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História Olhares na Escola - Desejo Secreto - Fernando


Escrita por: WilkensOficial

Notas do Autor


Quem leu a versão original de OnE deve lembrar de como Nando é apresentado na história. Nesta versão, que eu considero ser a definitiva, fiz algumas alterações na personalidade dele que acredito que vocês perceberão e aos que não conheceram a narrativa anteriormente, espero que estejam gostando.

Aliás, quero agradecer as mensagens que recebi no decorrer da semana de algumas pessoas pedindo novo capítulo.
Espero que gostem. Boa leitura.


<3

Capítulo 13 - Fernando


Na escola, Bruno voltou para seu antigo lugar do outro lado da sala e não conversávamos mais do que o básico. Ele continuava me olhando às vezes, não com tanta frequência. Parecia que ele, como eu, estava tentando evitar os olhares.

Assim, se passaram cerca de três meses. Foi como se tivéssemos esquecido tudo o que aconteceu. Nesse tempo, ninguém tocava no assunto. Sempre que ficávamos em algum lugar sozinhos, rolava um clima, nós dois ficávamos tímidos, mas nada nunca acontecia. Às vezes parecia que tudo iria se resolver. Eu tinha fortes esperanças, mas nossos orgulhos não deixavam que nos aproximássemos.

Era o último dia de aula do semestre e teríamos pouco mais de duas semanas de férias. Eu não estava muito animado. Eu sabia que não veria Bruno uma só vez durante as férias e sabia também que nem eu e nem ele falaria com o outro pela internet. Seriam longas semanas. Bateu o sinal e Bruno se aproximava enquanto todos se despediam fazendo festa.

- Só queria me despedir. – Disse ele me dando um abraço. Olhei com uma cara de quem não estava entendendo.

- São só duas semanas, passa rápido e você sabe onde é minha casa. – Foi como se ele tivesse lido meus pensamentos, mas eu não queria transparecer que aquelas seriam as semanas mais duras que já tive.

- Bom, ham… eu vou voltar para o meu antigo colégio.

- Hum. – Tentei parecer não ligar, mas a palavra soou extremamente preocupada. Fui pego de surpresa. – Mas, assim do nada? Por quê?

- Meu pai sempre preferiu lá. Ele estudou naquela escola a vida toda e agora que… que eu voltei com… com a Gabriela, ele acha que não tem mais motivos pra eu continuar aqui. – O quê? Ele voltou com a menina? Mesmo depois de tudo que ele me falou? Ele só podia estar fazendo isso pra se vingar de mim por não ter procurado ele.

- Legal. Não sabia que tinham voltado. Felicidades pra vocês. – Sou muito falso quando preciso.

- É, voltamos tem alguns dias. Ela tá diferente ultimamente. Acho que ficou “namorável”.

- Que bom. Vou correr pra esperar a van, tchau.

- Espera! Eu te acompanho.

- Não. Eu tô atrasado, tenho que correr.

Saí correndo tentando limpar as lágrimas. Não sabia se era de tristeza ou de raiva. Passei no bebedor bem rápido e joguei um pouco de água na cara pra ninguém perceber. Por sorte a van estava no semáforo de trás e deu para entrar bem na hora sem ter que conversar com Rafa.

Cheguei em casa e caí na cama de tanto chorar, devo até ter ficado com depressão por uma semana. Não saía, comia mal, não tinha ânimo pra nada e vivia suspirando pela casa sentindo um vazio impreenchível dentro de mim. Incrível como sempre ouvia falar desse vazio, mas não imaginava que realmente desse pra senti-lo.

- Leandro, por que você, em vez de ficar deprimido aí pelos cantos não vai estudar? – Tudo pra minha mãe era estudar. Se ela me ouvia rindo de um filme, eu estava perdendo o tempo que poderia estar estudando, se eu vou ao cinema, também deveria estar estudando, se estou deprimido também tenho que estudar.

- Dá um tempo, mãe!

- Você fica aí perdido sem o que fazer, vai ocupar sua mente com alguma coisa produtiva.

- Mãe. Posso ir acampar no clube? Sozinho? Levo uns livros pra passar o tempo.

- Me engana que eu gosto. Até parece que você vai sozinho.

- Tô te falando. O Rafa viajou e ele é o único sócio de lá que eu conheço. – Eu realmente pretendia ir sozinho. Ficar um tempo sem minha mãe falando na minha cabeça e brigando com o meu pai sempre me relaxava. Às vezes é bom ficar em um lugar pensando, sem ninguém te paparicando ou discutindo com você.

Consegui convencê-la.

Ela me levou, montei minha barraca, preparado para perder o restinho de férias que eu tinha sozinho com a minha imaginação. Já experiente, montei minha barraca debaixo da maior árvore. Acho que nenhuma hora do dia o sol batia ali. Estava bem vazio, pois era dia de semana e as férias eram apenas para alunos. Não levei muitas coisas para comer. Minha mãe me deu dinheiro e eu comeria a comida do restaurante. Era a coisa mais famosa do clube. Além de ser barata.

