Naquela manhã Stiles sentiu algo incomum. Uma sensação de estranheza pairando sobre ele – por alguns minutos, enquanto reunia coragem para sair da cama – como tentar olhar através da janela com os vidros embaçados pelo frio; e por mais que tentasse olhar a única coisa que conseguia ver era um borrão. Parecia ser algo importante, assim ele suspeitava, devido a insistência de que os borrões voltavam para lhe atormentar.
Seu pai já havia lhe chamado uma duas vezes, se a porta não estivesse aberta ele teria tirado daquela cama antes de chegar a conclusão – meio óbvia – de que só poderia de tratar de um sonho esquecido. Que você sabia que havia sonhado, mas não se lembrava de nada além e migalhas. Aquilo o deixava irritado sempre que acontecia.
Odiava quando isso acontecia; ficar com a impressão de que algo importante lhe fora tirado o deixava impaciente. Aquele véu esbranquiçado, apenas uma vaga impressão de frio do vento e o farfalhar das folhas. Era frustrante.
Ainda deitado o rapaz se espreguiçou. Sentia que sua colcha de cama parecia mais quentinha do que o normal. Como se um bolsão de ar morno tivesse se formado debaixo dos lençóis. Era bom, muito bom. Assim como sentiu seu rosto melado e de como pelos pareciam pinicar sua pele.
Bruce estava bem ali, do seu lado, enroscado nos tecidos como uma múmia.
O rapaz o encarou por um tempo. A cabeçorra que aparecia do amontoado de tecidos. Foi tempo suficiente para saber que seu bichinho estava apenas com os olhos fechados.
— Bom dia… — falou baixinho. Sua voz estava carregada de preguiça. A respiração batia contra o seu queixo; o cheiro de chocolate ainda estava por ali, agora mesclado ao de carne. Uma mistura muito agradável.
— carne.
Stiles torceu o nariz e se sentou de abrupto. Enquanto que Bruce se esticava todo, limitando-se a soltar um bocejo. O rapaz esfregou a mão nas bochechas, o que não foi uma boa ideia. Sentia a baba das prováveis lambidas que recebeu enquanto dormia, umedecer de forma grudenta a palma de sua mão.
— A, Bruce. Você é um porco.
Resmungou o Stilinski. A medida que de levantava e caminhava para o banheiro, afim de livrar-se do cheiro e carne a chocolate e da babá que lhe cobria a bochecha, ignorava completamente os latidos de protestos do peludo.
Bruce e Stiles não era uma combinação, exatamente, perfeita. Ele sabia disso. Se fosse deixar se influenciar ficaria dormindo até o fim dos tempos. Ou até seu pai arrombar a porta.
Enquanto banhava-se, Stiles, tornou a pensar na forma como sua volta às aulas fora totalmente o oposto do que ele esperava. Em como tudo parecia diferente em pequenos aspectos. Em como havia se sentindo um intruso. Como se o tempo todo tivesse sido um simples colega, que podia segui-lo, mas não se aproximar tanto. E nem se aprofundar nos assuntos das conversas, quieto e afastado. Sendo necessário vez ou outra, quando lhe convém.
Assim se via preso – mais uma vez – nas mesmas questões, que havia deixado de lado. Nem parecia que tinha refletido sobre sua “conversa” com Scott, e o rumo que ela havia tomado, durante boa parte da madrugada.
Parte de si insistia em dizer que deveria deixar toda aquela história de lado e seguir em frente. Mesmo sabendo que trairia a si mesmo. E a forma como era visto e tratado não mudaria em nada, sempre seria aquele que deveria ser protegido. O elo fraco. O outro lado ele preferia nem mesmo ouvir. Mas a forma como era tratado não lhe deixava dar o braço a torcer, mesmo que quisesse. Ainda de ressentia por ser deixado de lado e – mesmo provado seu valor – ainda ser visto como um fardo.
Ainda havia um pouco de orgulho correndo por suas veias.
— Ah!!! — Stiles grunhiu enquanto a água morna caia sobre sua cabeça e escorria pelo seu corpo. Livrando-o da espuma. — Já. Chega.
Ele decidiu – pela segunda ou, talvez, terceira vez – fechando a torneira. Toda aquela confusão já havia tomado muito do seu tempo. Tempo esse que poderia ser usado de uma forma muito mais proveitosa, e útil, do que pensar em seu amigo Scott. Ele possuía livros para ler, jogos para jogar. E séries e filmes para por em dia. Muitos, para ser sincero. Muito melhor do que ficar remoendo.
