Acordei com a luz do sol que entrava pela janela em meu rosto. Apertei os olhos pela claridade, e me sentei lentamente, espreguiçando-me.
— Bom dia, Todoroki-kun! — alguém diz baixo. Abro os olhos e procuro pela pessoa, logo avistando o esverdeado perto da porta. Fiquei algum tempo tentando entender onde estava, reconhecendo a casa de quando nos teleportamos. Estava em uma cama improvisada ao lado da beliche. — Venha, vou levá-lo para tomar um banho.
Reparei então em seus cabelos, estavam levemente molhados, exceto pelas orelhas felpudas. Ele vestia uma camisa branca, com o mesmo colete verde por cima, calças e botas.
— Bom dia. — resmunguei, a voz rouca por ter acabado de acordar. Olhei para o lado e vi que Denki ainda dormia profundamente, até mesmo roncando.
— Ele ficou cansado de tanto dançar ontem, não é? — perguntou sorrindo.
~☆~
Quando fomos até a grande árvore para jantar, como Shuzenji havia dito, encontramos os loiros junto de Kirishima e Uraraka, os três dançando e rindo, enquanto o biribinha observava. O centro estava lindo, iluminado por fadinhas e luzes flutuantes, todas de uma coloração alaranjada, e provavelmente toda a vila estava ali, dançando e conversando.
Crianças corriam por todo o lado, e no meio de uma rodinha de casais que rodavam entrelaçando seus braços, vários tambores e chocalhos eram tocados em uma sinfonia animada e convidativa.
— Hoje é um dia festivo? — perguntei um pouco alto por causa da música alta.
— Todo dia é dia de festa! — respondeu rindo. Pegou minha mão e me puxou em direção aos outros.
Kaminari e Uraraka pareciam tentar empurrar os outros dois para a roda de dança, o outro loiro gritava, enquanto o ruivo ficava corado.
A acastanhada nos viu e logo acenou pulando.
E o resto da noite se resumiu nos quatro pulando e cantando, as vezes Bakugou sendo puxado por Kirishima para dançar. Uraraka e Midoriya também. Talvez eles sejam um casal. Denki tentava me arrastar também, mas consegui me manter afastado, apenas observando tudo.
~☆~
— Acha que Kaminari-kun ficará bem se acordar sozinho? Ele conheceu quase tudo ontem, mas não sei se ele pode acabar se perdendo, ou tentando ir sozinho para o penhasco dos dragões, ou até-
— Está tudo bem Midoriya — o cortei e sorri para acalmá-lo. —, Denki é meio bobo, mas sabe se cuidar, não se preocupe.
Caminhávamos pelo centro de Jades. Estávamos indo para alguma lagoa, pelo que o menor disse, onde a maioria ia nadar por diversão ou para tomar banho.
Seguimos para o lado oposto de quando fomos para a trilha que leva ao penhasco, e logo chegamos a outra trilha parecida.
Ao fim dela, avistei a grande lagoa, e era muito bonita. A quantidade de árvores ali, por não haverem outras construções, era muito maior, deixando bem fechado e escondido.
Uma garota saiu do centro da água, jogando seus cabelos verdes como os de Midoriya para trás. Sua atenção se voltou para nós, e ela logo nadou para a beirada. Nos aproximamos e o menor nos apresentou:
— Todoroki-kun, essa é Asui-san, ela é uma hibrida sapinha. — riu fraco.
— Me chame de Tsuyu-chan, kero. — respondeu, deixando a língua de fora. Ela usava um maiô listrado verde e branco, com lacinhos amarrados nas alças.
— Esse é o Todoroki-kun, um novo morador. — Midoriya disse e olhou em volta. — Onde estão os outros?
— Foram trabalhar, e as sereias foram para o mar colher algas, já está acabando o estoque delas, kero.
Trocaram algumas palavras, ela logo saiu da água e se despediu, dizendo que iria procurar por alguém.
— Se quiser, há uma pedra por ali, onde deixamos as roupas para mergulhar. — o menor disse apontando para um canto das árvores.
— Obrigado. — agradeci e fui para onde ele apontou.
Deixei a toalha que ele havia me entregado antes de sairmos por cima da rocha, tirei a camiseta branca e a calça, colocando-as perto do pano, e as botas no chão. Olhei para a entrada da lagoa, e vi que o esverdeado não estava mais ali. Estranhei um pouco, mas ele deve apenas pensar que quero privacidade.
