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História Okay - Novos meios


Escrita por: GSilva

Notas do Autor


Feliz natal mores <3

Capítulo 8 - Novos meios


 — Temos registros sobre este garoto que estava para chegar, seu nome e seus precedentes, mas, acha que pode especificar a maioria das características dele?

 

CAPÍTULO 7 – NOVOS MEIOS

 

Eu não acreditei imediatamente. Não acreditei quando o Kaio disse que um novo garoto podia chegar há qualquer momento. Eu tinha sofrido lesões, desmaiado algumas vezes, quase abusado sexualmente, mas tinha a máxima certeza de que não tinha passado mais de uma semana dentro daquela casa. E, pelo que Yian havia me contado, não havia exceções na regra.

— Como assim? Eu estou aqui há poucas noites... — Perguntei para Kaio. Ainda estava escuro e eu mal podia ver seu rosto, mas um feixe de luz ainda iluminava o corpo dele.

— Eu ouvi o Mestre conversando com alguém. — O garoto respondeu. — Ele disse que há um novo garoto vindo para cá.

— Mas eu não entendo. Yian me disse que novos garotos somente aparecem uma vez por semana.

— Eu também não entendi quando ouvi, mas é isso o que eu acho. — Disse Kaio. — Ele estava conversando com aquele velho, o fotógrafo, dizendo que um novo garoto estava prestes a vir.

— Montmore. — Ecoei, fazendo-o olhar para mim com as sobrancelhas franzidas.

— Você conhece aquele fotógrafo?

— Não, mas ele me contou seu nome. — Respondi. — Mas isso não tem importância agora. Temos que focar no que eles conversaram. Se um garoto está vindo para cá, então significa que o “Mestre” está pronto para matar alguém, não é?

— Muito provavelmente. — Yian respondeu. — Mas não faz sentido. O Mestre nunca mudou o sistema e obviamente não vemos motivos para tal.

— O sistema pode estar acabando. — Disse Alan, entrando na conversa pela primeira vez.

Eu, Kaio e Yian paramos para olhar o garoto que tinha ficado em silêncio por grande parte do tempo. Ele estava mais distante do grupo, como se não quisesse ser visto ou ouvi, mas eu podia vê-lo. Ele estava sob um feixe de luz que escapava pelo assoalho. Pude ver marcas avermelhadas, como arranhões, sobre a pele do peitoral dele; profundas olheiras ao redor dos olhos e os cabelos desgrenhados.

— Como assim? — Kaio perguntou gentilmente. Eu nunca pensei que escutaria o Kaio sendo gentil com alguém.

— O sistema pode estar acabando. É a única explicação. — Alan respondeu. — Pense bem, esse é o único motivo para tudo sair do controle. E... E, me desculpe Oliver, mas eu acho que tem alguma coisa a ver com o que você fez.

— Eu? Como eu faria isso?

— Você não disse que quase matou o Mestre? — Alan perguntou, fazendo-me assentir.

De repente, tudo foi ficando mais claro, fazendo sentido. De fato, aquela era única explicação para a quebra da rotina do sistema. Por algum motivo, o Mestre parecia querer se vingar de nós, mas eu não tinha certeza se era por causa da minha tentativa de homicídio. Tentei juntar todos os pontos soltos na minha mente, mas algo ainda não encaixava.

— E o que Montmore tem a ver com isso? — Perguntei. — Ele era só um fotógrafo, não era?

— Pelo jeito, não é mais. — Yian respondeu. — Foi ele que tirou as nossas fotos, de cada um daqui, e dos que foram eliminados também.

— Por quê? Por que ele tira fotos? — Perguntei para mim mesmo.

Imaginei motivos para aquilo, é claro, desde que Montmore apontou aquela câmera para mim. Não fazia sentido. Se nós estávamos ali, ao alcance de sequestrador, por que precisavam de fotos nossas? Por que parecia que estávamos sendo examinados de alguma maneira?

Afastei-me do grupo de garotos, indo para a outra extremidade do porão. Deixei minhas costas baterem com força contra a parede, deixei os tijolos frios causarem arrepios, deixei minha cabeça repousar encostada ao limite do porão. Eu precisava pensar, e, por algum motivo, ficar perto daqueles garotos não me ajudava.

Eu havia concordado em seguir os planos de Kaio, por mais submissos e subjugados que fossem. Concordei em aceitar qualquer coisa que o Mestre quisesse, mas eu não podia parar de lutar, não podia parar de tentar fugir.

— E como a vinda desse novo garoto pode nos ajudar? — Perguntei em voz alta. Eles pararam os sussurros.

— Não vai. Só vai piorar. — Kaio respondeu. — Se um novo garoto está vindo, significa que um de nós irá morrer.

— Mas não há como esse garoto nos ajudar? — Fiz outra pergunta, rezando para uma resposta positiva, mas Kaio parecia especialmente irritado.

— Ajudar como? Igual você, quando veio se achando o salvador e quase matou todo mundo? — Ele rebateu. — Quando você vai aceitar o fato de que estamos perdidos? Não há como fugir, não há como um sequestrado nos ajudar.