O rapaz voltou de seus devaneios com sons agudos que ressoavam no como, vindos do outro lado. Era como se algo afiado estivesse raspando entre a porta e o assoalho, havia uma sombra inquieta se movendo pela fresta. Stiles já havia visto e escutado uma ou duas vezes. Geralmente sempre que trancava a porta do quarto.
Só poderia ser uma coisa.
— Bruce. Se arranhar a pintura, adivinhe, você vai pintar.
Ele ameaçou. E aquilo pareceu ser suficiente para o cão; por alguns segundos, pois Bruce passou a latir. Um latido alto e vibrante, sabia que seu pai detestava o barulho; ainda mais quando estava de folga.
Stiles bufou e resmungou, saindo do box enrolando a toalha na cintura. Abriu a porta do cômodo e a imagem de Bruce lhe surgiu. Aqueles olhões azulados e a língua pendendo da bocarra não o amoleceram. Já havia percebido que Bruce gostava de ser o centro das atenções.
— Já que você está aqui, entre.
Ele pediu prestativo, dando espaço para que sei bichinho entrasse. Stiles virou-se e de agachou de frente para o pequeno armário debaixo da pia. O animal o obedeceu, com certa relutância, provavelmente lembrando-se das torturas – banhos – que sofrera ali. Sentou-se bem ao lado do rapaz, que remexia no interior do objeto..
— Achei!!!!
Ele comemorou. Mas o tom de sua voz soava mais como uma “ameaça”, que deixou o cão atento. O rapaz se levantou, erguendo e ostentando uma escova de dentes amarela. Um largo sorriso atravessou seu rosto devido a cara de desespero de Bruce.
Ele tentou fugir mas a porta estava fechada. Não havia escapatória.
°°°
A barriga de Stiles chegou a doer de tanto que riu. Balançava a cabeça em negação enquanto que vestia uma camisa, observando Bruce esfregar a língua na pata; tantas vezes e com tanta força que pensou que não sobraria pelo algum.
Aparentemente seu bichinho não era muito fã de menta.
Stiles estava um pouco cansado. Bruce lhe deu um trabalhão para segura-lo e escovar aquelas presas. Pareciam bastante pontudas para o seu gosto. No final teve que se banhar outra vez.
— pare já com isso. — Stiles resmungou. Se aproximando da cama. Onde Bruce estava deitado. — Não seja dramático.
Ele afastou a pata da língua do lobo, que deitou a cabeça no colchão, sem muita resistência. Parecia cansado, como se tivesse corrido uma maratona.
— Você não gosta de menta mas come chocolate. Seu cúmplice…
Resmungou o rapaz. E puxou a pata peluda para si. Passando a observa-la com esmero.
Aquilo lhe trouxe lembranças de quando Bruce chegara ali, parecia alho tão distante, como se tivesse se passado anos. Aquele dia chuvoso, a porta aberta por onde o vento frio entrava livremente e o rastro carmesim que Bruce deixou pelo chão. E o amontoado de pelos encolhido e assustado no canto da sua cozinha.
Os olhos de Stiles pulavam da pata que ele segurava para a outra. Só para ter a certeza de que buscava uma ferida, ou marca, na errada. Mas para sua surpresa ambas estavam do mesmo jeito. Lisas e peludas. Ele até insistiu em tatear a pele, olhando por entre a fenda pelugem, buscando alguma cicatriz. Não encontrou nada. Nenhum rico sequer.
— É… Surreal.
O Stilinski balbuciou baixinho. Os olhos ainda fixos na pata do lobo, esfregando o polegar sobre ela. Como se tivesse dificuldade assimilar que ele estava b; acabando por levar uma lambida na mão.
— Nem parece que estava machucado. Impressionante…
Stiles acariciava a cabeça do animal, que havia passado a ressonar baixinho, em apreço. O fitava diretamente nos olhos, talvez aquele fosse o maior gesto de entendimento entre eles. Haviam se passado dias e ele ainda se surpreendia em como eles eram expressivos. Aquele tom azul gélido, riscado de negro, o deixava fascinado. A medida que o deixava apreensivo; já havia se deparado com olhos expressivos como aquele, dourados e brilhantes. Diferentes, claro, mas ainda assim…
Uma pulguinha começou a saltar em sua orelha. Como sempre acontecia quando pensava no assunto. Deixando-o ansioso.
