

 

“O ambiente na sala de jantar estava como todos os outros dias, pesados e estranhos, mas naquela noite em específico parecia pior. Naruto mexia com a comida enquanto alternava seu olhar entre seu pai e sua mãe, ambos em silêncio e aparentemente pensativos, ninguém ousou dizer uma palavra após a oração feita, no entanto o loiro precisava quebrar aquele silêncio e arriscou uma pergunta:

 

— Mamãe? — a chamou, mas logo se corrigiu quando esta direcionou o olhar para ele. — Mãe, o que é divórcio?

 

— Onde você descobriu essa palavra? — Minato perguntou rapidamente, com o cenho franzido. 

 

— Um coleguinha da escola me contou que os pais dele se divorciaram depois de brigar muito, eu fiquei curioso porque vocês também estão brigando muito… — explicou enquanto olhava para seu prato de comida. — O que é um divórcio? É muito ruim? Vocês vão se divorciar?

 

Minato e Kushina se entreolharam sem saber o que responder, de fato o divórcio tinha sido citado em algumas discussões, mas foram da boca para fora. Estavam sendo tão transparentes de modo que seu filho de nove anos percebesse?

 

— Apenas esqueça isso, sim? — Kushina pediu com um sorriso forçado nos lábios. — Termine seu jantar, escove os dentes e vá dormir. Aliás, fez o dever de casa?

 

— Sim! Hoje na escola nós tivemos uma atividade muito legal… — deu ênfase nas últimas palavras, tomado por sua animação infantil e pronto para detalhar o que tinha acontecido, mas foi interrompido por seu pai.

 

— Certo, depois me dê o caderno para que eu possa corrigir. — falou enquanto se levantava com o prato vazio e o colocava na pia, o pequeno Uzumaki apenas piscou diversas vezes sem entender o que tinha feito de errado.

 

— Tudo bem…”

 

Sem que percebesse, Naruto congelou no caminho de pedras até a residência Uzumaki, no lugar das risadas podia escutar as discussões e por vezes seu nome era citado. Sabia que nada daquilo era real, mas simplesmente não conseguia se mover e Hinata percebeu, de modo que apertou a mão do rapaz tentando fazer com que este se lembrasse de que ela estava ali por ele.

 

— Está tudo bem? — indagou com preocupação evidente.

 

— Tudo ótimo. — mentiu, direcionou seu olhar para ela e sorriu ladino. — Como poderia estar mal com uma Deusa ao meu lado?

 

— Naru, estou falando sério.

 

— Eu também estou falando sério, estava até pensando em construir eu mesmo um templo para você! — rebateu com um sorriso no rosto e se sentiu satisfeito quando a perolada deu uma risada baixa e negou com a cabeça, precisava se lembrar de que agora não estava só, da mesma maneira que não podia dar ouvidos às suas inseguranças. — Tocamos a campainha ou só damos a volta até o jardim?

 

— É mais educado tocar a campainha, carniça. — o repreendeu, o loiro não conseguiu evitar a risada diante o apelido usado. Era um alívio saber que realmente certas coisas não mudavam, e ele precisava daquilo naquele momento. Tê-la ali era simplesmente o maior e melhor conforto. Hinata era seu maior e melhor presente.

 

— Pois então faremos justamente o contrário. — anunciou enquanto a guiava até o jardim, estava nervoso, mas precisava vestir a máscara despreocupada. Não mostraria de maneira alguma para aqueles que o quebraram como estava vulnerável. 

 

— Você é impossível. — declarou enquanto negava com a cabeça.

 

— Eu sei, mas você me ama, já é um consolo. — a olhou e sorriu enquanto erguia as sobrancelhas repetidamente, acabou arrancando uma risada da morena e se sentiu satisfeito. Quando notou que estavam mais perto, trouxe a perolada para perto de si e abraçou a cintura da moça depois de ajeitar sua jaqueta de couro. — As tias hoje irão à loucura, anota o que eu tô dizendo.

 

— Você não presta, Morut. — provocou enquanto o olhava, o sorriso ainda formado em seus lábios. 

 

— Não presto, mas você ama esse cafajeste, hein? — direcionou um sorriso ladino para a namorada que apenas negou com a cabeça. — Quem cala, consente. 

 

— Apenas decidi que não vou gastar energia retrucando suas frases prontas.

 

— Energia? Jurei que fosse saliva. — brincou e recebeu um tapa da Hyuuga. — Ok, parei, mas o que quis dizer com frases prontas?

 

— Acha que eu não sei que fica treinando no banheiro? Até mesmo já agradeceu por receber um Oscar, estou certa? — provocou e sorriu vitoriosa quando viu as bochechas do Uzumaki ganharem um tom avermelhado. 

 

— Bem, acho que os discursos eram aceitáveis, os produtos nunca reclamaram. — brincou uma última vez antes de olhar para frente e ver quase todos os convidados o olhando, analisou o tema da festa e concluiu que sua irmã mais nova tinha bom gosto, se ela gostava de ninjas tinha o seu respeito.

 

— Ele não estava cursando Direito? Por que está vestido como um desleixado? — conseguiu ouvir suas tias cochicharem antes de abrir um grande sorriso olhando para os convidados, que estavam em choque com sua presença e estilo, então falou:

 

— Surpresa! Vocês não sabem o prazer que é estar de volta. — declarou com direito a uma piscadela no final, boa parte de seus parentes estavam horrorizados, as únicas pessoas que não o olhavam com desgosto eram alguns amigos da família. Quando menos percebeu, sentiu algo abraçando suas pernas, olhou para baixo e viu uma cabeleira loira presa em uma trança bem feita enquanto tinha uma faixa amarrada na testa, se agachou e pôde observar calmamente o rosto delicado de sua irmã mais nova. — Então, você é a ninja a qual ouvi falar? Mary? Mei?

 

— Morrigan! — o corrigiu enquanto ria, o loiro bateu na própria testa e negou com a cabeça.

 

— Como pude me esquecer dessa ninja tão habilidosa? — suspirou como se estivesse decepcionado consigo. — Mas posso sugerir um apelido? — indagou com animação, a pequena assentiu com a cabeça, ansiosa pela sugestão do irmão mais velho. — Que tal se eu a chamasse de Mor? O que me diz?