Aproveitei o sol para nadar sozinho na piscina. Adorava o clube vazio, me sentia dono de tudo aquilo, como se pudesse ser quem eu sou: falar sozinho, gritar, pular na água…

O sol estava se pondo, mas estava muito calor. Estava ficando aquele escurinho gostoso, com pássaros gritando e um cheiro indescritível. A felicidade voltou. Eu não tinha que provar nada a ninguém, não tinha que ser alguém que eu não era, não tinha que aguentar discussões.

Coloquei algumas cadeiras de tomar sol na beira da piscina e fiquei brincando de tentar pulá-las, indo de finca na piscina. Quase morri de vergonha quando percebi que não estava sozinho. Em outra cadeira de sol, havia um menino. De longe e sem os óculos que eu mal usava para miopia, eu não vi mais que um menino de short e óculos escuros deitado. Não tinha ideia se ele estava me olhando ou roncando, mas voltei as cadeiras para seus lugares e mergulhei. Não queria sair de baixo, envergonhado, então fiquei boiando só com o nariz para fora da água, de olhos fechados. Eu quase podia dormir ali. A água estava extremamente calma e não ventava, mantendo uma temperatura boa. Nem sei quanto tempo fiquei assim. Dez, vinte minutos, sei lá.

Senti a água tremer, tapando meu nariz. Não sai da posição, Se saísse sentiria frio. Senti uma mão levantar minha cabeça rapidamente. Abri os olhos e me pus de pé. Era o tal menino, agora sem os óculos. Seus olhos eram da cor da piscina e me olhavam aliviados.

- Nossa, cara, você me assustou! Você tá bem? – Ele disse, segurando meu braço.

- Ham… Eu tô e você? O que é que aconteceu, meu Deus? – Eu falei não entendendo nada. Ele era mais louco que eu, só pode.

- É que você tava aí parado, não fazendo nada. Eu fiquei olhando pra ver se você mexia, mas nada! Pensei que você tivesse morto, sei lá. Foi mal, mas você tava estranho. – Ele dizia, menos preocupado, meio envergonhado também. Enquanto ele falava, reparei que ele era bem bonitinho. Cabelo com cachinhos bem macios, mesclado entre castanho bem escuro e castanho bem clarinho. Formato do rosto forte, queixo definido, sobrancelhas grossas e bem negras, pele morena de sol e um sorriso com lábios vermelhos e dentes quadradinhos bem branquinhos. Apesar dos traços fortes, tinha cara de ser mais novo que eu. Tinha um corpinho legal. Não uma barriguinha de tanquinho, mas era bem sexy, um peitoral malhado e braços grossos.

Rimos bastante quando ele se acalmou um pouco, relembrando a história.

- Mas e aí, você tá em qual quarto? – Ele tinha uma voz linda. Eu podia ficar ouvindo-o falar por dias. Era uma voz de menino, que indicavam ainda mais sua juventude.

- Não. Eu tô acampando. Você tá no hotel?

- Tô sim… Minha mãe odeia acampar, na verdade ela odeia quase tudo que é legal de fazer!

- Ah tá… Vocês são de onde?

- Morávamos em Orégano até o começo do ano e nos mudamos pra cá tem poucos meses.

- Uau! Orégano fica do outro lado do país! Porque vieram pra tão longe? Não me diga que mora do hotel.

- Meu pai é militar e ele teve que mudar de base e então aqui estamos nós. Viemos pra esse hotel porque minha mãe brigou feio com meu pai e resolveu vir comigo e minha irmãzinha pra cá. – Ele parecia ser tão inocente me contando isso.

- Eu sei como é isso. Meus pais brigam o dia inteiro, mas nenhum sai de casa, mesmo ameaçando o dia todo.

- Ah eu até gosto quando eles brigam. Hoje pode ter sido aqui, mas em outra briga a gente foi lá pra cidade de Novo Progresso!

- Novo Progresso?! Aposto que você deve ficar provocando as brigas só pra viajar né safado? – Não sei por que, eu já estava falando com ele como se estivesse conversando com uma criança, mesmo ele sendo mais alto e mais maduro que eu.

Ele riu lindamente, mostrando aqueles dentes retinhos alinhados perfeitamente.

- Quantos anos você tem? – Perguntei curioso.

- Quinze.

- QUINZE?

- Sim, pareço mais velho? – disse exibindo seu sorriso quase que de propósito – você tá acampando com quem?

- Sozinho. Lá em casa tá um clima depressivo que nem Deus aguenta!

- Queria ter vindo sozinho pra cá também, mas tá longe de a minha mãe deixar!

- Ah, minha mãe deixa essas coisas de boa, mas vem cá, qual seu nome mesmo? – Me lembrei que depois de muita conversa, ainda não sabia seu nome.

- Fernando, mas pode chamar de Nando, ou Fê, sei lá. E você? – Eu já estava acostumando com apelidos, mas eu teria que fazer uma forcinha pra conseguir chamá-lo assim.

- Leandro.