Foi somente pelo som de sua barriga que o rapaz voltou a si. Parando de fazer carinho no seu bichinho e a acariciar o próprio torso, encarando o mesmo. Estava com fome. Num piscar de olhos Stiles se pós em pé, embora sua vontade fosse de se enfiar novamente em baixo daqueles lençóis e curtir o sono um pouco mais. Porém, estava mais do que ciente que seu pai jamais deixaria isso acontecer.
— Bem… — Stiles espreguiçou-se sob o olhar atento de Bruce, que seguiu seus movimentos, caminhando ao seu lado. — Vamos comprar algo para comer.
Ele avisou passando a caminhar rumo a porta. Não havia comido nada desde que acordara, e a culpa era somente sua por ter enrolado alí.
Ouvia os passos apressados do lobo enquanto descia as escadas com certo cuidado. Ele tentava firmemente não tropeçar e sair rolando escada abaixo e acabar por machucar seu braço e costelas outra vez. Seria um baita azar. E bem vergonhoso também. Já que Bruce fazia o favor de roçar em suas pernas e tentar morder sua camisa.
Aquilo o deixava um pouquinho preocupado. Bruce já havia rasgado – despedaçado – ao menos cinco camisas suas. Se bem que Stiles tinha quase certeza de que uma ou duas eram de Scott, que havia esquecido por ali à séculos. Talvez alguma seja de Liam, ou Matt. E tinha também aquela de seu pai, mas isso não vem ao caso.
Ele esperava firmemente que as peças de roupa permanecessem no esquecimento.
Em determinado momento, próximo ao andar desejado, já cansado de driblar aquele quadrúpede abusado, Stiles se apoiou no corrimão, mantendo o equilíbrio.
— Fica quieto Bruce. Quer me derrubar???
O Stilinski ralhou. Mesmo sabendo que de nada adiantaria, uma vez que ele mesmo ria da situação. Manteve-se apoiado ao corrimão até sentir o chão deixar de ser encurvado e se tornar liso e reto. Não tropeçar com aquele tamanho exagerado do cachorro – que tentava se por entre as suas pernas – era um trabalho difícil. E Stiles tinha quase certeza de que havia pisado em sua pata; se Bruce sentiu, pareceu não ligar.
Em meio a confusão de pernas e patas houve uma pequena disputa. Aconteceu mais ou menos quando Stiles disparou rumo a cozinha. E Bruce foi logo atrás, em seu encalço; parecia lhe ar a vantagem de alguns centímetros de diferença, latindo eufórico. O medo de o seu bichinho errar sua camisa e acabar mordendo outra coisa era enorme, mas ele continuou. Suas passadas e as garras do cão raspando sobre o piso ecoavam casa adentro.
O rapaz derrapou, escorregando sobre o assoalho, parando ao se apoiar no umbral da cozinha. Tão logo sentiu um encontrão em suas pernas, o corpo peludo se chocou no seu e quase levou-o ao chão.
As lambidas que passou a receber nas canelas o ajudavam a rir.
Toda aquela barulheira assustou o xerife. O homem estava curvado vasculhando o interior da geladeira. E acabou por bater a cabeça no objeto ao se levantar de uma vez só.
— Stiles… — o Stilinski grunhiu enquanto fechava a geladeira. Encarava o filho e seu acompanhante com certa repreensão. — Que barulheira toda é essa?
O mais velho passou a massagear a nuca, que começava a reclamar da pancada. Viu a crise de riso cessar e seu filho lhe encarar com um falsa seriedade. Já que seus lábios tremiam como de fosse novamente ceder ao riso a qualquer momento.
— eu não ouvi nada. — Stiles garantiu. Balançando a mão, desinteressado. Empurrando Bruce com a perna só para ver se ele desgrudava um pouquinho.
John viu o animal se afastar e passar a caminhar de forma despreocupada pelo cômodo. Fuçando, farejando, como procurasse algo. Ele ladeou a mesa, indo de um canto a outro. Com certa tensão observou Bruce se aproximar, passar direto por si e se deitar no tapete da porta.
— está na hora dele começar a dormir no quintal. — John apontou para o bicho abusado. Fitando o filho. — Não acha?
— Não está não. — Stiles negou rapidamente. Enjoado só de pensar. — E não fale assim. Está bem?! Vai magoa-lo.
