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História Olhar da Serpente - Pagamento


Escrita por: UnicornSilver

Notas do Autor


Respirando fundo aqui... Desejo à todos uma boa leitura!

Capítulo 96 - Pagamento


Em alguma montanha de uma longínqua província chinesa, debaixo de forte vento, Alek e Victoria continuavam sua busca, caminhavam pelos campos abertos, até que Alek percebeu a aproximação do crepúsculo.

— Vamos ter que parar Victoria. – disse ele com um suspiro forte, fincando seu cajado na terra dura.

— Mas já?... Mal começamos... – Victoria chegou ao lado dele.

— Não vai adiantar continuar agora, e à noite que não conseguiremos achar nada... – Alek retrucou com firmeza – Vou montar a barraca aqui mesmo, não tem muito vento.

Vendo o sogro retirar a barraca de sua mochila e começar a armá-la, Victoria se afastou um pouco e apanhou algumas pedras.

— Vou fazer uma fogueira – ela disse e ele concordou com a cabeça.

Enquanto os dois trabalhavam na armação do acampamento, o silêncio palpável somente era quebrado pelo som do vento que passava entre as montanhas e a floresta com poucas árvores.

Victoria rapidamente preparou a fogueira, pendurou um caldeirão sobre ela a fim de esquentar a comida que Alek havia trazido e também arrumou um pouco de água em uma chaleira para o chá. A noite prometia ser bem fria e eles precisariam estar bem aquecidos.

A barraca armada por Alek tinha tudo que precisavam para uma estadia breve, porém confortável o suficiente para servir de moradia. Logo na entrada havia uma mesa com duas cadeiras e um pequeno fogão para aquecerem o chá. Os quartos de dormir eram separados e em lados opostos e cada um tinha um espaço reservado para banheiro com água corrente e quente.

Alek ajudou Victoria a terminar o jantar e ambos comeram em silêncio dentro da tenda aquecida magicamente, tendo o som do forte vento frio lá fora. Estavam absortos em seus próprios pensamentos e, apesar de estarem um pouco constrangidos um com o outro devido à situação de terem que pernoitar juntos e no meio do nada, não se mostravam abalados e sim com um sentimento de esperança muito forte.

Ao servir o chá após o jantar, Victoria resolveu quebrar o silêncio:

— Eu preciso me desculpar com o senhor... – ela começou tímida.

— E por quê? – Alek perguntou pegando a caneca que Victoria lhe oferecia.

Victoria suspirou fundo e voltou a se sentar de frente para Alek antes de responder:

— Eu achei que essa maldição em minha mãe tivesse sido o senhor que houvesse rogado...

Alek sorriu tristemente e balançou a cabeça com os olhos baixos e com um forte suspiro esclareceu tudo sobre a maldição para Victoria que o escutava atenta e preocupada.

— E por que só agora essa maldição está se manifestando? – Victoria meneava a cabeça não querendo aceitar.

Alek sentiu um frio no estômago com a pergunta, afinal havia chegado a hora mais difícil que Caterina havia lhe confiado: Contar a verdade sobre a ida ao Castelo Lumaj para Victoria. E ele era a única pessoa que poderia fazer isso, pois Caterina nunca teria coragem de falar abertamente.

— Primeiro, eu gostaria que você entendesse o lado da sua mãe. Te peço que não a julgue precipitadamente, porque o que vou contar te envolve diretamente...  – Alek ele tomou fôlego e recomeçou: — Victoria, um pouco antes do seu casamento com Luka...

Victoria sentiu agonia, o coração palpitando e aquela sensação de formigamento que só a angústia consegue trazer ao ouvir todos os detalhes da ida ao Castelo Lumaj sob o ponto de vista do seu sogro. E ao fim da história, ela se levantou e começou a andar pela tenda muito nervosa e chorosa. 

— Ela não podia fazer isso! Ela não podia... – Victoria voltou a se sentar e explodiu num choro nervoso. Alek a observou sentido, compreendendo todo o desespero dela.

