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História Olimpo - Terceiro Desafio de Perseu - Parte 1


Escrita por: plutoniana

Notas do Autor


Hey, olha eu aqui antes de quinta, kkkk.

Boa leitura!

Capítulo 16 - Terceiro Desafio de Perseu - Parte 1


Sasuke

Sakura e eu sempre fomos muito amigos quando crianças. Vivíamos juntos pra cima e pra baixo desde sempre, afinal, nossas mães eram grandes amigas e éramos vizinhos um do outro. O apartamento dela ficava em frente ao meu, e como nascemos no mesmo ano, foi natural nossas mães terem nos criado praticamente juntos, além claro, de convivermos com Itachi na época, mas como ele era cinco anos mais velho, acabava não tendo mais interesse nas mesmas brincadeiras que nós.  

Entretanto, tinha algo nela que sempre me irritou, claro. Na maior parte do tempo, eu tinha a sensação de que tinha que agir como seu irmão mais velho.

Ela sempre foi desastrada. Não sabia correr, não sabia pular corda, não tinha força para brincar de cabo de guerra, então era um saco estar com ela quando brincávamos com as outras crianças. Além disso, toda vez que ela se machucava — e isso acontecia com frequência —, quem tinha que aguentar o choro e levá-la para casa era eu, mesmo sabendo que ainda levaria bronca por não estar tomando conta dela direito. 

Era um saco brincar com Sakura porque ela não tinha habilidade nenhuma. Era muito inteligente sim, isso eu não posso negar. Mas tirando a cabeça, ela não sabia fazer mais nada. 

#

Enquanto Temari, Deidara e Kiba iam contando como fora a Provação de Hércules nas ruínas da cidade, Naruto ia examinando os dois garotos para checar qual o problema em suas pernas, afinal, se jogar do segundo andar com certeza trouxe consequências, e a dor deles só comprovava isso. 

— Preciso de hortelã. — o loiro disse para Suigetsu enquanto inspecionava a perna de Deidara, sentado em cima do balcão. — Ainda tem na despensa? 

— Vou checar. — o representante de Dionísio disse indo ali. 

— Quebrei alguma coisa? — Deidara perguntou meio nervoso. Estava sentindo muita dor ainda em sua perna esquerda. 

— Se tivesse quebrado, estaria rolando no chão de tanta dor. — Naruto lhe assegurou, o encarando. — Torceu o tornozelo, mas relaxa. Vou fazer uma pomada para ajudar com isso. — ele disse enquanto já ia separando ataduras para enfaixar o pé dele. 

Enquanto Temari e Kiba iam dando detalhes sobre o edifício em chamas e todo mundo prestava atenção, ali reunidos na cozinha, Suigetsu voltou com uma careta de preocupação. 

— Acabou, eu acho. Devem ter feito chá. — ele os informou. 

— Merda. — Naruto xingou e se afastou, indo olhar pela janela e vendo que o sol já estava se pondo. — Então só vamos passar o remédio em vocês amanhã. Não dá mais pra ir na floresta buscar folhas de hortelã. 

— O quê? — Kiba arregalou os olhos. — Mas isso não vão nos prejudicar ou coisa assim?

— Acho que você aguenta uma noite sem uma pomadinha. — Sakura retrucou em tom de deboche. 

— Não precisa desse alarde todo, você só distendeu um músculo. — Naruto acrescentou fazendo careta pra ele. — Vai ficar bom mais rápido que o Deidara, eu garanto. 

— Além disso, vocês vão pro Chalé de Orfeu. Não vão participar da prova de amanhã. — disse Temari. 

— Gostou, Deidara? Vai voltar pro seu cantinho favorito desse lugar. — Suigetsu debochou e levou um soco nas costas logo em seguida. 

— Quer realmente me provocar agora? — Deidara rosnou, irritado pela dor e por saber que iria passar frio mais algumas noites. 

— Eu tava brincando. — Suigetsu disse enquanto ria e ao mesmo tempo gemia de dor. 

Sasuke ficou observando do sofá enquanto Sakura ajudava Naruto a enfaixar o tornozelo de seu companheiro de equipe e ria das piadas de Suigetsu e Gaara, que continuavam provocando Deidara de uma distância segura. 

O rapaz queria muito uma oportunidade de pegá-la sozinha para avisá-la sobre a merda que estava se formando ao redor deles, porém sempre havia um daqueles quatro garotos ao seu redor. E ele tinha que alertá-la o mais rápido possível, para que ela conseguisse se preparar. 

Só porque ele não conseguia pensar em um plano bom para salvá-la, não significasse que não houvesse outra alternativa. Sakura com certeza iria pensar em alguma coisa que destruísse a estratégia que tinha sido criada por ele, porém que estava sendo usada pelo resto da casa agora. 

— Meu pai costumava cantar cantigas da Grécia Antiga para mim, quando estava mal. — Sakura comentou enquanto ajudava Naruto a tratar o tornozelo de Deidara. 

— Sério? Tipo aquelas falando sobre os deuses? — Suigetsu ficou surpreso. 

— Exatamente. — ela concordou animada e nostálgica. — Sempre conseguia me botar pra cima e me fazer esquecer as coisas ruins. 

— Quer que eu cante pra você? — Suigetsu perguntou com um sorriso malicioso e desviou de outro soco de Deidara. 

Quando Naruto terminou de enfaixar seu tornozelo torcido, ele e os outros rapazes foram ajudá-lo a levar suas coisas pro Chalé de Orfeu, junto com Kiba. Sasuke decidiu ajudar Sasori no preparo do jantar enquanto isso, tentando raciocinar alguma coisa que pudesse fazer para salvar Sakura. 

A representante de Atena pegou sua toalha e decidiu ir tomar banho, tentando esfriar a cabeça enquanto pensava sobre as alternativas a serem seguidas agora que a Caixa de Pandora pertencia à equipe Cérbero e Deidara e Kiba estavam no Chalé de Orfeu. 

No quarto, Ino e Shikamaru estavam conversando sobre seus planos agora que Kiba estava no Chalé de Orfeu, porém a cama deles ficava no canto do quarto então era difícil escutá-los, e além disso, não estavam realmente preocupados porque sabiam que Kiba pertencia à uma tribo forte do lado de fora do reality — e afinal, ele ajudou a eliminar Neji —, então com certeza não corria risco de sair, seja lá com quem fosse para a votação. 

Porém a conversa mais interessante do quarto naquele momento era a de Karin e Temari. 

— Segunda vez que ganhamos. — a ruiva cantarolou animada enquanto colocava a urna debaixo da cama que ela e a loira dividiam. — Espero que seja mais útil que a da semana anterior. 

— Vai ser sim, tenha fé. — Temari disse enquanto separava roupas para levar para o banheiro, já que iria tomar um banho assim que o chuveiro desocupasse. — Aliás, dependendo do resultado de amanhã, com certeza vai dar certo colocar três da Quimera no próximo Coliseu. 

— Vocês já decidiram quem vão colocar? — Karin perguntou curiosa. 

— Já, decidimos naquele dia mesmo, lembra? — Temari a encarou. — Sakura, Naruto e Suigetsu. 