 

— Eu gostar! — disse enquanto assentia repetidamente com a cabeça, o olhar inocente e infantil irradiava admiração pelo mais velho, aquele que tanto queria conhecer finalmente estava ali em sua frente e a pequena estava muito animada.

 

— Ótimo! Você sabia que eu trouxe alguém muito especial hoje? — perguntou em um tom de voz baixo, como se estivesse prestes a contar um segredo, a pequena Mor negou com a cabeça e esperou que o irmão continuasse, completamente atenta e curiosa. — Eu trouxe uma Deusa, mas guarde segredo, tudo bem?

 

— Tudo bem! — repetiu e olhou para Hinata com curiosidade, levou a mãozinha até o rosto tampando a boca e perguntou em voz baixa: — É ela? — o loiro assentiu, vislumbrando o sorriso radiante de sua irmãzinha. — Que linda, é a pincesa’ das deusas? 

 

— É sim. E ela me encantou, sabia? Quer conhecê-la? 

 

Ao ver a garotinha concordar avidamente, Hinata também se agachou e sorriu docemente na direção de Morrigan, que parecia prestes a explodir de felicidade. Seu irmão era o príncipe encantado mais lindo que podia ver, e a moça bonita ao seu lado era tão linda quanto qualquer uma das bonecas preciosas de Mor. 

 

— Olá, Mor. Tudo bem? — a perolada disse com delicadeza e a criança assentiu, ainda feliz e animada por conhecer seu irmão e a Deusa que o acompanhava.

 

— Você é muito munita’! — elogiou e um pouco hesitante, levou a mãozinha até os longos fios preto-azulados da Hyuuga. — Seu bebelo’ é grandão! — a pequena exclamou enquanto observava o cabelo em sua mão. — Cheloso’ também!

 

— Obrigada, minha princesa… — fez uma expressão pensativa ao avaliar a fantasia da pequena. — Ou devo chamá-la de ninja? — indagou de forma curiosa enquanto Mor apenas ria.

 

— Vocês são casaldos? — perguntou curiosamente, o Uzumaki respirou profundamente e olhou para Hinata com um sorriso ladino nos lábios.

 

— Ainda não, mas ela é minha namorada, por enquanto basta. — explicou e umedeceu os lábios. — Isso não significa que vou me contentar apenas em ser seu namorado. — falou para a morena azulada, que fez uma expressão surpresa. Tinha entendido direito?

 

— Ah, não vai? 

 

— Claro que não, apenas ficarei satisfeito quando puder chamá-la de minha esposa. — declarou enquanto a Hyuuga corava, se permitiu admirá-la por alguns segundos antes de voltar sua atenção para a pequena Mor, que os olhava com imensa admiração. — Que tal você ir chamar seus… nossos pais, hm? Vou falar com os outros enquanto isso.

 

— Mas você não ir embora, né? — perguntou com uma expressão desconfiada, e Naruto negou com a cabeça.

 

— Estarei bem aqui. Juro de dedinho. — ergueu seu dedo mindinho em direção ao dela e os entrelaçou, logo a pequena ninja desapareceu de seu campo de visão, correndo com os braços para trás e dando vários pulinhos. Olhou para Hinata com uma expressão travessa e anunciou: — Hora de papear com as minhas tias queridas.

 

— Deus me ajude. — foi a única coisa que disse antes de ser guiada por Naruto até os parentes deste. A Hyuuga não sabia se estava ficando vermelha de vergonha ou de tanto prender o riso diante as reações das tias do loiro.

 

— Gostou da minha jaqueta de couro, tia? Olha, eu também fiz umas tatuagens no começo do ano. — levantou um pouco a camisa branca, mostrando a costela repleta de tatuagens, uma das mulheres torceu o nariz. — Tenho algumas nos braços também, mas eu quero mesmo é mostrar minha calça rasgada, bonita né?

 

— Querido, você não acha que devia usar roupas mais comportadas? Digo, você está cursando Direito, não é? Onde está a camisa social? E gravata? — uma das senhoras se pronunciou, indignada com o visual do sobrinho, que mais parecia um conjunto de trapos absurdos.

 

— Ah, isso é antiguidade, tia. Livre-se dos estereótipos, limpa, limpa… — fez gestos com a mão acima da senhora como se a estivesse limpando de espírito e más vibrações, e a mulher franzia o cenho em confusão. Hinata não aguentou e soltou uma risada, mas quando percebeu os olhares em sua direção, fingiu tossir.

 

— Essa mudança de tempo… — falou aleatoriamente, tentando justificar sua risada disfarçada. O Uzumaki reprimiu o riso e soube exatamente o que dizer agora.

 

— Quando chegarmos em casa, vou me certificar de fechar as janelas antes de dormirmos. — fez um breve carinho na cintura da jovem, que o olhou incrédula. — O que foi? Eu te esquento, fica tranquila. Sabe que nunca falhei em te manter aquecida.

 

— Vocês dormem juntos? — as senhoras perguntaram em uníssono. 

 

— É claro, tia. Não seria nada cavalheiro mandá-la para casa depois de nos amarmos, não é? — indagou como se estivesse incrédulo com a pergunta das duas, uma das tias do Uzumaki acabou por engasgar com o refrigerante, enquanto a outra empalidecia os encarando boquiaberta. — Inclusive, acho que a Hina tá doente porque dorme só com a minha cueca… É uma opção plausível, não é?

 

— Esses jovens! Vocês precisam visitar a igreja, estão vivendo em pecado! — declarou horrorizada.

 

— Mas eu pretendo me casar com ela, tia. Pensa tão mal assim de mim? — perguntou fingindo estar chateado. — Aliás, como vai minha priminha Karin? Sossegou com o Suigetsu ou continua passando o rodo? — indagou, a falsa curiosidade tomando conta de seu rosto enquanto observava a tia.

 

— O que está dizendo? Minha Karin é pura! 

 

— Pura? Só se for de espírito, tia. — o loiro arregalou os olhos e negou com a cabeça. — Sinto muito por descobrir sobre sua filha dessa forma, ela prometeu que contaria…

 

— Não acredito em você.