Minha mente girou com as palavras dele. Na verdade, eu não prestei atenção no tom de voz dele, na audácia com que ele me falou. Eu queria achar algum meio de conseguir ajuda através do garoto que estava chegando.

Foi nesse momento que pensei numa ideia.

— Mas... — Eu disse. — Por quê? Por que nos sequestrar?

Eles continuaram em silêncio, mas Yian quis responder qualquer coisa.

— Não sei. Talvez seja uma espécie de tráfico de pessoas ou coisa parecida. — Disse ele.

— Não, não foi isso que eu quis dizer. Quero saber por que ele escolheu justamente a nós. — Respondi. — Tipo, ele se fantasiou de empregado do Instituto de Artes para chegar mais perto de mim... Por quê? Por que ele simplesmente não sequestrou qualquer pessoa? E por que sempre garotos?

— Simples. — Kaio interrompeu. — O Mestre é gay.

A resposta do garoto pareceu trazer uma nova onda de silêncio ao porão, pois ficamos esperando ele falar mais alguma coisa.

— Mas isso ainda não explicar por que ele nos escolheu. — Respondi. — O que temos em comum? Somos todos gays?

— Eu não. — Kaio respondeu.

— Nem eu. — Alan ecoou.

— Eu sou. — Yian interrompeu, com uma espécie de orgulho na voz.

— Eu também. — Respondi. — Então não pode ser isso. Deve ser algo que todos nós quatro temos em comum... Talvez nossos precedentes.

Fiquei esperando pelas respostas deles, mas os outros três garotos pareciam muito centrados em descobrir o que “precedentes” significava. Cerrei as mãos e respirei fundo, tentando me lembrar de algo do passado que provavelmente me conectaria com algum dos garotos.

— Tipo, a nossa família? — Yian perguntou.

— Pode ser. — Respondi. — Assim como lugares onde trabalhamos, de onde viemos, histórico amoroso...

— Espere. — Kaio interrompeu. — Acho a segunda opção mais provável. É muito comum estrangeiros serem submetidos ao tráfico de pessoas.

— Eu pensei que era o único estrangeiro aqui. — Respondi. — Nenhum de vocês é americano?

— Que eu saiba, não. — Yian respondeu.

— Então deve ser isso. — Concluí. — Eles devem estar sequestrando estrangeiros que vieram para os Estados Unidos. Mas, ainda não faz sentido. Montmore e a mulher que estava na sala, naquele dia da minha fotografia, pareciam ter sotaque inglês...

— Então esse sistema é muito maior do que pensávamos. — Yian respondeu.

— Eu avisei que você não tinha ideia de onde havia se metido. — Kaio disse, encerrando a conversa.

 

***

 

Fiquei um tempo afastado dos outros garotos, para poder ter uma melhor noção do que estava ocorrendo. A nossa imigração era a única coisa que nos interligava, de algum modo, deixando-nos com algo em comum. Nem por um segundo eu imaginei que Yian, Kaio ou Alan eram estrangeiros.

Eu aproveitei o silêncio no porão para poder me sentar no chão sem criar alarde. O solo estava mais gelado do que os tijolos da parede e eu estremeci quando meu corpo tocou o chão. Pensei que poderia morrer de hipotermia se não recebesse algumas roupas até o dia seguinte (mesmo sabendo se estava escuro ou não no lado de fora). Como o sequestrador esperava nos manter em perfeito estado se nem sequer dava algumas roupas, ou comida? Eu precisava comer. Só Deus sabe como eu precisava comer naquele momento.

Depois de alguns minutos, senti que alguém tinha se aproximado de mim. De repente, ouvi esse alguém se sentando no chão, ao meu lado. Estava completamente escuro na sala novamente, eu mal podia ver o contorno das minhas próprias mãos, então tive que perguntar quem era.

— Yian?

— Não. — Disse a voz arrogante de Kaio. — Sou eu.

Franzi as sobrancelhas e agradeci a Deus por ele não poder ver a minha expressão de repulsa.

— O que você quer? — Perguntei.

— Nada. Nada demais. — Ele respondeu. — Só quero dar um aviso.

Antes que eu pudesse dizer para Kaio se afastar, ele se virou para mim (deduzi isso) e tocou o meu antebraço com seus dedos magros. Eu dei um pulo de susto, porque não imaginava que ele iria me tocar.

— Que tipo de aviso? — Perguntei.

— É sobre Yian. — Ele respondeu. — Eu o conhecia, antes daqui. Ele já foi meu colega de quarto durante duas semanas, mas decidiu mudar de faculdade...

A voz de Kaio tinha adquirido um tom diferente de arrogância: agora soava mais calma, pacífica, até nostálgica, como se ele estivesse pensando em eras passadas.

— E o que eu tenho a ver com isso? — Interrompi. Senti os dedos dele intensificando o aperto.

— Eu quero dizer que realmente conheço o Yian. Ele é um bom garoto, talvez o melhor homem que eu já conheci. Ele nunca fez mal para alguém e provavelmente nunca faria, mesmo se fosse obrigado. — Kaio rebateu. — Ele é um ótimo garoto. E eu vejo o modo como vocês se olham. Não diga que é algo superficial, porque eu sei que não é.

