História Oh lover, boy - reibert - Two

02

Foi exatamente esse o deja vu que Reiner teve ao abrir o armário dos pratos. Hoje faz três meses que os mesmos haviam terminado o namoro.

As mensagens de texto declarando o termino por parte do moreno nunca deixavam a mente de Reiner em paz, e nunca teve a oportunidade de perguntar o porquê, já que o recesso havia chegado.

O fato de terminarem pelo telefone e tudo por mensagem deixava tudo mais confuso, sem contar o que de Hoover estava namorando Annie, sua vizinha de cima.

Suspirou alto fechando o armário.

"Consigo comer bolo com a mão." pensou consigo.

Abriu o forno tirando a forma com um bolo de cenoura, Braun era um cozinheiro maravilhoso e quem adorava sua comida não estava mais ali.

Uma vibração do seu celular quase caindo da bancada o tirou de seus pensamentos tristes. Era Pieck ligando.

━ Fala carrocinha.

━ Vamos encher a cara hoje a noite enquanto eu falo com detalhes como vou dar um golpe em meu pai?

━ Encher a cara?

━ Meh, ainda não saiu dessa sua depressão depois de terminar com o altinho?

━ Não fui eu que terminei, e não, ainda não.

━ Ora pois então vamos encher a cara! Chamei o Marco e o Colt.

━ Tudo bem então, no mesmo de sempre né? Te vejo as oito.

━ Até!

Reiner pegou Sasha no colo e caminhou até o quarto. Parou para observar as fotos com Pieck, Colt e Marco. Depois de realizarem um trabalho em grupo se aproximaram rapidamente, Pieck era outra pessoa fora de sala de aula, uma pessoa totalmente legal.

Uma pena que a morena mudou de curso e não estava mais na sala dos meninos. Um suspiro saiu de Braun ao se jogar na cama, iria tirar um cochilo até a hora combinada, com sorte acordaria alguns minutos antes para um banho.

O 16th Bar, no bairro Sina, em São paulo, tinha o público normal de uma noite de terça-feira, ou seja, uma multidão de estudantes universitários no auge de sua existência. A maioria vinha de famílias ricas na costa leste e tinha planos associados a carreiras políticas ou direito. Alguns queriam outras coisas, mas eram poucos.

Reiner encontrou seus amigos numa mesa junto à janela da frente, uma vidraça que permitia quem estivesse do lado de fora observar o interior do bar. Eles pediram cerveja e caíram em sua rotina comum de escutar a mais nova do grupo falar mal do pai.

Após alguns copos, Pieck começou sua bravata recorrente repleta de maldições sobre nunca ter existido um presidente brasileiro que viveu realmente de acordo com seus princípios e, depois, governou da mesma maneira.

━ Eles sempre se tornam vítimas da política de Brasília, sempre cedem a interessentes específicos. Alguém pode citar um presidente que tinha mesmo por em mente na maioria das decisões no poder? Nenhum tinha. E tudo uma questão de poder e repartir o poder naqueles que investem dinheiro nele.

━ E você vai por um fim nisso tudo, certo?

━ Ou morrerei tentando, Marco. E vou começar com o escroque filha da puta que se diz meu pai. ━ Pieck tomou un gole da cerveja. ━ Assim que receber o diploma.

━ Primeiro que você nem cursa direito. ━ Reiner respondeu. ━ Segundo que, você vai dar um golpe em quem te banca? Sua maluca.

━ Eu buscaria contatos e apoio antes de atacar meu próprio pai. ━ Colt disse.

━ Boa ideia, pelo menos alguém aqui me apoia. ━ Pieck deu língua para Reiner, e em seguida tomou outro gole de cerveja. Limpou a boca com o antebraço, num gesto dramático, e encarou o teto dor bar.

Os outros começaram a rir ante o espetáculo.

Pieck continuou:
━ Precisa vir de repente, de modo totalmente insuspeito. Sim, vou criar uma coalização, e quando meu pai achar que tá numa boa, vou manda-ló para prisão, como Giuliani fez com Teflon Don, aquele mafioso seboso.

━ Você faz faculdade de engenharia civil e tá se comparando com algum presidente de algum canto no mundo que provalvemente está morto? ━ Reiner deu uma risada. ━ Amo sua autoconfiança.

Reiner e seus amigos adoravam as tiradas de Pieck. Colt e Marco as escutavam por entretenimento, mas Reiner possuía uma percepção aguçada. Após aquele trabalho de faculdade, os quatro se juntaram numa panelinha forte, sempre saindo para beber e se divertir. Mas Pieck sempre se aproximou mais de Braun, indo a sua casa as tardes para reclamar sobre como a irmã gêmea do Colt é gata e ele não. Ele conhecia Pieck melhor. Sabia de seus segredos, desejos e conflitos. Entendia que suas opiniões eram fruto de uma rebelião.