Ele observou seu bichinho lamber as patas. Os olhos estavam fechados mas as orelhas se moviam eretas e inquietas, atentas a todo o resto.
— Ah, fala sério.
John revirou os olhos. Voltando a encarar a geladeira com decepção. Pequenas interrogações pareciam flutuar sobre a sua cabeça e Stiles observava isso; ainda não havia falado com seu pai sobre suas escapulidas adocicadas e aliciamento canino.
— Eu irei sair. — Ele avisou, logo após pigarrear. — mas antes precisamos conversar. É um assunto muito sério Jonathan Stilinski.
John arqueou as sobrancelhas. De fato possuíam um assunto sério a tratar: a geladeira vazia.
— Com certeza precisamos. — Ele assentiu com veemência. — O que raios aconteceu com a comida desta casa? Onde estão os bifes, o frango, as carnes dessa casa?
Ele olhou com desconfiança para o rapaz, certo de que havia um dedo seu ali. Uma vez que suas ideias para dietas estranhas já não o surpreendiam mais. Stiles já havia lhe apresento de um tudo. John já estava acostumado e indignado com os truques do filho. Comida era sempre um assunto delicado entre os Stilinski.
Os olhos traíram Stiles, no momento em que tentara olhar para Bruce discretamente. Bem, não tão discretamente assim. Foi um movimento brusco e instintivo. Talvez, só talvez, ele tenha acostumado seu bichinho muito mal.
Mimos de mais estraga. Ele deveria imaginar que Bruce ficaria muito mal acostumado.
O xerife pareceu entender exatamente o que acontecia por ali quando não estava. Algo pior que havia imaginado.
— Stiles você não fez isso.
ele murmurou. Para ser sincero teve sua confirmação. Confirmação de que seu filho não possuía noção alguma.
— Comprou toda aquela ração pra que, afinal?
Ele quis saber. O dedo estava erguido de forma acusatória na direção em que o saco esquecido, ao lado do armário, estava.
— Ele não é muito fã de ração, pai. — O rapaz sorriu amarelo. — E, francamente, você já provou? É horrível! Não o culpo.
Stiles deu de ombros. Virando seu sorriso para o animal; vendo-o girar, ficando de barriga e patas para cima. Parecia não ligar para o que seu pai tanto falava.
O xerife fez uma careta. Tentava firmemente não imaginar aquela cena.
— Esse… Cão está comendo melhor que eu. — resmungou o homem. — Eu mereço.
John revirou os olhos, puxando uma cadeira para que se sentasse. Pensando em como lidaria em relação ao almoço.
— Deixa de ser reclamão, pai. Está exagerando. Fala como se estivesse passando fome. — o rapaz balbuciou.
— E não estou? — O xerife Indagou como um desafio. — Depois que você entrou numa de pseudo-nutricionista não tenho comido bem.
Naquele momento foi a vez de Stiles revirar os olhos, se limitando a se aproximar um pouco mais da mesa. Seu pai tinha tendência a ser dramático as vezes.
— A. Para vai. Eu sei que sempre que pode come doces escondidos. E pior. — Ele acusou, apoiando as mãos na mesa, como se estivesse em um interrogatório. John perguntou-se o que, na cabeça avoada de seu filho, poderia ser pior que aquilo. — Anda dando para o coitado do Bruce! Quer mata-lo?
— ora, por favor. Quem está sendo dramático agora? — Resmungou o homem. — Foi só um pedacinho. Era para ser. Mas esse monstro comeu a barra toda. E quase levou a minha mão.
Ele fez questão de apontar para o animal. E fuzila-lo com um olhar ressentido.
— Chocolate faz mal para cachorros. — Stiles declarou. — Pai. Isso não se faz.
— Bobagem. — o homem balançou a mão. Como se aquilo não fosse nada . — E isso nem é um cachorro. Parece mais um cruzamento de urso com algo que ainda não foi catalogado.
— Pai. Não diga isso. — o mais novo reclamou. — E você não pode comer chocolate. E fica se entupindo.
Acusou-o. Era frustrante. Tudo o que fazia seria em vão se seu pai continuasse com os mesmos hábitos. Ele por acaso queria parar no hospital outra vez? Mata-lo de preocupação.
John grunhiu entendido. Por mais uma vez estar tendo aquele tipo de conversa novamente, sempre. O mesmo assunto ia e voltava e Stiles tinha o prazer em entrar naquele assunto.