— Kaio, você não tem ideia do que está falando. — Interrompi novamente. — Só porque ele e eu somos gays, não significa que vamos acabar juntos eventualmente. Além do mais, eu tinha um encontro marcado com meu vizinho, Andrew.

— Eu sei que tem algo aí, Oliver. — Kaio respondeu. — Ele te olha com bondade, com esperança. Não sei se a sua coragem faz isso, mas ele te admira. Eu estou com Yian aqui há dias e ele nunca olhou para nada como olha para você. Eu só quero avisar que... Se a situação ficar tensa, não o decepcione. Ele não merece.

Ouvi o tom de voz do Kaio, afrontador e irritado. Eu queria socá-lo e sair correndo, mas para onde iria? Ambos estávamos presos naquele maldito porão, no escuro.

— Pode deixar. Eu não vou decepcioná-lo. — Respondi, tentando parecer calmo.

Repentinamente, toquei-me de que estávamos falando em voz alta, então Yian provavelmente estava me escutando. Mas ele conhecia essa faceta de mim, ele sabia que eu diria qualquer coisa para não arrumar confusão com Kaio. Porém, parte daquilo era verdade.

 

***

 

Fiquei com a cabeça abaixada por minutos incontáveis, rezando para que alguém percebesse que estávamos famintos. Rezei para que o sequestrador usasse o 1% de empatia que ainda havia dentro dele, para que pudéssemos comer ou beber qualquer coisa. Felizmente, o destino parecia estar me ouvindo.

Não fiquei contando os minutos para tal, mas o alçapão do porão se abriu ruidosamente. Nenhuma luz veio do andar de cima, como eu esperava que fosse acontecer, mas ouvi os passos do homem quando ele começou a descer as escadas.

— Hora do jantar, rapazes. — Disse o sequestrador, com um tom de voz que não me agradou nem um pouco. — O que temos para hoje?

Silêncio. Nenhum dos garotos respondeu, e mal pareciam estar ouvindo. Kaio, Alan e Yian vieram para perto de mim, como se estivessem com medo ou algo do tipo. Eu senti a presença de Yian ao meu lado, segurando o meu pulso com uma veemência aterradora; foi como se ele tivesse assustado, como se eu pudesse protegê-lo.

— Vocês têm que ficar fortes. — Disse o homem, chegando ao último degrau das escadas. — Eu não deveria falar isso, mas vocês receberam um novo amigo em breve. Têm que estar fortes para recebê-lo.

Mais silêncio. Eu fiquei esperando que Kaio falasse alguma coisa, que xingasse o sequestrador ou qualquer coisa do gênero, mas ele ficou quieto. Comecei, lentamente, a andar para frente a fim de encarar o homem face a face, mas Yian me segurou no lugar.

— Mais um garoto? — Yian perguntou, surpreendendo-me.

Consegui ver a silhueta do homem, perfeitamente. Ele havia parado na nossa frente, segurando algo em sua mão.

— Sim, mas não fique curioso. Ele já está por chegar. — O sequestrador respondeu. — Até lá, vocês podem comer...

Senti um impacto contra o peito antes que conseguisse desviar. Não vi o que era. Parecia algo compacto, duro, mas não gerou dor ou agonia. Não parecia ter sido um ataque. Quando me abaixei, tateando o chão às cegas, percebi que era um pedaço de pão endurecido.

Agarrei aqui como se fosse a minha única chance de sobrevivência, apesar do estado da comida.

— Vamos... — Yian sussurrou, puxando-me para o lado. Deixei que ele me levasse para longe do sequestrador e dos outros garotos.

 

***

 

Ficamos em silêncio enquanto o homem subia de novo os degraus e fechava o alçapão, deixando-nos novamente no escuro. Cada um estava comendo lentamente, um pedaço de pão para cada um. Não era (e não foi) suficiente para a minha fome, mas eu deliciei aquele pedaço como um verdadeiro banquete. Só Deus sabia o quanto eu estava com fome; talvez pelos traumas e pela violência, eu não tinha percebido isso. Aquele pão estava seco, endurecido, e faltava um pouco de sal, mas estava delicioso.

Yian ficou ao meu lado. Eu conseguia sentir sua respiração no meu ombro, evidenciando que ele estava olhando para mim. Ele não parou de olhar para meu rosto, nem por um segundo, e eu teria ficado envergonhado se não estivesse tão escuro.

Quando eu terminei de comer, meio satisfeito, decidi conversar um pouco. Mas, quando abri a boca para perguntar “por que você quebrou o silêncio e perguntou se um novo garoto estava vindo?”, ouvimos um som. Foi um som diferente, distante, como um toque de celular. Eu estava tão desconexo e desatento que nem percebi que era uma campainha.

O novo garoto havia chegado, o que significava que um de nós ia morrer.


Notas Finais


O próximo capítulo sai na próxima quarta-feira (dia 28). Todos os capítulos da segunda parte serão postados até o dia 31.


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