 

— Bem, basta perguntar para qualquer um do seu bairro. Ouso dizer que não há um rapaz o qual não tenha ficado com ela… — fez uma expressão pensativa antes do sorriso travesso se formar em seus lábios novamente ao completar sua frase: — Sem contar as moças!

 

— Como é?! — elevou o tom de voz, completamente chocada. — Basta de insolências e mentiras!

 

— É tia, eu falei que a Kaka passou o rodo, mas não diga pra ninguém que eu lhe contei, hein? — olhou para os lados, como se estivesse se certificando de que ninguém tinha escutado a conversa. — Deus me livre de ser rotulado como fofoqueiro quando claramente sou apenas um informante...

 

— Onde estão seus modos, Naruto? — ao escutar a voz feminina em tom de repreensão, seu sorriso morreu por alguns segundos, no entanto precisava manter sua máscara. Girou os calcanhares de modo que ficasse de frente para a mãe e sorriu de forma despreocupada, mas tal sorriso não chegou aos seus olhos.

 

— Bom te ver também, mãe. Olha, a senhora envelheceu como vinho… — comentou ao observar a aparência de sua mãe. — Andou usando produtos Ivone?

 

— Fico feliz que tenha vindo, apesar de não aprovar seu comportamento. — o repreendeu e olhou para a Hyuuga de forma curiosa. — Não vai me apresentar sua amiga?

 

— Ela não é minha amiga, é minha noiva. — respondeu e a perolada o olhou surpresa na mesma hora, contudo o rapaz direcionou o olhar para ela e sorriu erguendo as sobrancelhas. — Já estamos namorando há algum tempo, já podíamos nos casar, sim?

 

— Tão emocionado…

 

— Bem, você não pareceu desgostar da ideia. — sorriu e voltou a olhar para a mãe. — Essa é Hinata Hyuuga, minha namorada e futura esposa. 

 

— Esposa, hein? — Kushina repetiu de forma divertida e estendeu a mão para a perolada. — Sou Kushina, a mãe dele. É um prazer conhecê-la.

 

— O prazer é todo meu. — segurou a mão da sogra e se cumprimentaram rapidamente.

 

— Minato já está vindo, estava conversando com uns colegas de trabalho. 

 

— Ei… — a morena azulada olhou para baixo ao notar alguém mexendo em seu vestido. — Você quer vê’ meu cartinho’?

 

— Seu quartinho? É claro, meu anjo. — estendeu a mão para a pequena que não tardou em segurá-la e guiá-la até o próprio quarto, deixando um Naruto abobado para trás enquanto as via partir.

 

— Me acompanha? — a mulher de cabelos vermelhos perguntou, o loiro apenas confirmou com a cabeça e a seguiu para dentro de casa. Agora que Hinata não estava mais ao seu lado, foi difícil reprimir as dolorosas lembranças e as desagradáveis sensações ao voltar naquele lugar que nunca conseguiu chamar de lar. Era tudo tão diferente, mesmo que pouca coisa tivesse mudado. Desenhos infantis em alguns lugares, brinquedos e presentes espalhados, e o toque final: risadas. Naruto não se lembrava de ouvir aquele som naquele lugar, nunca. Era sempre silencioso ou, na pior das hipóteses, discussões tomavam o ambiente. Sons felizes? Não. 

 

Realmente, tudo tinha mudado.

 

Caminhou mecanicamente atrás de sua mãe, conforme faziam o curto trajeto até a sala de estar, os olhos de Naruto percorreram as estantes e bancadas, em uma tentativa inútil de procurar por suas fotos. Não havia foto alguma em que os três estivessem presentes, apenas fotos do casamento e de Mor, sorriu ao prestar atenção nas fotos de sua irmã mais nova. Quando chegou perto da roda de homens, onde seu pai estava incluso, sentiu um frio na barriga e apenas acenou com a cabeça, esperando que sua mãe fizesse a introdução e chamasse por Minato. 

 

— Esse é nosso filho mais velho, Naruto. — o mais velho disse, escondendo a surpresa no tom de voz ao ver seu primogênito em sua frente e completamente diferente do que se lembrava. Há quanto tempo não o via?

 

— Nossa, vocês são muito parecidos! — um dos homens disse e os outros prontamente concordaram, o Uzumaki apenas deu um sorriso amarelo e desviou o olhar, sentindo-se um pouco enjoado e desconfortável com o comentário feito. Parecer com seu pai era tudo o que ele menos queria.

 

— Se importariam se eu o roubasse um pouco? Tenho que apresentá-lo para a namorada do Naruto. — Kushina disse em um tom sereno e com um sorriso doce no rosto, o estudante de Direito estava se sentindo em uma realidade alternativa.

 

— Claro que não! Fiquem à vontade, estaremos bem aqui. — um dos colegas de trabalho do Namikaze falou, com um sorriso no rosto. Não demorou muito para que a família se afastasse do grupo e ficassem a sós. 

 

— Fico feliz que tenha decidido vir. — Minato disse de repente, quando pararam no corredor onde o quarto antigo de Naruto ficava.

 

— Eu vim por ela, não me entenda mal. — indicou a foto da pequena Mor pendurada na parede, mas franziu o cenho quando viu algumas caixas e objetos aleatórios jogados pelo seu antigo quarto. — Esse é o quarto dela? Deveriam organizá-lo melhor. 

 

— Na verdade, preferimos não usar seu quarto. — a mulher de madeixas avermelhadas começou a explicar. — Levando em conta que talvez ela tivesse medo de dormir sozinha no primeiro andar, passamos o quarto dela pro segundo andar, para perto do nosso. 

 

— E meu antigo quarto virou uma espécie de depósito? — indagou depois de uns minutos em silêncio, erguendo as sobrancelhas em surpresa ao ver seus pais assentirem. Por mais que tentasse, não conseguia tirar o olhar do cômodo abandonado, foi então que seus olhos encontraram seu caderno antigo e as lembranças invadiram sua mente.