O sorriso da representante de Ártemis sumiu imediatamente. 

— O quê? — ela perguntou baixinho. — Por que vocês querem colocar esses três?

— Não é óbvio? — Temari retrucou. — Se tirarmos a Sakura, Quimera inteira vai se desestruturar. Aqueles garotos podem ser bons de prova, mas não são bons de estratégia. Será mais fácil atingi-los. 

— Mas se a Sakura for com Naruto e Suigetsu, ela vai sair. — Karin sibilou nervosa. 

— Exatamente. 

Karin não podia acreditar no que estava escutando. Sua mente começou a trabalhar rápido. 

— Ah, qual é, Karin? — Temari perguntou. — Não vai me dizer que está com pena dela?

— Não estou, mas… — a ruiva olhava de um lado para o outro. — Mas não podemos tirar outra pessoa? Podemos tirar o Naruto, ele é o mais forte deles. 

— Karin. — a participante de Ares a olhava de um jeito bem sério. — Isso aqui é um jogo. Esquece a Sakura porque até o Sasuke já desencanou dela. Ele que bolou o plano pra foder a equipe dela, lembra?

Uma fagulha se acendeu no interior de Karin quando ela se tocou disso. 

— É. — respondeu num tom baixo e sombrio. — Acabei de me recordar disso. 

— Pois é. Então esquece e vamos adiante. — Temari pegou sua toalha e saiu do quarto para ir ao banheiro, deixando Karin em pé diante da cama delas, pensativa e furiosa. 

A mente da ruiva estava um verdadeiro caos naquele momento, repleto de cenas de sua imaginação destruindo o maldito culpado de tudo, porém ela respirou fundo algumas vezes para voltar ao seu estado normal e mais controlado. 

Mentalizando Ártemis, Karin repetiu várias vezes para si mesma que sua deusa jamais deixaria homem algum tirá-la do sério, ou até mesmo exterminar suas companheiras. Até aquele momento, o jogo tinha sido dominado pelas mulheres. 

Ino. Sakura. Temari. Ela. 

Karin tinha entrado naquele jogo mentalizando que as mulheres seriam suas prioridades ali dentro, afinal, nunca antes o Olimpo teve uma campeã, apenas campeões homens. 

Ninguém entraria em seu caminho para eliminar as melhores jogadoras dali, nem mesmo seus próprios companheiros de equipe. Foda-se a Cérbero, o que importava era o final do show. 

Karin saiu marchando do quarto e foi até a cozinha, onde Sasori e Sasuke se encontravam. O moreno estava em frente à pia limpando tomates para fazer salada. 

Pelo canto do olho, ele conseguiu vê-la chegando, porém não foi rápido o suficiente para desviar do soco que ela deu em sua mandíbula, fazendo-o cair no chão atordoado. 

Ao lado do fogão, Sasori ficou boquiaberto vendo Sasuke cair sentado no chão, sem entender porra nenhuma. 

Na sala, Suigetsu, Naruto, Sai, Gaara e Hinata estavam boquiabertos, observando a cena. 

Karin não perdeu tempo e antes que o Uchiha pudesse fazer qualquer questionamento, ela agarrou o colarinho da camisa dele e puxou para que ficasse mais perto, seus rostos a centímetros um do outro. 

— Se ela sair, prepare-se para viver um inferno aqui dentro. — ela disse num tom tão baixinho que nem mesmo Sasori, ali ao lado, podia escutar. Sasuke arregalou os olhos, entendendo o que estava acontecendo. Karin estava falando baixo e num tom de voz que deixava a ameaça bastante explícita. Ele teria ficado com menos medo se ela estivesse gritando. — Se isso acontecer, eu vou caçar você, Sasuke. Isso é uma promessa, e quando chegar a hora… — sibilou de maneira bem ameaçadora. — Vamos descobrir se realmente é tão bom quando pensa que é para sobreviver à uma caçadora de Ártemis. 

Ela o largou ali e foi em direção à porta, para sair da casa principal. 

Chocada com a cena, Hinata foi atrás para tentar acalmá-la, já que Karin parecia prestes a explodir. Os garotos continuaram apenas olhando. 

Sasuke se levantou e respirou fundo enquanto colocava as mãos no balcão, sentindo seu rosto doendo pelo soco. 

— Deixa eu dar uma olhada. — Naruto disse vindo em sua direção, apontando para seu rosto. 

Sasuke o olhou, surpreso. 

— Não precisa, estou bem. — disse de maneira nervosa. 

Seria hipocrisia demais aceitar a ajuda de Naruto, já que o loiro nem sabia o porquê daquele soco. 

— Qual é? Não precisa se fazer de durão. — Naruto brincou. 

— Não quero sua ajuda. — Sasuke repetiu irritado e saiu em direção ao quarto, para se afastar daquela gente. 

Naruto ficou surpreso porque não esperava uma reação tão repelente do representante de Hades. Ele olhou pros outros garotos na sala, tão confusos quanto ele. 

Do lado de fora, Karin não parava de catar pedras no chão e ficar jogando nas árvores da margem da clareira, furiosa. 

— Karin, acalme-se. — Hinata estava atrás dela, tentando tranquilizá-la. — Você está estressada demais. 

— Como posso me acalmar sabendo que estão tentando tirar a mina que eu gosto? — Karin rosnou pra ela antes de jogar outro pedregulho na mata, acertando um dos galhos baixos em cheio. — Você sabia sobre o plano de ir Sakura, Naruto e Suigetsu?

Hinata arregalou os olhos. 

— O quê? Eles estão levando mesmo isso pra frente? — ela perguntou surpresa. 

— Sim. As duas equipes contra Quimera. — Karin grunhiu. — Que ódio!

— Mal troquei duas palavras com Ino desde a saída de Tenten. — Hinata começou a pensar rápido. — Que droga. Vão colocar meus amigos de novo. 

— Vai votar em qual deles?

— Em nenhum deles! — a morena respondeu irritada, se sentindo ofendida. — Já avisei que não voto em mais ninguém da Quimera. Deve ser por isso que minha equipe não comentou nada comigo. 

Karin não era idiota. Realmente queria que alguém da Quimera saísse para dar mais vantagem à sua equipe, porém não com Sakura no olho do furacão. 

— Tá bom. — a ruiva respirou fundo, se acalmando um pouco mais depois de expressar um pouco da sua raiva. — Tá bom, eu vou calcular. 

Ela foi até a margem do lago para catar conchinhas e visualizar melhor o jogo. Quando Hinata se tocou do que ela fazia, também foi lá para ajudar. As duas começaram a organizar tudo enquanto tentavam antecipar as jogadas de todos. 

— Não vai ter como ela escapar. — Hinata concluiu depois que elas mapearam todo o jogo da semana. — Se Shikamaru não mandá-la, a casa manda. Mesmo que nós duas e os cinco da Quimera votemos todos numa pessoa só, os votos vão empatar e com certeza Shikamaru vai mandá-la. Não tem saída. 