- Vou te chamar de Lê. Posso? – concordei.

- Por que você não acampa também enquanto sua mãe fica lá no hotel?

- Não tenho barraca. – Ele me olhou como se pedisse algo. Eu entendi a mensagem.

- Bom, a minha é pra quatro pessoas.

- Mas eu não tenho camisinha. Você não tem AIDS ou MLC, né? – Eu o olhei com uma cara totalmente incrédula e espantada.

- O que é MLC? – Nando arregalou os olhos e se aproximou, fazendo um ar de mistério.

- MLC é a sigla para Morbus Lenvectus, também conhecida como A Praga do Século.

- Nunca ouvi falar!

- Não é pra tanto. O governo tem escondido a verdade das pessoas. Dizem que não há motivo para pânico, mas há quem duvide.

- Hum… acho que você anda lendo sobre muitas teorias de conspiração isso sim! – falei revirando os olhos.

- Admito que sou meio fascinado por teorias malucas e coisas estranhas, mas sempre existe um fundo real em toda história contada.

- Pode ser, mas você tá sendo muito radical, ou talvez eu é que nunca tenha me interessado em aprender sobre nada mesmo. Mas, me diz, no que mais você acredita?

- Eu acredito em mundos paralelos. – ele pigarreou e vez um olhar de sábio – Meu avô era meio maluco também e acho que puxei isso dele. Ele dizia que nosso mundo é só o reflexo de outro quase igual, mas ao mesmo tempo completamente diferente… é como se fossem vários universos dentro de um só. Ele também acreditava que o país de Hoffenheim era dominado por espirilos malignos que causariam nossa ruína muito em breve.

- O máximo que meu avô fazia era me contar histórias sobre o Velho do Saco. – falei entre risos.

- Quando você perceber, estaremos todos condenados, mas me conta… você tem DST né? – fiquei sério olhando para ele e senti um forte arrepio pelo corpo, me afastei dele disfarçadamente com dois passos para trás.

- Eu tô brincando cara, relaxa! Não precisa ficar com medo de mim, mas falando sério, a MLC é uma nova lenda urbana que eu achei na internet um dia desses. É bem interessante, daria um ótimo livro.

- Ou quem sabe um filme de ficção científica. – Completei.

- Só vale se tiver zumbis! – disse Nando. Rimos muito com isso. Fiquei até meio envergonhado de ter demonstrado medo.

- Eu vou pedir pra minha mãe e já aproveito pra pegar minhas coisas, espera aqui.

- Vai lá!

Ele pegou sua toalha que estava na cadeira, seus óculos escuros e foi em direção ao hotel. Sentei-me no toboágua desligado.

Pensei no que tinha feito.

Chamei um menino que mal conhecia pra dormir na minha barraca… e um menino lindo! Eu devia estar muito carente mesmo.

- Voltei! Minha mãe deixou. Nem acreditei. – Ele veio correndo com a mochila nas costas e me puxando para o camping.

- Massa. Vamos colocar as coisas lá então.

- Tá, mas antes, me diz uma coisa. O que você faz pra ficar com a barriga assim? – Ele disse, apalpando minha barriga.

- Ah, eu adoro abdominal. É o único exercício que me relaxa.

- Bom, então funciona. – Deixamos as coisas dele na barraca e voltamos para a piscina.

- A gente podia virar a noite na piscina né?

- Pode ser.

- Você bebe? Tipo, sua mãe te deixa beber?

- Minha mãe não me deixa beber, mas tomo uma cerveja de vez em quando, por quê? – Ele parecia ser tão criança e ao mesmo tempo tão maduro. Isso me encantava de certa forma.

Eu não me sentia tão inútil perto dele, como me sentia perto de Bruno, que sempre queria me defender de tudo como se eu fosse um bebezinho. Bruno me fazia sentir seguro, mas impossibilitado de assegurar alguém.

- Deixa pra lá. Sou muito má influência pra você.

- Não sou um bebê. Diz aí sua ideia. – Lembrei de como me sentia com Bruno me protegendo sempre.

- Tudo bem. Meu plano macabro é o seguinte: A gente faz amizade com alguém aqui e pede pra ele comprar doses de vodca pra gente.

- Mas o clube tá vazio!

- A gente pede pra algum funcionário. Olha aquele cara ali. – Apontei com os olhos para um faxineiro que limpava uma área do clube. Nando conversou com ele e não foi difícil o cara nos contar toda sua vida. Pedimos o favor. Ele aceitou de bom grado e ainda parecia grato pela conversa. A vodca era bem barata, como quase tudo que se vendia lá. Era um copo cheio com apenas duas pedrinhas de gelo. Aquilo me deixaria louco pela noite toda. Tomamos enquanto conversávamos na piscina, devia ser quase meia noite.

Fernando me contou sua vida praticamente toda, e eu fiquei na minha apenas ouvindo, exceto uma ou duas vezes em que deixei escapar o nome de Bruno e ele ficou me olhando meio apreensivo, com certeza imaginando mil e uma coisas.

 


Notas Finais




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