 

“Naruto estava sentado no sofá enquanto via seu pai suspirar profundamente ao seu lado, talvez pela milésima vez. Sabia que tinha errado a questão de novo, mas não conseguia ser tão bom em matemática como seus coleguinhas, como conseguiam subtrair tão facilmente? Não via motivo para tirar a quantidade dos números, pois ele mesmo vivia perdendo muitas coisas. Para quê tirar número dos outros números?

 

— Vou fazer mais uma para explicar, então você tenta de novo, tudo bem? — perguntou já sem paciência, seu tom de voz havia sido completamente seco. Como havia dito antes, fez a conta enquanto explicava como aquele cálculo simples devia ser solucionado, entretanto o pequeno tinha se perdido quando o segundo algarismo entrou em cena. — Entendeu? — indagou com um fio de esperança, mas ao ver a expressão perdida do Uzumaki, suspirou e largou o caderno sobre as próprias coxas, passando as mãos pelo rosto. 

 

Naruto não sabia o que fazer ao ver seu pai tão impaciente e aparentemente decepcionado com suas habilidades, ou a falta delas, naquela matéria. Não era por falta de tentativas, porque o pequeno realmente tentava se concentrar e fazia esforço para acompanhar o raciocínio, mas era tudo em vão. Desejava orgulhar seu pai e lhe dizer que tinha aprendido, mas não fazia a mínima ideia de como conseguiria orgulhá-lo se tinha uma inteligência tão lenta e que obviamente decepcionava o mais velho. Ele ansiava por receber um sorriso e um parabéns ao menos por se esforçar, mas como sempre falhava, não recebia nada além de expressões exaustas e pura decepção. Era isso que ele era: a decepção de seus pais, tanto como filho quanto na escola. 

 

— Desculpa pai, eu juro que tô tentando… — disse por fim, mantendo o olhar fixo em seu pai que fitava o teto de forma pensativa.

 

— Não parece. — respondeu impulsivamente e em um tom mais alto que o de costume, fazendo com que o garoto encolhesse os ombros e olhasse para as pequenas mãos, tentando segurar o choro. — Eu já expliquei várias e várias vezes e você continua errando a mesma coisa! Não é difícil, é só prestar atenção! — disse num tom exasperado dessa vez, severamente repreendendo o filho que se encolhia cada vez mais.

 

— Eu tô tentando! — rebateu no mesmo volume, mas sua voz estava trêmula devido ao choro que insistia em prender. Em momentos como aquele, o pequenino prometia a si mesmo que chegaria um dia em que jamais pediria ajuda de ninguém nos estudos, nunca mais desejaria depender dos ensinamentos de outros que não fosse ele mesmo ou professores.

 

— Engole o choro e abaixa o volume, não se esqueça que sou seu pai! — repreendeu enquanto erguia uma de suas mãos, fazendo menção a dar um tapa no pequeno, contudo parou no meio do caminho quando viu seu filho se encolher.

 

Ficaram em silêncio por longos minutos, Minato refletia enquanto Naruto se esforçava para não chorar alto, foi então que o pequenino se lembrou de algo que sua professora havia dito: às vezes apenas perguntar como a pessoa está ou como seu dia estava sendo melhorava muita coisa. Talvez pudesse ajudar naquele momento.

 

— Pai? 

 

— Fala, Naruto. — o olhou, tentando não suspirar profundamente mais uma vez.

 

— Como foi seu dia?”

Estava começando a se sentir sufocado naquele ambiente, precisava retornar para o jardim o mais rápido possível e precisava ainda mais de sua Deusa. 

 

— Naruto? — ouviu alguém o chamar e olhou para o rosto de seu pai, odiava admitir mas eram realmente parecidos fisicamente. — Ficou aéreo de repente, estava te chamando há minutos.

 

— Apenas me distraí.

 

— Tudo isso por causa de um quarto? — o mais velho perguntou com certo desdém.

 

— Ah, sim. Um quarto… — Naruto estalou a língua, tentando evitar a irritação e a mágoa, mas foi impossível. — O que diziam suas mensagens mesmo, mãe? Lembrei. “Sentimos sua falta”. E sentiram tanta, que destruíram a única parte que poderiam ter contato comigo nessa casa, não é? — apontou para o antigo quarto, agora transformado em um depósito vazio e poeirento. — Nada melhor que diminuir o que sinto, não é pai? Certas coisas nunca mudam.

 

— Não seja dramático, nós mandamos mensagens todos os dias pela manhã, quem as ignora é você. Chamamos você diversas vezes, mas foi você quem escolheu fingir que nós não existimos. — a mulher rebateu.

 

— Mandam mensagem por sentir minha falta ou por culpa? — indagou enquanto cruzava os próprios braços, alternando o olhar entre as expressões surpresas de seus pais. Ele esperou, mas nenhum dos dois fez menção de falar nada, apenas se entreolharam. — O silêncio diz muita coisa às vezes. 

 

— Você não pode nos julgar, não sabe como aqueles tempos foram difíceis… — o Namikaze começou, no entanto, o estudante de Direito interrompeu sua fala:

 

— Eu não sei como aqueles tempos foram difíceis? — repetiu a frase do pai, incrédulo com o que estava escutando. — Como eu poderia saber? Eu era apenas uma criança! — enfatizou a palavra e apontou para si, quase rindo de desgosto. — Não tinha culpa do que acontecia ou deixava de acontecer no trabalho de vocês, trabalho esse que era mais importante que dar atenção ao filho de vocês no próprio aniversário. — disparou, se recordando das lembranças infelizes de seu aniversário. 

 

— Isso tudo é por conta da festa? Sinceramente, pare de agir como uma criança! — Kushina rebateu, claramente irritada. O jovem riu em descrença, o que a avermelhada julgou como uma atitude ainda mais infantil. — Você devia parar de descontar o que sente na sua irmã e agir como um homem crescido, você não é mais criança.