Karin queria realmente socar alguém. Enquanto olhava para todas as conchinhas organizadas no chão de terra, ela se tocou de outra coisa. 

— Espere, tem sim um jeito dela não ir. — ela disse e encarou Hinata. — O Atlas. 

— Atlas? — Hinata não entendeu. 

— O Desafio de Perseu com certeza será em homenagem ao Atlas amanhã. Se ela ganhar a prova, fica imune ao Coliseu. — a ruiva explicou.

Hinata compreendeu seu raciocínio. 

— Nada altera o Desafio de Perseu. — as duas falaram ao mesmo tempo uma das regras mais absolutas do jogo. 

— Mas acho que será impossível. — disse Hinata, preocupada. — Se realmente for ele, então vai ser uma puta prova de resistência. 

— Melhor ainda. Resistência não é só quem tem mais preparo físico. — Karin sorriu de lado. — É quem tem mais força mental. 

Dia 14 | Terceiro Desafio de Perseu

Todos foram dormir cedo, logo após o jantar ser servido, até porque já estavam sentindo sobre a prova de resistência que enfrentariam, então todos queriam estar preparados. 

Quando o sol nasceu, alguns se levantaram logo para forrar bem o estômago, como Sakura, que estava bastante ansiosa para o resultado daquela prova, já que todo o quarteto dependia do último colocado. Shikamaru e os outros armariam uma estratégia concreta a partir dali.

Ainda tinha gente acordando e se arrumando antes de realmente ir comer quando o sinal sonoro ecoou pelo acampamento, assustando todo mundo. Sakura tinha acabado de colocar sua caneca de leite vazia na pia quando deu um pulo de susto pelo sinal. Ela olhou para Naruto, que tinha acabado de sentar para comer um sanduíche, os dois chegando à mesma conclusão do que aquilo significava. 

Rapidamente, todos largaram o que estavam fazendo e correram para fora da casa. Suigetsu tinha acabado de levantar da cama, nem ao menos conseguiu ir ao banheiro. Ino terminou de se vestir às pressas e saiu correndo também. 

Quando todos saíram da casa principal, viram Deidara e Kiba na porta do Chalé de Orfeu, olhando para alguma coisa no lago. 

Kakashi estava em pé na plataforma de madeira do lago, segurando a corda do bote, aguardando por eles. 

Enquanto se aproximavam do apresentador, todos tomaram um susto ao olharem pro lago. 

Havia uma imensa jaula de ferro, repleta de correntes e algemas presas ao teto, postada em cima de uma plataforma flutuante de madeira, bem no meio do lago. 

— Caralho. — Gaara xingou. 

— Bom dia, olimpianos. Preparados para nossa primeira prova oficial de resistência da temporada? — Kakashi perguntou quando todos se aproximaram dele no píer. — Hora de encararem o Desafio de Perseu em homenagem ao temível Atlas. Dividam-se em dois grupos para irmos em duas viagens até lá — ele apontou para a jaula flutuante no centro do lago. 

Kakashi levou a primeira metade deles no bote. Sakura estava entre esses primeiros. Assim eles remaram e chegaram ao lado do flutuante no meio do lago, todos subiram ali e ficaram olhando a imensa jaula diante deles. Enquanto Kakashi voltava sozinho para buscar o resto, Sakura observou bastante o que havia no flutuante. 

Ao lado da jaula, havia um painel de metal com um cronômetro zerado, com números digitais brilhando em vermelho. A jaula realmente se encontrava vazia, exceto pelas algemas e correntes pendendo das grades do teto, mas pelo que Sakura notou, aquelas correntes estavam frouxas e não realmente presas, o que a fez se questionar como tudo funcionaria. 

Quando Kakashi chegou com o resto dos participantes, ele foi até a porta da jaula e a abriu, fazendo um sinal para que todos entrassem. Os mais altos tiveram se esquivar para não baterem as cabeças nas correntes penduradas. 

— Acredito que todos conheçam o castigo de Atlas. — Kakashi começou. — Nesta prova, vocês irão experimentar um pouco do que o titã vivencia todos os dias, enquanto cuida para que o céu não desabe sobre nossas cabeças. Eu vou algemar um a um nessas correntes acima de vocês. Como podem ver, as correntes não estão realmente presas ao teto, então o objetivo de vocês é simples: ficar com os braços estendidos pra cima o máximo possível. Quem baixar os braços, fará as correntes caíram no chão, e estará eliminado da prova. 

Parecia surpreendente simples, Ino concluiu. Ela tinha imaginado algo pior para uma prova de resistência de Atlas. 

— Quem sair primeiro irá enfrentar o Coliseu. O último que sair está imune. — Kakashi continuou enquanto faziam um sinal para todos se posicionarem embaixo da corrente que queriam ser presos. — Porém, há uma pequena regra que deverão seguir: só podem sair da prova depois de uma hora após a última pessoa ter saído. Se saírem antes desse tempo, estarão desclassificados, e obviamente tomarão o lugar de quem saiu primeiro. 

Algumas pessoas não entenderam exatamente o que isso queria dizer, mas antes que pudessem perguntar, Kakashi interviu:

— Ficarei com vocês até que a primeira pessoa saia, para relembrá-los disso. — ele disse. — Agora, ergam os braços para cima. 

Karin rapidamente se posicionou ao lado de Sakura, para ser acorrentada ao lado dela, as duas próximas da parede da jaula que ficava de frente pro acampamento a alguns metros dali. 

Todos foram erguendo os braços para cima enquanto Kakashi ia os algemando um por um. Sakura engoliu em seco quando sentiu o frio metálico ao redor de seus pulsos. Ela olhou para Naruto, que estava algemado à sua direita, enquanto Karin estava à sua esquerda. Ele não parecia tão nervoso assim, mesmo que não tivesse comido nada antes daquilo. 

Quando Kakashi terminou e olhou para cada um deles, todos acorrentados e com os braços para cima, ele saiu da jaula, fechando a porta e indo até o pequeno painel preso ao chão. 

— Está valendo a prova, senhores. — disse antes de apertar o botão e o cronômetro começar a contar. — Aliás, gostaria de acrescentar que esta prova está valendo duas mil moedas de ouro para a tribo do vencedor. 

— Eita, eita! — Naruto disse, tão animado quanto o resto do pessoal. Moedas de ouro valiam o triplo das moedas de prata. 

Todos ficaram observando os números vermelhos digitais enquanto os segundos iam subindo. Ninguém disse nada antes de três minutos. 

— Se Tenten estivesse aqui agora, essa prova com certeza era dela. — Naruto comentou para descontrair. 

— Com certeza. — Hinata concordou do outro lado da jaula. 

Kakashi ficou andando devagar ao redor da jaula, os observando cautelosamente enquanto esperava pela primeira saída. 

Na margem do lago, Shikamaru, Deidara e Kiba os observavam atentos enquanto a prova era realizada. 

Sasuke olhou para Sakura, que estava na extremidade oposta da jaula. Ela não parecia nervosa, porém pelo seu olhar, era óbvio que estava esperando apenas pela primeira desistência para sair, afinal, resistência não era sua praia. 