Aproximei-me da água, colocando um pé para dentro. Estava gelada, e ela era incrivelmente cristalina, podia enxergar perfeitamente através dela.
Logo estava imerso, me acostumando aos poucos com a sensação fria. Mas não é como se me incomodasse, gosto do frio.
Fechei os olhos, deixando meu corpo boiar na água, aproveitando e me perdendo em meus próprios pensamentos.
Não tive muito tempo para isso, vagar pela minha mente. Estive o tempo todo acompanhado de Midoriya, e a única coisa que conseguia era prestar atenção em si.
Franzi as sobrancelhas. Quando foi que eu me deixei levar tanto? O conheço há um dia apenas, e nunca confiei em ninguém além de minha mãe e Denki. É tão estranho, de repente parei para pensar nisso. Por que sua presença era tão reconfortante? Eu até lhe contei sobre a história dos olhos. Os... olhos...
Qual a cor dos olhos de Asui?...
Eu não sei...
Como... por que eu não olhei?...
— Você é o novato, não é? — uma voz grossa me tirou dos pensamentos. Abri os olhos e voltei os pés para o chão, logo vendo aquele garoto de cabelos roxos de antes.
Algo nele não me agrada.
— Ficou mudo? Foi tão ousado em me enfrentar ontem, o que houve agora? — perguntou debochado, tirando a camisa em seguida.
— O que você quer? — respondi ríspido e sério, vendo-o entrar na água e se aproximar lentamente.
— Oh, ainda arrogante. — riu irônico. — Só queria conhecer o novato de Jades, seu cheiro me chamou a atenção. — inclinou a cabeça.
— Você é o que? Algum pervertido sem noção? — perguntei enojado. O que esse cara tem na cabeça?
— Talvez. — deu de ombros com um sorriso de canto. — Mas o que me atraiu não foi isso.
Estava perto, e eu não recuei. Se ele tentar algo, não irei fugir, sei lutar muito bem. Era esse meu pensamento, então ele mostrou as presas e seus olhos brilharam, logo dizendo:
— Você é um humano, não é?
...
Eu congelei. Como ele sabia? Recovery Girl disse que eles só sentem cheiro de emoções, então, como ele descobriu? Ou melhor, o que ele vai fazer com essa informação?
O garoto roxo se afastou e começou a rir loucamente. Era um psicopata também?
— Então eu acertei, hm? — disse. — Eu sabia, vocês estavam com um cheiro enjoativamente doce e forte, ou seja, encanto. E me diga, que criatura mágica fica tão encantada com... magia? — explicou e voltou a rir. — Quer dizer, ainda foi um tiro no escuro, mas pela sua cara agora, não há dúvidas.
— Isso não é da sua conta. — rosnei. Irônico, já que o lobo aqui é ele.
— Ah, claro. — parou de rir e voltou a se aproximar, com um único passo ficando frente à frente comigo. — O que acha que vai acontecer quando eu contar para todos de Jades, que há dois humanos aqui dentro? — sussurrou.
Não respondi, e o mesmo riu nasalado.
— Onde estão as respostinhas? — sorriu. — Eu tenho uma proposta, o que acha?
Novamente não o respondi, apenas o encarei com um olhar sério, o que pareceu o irritar um pouco.
— Olha só, se continuar com esse joguinho de ignorância não vou hesitar em lhe matar. — rosnou mostrando as guarras.
— Não tenho medo de você. — respondi simples.
O mesmo avançou, tentando acertar meu pescoço, mas fui mais rápido e me abaixei, fazendo-o cair na água. Me afastei e fiquei em posição de luta, logo vendo ele tremer e rosnar, indo avançar de novo.
Então um leve cheiro de morangos se espalhou, junto de um grito que fez o arroxeado parar.
— HITOSHI!
Olhei para trás, era Midoriya ali, e estava com as guarras e presas para fora. Ele parecia bravo, nunca o vi assim, nem achei que iria, ele é tão doce e gentil. Chega a ser assustador vê-lo desse jeito.
— Izuku~ — cantarolou o outro lobo, que já não estava em pose de luta ou ataque, mas com um olhar e um sorriso maliciosos. — Estava com saudades, pequeno.