— Eu entendo o que está sentindo, mas não sinta raiva da sua mãe. Ela não precisa disso agora... – Alek suplicou com suavidade tentando acalmar Victoria que chorava desconsolada cobrindo o rosto com as mãos.

— E o que estamos fazendo aqui então? – Victoria se levantou subitamente e apontando em volta continuou: — Tudo isso aqui não está servindo de nada? O senhor está me iludindo?

Alek balançou a cabeça, desanimado:

— Não deve perder a esperança. Se conseguirmos encontrar a flor rapidamente e você conseguir extrair sua essência para acrescentarmos na poção revigorante, acredito que conseguiremos retardar em bastante tempo toda a maldição e sua mãe poderá voltar para casa totalmente recuperada. Mas, você tem que entender que Caterina está condenada, ela se condenou e ninguém pode escolher por ela, Victoria...

— Ela fez algo impensado! – Victoria rebateu aos berros e se levantou novamente passando a andar pela tenda nervosamente: — Não mediu as conseqüências...

— Ela sabe melhor do que ninguém das consequências! – Alek devolveu igualmente irritado fazendo Victoria parar e olhar para ele em espanto — Ela não foi iludida como você deve pensar, ela não é ingênua! Ela tem total conhecimento do preço alto que se propôs a pagar! E eu te disse para não julgá-la! – Alek se levantou zangado encarando Victoria – Faça o favor de se concentrar nessa busca, Victoria! Preciso que você fique com a cabeça no lugar. Sei que é difícil para você, mas se quer retardar a maldição, fique fria. O mal está feito por escolha única e exclusiva de Caterina, e você e nem ninguém poderá reverter. Somente o meu pai tem o poder de retirar a maldição e com isso não podemos contar!

Alek andou alguns passos em direção ao seu quarto improvisado quando percebeu que Victoria não saía do lugar e continuava observando-o espantada:

—Temos que deitar cedo. Quero levantar acampamento ainda na madrugada e preciso de você descansada. Vá dormir, Victoria.

Só quando Alek saiu das vistas de Victoria é que ela foi para o seu quarto, fez rapidamente sua higiene e se deitou em sua cama, tendo apenas a companhia de um lampião de óleo aceso e sua mente estava um rebuliço.

Do outro lado da tenda, Alek também não dormia. Estava sentado na sua cama preparando a poção para findar sua dor. A dor do seu pacto. Ele tinha consciência que Caterina nunca sentira essa dor, já que ele tomou para si no momento do pacto em seu casamento. A dor era o seu pesado fardo de ficar longe da sua amada. A poção era tão forte que ele nunca conseguia terminar a dose simplesmente porque desabava na cama em máxima exaustão, adormecendo imediatamente, com pressa para sonhar livremente com Caterina, porque nos sonhos ela era inteiramente sua e ambos sempre eram jovens e apaixonados.

Horas mais tarde, Victoria foi despertada por Alek pouco antes do amanhecer. Tomaram café rapidamente, quietos, sem sequer mencionar a discussão que tiveram. Depois, cada um foi arrumar suas coisas e juntos desarmaram a barraca e seguiram um longo caminho a pé entre as pastagens e arbustos de montanha. Alek carregava seu cajado mágico, extremamente sensível a qualquer sinal de algo raro e em dado momento ele sentiu seu cajado vibrar em meio ao enorme campo florido das mais diversas espécies.

— Victoria! – ele a chamou para se aproximar às primeiras vibrações do cajado – Tem por aqui! Estamos perto!

Victoria assentiu e começou a procurar com mais cuidado entre os mais diferentes arbustos de roseiras. Alek, do lado oposto a Victoria, também procurava entre as várias flores, aquela que seria o “Graal” das flores. A busca de ambos era frenética, mas Victoria aguçou seu sexto sentido parando bruscamente, fechou os olhos e respirou fundo virando para determinada direção. Ela começou a caminhar e abriu os olhos, constatando que no centro daquela paisagem havia o que parecia ser uma roseira vermelha.  Sem alardear, ela se aproximou devagar do arbusto florido e tomou delicadamente uma flor em sua mão. Seu coração bateu descompassado e com pressa ela tirou um pedaço de pergaminho do bolso da sua calça contendo a imagem da flor verdadeira e comparou.