Ino começou a assobiar para descontrair também, assim como Naruto ia conversando com outras pessoas para verem se o tempo passava mais rápido e não deixarem o clima mais tenso. Kakashi apenas os observava em silêncio. 

Depois de dez minutos, todos já tinham percebido o grande problema que enfrentariam. Seus braços erguidos para cima estavam começando a pesar bastante, deixando-os cansados. Além disso, algumas pessoas já estavam sentindo formigamento nas pernas, por estarem parados de pé na mesma posição. Ninguém queria arriscar se mexer muito para não desprender as correntes por acidente do teto e ser o primeiro eliminado. 

O cronômetro estava marcando trinta e dois minutos de prova e eles novamente se encontraram em silêncio, percebendo o grande desafio que tinham pela frente. 

#

— Que droga, meu. — Kiba murmurou observando a jaula de longe. — Ainda bem que eu não tô lá. Ia ser o primeiro a sair. 

Deidara se segurou para não fazer um comentário irônico em cima da afirmação. 

Shikamaru estava ao lado deles, enviando rezas mentais para Poseidon não deixar Ino ser a primeira a sair da jaula. 

#

Com duas horas de prova, Naruto notou que Suigetsu estava extremamente calado, visto que algumas pessoas estavam conversando para tentar esquecer seus braços sendo fodidos naquele momento. Quando ele olhou pro amigo, percebeu que Suigetsu estava fazendo uma careta estranha, e seu rosto não estava exatamente na coloração normal. 

Na verdade, o representante de Dionísio parecia muito pálido. Além de estar louco para ir ao banheiro, a fome não era exatamente uma boa combinação com o balanço do flutuante onde estavam. Suigetsu estava ficando muito enjoado e com vontade de vomitar. Os braços sendo forçados pra cima eram o menor dos problemas dele. 

— Ei, amorzinho. — Naruto o chamou. Suigetsu ergueu o rosto em sua direção, parecendo extremamente mal. — Relaxa, vai ficar tudo bem. 

— Cara… — ele mal conseguia falar. — Isso não vai dar muito certo pra mim. 

— Aguenta. — o loiro incentivou. 

Ino estava de olhos fechados no canto, tentando se concentrar o máximo possível em esquecer a dor braçal imensa. Temari estava quieta desde que entraram na jaula, completamente concentrada na prova. Sasuke estava calculando mentalmente quando tempo aquela prova deveria durar, visto o esforço que teriam que fazer. Provavelmente umas 24 horas, no máximo. Dez pessoas para sair antes do último ficar imune. Ninguém aguentaria o esforço braçal mais do que 24 horas. 

Suigetsu realmente não estava nada bem. Com três horas de prova, seu rosto já estava amarelado pelo enjoo do balanço da água. Naruto estava ficando bastante preocupado com ele. 

O loiro se virou para Sakura, que estava fazendo uma careta pelos seus braços já estarem doendo além da conta. 

— Você está bem? — ele perguntou. 

— Não. — ela gemeu baixinho. 

— Calma, espera até uma pessoa sair. Não precisa se esforçar tanto, a gente dá um jeito depois. — ele disse gentilmente, tranquilizando-a

Sakura assentiu com a cabeça, enchendo os pulmões de ar para se manter calma e criar mais força. Nunca tinha feito tão esforço assim em sua vida. 

Com quatro horas de prova, Suigetsu não era o único a estar enjoado com o balanço da água. Sakura, Sasuke, Ino e Naruto também já estavam ficando mais pálidos, com o estômago revirando. Porém, o participante do Mosteiro de Dionísio era de longe o mais afetado. 

— Não dá mais não. — ele disse para Naruto. Suas feições já estavam verdes, e ele estava fazendo muito esforço para não vomitar, porque sabia que se fizesse isso, automaticamente faria outras pessoas vomitarem também. Além disso, a fome por não ter comido o desjejum e o fato de não ter ido ao banheiro estavam fazendo muito mal à sua região abdominal. — Foi mal, cara. 

Ninguém teve nem tempo de questionar porque ele baixou os braços. Suas correntes escorregaram pela grade e caíram no chão da jaula, fazendo um barulho metálico estridente, ecoando nos ouvidos de todos. 

Kakashi, que estava sentado do lado de fora, se pôs de pé e se espreguiçou antes de ir até a porta e abri-la. Ele pegou a chave e libertou os pulsos de Suigetsu, guiando-o para fora da jaula. 

— Suigetsu, por ser o primeiro a sair, você provavelmente enfrentará o Coliseu neste ciclo. — ele disse ao rapaz e depois fechou a porta. Olhou para os que continuavam dentro da jaula. — Olhem para o cronômetro, por favor. 

Todos fizeram isso, vendo estava marcando quatro horas e dezenove minutos. 

— Agora, terão que esperar até que dê cinco horas e dezenove minutos de prova para saírem. Se a próxima pessoa desistir antes desse tempo, tomará o lugar de Suigetsu como o último colocado. — Kakashi explicou, e os que não tinham entendido antes, finalmente compreenderam. — É com vocês, senhores. Boa sorte. 

Ele ajudou Suigetsu a entrar novamente no bote e depois foi remando de volta para a margem do lago. 

Todos que continuavam na jaula se entreolharam de maneira nervosa. Gaara encarou Naruto, o mesmo pensamento sombrio passando pela cabeça: “Três nossos garantidos”. O problema é que Naruto também não estava se sentindo tão bem assim. O jejum e o balanço do flutuante não estavam fazendo bem ao seu estômago. Mas ele tentou disfarçar da melhor maneira possível. 

Enquanto a maioria dali ia conversando de novo, para ver se o tempo passava logo, Karin fazia altos cálculos mentais, vendo que o plano de Sasuke acabaria dando certo de qualquer jeito, já que Suigetsu estava garantido no Coliseu agora. A ruiva olhou para Sakura, que também parecia enjoada ao seu lado. 

— Ei. — ela murmurou baixinho, para que apenas a rosada escutasse. 

Sakura virou o rosto em sua direção. 

— Presta atenção. — Karin dizia extremamente baixo e entredentes, para que ninguém mais percebesse que as duas estavam conversando. — A casa combinou de mandar você, Naruto e Suigetsu no próximo Coliseu. 

Sakura arregalou os olhos. 

— Como é? — ela cochichou de volta. 

Os garotos riram de uma piada que Sai contou enquanto Karin continuava. 

— Combinaram isso desde o ciclo passado. Querem te tirar porque te acham uma jogadora perigosa, estrategicamente falando. — ela disse e olhou em volta, para ter certeza que ninguém as ouvia. — Vão te colocar contra Naruto e Suigetsu porque as tribos deles são mais fortes lá fora que a sua, para ser eliminada. 

Sakura tentou não ficar boquiaberta, disfarçando sua expressão facial para ninguém presumir qual o assunto da conversa. Ela finalmente compreendeu o aviso de Tenten. Ela sabia sobre esse plano, e tentou alertá-la, mas sem muitos detalhes. 

— Agora que o maluco saiu, vai ser um pulo pro plano deles dar certo. — Karin lhe assegurou. — Você precisa dessa imunidade, Sakura. 