 

— E quando eu fui uma? — perguntou magoado, seus pais realmente não sabiam do estrago feito em sua cabeça. — Até onde eu me lembro, eu precisei crescer sozinho porque vocês não foram capazes de cumprir o papel de vocês. Sempre foi mais fácil passar a responsabilidade para os outros, não é? — continuou seu discurso e, mesmo sem perceber, estava aumentando seu tom de voz. Sua lista de desilusões e decepções era extensa, poderia passar o dia dizendo cada uma das falhas cometidas por seus pais para com ele. — Não conseguiu fazer com que eu compreendesse a matéria? Sem problemas, contrate uma explicadora. Não podia dar atenção ao próprio filho? Tudo bem, contrate uma babá para tentar preencher o vazio. Sendo sincero, não sei como não contrataram pais postiços para suprirem a falta de vocês, mas isso não vem ao caso. Não mais. A questão é que vocês sempre diminuem o que eu sinto em uma tentativa ridícula de encobrir os erros que cometeram, porque bem lá no fundo vocês sabem como erraram comigo.

 

— E o que quer que façamos? Que fiquemos de joelhos e beije seus pés? Implorar por perdão? — Minato era quem se exaltava agora. 

 

— Não, não espero nada vindo de vocês. Na verdade, deixei de esperar há tempos, quebrar a cara toda vez estava sendo cansativo. — respondeu a altura, não se deixando abalar. — Apenas não quero que mandem mensagens dizendo que sentem minha falta se não é o que estão sentindo realmente. Vocês pedem para que eu venha e acham que poderemos simplesmente recomeçar do zero? Anulando tudo o que sofri nas mãos de vocês? — perguntou em um tom absolutamente incrédulo com a ideia, porque se fosse aquilo, seus pais só podiam estar fora de si.

 

— O que você quer de nós? Você nunca está satisfeito! — Kushina exclamou, tentando conter o estresse que já tomava conta de seu rosto. Havia tentado diversas vezes contato com seu filho, mas este nunca lhe dera espaço quando se mudou, e então agora fazia de tudo para que a avermelhada perdesse a cabeça.

 

— E quem estaria satisfeito com migalhas? — rebateu entre dentes, sentindo seu corpo quente por tamanha raiva. — Reconhecer que erraram seria um grande começo. 

 

— Tudo o que fizemos foi para o seu bem. Onde está sua gratidão? Você sempre teve tudo do bom e do melhor. Brinquedos das melhores lojas, roupas de grife, o colégio mais caro e que melhor preparava os alunos. E, ah, claro: sua moto! — Minato listou item por item.

 

— Só se esqueceram de comprar amor, pelo visto.

 

— O que está dizendo? Nós te amamos! — Kushina apontou para o filho, nervosa. 

 

— Por que não me lembro de ouvir nenhum de vocês me dizendo isso em voz alta? Bilhetinhos vazios e mensagens falsas não contam. 

 

— A essa altura, pensamos que já tivesse entendido que cada pessoa demonstra seu amor à sua maneira. — Minato rebateu e cruzou os braços, ouvindo o riso de desdém do mais novo. 

 

— Claro. A essa altura, pensei que já tivessem notado que esse suposto amor me quebrou tanto a ponto de me fazer desenvolver uma dependência emocional fodida. Surpresos com meu comportamento? Porque eu me afundei cada vez mais, e bem debaixo de seus narizes. Para não perder a cabeça, mergulhei na porra do vício nas piores coisas, até mesmo no cigarro. Mas é claro que vocês não perceberam nada!

 

— Você está sendo desrespeitoso, Naruto. 

 

O Uzumaki piscou, sem reação.

 

— Vocês realmente não tem como se defender, não é? Mas para a infelicidade de vocês, consegui encontrar a paz que tanto mereço. Sim, eu mereço depois de todo esse inferno que passei durante toda minha vida. — cuspiu as palavras, sentindo o coração martelar em seu peito. — A falta que um dia me fizeram, hoje em dia não passa de piada. Uma pessoa conseguiu suprir tudo e em menos de um mês, um feito que vocês não conseguiram fazer em todos os meus anos de vida. E sinceramente, só espero que sejam melhores para Mor. Espero mesmo. 

 

— Você não pode simplesmente…

 

O olhar de Naruto se voltou para um ponto atrás de seus pais. Mor corria em sua direção com uma expressão radiante, segurando a mão de Hinata e a conduzindo consigo. 

 

— Já terminamos — ele cortou seu pai de maneira seca e se agachou quando sua irmãzinha parou, entregando uma folha que derrubava glitter a cada movimento. — É para mim? 

 

— Sim! Nata e eu fazimos’ um desenho pa’ você — falou orgulhosa, e o loiro segurou o desenho colorido e brilhante enquanto a pequena apontava com os dedos sujos de cola, glitter e canetinha. — Esse você! — mostrou um ponto laranja e azul, ao lado de um ponto preto e roxo. — Essa Nata, e castelo das cadeiras onde vocês morar’! 

 

Sem se conter, Naruto gargalhou. Olhou para sua namorada, que também ria com o nome do castelo, e ele prontamente entendeu que a morena azulada deve ter falado algo sobre o primeiro encontro deles para sua cunhada. 

 

— E você vai nos visitar e ser princesa desse reino? — indagou curioso, as mãos cheias de glitter também.

 

— Não! Eu ninja, e vou poteger’ vocês. Tá bom?

 

Naruto enrugou o rosto numa expressão emocionada e puxou a pequena para um abraço repentino, surpreendendo a todos que observavam a cena. Ele beijou a cabeça da caçula e a apertou protetoramente em seus braços, inalando o perfume infantil, e em seguida se afastou. 

 

— O aniversário é seu, mas eu quem ganho o presente… é isso mesmo? — brincou. 

 

— Você veio. É pesente’ não é? 

 

Ele engoliu em seco, lembrando do quanto havia demorado para conhecer sua irmãzinha. A culpa o perfurou naquele instante, e enfim se lembrou que não estavam sozinhos. Quando encontrou o olhar de seus pais sobre si, ficou ligeiramente rígido e suspirou. 

 

— Agora eu vou embora, tudo bem? — falou baixinho para Mor, mas esta parou de sorrir e o olhou magoada.

 

— Mas você pometeu’ de dedinho não ir! — rebateu com a voz ainda mais fina, olhando em desespero para os pais e em seguida para Hinata. — Po’ favor! 