Midoriya estremeceu, mas não recuou. Ele estava com medo, eu podia ver isso, mas não deixou a postura.
— O que você quer?
— Você sabe, pequeno. — tentou se aproximar, mas eu o segurei, da mesma maneira de quando ele tentou avançar em Shuzenji-san.
— Não chegue perto. — não sei o que esse cara fez com Midoriya, mas para ele estar daquele jeito tenho certeza que foi algo sério.
— O que foi? É dono dele agora?
— Todoroki-kun, se afaste. — o menor disse e eu o olhei confuso. — Por favor. — pediu.
Receoso o obedeci, mas não sem antes lançar um olhar de ameaça para o outro.
Afastei minha mão e sai da água, pegando a toalha e enrolando em minha cintura. Me aproximei do esverdeado antes de Hitoshi conseguir sair da água, puxando-o para trás de mim.
O arroxeado saiu e pegou sua camisa do chão, a calça encharcada pois entrou na lagoa com ela, e se aproximou de nós.
— Não vai fugir para sempre, pequeno. — Me coloquei em sua frente e seu sorriso sumiu. Soltou um rosnado baixo e se afastou, indo embora dali.
Esperei ele sumir de vez para abaixar a guarda. Suspirei e me virei para trás.
— Midoriya, você está bem? — perguntei.
— Estou. — respondeu baixo e com a voz falha. Estava mentindo, seu corpo todo tremia, e apesar de tentar, a cabeça baixa não escondia as lágrimas que fugiram.
— Sei que nos conhecemos apenas há um dia, mas não precisa mentir para mim. — disse, e devagar o abracei pelos ombros.
Em alguns segundos ele retribuiu o abraço, e deixou-se chorar. Ainda se segurava um pouco, mas não vou insistir muito, não quero deixá-lo desconfortável. Depois de um tempo ele se afastou e limpou o rosto com pressa.
— Me desculpe... — fungou. — É uma longa história, mas não consigo ainda sentir o cheiro dele sem ficar... assim.
Seu rosto estava vermelho e ainda tremia, menos que antes, mas ele ainda estava mal.
— Eu senti um cheiro fraco de morangos. — disse, tentando mudar de assunto e distraí-lo. — Era como o de seus cabelos, tem algo a ver?
Fungou de novo antes de pigarrear e falar:
— S-sim. São os meus feromônios... nós podemos liberá-los quando quisermos, eles podem acalmar, estressar ou chamar a atenção de alguém, lembra? — respondeu se acalmando aos poucos. — Ele é muito mais forte para nos híbridos, para você deve parecer apenas um perfume, mesmo quando liberamos em excesso.
— Entendi. Acha que eles me afetariam também? — perguntei curioso. O menor fez uma cara pensativa.
— Não tenho ideia — colocou a mão no queixo e começou a murmurar. —, pensando bem, não há nenhum registro sobre isso nos livros, e eu nunca tive contatos amigáveis com humanos para testar, então pode dar certo. Se bem que só somos realmente afetados com uma certa quantidade do cheiro, e os faros aguçados dos lobos ajuda muito... Waaaa você me deixou curioso, Todoroki-kun! Não tenho ideia do que poderia acontecer, talvez vocês fiquem um pouco mais calmos apenas, uma sensação leve, ou talvez não sintam nada... — parou de repente e me olhou. — Ah, perdão, eu fiz de novo, não é?
Ri nasalado e assenti com a cabeça. Pelo menos o fiz pensar em outra coisa. O menor riu envergonhado e coçou a nuca, e de repente paralisou, obtendo tons fortes de vermelho por todo o rosto. Me lembrei então que estava apenas de toalha, além da cueca.
— A-a-aqui. — tirou rapidamente a mochila das costas, que só notei agora, e tirou uma muda de roupas dali. — E-eu havia ido bu-buscar para você. — apoiou em meu peito e abaixou a cabeça, evitando me olhar de qualquer maneira.
— Obrigado, Midoriya. — peguei as roupas e fui para a pedra.
Era uma camiseta parecida com a dele, uma calça larga e um colete azul com detalhes prateados. Bom gosto, eu diria.
Me troquei, colocando as mesmas botas, e voltei com as outras roupas, que ele guardou na mesma mochila. Me ofereci para levar a bolsa. Com um pouco de insistência o esverdeado cedeu, então seguimos para algum lugar que ele queria me mostrar.
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