— Pelos deuses. — a rosada murmurou em choque. — De quem foi esse plano?

Karin ficou extremamente séria, e demorou alguns segundos para responder. 

— Acho que você já sabe de quem veio. — ela disse. 

Sakura automaticamente olhou para Sasuke, do outro da jaula, também fazendo careta por estar enjoado. 

“Não confie em ninguém fora da Quimera.” 

Essas palavras nunca fizeram tanto sentido quanto naquele momento. 

— Sakura, é sério. Ou você ganha isso aqui, ou tá fora do jogo. — Karin murmurou. — Estou te avisando porque não quero que saia. Acredite em mim. 

A representante de Atena confirmou suavemente com a cabeça, para indicar que tinha entendido claramente o recado. 

— Que bom. — a ruiva suspirou aliviada por ver que Sakura tinha acreditado nela. — Não importa o que aconteça, não saia. 

— Tudo bem. — Sakura sussurrou de volta. 

Seus braços pesavam, seu estômago revirava, suas pernas doíam e sua cabeça martelava a mil, porém ela respirou fundo e tentou engolir a vontade de chorar, já que agora sabia que seu maior medo tinha se tornado realidade. Seu melhor amigo de infância realmente teve a coragem de armar com os outros para tirá-la do Olimpo. 

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Assim que chegaram na margem, Kakashi saiu do bote e caminhou pela clareira, desaparecendo dentro da floresta e deixando o resto com os participantes. Suigetsu correu para dentro da casa principal, indo vomitar no reservado. Ficou cerca de vinte sentado ao lado do vaso, com o estômago e a cabeça doendo, ainda tonto e passando mal. 

Quando ele finalmente saiu para tomar banho, percebeu o que tinha feito não apenas consigo… mas com o resto de sua equipe. 

#

Ino estava ficando amarela também pelo balanço da água. Ela não parava de encarar o cronômetro, apenas esperando dar cinco horas e dezenove minutos, para dar uma hora desde a saída de Suigetsu, para que pudesse sair também. Entretanto, uma ruiva extremamente irritada não iria facilitar as coisas para ela. 

Assim que o cronômetro marcou uma hora desde a saída de Suigetsu, Karin baixou seus braços e deixou as correntes caírem no chão. Ino arregalou os olhos, surpresa com a velocidade dela. 

— É com vocês agora, galera. — Karin se despediu deles com um sorriso. Estava extremamente bem. Apesar dos braços doloridos, ela não tinha mais nenhum incômodo como o resto, porém não adiantaria ficar ali já que não precisava da imunidade.

Shikamaru entrou no bote e veio remando até o flutuante para buscá-la. Ino a fuzilou com o olhar o tempo inteiro, já que teria que ficar mais uma hora ali senão acabaria tomando o lugar de Suigetsu. 

Enquanto isso, Sasori era o único que não tinha dito uma única palavra até então. Estava virado de costas para todos, observando as montanhas do outro lado do lago, se concentrando apenas em esquecer tudo e mentalizar aquela vitória. 

Naruto inspirou fundo várias vezes, tentando ignorar o enjoo, a fome e o cansaço. 

Acima deles, o sol quente do meio-dia não dava a menor trégua. A luz solar atravessava as grades e o calor já estava fazendo muitos deles suarem bastante por debaixo da roupa. Sakura agradeceu por estar de short e regata, porém percebeu que isso era uma faca de dois gumes, já que quando a noite chegasse, ela congelaria de frio. 

Com seis horas e vinte minutos de prova, Ino baixou os braços e se retirou da jaula também. Shikamaru veio buscá-la com o bote, para levá-la de volta à terra firme. 

Os braços doendo não eram o problema de Sasuke. Sua dificuldade era aquele sol quente fervendo seus miolos. Acostumado a trabalhar em minas escuras, a cabeça fritando não era exatamente o que ele mais gostava no momento. Além disso, sua falta de costume com água não estava lhe ajudando no enjoo do balanço. 

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Na margem do lago, Deidara e Shikamaru estavam sentados lado a lado, observando tudo da prova, sempre a postos para buscar quem saísse. 

— Mano, essa prova não vai durar menos de 24 horas. — Shikamaru murmurou. 

— Não mesmo. — o loiro concordou. — Você aposta em quem?

— Se Tenten estivesse aqui, com certeza ganharia. — ele disse pensativo. — Mas acho que vai ser o Sasori. A tribo dele trabalha no mesmo estilo da Tenten. O dia inteiro debaixo do sol quente fazendo trabalho pesado no campo. Com certeza ele é o mais resistente. 

Deidara não tinha exatamente uma opinião ainda, mas estava torcendo para que fosse alguém de sua equipe a pegar aquela imunidade. 

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Sakura estava se controlando muito para não chorar pela dor em seus braços erguidos. Além de tudo, a fome estava começando a se fazer presente. Suas pernas também estavam doendo muito pelo tempo em pé, além da cabeça martelando pelos vários pensamentos e o sol quente no céu. 

Faltando cinco minutos para oito horas de prova, Naruto baixou os braços. 

— O quê? — ela arregalou os olhos, surpresa. — Por que você fez isso?

— Estou muito enjoado. — ele disse. — Além disso, eu preciso fazer a pomada para Deidara e Kiba, esqueceu? Um deles vai encarar o Coliseu e precisam estar bons pra isso. 

Sakura queria chorar e gritar para ele ficar. Agora não tinha mais jeito algum: os três estavam no próximo Coliseu e tinham chances de saírem se fossem um contra o outro para a votação. 

Enquanto observava Naruto ir se afastando no bote com Shikamaru, ela percebeu que não tinha mais nenhuma opção. Ou ficava e ganhava aquela prova, ou enfrentaria seus amigos numa votação. 

Era óbvio que Naruto não sabia sobre o plano. Se soubesse, teria apodrecido dentro daquela jaula para impedir que Sasuke e os outros saíssem vitoriosos. Mas ele não sabia, então agora só restou essa tarefa para ela. 

A moça olhou ao redor, vendo que Sasori, Sai, Hinata, Sasuke, Temari e Gaara ainda continuavam ali, firmes e fortes, tirando Sasuke que parecia bem enjoado. 

Sakura ficou olhando para o moreno na outra extremidade, tentando realmente colocar em sua cabeça que era tudo armação dele, como Karin dissera. Era difícil fazer isso, ainda mais quando lembrava de toda a infância juntos. Imaginá-lo armando contra ela era algo difícil. 

Mas Sakura entendeu que precisava encarar a realidade: eles não eram mais crianças. Talvez nem fossem mais amigos, e sim conhecidos de uma outra era. 

O Sasuke que ela conheceu não existia mais. O Sasuke do Santuário de Atena deixou de existir no momento em que entrou naquele trem e partiu para a Casa de Hades aos doze anos. Mesmo não sendo opção dele, aconteceu. Se concretizou. 

Desde o começo, quando o viu naquele trem, ela soube que algo havia mudado, só não tinha conseguido descobrir o que era. E agora sabia. Ele não era mais um membro de Atena. Não era seu amigo. 