 

— Meu bem, vou conversar com seu irmão, tudo bem? — a perolada se pronunciou depois de algum tempo, havia percebido o clima pesado no lugar, mas não havia razão para interferir até agora.

 

— Vocês ficar? — perguntou enquanto alternava o olhar entre Hinata e Naruto. 

 

— Vamos ver, tudo bem? De qualquer forma, já voltamos. — deu um beijo no topo da cabeça da pequena e estendeu a mão para Naruto, ignorando completamente a presença de seu sogro ali, se ele não havia feito questão de lhe dirigir a palavra, não seria ela a fazê-lo. Seu namorado não tardou em segurar sua mão e sair dali, mesmo que pudesse ouvir a voz de Mor, perguntando aos pais se eles voltariam.

 

Naruto a guiou até onde a moto estava estacionada, mas a morena azulada cessou seus passos fazendo com que o loiro a olhasse confuso. 

 

— O que houve lá dentro? — indagou claramente preocupada. O Uzumaki suspirou e se sentou no meio fio, a jovem se sentou ao lado deste esperando pacientemente por sua resposta.

 

— Discutimos. — respirou fundo antes de contar exatamente tudo o que tinha acontecido, contou desde suas memórias até cada palavra dita na discussão. A Hyuuga o acariciava e confortava, o incentivando a falar e colocar para fora o que estivesse sentindo, o ouvindo atentamente. — Eu não sei se consigo ficar aqui, eu me sinto sufocado, mas deixar a Mor…

 

— Você não está aqui por eles, e sim por sua irmãzinha. Por que não fica pelo menos até o parabéns? Não se esqueça que prometeu não ir…  

 

Os dois olharam para o papel na mão do loiro. O desenho infantil e colorido que tinha tanto significado. 

 

— Ela te adora, Naru. Ouviu com fascínio tudo o que eu dizia sobre o irmão mais velho dela. Mor só quer te ter por perto, não negue isso a ela quando aqui — Hinata tocou o peito do namorado, indicando seu coração. — deseja imensamente ficar. Admita que também quer ficar, e então a gente volta como se nada tivesse acontecido. Estou aqui com você.

 

— Está usando seus poderes de psicóloga em mim? — o loiro estreitou os olhos em divertimento depois de alguns instantes silenciosos e reflexivos. 

 

— Depende. Funcionou? — Hinata brincou de volta, recebendo em troca um beijo demorado e carinhoso. 

 

— Eu te amo.

 

O casal se deu as mãos e voltou, por fim. Naruto tinha percebido que a Hyuuga estava certa, e ele certamente não queria tomar atitudes que o fariam se arrepender mais tarde. Ficaria ali por sua irmãzinha, ninguém mais.

 

Quando deram a volta e se juntaram a família, Mor os avistou e correu tão entusiasmada na direção do irmão que por pouco não caiu ao tropeçar nos próprios pés. Para sua sorte, o mais velho era ágil e a amparou antes que a pequena se machucasse. Num impulso rápido, ele a jogou para o alto e a agarrou quando esta voltara a cair, a jogando para o céu novamente e repetindo os gestos com um sorriso, ouvindo as gargalhadas infantis que saíam de sua irmãzinha. Assim que seus braços se cansaram, a segurou em seu colo e esperou que as risadas cessassem, sorrindo bobamente.  

 

— Quando vamos poder comer o bolo? 

 

— Vocês ir embora depois de comer? — a caçula estreitou os olhos. 

 

— Talvez…

 

— Então não comer bolo nenhum — Mor rebateu sabiamente, fazendo Hinata gargalhar e Naruto olhar para as duas com uma expressão surpresa.

 

— Você é muito sabidinha, sabia? — questionou enquanto fazia cócegas na mais nova, que gargalhava e tentava se livrar das cócegas.

 

A festa prosseguiu de forma tranquila, com exceção de algumas trocas de olhares entre Naruto e seus pais, no entanto o rapaz se controlou para não arruinar a festinha de sua irmã mais nova. Além de tudo, o loiro continuou deixando as tias mais velhas de queixo caído — tanto por suas atitudes quanto pelo fato de vê-lo se dando bem com sua irmãzinha, já que as senhoras haviam conjecturado que ele sequer se importaria com a mais nova. Durante o parabéns, Mor correu até seu irmão e insistiu que se juntasse a ela e a levantasse para apagar a velinha, e Hinata fotografava os dois com um sorriso sincero e emocionado no rosto. 

 

— E para quem será o primeiro pedaço de bolo, querida? — Kushina indagou ao auxiliar a pequena a cortar o bolo. 

 

Mor olhou para cada uma das pessoas presentes, em seguida para o pedaço de bolo em suas mãos. Fez uma expressão pensativa seguida de um biquinho, que fez com que todos presentes morressem de fofura, então anunciou:

 

— Vai pa Hina! — exclamou e todos ficaram boquiabertos, inclusive a própria Hyuuga. Naruto sorriu e alternou o olhar entre as duas que ocupavam uma grande porcentagem em seu coração agora.

 

— Algum motivo especial, Mor? — indagou com curiosidade enquanto erguia as sobrancelhas sugestivamente, percebeu que a pequena ficou um pouco receosa, então sorriu e a incentivou a falar.

 

— Puque’ ela fez meu irmãozão ficar e tamém’ ela é uma deusa, né? — perguntou e o loiro gargalhou enquanto concordava com a cabeça. — Tem que dar pesente’ pra deusa. — concluiu com um sorriso no rosto e estendeu o bolo na direção da morena azulada, que se aproximou calmamente e com um sorriso bobo no rosto. 

 

— Obrigada, minha ninja favorita. — agradeceu enquanto pegava o pedaço de bolo das mãozinhas da pequenina, deu um beijo na testa desta e recebeu um beijinho na bochecha também, momento que foi registrado por Naruto, que observava tudo com o coração transbordando de alegria e emoção, algo que nunca imaginou que fosse sentir.