— Sr. Lumaj! – a face de Victoria se alegrou, fazendo Alek se virar para ela: — Eu acho que encontrei!

Alek correu junto a ela e sua face também se iluminou.

— O que acha? – Victoria apontou a flor, que era perfeita de um vermelho escarlate, como sangue, cuja cor chamou muito a atenção de ambos, pois essa sua propriedade era diretamente ligada onde ela curava ou envenenava.

Alek sentiu seu cajado vibrar mais ainda, mas precisava da prova cabal: Seu olfato apuradíssimo aliado à sua análise visual extremamente experiente para confirmar a suspeita de Victoria.

— Você achou Victoria, é esta flor... – ele disse abrindo um largo sorriso – Precisaremos transportar com muito cuidado.

— Isso eu sei fazer – Victoria sorriu muito feliz já se adiantando a fim de executar o trabalho.

Alek também sabia e por isso ajudava Victoria na colheita das flores e na sua conservação para o transporte que seria rápido, já que poderiam desaparatar dali.

* * * *

Fresbo e Snape haviam preparado o laboratório para a vinda de Victoria e Alek e diante disso não aceitou mais nenhuma encomenda de poções. Todos os ingredientes para a poção revigorante já estavam separados e à mão somente à espera do extrato da rara flor. Tudo estava encaminhado, mas o tempo poderia ser o inimigo se demorassem demais.

Não aguentando a ansiedade, Snape foi visitar Caterina que estava bem pior e dormia praticamente o tempo todo. Com as lembranças do que vira na penseira, ele chegou junto ao leito dela e não sabia o que dizer ao encontrá-la acordada precisamente naquele instante.

— Você viu? – ela perguntou com uma voz fraca vendo Snape confirmar com a cabeça – Você me perdoa? – ela pediu em lágrimas.

Snape se abaixou e tomou a mão dela que continuava fria e ossuda, notando que a pele antes branca como leite, estava com uma cor esquisita que ele não soube definir.

— Caterina... – ele suspirou acariciando o rosto dela, vendo o quanto ela estava em expectativa com a resposta dele e assim ele sentiu seu peito se oprimir — E você? Você já se perdoou? É isso que importa...

— Severo... – ela era suplicante – Por favor...

Snape suspirou novamente e não conseguia encarar aqueles olhos castanhos já tão encovados pelo envelhecimento precoce decorrente da maldição.

— Eu sempre vou te perdoar... – ele disse devagar vendo o semblante dela desanuviar.

— Eu não vou conseguir... – ela disse resignada, desviando do olhar dele por um momento.

— Você vai. Você é forte. Sempre foi – Snape falou mais firme vendo Caterina acenar a cabeça em negativo, devagar.

Num esforço, Caterina ergueu sua mão e acariciou muito levemente o rosto de Snape que fechou os olhos sentindo a delicadeza daquele toque.

— Aceite Luka... – ela pediu e ele abriu os olhos, estranhando o inusitado pedido — Ele ama Vicky de verdade... Nós não perdemos uma filha, mas ganhamos um filho. Se lembre sempre disso...

— Eu sei... – ele por fim admitiu com sinceridade e tomando a mão de Caterina, a beijou no dorso descarnado.

— Eu te amo... – ela disse baixinho e apertou a mão dele.

— Eu também te amo, Caterina... – Snape sorriu para ela, mas a tristeza gritava dentro do seu íntimo ao sentir a mão dela afrouxar o aperto e vendo-a fechar os olhos devagar.

* * * *

Caterina se sentia esgotada e repentinamente se viu caminhando por onde parecia ser a floresta escura da Albânia no entorno do castelo.

“Eles acharam a flor!”

Caterina ouviu a voz cavernosa do seu sogro por todo o ambiente e bruscamente parou procurando por ele, em vão.