Ele era Hades. A representação dele dentro do Olimpo. 

E Hades faria de tudo para permanecer no jogo sem nenhum perigo, inclusive dar um jeito de tirar Atena. 

Sasuke pareceu sentir seu olhar sobre ele, porque virou o rosto em sua direção. Porém Sakura desviou o olhar e virou de costas para os outros, fechando os olhos e rezando silenciosamente para Atena, pedindo força mais uma vez. 

#

Quando Naruto retornou ao acampamento, tomou um banho, comeu e nem perdeu tempo para descansar, embora estivesse dolorido e exausto. Foi logo para a floresta pegar mais folhas de hortelã e depois voltou para fazer uma pomada para Kiba e Deidara. Após fazer isso e se certificar de que estavam todos bem, ele entrou no quarto para ir dormir um pouco e encontrou Suigetsu sentado na cama abraçando as próprias pernas com uma cara nada boa. 

— O que foi? — ele perguntou confuso. 

— Eu fodi todos nós. — o outro o encarou como se quisesse chorar. Seus olhos brilhavam, porém lágrima alguma caía. — Desculpa. 

— Cara, relaxa. O que tiver que ser, será. Isso é um jogo. — Naruto se sentou ao lado dele. — Pode chorar, isso ajuda. 

— Não posso, não. — ele negou cabisbaixo. — Existe uma regra na minha tribo: filhos de Dionísio não choram. 

— Por quê? — Naruto ficou surpreso. 

— Dionísio é o deus das festas. Somos responsáveis por trazer alegria à Metrópole. Nunca podemos chorar ou somos castigados. — ele disse. — Cara… eu estou um caco. 

Naruto percebeu que ele não mentia. Suigetsu tinha ficado extremamente abalado com a saída de Tenten, mas não chorou. Estaria no próximo Coliseu, e não chorou. Provavelmente tinha fodido Quimera, mas não chorou. 

Ele estava uma pilha de nervos total. 

— Levanta. — Naruto segurou as mãos dele. 

— Por quê? — Suigetsu ficou confuso. 

Naruto foi o guiando para fora do quarto. 

— Precisa descarregar essa tristeza toda. — disse ele, levando Suigetsu para a cozinha. 

E então soltou uma das mãos dele para abrir a porta da despensa. Parando ali, Naruto o encarou e Suigetsu entendeu. 

A despensa era o único lugar sem câmera ou microfone. Onde eles podiam fazer o que quisessem sem que a Metrópole visse. 

Respirando fundo, Suigetsu segurou o choro um pouco mais. Naruto entrou com ele dentro da despensa e fechou a porta. 

E os dois ficaram lá por quase uma hora. 

#

Quando o sol começou a se por, Sakura olhou para o cronômetro e viu que já estava mais de dez horas com os braços levantados. Ela piscou os olhos, surpresa. Ficou tanto tempo surtando mentalmente com aquela porcaria de jogo que só se tocou que enfrentariam agora a noite congelante do lado de fora. 

A moça olhou para a margem do lago, vendo Deidara e Kiba sentados dentro do Chalé de Orfeu, comendo ração e os observando dali. Shikamaru e Ino estavam no píer de madeira, observando também. 

Ela olhou para dentro da jaula, vendo Sasuke, Sasori, Hinata, Sai, Temari e Gaara ainda presentes. Sasuke parecia ter se acostumado com o balanço, assim como ela, e não estava mais enjoado, no entanto, a situação braçal só piorava. 

Sakura sentia os braços pesando uma tonelada. Agora além da dor vindo deles, seus ombros também estava queimando pela posição infernal, e suas costas também pareciam prestes a se quebrar de tanta agonia. Os pés pareciam prestes a explodir a qualquer momento, suportando o peso de seu corpo por mais de dez horas e clamando por um descanso que não viria tão cedo. 

Sakura tentou acalmar as batidas de seu coração acelerado, controlando a respiração e tentando suprimir todos os pensamentos excruciantes que tomavam sua cabeça. Precisava esquecer Sasuke e aquele sentimento amargo na boca que surgiu após a conversa com Karin. 

Não podia deixar isso afetá-la além da conta. Ok, era um jogo. Sasuke estava jogando e tiraria suas ameaças. Ela era uma ameaça, afinal, tinha controlado o ciclo anterior e isso provavelmente o fez se sentir acuado, assim como o resto da casa. As pessoas queriam tirá-la porque estavam com medo do que ela podia fazer. Ela tinha que aceitar isso. Sasuke se sentia ameaçado e iria fazer tudo para sobreviver no jogo. 

Tinha que engolir a decepção e fazer como ele: jogar com a razão, não com o coração. 

Enquanto o sol se escondia atrás das montanhas, a temperatura baixava e a noite ia tomando o céu acima deles. 

Hinata estava sempre de olho em Sakura. Quando percebia que a amiga estava prestes a desistir, ela chamava seu nome e puxava uma conversa simples, tentando dar forças para Sakura continuar ali o máximo possível. 

#

— E aí, caçadora? — Deidara cumprimentou quando Karin se juntou a ele na plataforma de madeira. 

Todos os outros estavam sentados ao redor da fogueira, ainda ansiosos com a prova rolando ali no lago. 

— Pensei que você ia durar bastante nessa prova. — o loiro comentou. 

— Não, tem uma galera ali mais necessitada que eu por essa imunidade. — Karin disse enquanto mordia uma maçã. 

Deidara ergueu uma sobrancelha, confuso. Ele deixou de olhar para a jaula e olhou a moça ao seu lado. 

— Como assim? — perguntou curioso. 

Karin o encarou de volta enquanto mastigava. 

— Qual é? — ela piscou. — Ainda não entendeu porque sua líder está ali? Depois de quatorze horas de prova?

Como Deidara continuou confuso, Karin olhou para trás, vendo que todos estavam longe deles, e então explicou o que estava rolando para Sakura continuar dentro da jaula. 

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Sakura se arrependeu amargamente de não ter feito como Sasori e colocado calça e camisa de manga longa. Seus dentes não paravam de bater devido à temperatura de -2ºC. Se antes seu corpo implorava por descanso, agora tudo que suas células pediam era pela morte. 

Por estarem no meio do lago, o frio era pior do que ficar ali na clareira. Não apenas ela, mas todos que continuavam na jaula estavam tremendo intensamente. Não tinha nem mesmo um cobertor para ajudá-los, como normalmente aconteceria, mas obviamente, Sakura era a que mais sofria naquele momento. 

Acostumada com os aquecedores ligados à noite inteira nos apartamentos do Santuário de Atena, Sakura nunca passou por uma situação daquelas antes. 

Exausta, faminta, com sede, bexiga cheia, um corpo inteiro doendo… e agora a sensação de que mil agulhas perfuravam toda a extensão de sua pele com o frio congelante que tomava o Olimpo naquela noite. 

Ela olhou o cronômetro, vendo que passava das dezesseis horas de prova. Olhou para cima, vendo seus braços tremendo de dor e frio, pálidos e exaustos. As pontas de seus dedos estavam ficando roxas pela temperatura e a má circulação de sangue. 