 

Enquanto a Hyuuga retornava para perto de seu namorado, ignorou os olhares curiosos e até mesmo julgadores de alguns convidados presentes, nada importava naquele momento além do enorme sorriso que estava formado nos lábios de seu amado. Hinata estava se sentindo extremamente orgulhosa pelas atitudes do loiro, nunca imaginaria que o rapaz pudesse ser tão sensível e compreensivo daquela forma. Naruto Uzumaki era uma caixinha de surpresas a qual ela não se importaria de ser surpreendida sempre que possível.

 

— Como se sente sabendo que ganhou o primeiro pedaço? — o rapaz perguntou com divertimento. 

 

— Me sinto adorável. — jogou uma mecha de cabelo para trás e riu, pegou um pouco do bolo com o garfo de plástico e levou até os lábios do rapaz. — Mantenha os olhos abertos ou irei roubar sua irmãzinha. 

 

— Coisinha cruel e travessa, você faria mesmo isso? — deu um sorriso ladino e levou sua mão até a cintura da garota, de modo que esta ficasse mais próxima de seu corpo. Ele a observava dos pés a cabeça, o olhar cor de safira brilhante e as pupilas extremamente dilatadas como sempre ficavam ao ver Hinata.

 

— Você ainda tem dúvidas? — provocou e ergueu as sobrancelhas, sentindo o loiro envolver agora seus braços ao redor de sua cintura, passando a pontinha de seu dedo na lombar da Hyuuga. A perolada olhou de soslaio para as tias do rapaz, que observavam a cena com expressões horrorizadas e murmuravam entre si, então voltou a olhar para o rosto de seu namorado. — Não sei se está tentando me provocar ou apenas causar mais pânico em suas tias. 

 

— Por que não as duas opções? — indagou em um tom baixo e se aproximou da orelha de sua namorada, onde mordeu de leve e soltou uma breve risadinha ou vislumbrar as mais velhas os encarando em choque e constrangimento. Então manteve a pontinha de seu dedo na lombar da morena azulada, mas agora em movimentos constantes de cima para baixo e por fim, apertou. Quando voltou seu olhar para Hinata, notou que a garota se encontrava com os pelos eriçados, então deu um sorriso travesso. — Talvez possamos firmar um acordo mais tarde, sim? Até mesmo planejar termos o nosso bebê. — voltou a se aproximar da orelha da perolada, umedeceu os lábios e disse em um tom baixo e rouco: — Conheço um cômodo da casa que não é muito utilizado.

 

— Seu pervertido! — o repreendeu em um tom de voz baixo, ria enquanto desferia leves tapas no braço do Uzumaki, que apenas gargalhava.

 

— Eu conheço mesmo um cômodo vazio e distante daqui, caso mude de ideia. — deu uma piscadela e roubou um doce que continha no bolo.

 

— Por que você é assim, hein? — brincou enquanto levava um pedaço do doce até a própria boca, o rapaz deu de ombros. 

 

— Sempre gostei de brincar com fogo. Pensei que já soubesse disso, sabendo que me queimei por inteiro quando se tratou de você. — se aproximou dos lábios adocicados de sua amada e lhe deu um selar, umedecendo os próprios lábios em seguida. Hinata estava a um passo de beijá-lo ali mesmo quando ouviu a voz de Mor, esta o chamava para que ele fosse buscar o próprio pedaço de bolo. — Mais tarde continuamos essa conversa, coisinha cruel e linda. — disse antes de se afastar, tentando reprimir um sorriso convencido ao notar que a namorada havia engolido em seco.

 

Recuperado do efeito “Hinata”, o loiro focou sua atenção na caçula que estendia em sua direção um generoso pedaço de bolo, e ele se agachou a sua altura antes de pegar o doce. 

 

— Como minha ninja está se saindo na missão de entrega de bolo? 

 

— Essa missão chata — a pequena franziu a testa. — Ninjas não entegam’ bolo! 

 

— Como não? Que ninja seria tão habilidosa quanto você na entrega de bolos? Vai deixar outra tomar seu lugar? — fingiu estar surpreso, e Mor hesitou enquanto pensava em suas palavras.

 

— Eu sou a melhor? 

 

— Claro. Ninguém jamais conseguirá ser uma ninja tão incrível e habilidosa quanto você — afirmou, convencido. Em seguida, sorriu e deixou um beijo no topo da cabeça de sua irmãzinha, que agora estava mais animada em seu papel de entregar bolo para todos os convidados com aquele olhar doce e inocente. 

 

Naruto demorou mais um tempo agachado no mesmo lugar enquanto observava a mais nova ir de um lado para outro enquanto seus pais separavam os pedaços de bolo. Ele deixou sua atenção cair por breves momentos nos mais velhos, que vez ou outra também o olhavam antes que se levantasse e voltasse para sua namorada. Tinha decidido que por Mor tentaria suportar os dois, por Mor ele se esforçaria e estaria por perto para que ela nunca passasse o que o loiro passara durante toda sua vida. O Uzumaki jamais deixaria aquilo acontecer. 

 

ミ☇♡◝

Quando a noite caiu e todos estavam cansados de dançar, os convidados começaram a partir. Naruto e Hinata passaram boa parte do restante da festa com Mor, o casal evitava ao máximo qualquer contato com os pais do rapaz, já que o loiro se conhecia e não sabia se aguentaria calado qualquer insulto vindo destes. Brincaram de diversas coisas, no entanto, a pequena acabou pedindo colo para o irmão mais velho, que não hesitou em segurá-la e caminhar para uma parte mais afastada. 

 

— Não acha que já é hora de descansar, hm? — o loiro perguntou enquanto a aninhava em seu colo, olhou para o rosto da pequena Mor e quase riu ao ver que estava travando uma batalha contra o sono, coçando os olhos repetidas vezes como se aquilo fosse despertá-la de vez.

 

— Não acho não… — discordou com a voz completamente arrastada, olhou para o rosto do irmão mais velho antes de dizer: — Quando eu acordar, o irmãozão vai ter ido embola’. Não quer dormir.

 

Naruto suspirou e ficou a admirando por alguns segundos com um sorriso bobo no rosto, como foi capaz de ficar tanto tempo longe daquele anjinho?