“Mas esta é a hora do pagamento, Caterina! Teu tempo acabaste!” – a voz continuava.

A gargalhada familiar ecoou nos ouvidos de Caterina que continuava procurando por Nikolai Lumaj.

“Hora de partir!”

Caterina voltou a se virar de frente e foi então que viu a verdadeira face do seu sogro: um homem alto de aparência reptiliana surgiu gargalhando ensandecido seguido logo atrás de um enorme dragão negro que voava um pouco acima dele, cujo animal era o símbolo dos Lumaj, e assim Caterina teve consciência do seu corpo e de onde estava. Ela vestia um longo e discreto vestido branco, pronta para um sacrifício que seria realizado em um altar que aparecera repentinamente. Ela então aceitou seu destino e se ajoelhou aguardando enquanto o verdadeiro espectro de Nikolai Lumaj lhe estendia a mão de longas unhas negras.

“Caterina!”

No momento em que ela deu sua mão para Lumaj, se virou para trás ao ouvir a voz de Snape a chamá-la ao longe, seus olhos se encheram d’água, pois não conseguia vê-lo, simplesmente porque ele estava do outro lado da vida. Lumaj sorria na sua forma de dragão, cuja expressão era terrivelmente maléfica se divertindo da hesitação de Caterina.

— Caterina! Não! Caterina!– Snape berrava sem parar para ela, tentando acordá-la, chamando a atenção da equipe medibruxa que correu em direção aos gritos.

— Adeus, meu amor... – ela disse baixinho ao mesmo tempo em que continuava ouvindo Snape em desespero. Ela se voltou para Lumaj e se deixou ser conduzida por ele em direção ao altar.

A mão de Caterina soltou a mão de Snape de vez e um medibruxo conseguiu puxá-lo para longe dela, não sem antes de ele poder ver o último suspiro dela e mais lágrimas descendo por aqueles olhos cerrados para sempre. 

O Dr. Stevenson ordenou aos gritos para que todo o setor da enfermaria fosse fechado e isolado, pois tudo estava impregnado da mais densa e brutal magia negra que exalava do corpo inerte de Caterina e que a grande maioria ali nunca havia presenciado anteriormente.

Sem conseguir conter a força da magia de expulsão dos medibruxos, Snape foi lançado para fora do local e não conseguiu ver mais nada do que acontecia naquela sala, tendo a pronta ajuda para se levantar de outras enfermeiras que correram em direção à ele que fez um gesto sinalizando que estava bem. Assim que se levantou, ficou paralisado por magia e desesperado porque tentava ver o que acontecia na sala lacrada. Sua expressão era puro sofrimento e no seu íntimo pedia fervorosamente para que o frágil corpo de Caterina não se destruísse com toda aquela poderosa magia trevosa que dela irradiava.

* * * *

Victoria e Alek haviam chegado há algum tempo no laboratório da casa de Snape e foram prontamente avisados por Fresbo que Snape estava no hospital e, diante da informação, resolveram iniciar o preparo do elixir sem ele. Passadas algumas horas, quando Victoria começava extrair a essência de algumas flores e Alek já dava andamento no preparo da poção revigorante, ela viu seu sogro se interromper bruscamente, ficar cambaleante e levar à mão ao próprio peito com uma palidez notável.

— Sr. Lumaj! – Victoria largou o que estava fazendo e o amparou até uma cadeira próxima.

Ele se sentou com dificuldade ainda sendo apoiado por Victoria que o encarava muito assustada.

— Caterina... – ele levantou o olhar com muitas lágrimas para Victoria que imediatamente entendeu tudo e assim o largou – Ela... Ela se foi! Está tudo acabado!

— Não!... – Victoria sentiu seu peito explodir vendo o sogro acenar em afirmativo com a cabeça – Não pode ser!

Victoria desabou de joelhos no chão em um pranto convulsivo e então Alek lhe afagou os cabelos, fechando os olhos ao mesmo tempo com o rosto banhado em lágrimas e cerrando os dentes para aguentar sua própria dor.


Notas Finais


;))


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