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Na clareira, Naruto andava de um lado para o outro na margem do lago, sem conseguir desviar suas orbes azuis da jaula. 

— Pelo amor dos deuses, o que você está fazendo? — ele murmurava baixinho, preocupado por Sakura continuar na prova. — Por que está fazendo isso? O que está tentando provar?

— Aí. — Deidara disse se aproximando dele. — Precisamos conversar. 

— O que foi? — Naruto nem lhe encarou, só mirava a jaula flutuante ali perto. 

— Você e Suigetsu precisam saber de algo. — Deidara disse. — É sobre a Sakura. 

Naruto finalmente o encarou. E então Deidara repetiu o que Karin lhe dissera sobre o plano que a casa inteira estava pondo em prática. 

Dia 15 | Ainda Terceiro Desafio de Perseu

Foi a noite mais longa da vida de Sakura, sem dúvidas. Ela passou a maior parte das horas encarando o cronômetro, contando os segundos baixinho junto aos números digitais. 

Não sentia mais as próprias mãos. Nem conseguia mais mexer seus dedos. Não sabia se era por conta do frio ou do sangue circulando extremamente mal pelos braços erguidos. 

Ela tinha a sensação de que iria se desfazer em pedaços a qualquer momentos. Seus pés doíam tanto que faziam seus olhos encherem de lágrimas, porém ela não derramou nenhuma. 

Quando o sol começou a nascer, Sakura mal podia acreditar que aquele imenso astro quente ainda existia. Sentia que estava ali fazia bilhões de anos, e parecia que ele já tinha explodido, então foi uma imensa surpresa ver o céu ir clareando novamente. A temperatura começou a subir de novo, e o relógio marcava vinte e três horas de prova. 

E foi quando Sasuke baixou os braços, extremamente cansado, faminto e sedento. Ele passou uma noite inteira tão concentrado em sobreviver ao frio que até esqueceu quem ainda estava na prova. No momento em que cambaleou para sair da jaula, arregalou os olhos ao perceber que Sakura continuava na prova, porém com os olhos vidrados no cronômetro. 

Enquanto os meninos remavam para vir buscá-lo, ele sequer recebeu um simples olhar ou palavra de Sakura. Se ela ainda lembrava da existência dos outros ali, não fazia a menor questão de cumprimentá-los. 

Enquanto os garotos o levavam de volta para a clareira, ele ficou observando Sakura, que realmente não deu uma única olhadinha em sua direção, concentrada no tempo. 

Sasuke jamais imaginou que Sakura ficaria tanto tempo numa prova de resistência. Quiçá que ficasse mais tempo que ele. O rapaz correu para o banheiro assim que ficou em terra firme. Durante o banho, Sasuke colocou as mãos no rosto e segurou a vontade imensa de chorar enquanto pensava em Sakura dentro daquela jaula.

#

Naruto não dormiu nem mesmo quinze minutos naquela noite. Não conseguiria fazer isso até Sakura sair de dentro da jaula de Atlas. Estava numa prova de resistência tão ruim quanto ela: tendo que lidar com a própria culpa de tê-la deixado ali por não saber do que se passava. 

— Eu não devia ter saído. Eu que deveria estar ali, no lugar dela. — ele se lamentava dentro do Chalé de Orfeu, junto com Deidara e Suigetsu, segurando as lágrimas de sofrimento o máximo que podia.

— Vai dar tudo certo, confia. — Deidara disse, o olhar vidrado no flutuante no meio do lago. — Ela vai ganhar. 

— Cara, os outros parecem bem concentrados também. — Suigetsu comentou. — Todos querem que o plano der certo, ninguém vai deixá-la ganhar. 

— Eles que se fodam, ela vai ganhar. — Deidara afirmou com convicção. — Em nome de todos os deuses, ela vai ganhar. 

#

A luz do sol trouxe alguns esclarecimentos para todos que continuavam dentro da jaula. Eles compreenderam o porquê da prova ser em homenagem a Atlas. 

Os braços pra cima já estavam pesando tanto que pareciam estar carregando algo que pesava milhões de toneladas, embora não houvesse nada. 

Como o próprio céu. 

Com vinte e seis horas de prova, cada centímetro do corpo de Sakura doía, inclusive seus órgãos internos. Seu estômago doía pela bile se revirando no espaço vazio. Sua bexiga apertava-se contra os órgãos do baixo ventre. Ela continuava não sentindo mais as mãos, e agora os pés também estavam deixando de doer para se tornarem dormentes. Pareciam mais como membros fantasmas. Os ombros dela estavam doendo o suficiente para a moça se tocar de provavelmente tinha distendido alguns tendões. Diferente das outras dores de seu corpo, eles não formigavam, mas doíam como se alguém os estivesse socando com pontas de faca. 

Ela olhou novamente para os outros na jaula: Sai, Hinata, Temari, Sasori e Gaara. Todos pareciam tão exaustos quanto ela. As olheiras estavam ficando aparentes em seus rostos. Os braços tremiam pela força exercida para continuarem erguidos. Gaara e Hinata estavam com uma cara estranha, como se fossem desmaiar a qualquer momento. A cabeça girando levemente pela tontura causada pelo cansaço. Sai e Temari estavam bocejando o tempo inteiro, querendo dormir. 

Mas de todos, o que parecia melhor era Sasori. Mesmo de costas, dava para ver que a postura dele era a melhor. Por ter ficado bastante tempo quieto e parado no dia anterior, ele tinha gasto menos energia que todos. E por conta de seu trabalho nas Fazendas de Deméter, tinha mais vantagem física que todos ali, até mesmo sobre Temari. 

Sakura percebeu que ali dentro da jaula, ele seria seu maior rival pela imunidade. 

Isso apenas se concretizou quando perto de meio-dia, com trinta horas de prova, Hinata se deixou cair de joelhos no chão da jaula. 

Os outros rapidamente vieram buscá-la, praticamente a carregando desmaiada para dentro do bote e levando-a de volta. 

Sakura olhou seus amigos e companheiros de equipe ainda sentados no Chalé de Orfeu, observando-a. Ela respirou fundo mais uma vez, enchendo seu peito de ar e de força. 

Iria ficar até o final. Tinha que ficar até o final. 

Não se tratava mais apenas dela. Se tratava da equipe Quimera. Se tratava de Naruto, o cara que olhou na sua cara e disse que faria de tudo por ela ali dentro. 

Ela não era mais só a Sakura. Ela era todas as três mil pessoas de sua tribo. Ela era o Santuário de Atena. Era a representação da deusa da sabedoria e das estratégias de batalha. 

E assim como Atena, ela faria de tudo para vencer seus inimigos. Iria inspecionar a estratégia deles e parti-la no meio. E o único modo de fazer isso era ficar até o final dentro daquela jaula, ou morrer tentando. 

Sakura pensou em seu amado pai, que ela podia contar nos dedos de uma das mãos quantas vezes o via por ano. Pensou em seu jeito pacífico, sua força interior e sua sabedoria, dignos de um verdadeiro membro de Atena. 