 

— Vamos fazer um acordo, então? — ergueu as sobrancelhas e Morrigan o olhou com interesse, esperando por sua proposta. — Eu canto pra você dormir e você descansa, o que acha? — começou a balançar a pequena sutilmente de um lado para o outro. — Fique tranquila pois sempre voltarei pra você, pequena. Temos um acordo então?

 

— Sim… — concordou e se aconchegou nos braços do irmão mais velho, as mãozinhas entrelaçadas ao redor do pescoço de Naruto e o rosto parcialmente enterrado na jaqueta do mesmo.

 

O Uzumaki começou a cantarolar “So this is love”, música tema de Cinderela. Sabia que não era nenhum cantor profissional, mas sua voz dava para o gasto em sua singela opinião. Conforme balançava levemente a pequena de um lado para o outro de acordo com a melodia da canção, deu início a um cafuné, de modo que Mor não demorou a adormecer completamente. Naruto não tinha percebido como a perolada o olhava com certo brilho nos olhos até que seus olhares se encontraram, então sorriu pensando em como seria quando eles tivessem seus próprios filhos. 

 

— Eu não sabia que cantava. — a morena azulada comentou em um tom baixo enquanto se aproximava de seu namorado, com cuidado retirou a faixa de ninja dos fios emaranhados de Mor.

 

— Bem, queria fazer suspense. — brincou e acabou rindo ao ver a expressão de Hinata, se aproximou da garota e lhe deu um beijo carregado de carinho na testa. — Quer que eu cante para você dormir agora?

 

— Sendo sincera, eu não reclamaria. — rebateu e o loiro reprimiu uma gargalhada, não se sentia tão feliz há tempos, gostaria de memorizar cada momento para que pudesse se recordar de cada detalhe mais para frente. Aquela felicidade fraternal o enchia por completo, um sentimento familiar que há muitos anos deixara de esperar e agora o pegara de surpresa.

 

— Vamos entregá-la para meus pais, sim? — perguntou enquanto ajeitava sua irmã mais nova em seu colo, de modo que esta pudesse ficar mais confortável. — Prometo que em outra noite eu canto para você, mas temos assuntos pendentes para tratar hoje a noite. 

 

— Ah, é mesmo? — indagou com divertimento enquanto acompanhava os passos de Naruto. — E que assuntos seriam esses?

 

— Não finja que não sabe do que estou falando, já passamos desta fase. — provocou com um sorriso travesso formado nos lábios enquanto queimava Hinata com seu olhar. 

 

— Como você consegue falar dessas coisas com sua irmã no colo? — perguntou enquanto desviava o olhar rapidamente, na intenção de se recuperar daquele olhar intenso.

 

— E como você acha que ela veio ao mundo, hein? — indagou de volta, rindo baixinho com as reações da namorada.

 

— Porco. — disse enquanto mantinha o olhar distante do loiro, no entanto foi obrigada a encará-lo quando este segurou seu maxilar com delicadeza e lhe direcionou um sorriso ladino. 

 

— Coisinha cruel e linda, não finja que não gosta disso. Sei bem que tipo de travessuras você gosta de ouvir e melhor ainda as que gosta de fazer. Talvez eu precise lembrá-la esta noite, sim? — umedeceu os lábios e manteve o sorriso travesso formado nos lábios.

 

— É, talvez precise sim. — concordou e sorriu vitoriosa ao ver a expressão de seu namorado, no entanto ele não teria tempo de retrucar já que estavam perto o suficiente de seus pais.

 

— Isso não acabou aqui — foi tudo o que pôde dizer antes de se aproximarem e estarem a alguns centímetros de Minato e Kushina, que observavam a pequena adormecida confortavelmente nos braços do irmão mais velho. — Está entregue. 

 

— Então, no fim das contas, você ficou. — sua mãe disse logo depois de pegar a pequena Mor e a aconchegar em seu colo. 

 

— Fiquei, não por você e muito menos por ele. — indicou Minato com a cabeça, passou o braço pelos ombros da Hyuuga e a trouxe para perto, tentando sentir mais confiança naquele momento. Hinata era sua estrela guia, enquanto estivesse com ela, estaria bem. — Permaneci aqui somente por conta da Mor, não me arrependo, mas sinto que devo esclarecer as coisas aqui.

 

— Esclarecer? — Minato ergueu as sobrancelhas e olhou para Kushina, que franzira a testa. — E o que você acha que deve esclarecer, exatamente?

 

— Quero deixar bem claro que continuarei vindo vê-la, então espero que possamos agir como adultos civilizados daqui em diante. Outra coisa, não ousem quebrá-la da maneira como fizeram comigo, caso contrário eu juro que farei de tudo para cuidar dela eu mesmo. 

 

A mulher de cabelos avermelhados suspirou e olhou para o rosto adormecido de sua filha por um longo momento. 

 

— Nós erramos. Não vamos cometer o mesmo erro.

 

— Espero que cumpram com o que estão dizendo, espero mesmo. Em breve voltaremos para vê-la, entro em contato. — anunciou enquanto observava o rosto de seus pais, mas estes apenas o observavam de volta em um silêncio, ligeiramente constrangidos. — Boa noite. — foi a única coisa que disse antes de partir rumo a sua moto, na companhia de sua namorada. Quando a ajudou a subir na garupa já estava recuperado e disposto a não se estressar ou pensar muito nos pais, por isso tratou de esvaziar a mente e sorrir sarcasticamente na direção da morena azulada. — E então, onde paramos mesmo? Ah, claro… Gostosuras ou travessuras, coisinha cruel e linda?

 

— Posso ter os dois? — perguntou com um sorriso travesso formado nos lábios.

 

— Tudo o que você quiser, minha querida. Tudo o que você quiser.

 


Notas Finais


O que acharam da Mor? Nossa nova estrelinha, sim ou claro? Queremos saber tudo, hein?! Obrigada por acompanharem *-* Vou deixar mais uma vez os links dos "bônus" dessa fanfic.

Link playlist: https://open.spotify.com/playlist/46jHja109HgGFMtI5Mu4a8?si=472d4ab5ee4648fd
Link perfil Hina: https://www.instagram.com/hinatinhahime/?utm_medium=copy_link
Link perfil Morut: https://www.instagram.com/morutmotoboy/?utm_medium=copy_link


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