Um pai opressivo, que acumulou uma fortuna dirigindo um dos maiores escritórios de advocacia da costa oeste, tentava dirigir a vida da filha numa direção que Pieck não desejeva seguir.

Eles pediram mais cerveja quando Finger se acalmou. Tudo estava mil maravilhas, para Braun apenas mas uma das noites em que via seus amigos e bebia sem consciência pesada. Mas a presença de alguém pode mudar sua expressão em segundos.

━ Bertholtd? Jean? Que surpresa agradável! ━ Marco brandou ao vê-los.

━ Oii! ━ Pieck abriu um sorriso. ━ Não sejam tímidos, peguem duas cadeiras e sentem com a gente.

Uma risada envergonhada saiu de Colt tentando abafar a situação, Reiner se encolia na cadeira a cada segundo, quase se deitando no chão. Uma pequena salvação tinha chegado, sua irmã estava ligando, uma bela distração. Sem falar nada o mesmo saiu da mesa com o telefone em mãos indo até uma parte vazia do bar.

Quanto a Jean e Bertholdt aconteceu o mesmo. Se aproximaram bastante ao viajarem no recesso para o mesmo destino, consequentemente, Kirstein parou de falar com Reiner, ele sabia o motivo do término. Jean não queria acreditar em tudo aquilo, se afastou em meias as dúvidas deixando que culpa o consumisse. Mesmo assim não tirou os olhos do loiro desde quando chegou ao bar, Hoover se sentou um pouco envergonhado pedindo uma cerveja.

O planejado era sai um pouco com seu amigo e beber um pouco, apenas os dois. Mas como nem tudo sai como esperado, o mesmo já pensava em alguma desculpa para ir embora, era um ambiente desconfortável, e ficar perto do loiro o deixava triste.

━ É, foi bom beber com vocês mas eu preciso ir agora. ━ Reiner disse voltando a mesa. ━ Sasha me ligou dizendo que esqueceu alguns materiais lá em casa, vou entregar devolta para ela.

━ Ah não, não não não. ━ Pieck se levantou indo até o loiro. ━ Combinamos de beber e é isso que vamos fazer.

━ Quer que eu me abaixe? ━ Reiner sorriu de canto sentindo as mãos  da morena tentando alcançar seu ombro.

━ Só senta aí e bebe, chato.

━ Vou terminar minha garrafa. ━ ele se sentou. ━ Depois eu vou embora, sem mais nem menos.

━ Como quiser, campeão.

*

Como o combinado, ou talvez, Reiner terminou sua bebida e deixou que Pieck pagasse a conta. Como de custume usava algum argumento como "De presente para você superar o monte everest.", e o loiro apenas aceitava em silêncio.

Quando anunciou sua saída todos decidiram ir junto. Com um pouco de dificuldade o loiro caminhou até seu carro mandando algumas mensagens a sua irmã, parecia um idoso utilizando o telefone. Só se tocou que tinha alguém o seguindo após chegar ao seu carro. Era Bertholdt.

━ Posso... ajudar? ━ Reiner guardou o telefone.

━ Você está bem?

━ Bom, na medida do possível. E você?

━ Vou indo. ━ Bertholdt se encolheu envergonhado. ━ Você...  sabia que eu também estava vindo para beber?

━ Talvez, porquê? ━ Reiner franziu a testa mudando seu tom de voz.

━ Era para você estar ocupado trabalhando, ou estou errado? ━ Bertholdt se aproximou do loiro. ━ Veio só para me fazer algum tipo de ciúme?

Reiner cerrou os olhos.

━ E se eu tiver? Que eu saiba você está muito bem de vida, com namorada nova. Aliás quem terminou comigo foi você e sequer me contou o motivo.

━ E preciso contar? ━ ele cruzou os braços. ━ Zeke.

━ Ah lá vamos nós denovo. ━ Reiner disse num tom desapontado.

De quebra na mente de Braun o garoto só resmungaria algo sobre o seu colega de trabalho, que nem das últimas vezes em que brigaram e o mesmo era o motivo. Bertholdt pegou seu celular calmamente abrindo em uma foto.

O conteúdo da foto era: um quarto de hotel onde Reiner estava deitado sobre o peito de Zeke, seu colega de trabalho.

━ Me explique isso, Reiner.