Quando criança, ela jurou que queria ser igual a ele. Uma filha de Atena tão incrível que seria conhecida entre todas as tribos. Queria que as pessoas se lembrassem de seu nome. Ali estava sua chance de dar orgulho para ele. 

Ela pensou na tatuagem em sua nuca. Uma coruja sob um galho de oliveira. Os símbolos de sua deusa. 

Sakura olhou para cima. Para o sol quente e a força que ele pareceu lhe conceder naquele momento. 

Exatamente como os monges budistas que ela leu nos livros, esquecendo a ansiedade e o nervosismo, Sakura limpou sua mente e visualizou a vitória: sua única forma de escapar. Se tivesse que passar um mês naquela jaula, ela ficaria. 

Por si mesma, por Naruto, por sua tribo e por sua deusa. Por todos que queriam seu bem e a protegeriam. 

Pelos garotos sentados no Chalé de Orfeu, torcendo por ela. 

#

Na clareira, Ino não podia acreditar que Sakura continuava dentro da jaula. Como isso era possível? 

O mesmo se passava entre os meninos da Quimera no Chalé. Naruto abraçava as próprias pernas, tremendo pelo nervosismo e preocupação. 

— Isso não é saudável. Ela vai passar mal. — ele murmurava preocupado, querendo chorar. 

— Cala a boca. Está mandando energias negativas. — Deidara rosnou. — Ela vai conseguir, sim. Vai conseguir. 

— Cara, isso não é bom. 

— Será que você ainda não entendeu? — perguntou Deidara. — Essa não é apenas uma mera prova de resistência pra ela. — ele voltou a olhar para a jaula flutuando no centro do lago. — Sakura está tentando passar uma mensagem: “Vocês não devem me temer apenas por ser a mais inteligente, e sim, por também ser a mais resiliente. E se realmente quiserem me tirar desse jogo, vão precisar de muito mais do que planinho mixuruca.” — ele sorriu, extremamente orgulhoso e confiante por estar na mesma equipe que alguém tão incrível. — Nem um titã como Atlas pode derrotá-la mais aqui dentro. 

#

Com trinta e duas horas de prova, Gaara não aguentou mais. Os tendões de seu ombro esquerdo estavam doendo o suficiente para ele saber que tinha chegado sua hora. Tinha aguentado o suficiente para ficar satisfeito com seu próprio desempenho. Ao baixar os braços, embora chateado, ele olhou para Sakura, que estava de costas para todos, assim como Sasori, porém sua postura parecia ter melhorado bastante. Ela estava murmurando baixinho, mas o suficiente para ele entender que estava extremamente concentrada e determinada a continuar ali. 

Enquanto os meninos vinham buscá-lo, Gaara lhe desejou boa sorte. 

Sakura abriu os olhos e lhe ofereceu um sorriso. Embora com o rosto cheio de olheiras e pálido, o sorriso brilhante dela lhe confirmou o que ele já sabia: aquela imunidade seria dela, custe o que custasse. 

E assim, a última sobrevivente da Quimera permaneceu na jaula, ao lado de Sai, Temari e Sasori. 

Sakura respirou fundo e fechou os olhos mais uma vez, ignorando todas as dores terríveis em seu corpo e voltando a meditar extremamente concentrada. 

Ainda tinha três pessoas para vencer antes da imunidade, e depois teria que aguentar mais uma hora sozinha na jaula, para não ser desclassificada. 

Ela visualizou o pai e suas cantigas da Grécia Antiga na cabeça. O homem que sempre lhe deu força, coragem e determinação. Automaticamente, sorria só de lembrar dele. Sua pessoa favorita no mundo. 

Quando retornasse ao Santuário de Atena, queria ter certeza de que ele não a veria mais como criança, e sim, como a mulher madura que ela estava se tornando dentro do Olimpo. 

Não era mais a Sakura assustada e confusa que entrou naquele trem quinze dias antes. Uma pessoa completamente diferente iria retornar à tribo de Atena. 

Podia até ser eliminada hora ou outra, mas não naquele ciclo. Não sem fazer aquelas outras pessoas vivendo com ela tremerem de medo. 

Sasori

Minha avó já está velha o suficiente para não dar mais conta de todo o trabalho que dão à ela nas Fazendas de Deméter. 

Cada um de nós tem uma meta diária a cumprir. No mínimo, setenta quilos de colheita por dia, seja ela qual for. Mas minha avó já não dava mais conta nos últimos anos. Para evitar castigos ou ameaças, tive que implorar aos nossos líderes para ficar com o trabalho dela, já que era visível que ela já não aguentava mais passar o dia inteiro trabalhando pesado debaixo do sol quente. 

Para nossa sorte, eles permitiram, então já faz dois anos que faço o trabalho por nós. Colho os meus setenta quilos e os setenta quilos dela. No final do dia, sempre preciso carregar tudo nos cestos, de volta ao silo de armazenamento. 

E todo santo dia, eu rezo a Deméter para ter conseguido os cento e quarenta quilos de colheita. 

Minha avó não ficou exatamente feliz com isso, mas com certeza ficou orgulhosa de mim. Sempre que volto para nossa casa no final do dia, ela faz questão de me receber com um jantar esplêndido pelo dia de serviço. 

Toda noite antes de dormir, fico pensando em como ela deve estar agora que não estou mais lá, e ela precisa colher os setenta quilos. 


Notas Finais


Eu acabei escrevendo essa prova no mesmo dia em saiu o sorteio do vencedor lá no insta, porém foram mais de quinze mil palavras, então tive que realmente dividir tudo em duas partes, como já tinha imaginado que faria. A parte 2 sairá na sexta-feira, no mesmo horário de sempre. Na próxima segunda, iremos conhecer o quarteto em perigo do ciclo, e no mesmo dia iremos saber pelo insta quem será o titã do próximo ciclo.

Ai, eu tô tão feliz com essa prova do Atlas, vocês não tem noção. Foi a prova que mais gostei de escrever até agora, acho que porque ela não tem tanta ação como as outras, mas é carregada de tensão e drama (duas coisas que eu simplesmente amo). Aliás, gostaria de agradecer a @ju_correa pelo comentário com a sugestão de que eles ainda teriam que esperar determinado tempo antes de finalizarem a prova. Foi graças a você que tive essa ideia deles terem que esperar uma hora de intervalo entre uma saída e outra. Ajudou muito para tornar as coisas mais difíceis (adorooo), e assim, o vencedor não vai ter a vitória desmerecida. Muiiiiito obrigada! E gente, vocês podem me mandar as sugestões que quiserem, mesmo que eu não use agora, posso tentar encaixá-la numa prova futura. A fic é interativa, afinal. Vocês que me ajudam a escrever o roteiro.

Bom, acho que o resto vocês terão que esperar até sexta para descobrir, hihi. Espero que tenham gostado e até mais <3

Insta: https://www.instagram.com/writer.plutoniana/

Playlist da fic: https://open.spotify.com/playlist/5GHgPG9ZkBwObsc2pRpmeA?si=JYtYNxkMRx2GpSiytzPwsA


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