— Está completamente enganado, Mieczyslaw. — John declarou. Se dando ao luxo de esticar um breve sorriso vitorioso.
Stiles pôs as mãos nos ouvidos. Como se garras estivessem raspando num quadro negro – e ele já havia escutado, Corey era bem engraçadinho. – com os sons que aquelas letras compunham. Nome pavoroso! Aquela reação parecia divertir sei pai, sempre, que esboçou um sorriso. Já Bruce grunhiu confuso.
— Filho. O médico foi claro, eu não posso comer besteira. Chocolate por exemplo. Mas esse teu cérebro interpretou que deveria erradicar o doce da minha vida.
— Mas é isso mesmo. Ao menos por hora.
Insistiu o mais novo. A maior parte das coisas que seu pai falava entrava por um ouvido e saia pelo outro. E aquele “horas” soou como “anos”.
John não sabia se apreciava todo aquele empenho e dedicação ou se enchia-se de horror. Uma vida de comidas clandestinas lhe dava calafrios.
— Stiles. Eu não comia chocolate haviam semanas. — ditou o xerife. — Então para de drama. E de encher o meu saco também. O pai aqui sou eu.
Stiles decidiu não dar muita bola para o que escutava. Tinha fortes dúvidas sobre a veracidade daquele relato. Encontrar aquele estoque de doces, dias atrás, com a ajuda de Bruce, pesava de forma desfavorável na balança.
— Vou conversar com a tia Melissa. — avisou o rapaz. De forma despreocupada; como se suas intenções fossem somente boas pegar no pé de sei pai.
— Melissa…. — John balbuciou com desgosto, engolindo algumas palavras. — Foi só a pressão que estava alta, e o estresse no trabalho. Mas claro que ela tinha te enfiar nisso.
— Isso prova como ela é sensata. Agora o senhor…
— ….
O xerife ergueu uma das sobrancelhas. A espera de que ele desse continuidade a frase. Aquilo já o estava tirando do sério. Tinha mesmo que escutar aquela ladainha novamente?
—Não foi só o estresse. O senhor sabe disso. — Stiles resmungou. A chateação era mútua. Principalmente quando seu pai fazia pouco caso com a saúde. — Seus hábitos alimentares são questionáveis, desde sempre. Está na hora de mudar.
John bufou rolando os olhos.
— há um mês e meio eu praticamente só como peixe. E folhas. Não sou uma lagarta. Sou um homem adulto e carnívoro.
— Tudo bem, senhor carnívoro, quem está sendo exagerado agora?
John grunhiu exagerado, esfregando as mãos no rosto. Stiles era tão cabeça quanto a mãe e, bem, como a si; o que – as vezes – era frustrante.
— Garoto. Deixa eu ter meu momento, semanal, de prazer em paz. — Pediu o homem. Encarava-o com certa seriedade. — vá procurar ir ao cinema, Não sei. Sair um pouco com seus amigos. Ao invés de ficar conversando com esse mostrengo peludo ali.
John balançou a mão. Usando de seu polegar para apontar na direção em que o cão estava. Ou que imaginava que ele ainda estaria. Havia se distraído com o falatório do seu filho e seu irritante assunto; acabando por não prestar atenção no momento em que Bruce havia se levantado, ladeado a mesa de forma sorrateira, e agora se enroscava mas pernas do Stilinski mais novo.
Stiles – para que não perdesse o costume – ignorou tudo o que lhe fora dito: cinema, sair e, principalmente, deixar Bruce de lado.
— Está admitindo que se entope de doces quando não estou por perto?
John suspirou. Stiles era irredutível. Voltaria com o assunto até receber uma resposta positiva, ao menos que o deixasse satisfeito, de sua parte.
— chega desse assunto. — o xerife se levantou. E se assustou com a pelagem escura amontoada no canto da mesa. — E, humn… Você deveria sair com alguém. Sei lá, namorar um pouco, sabe?
John se levanta. Mantendo uma distância segura do animal. Ainda se lembrava bem da bocarra, recheada de marfim pontiagudos, que quase levará sua mão junto ao chocolate.
— Pai… — Stiles resmungou. Ligeiramente constrangido. — que papo é esse, assim do nada. Não mude de assunto, está bem?!
Ele Acusou. Inquieto, remexia os dedos dos pés sobre o corpo de Bruce, que se enroscavam nos pelos escuros. Era macio e quente, do jeito que seu rosto se encontrava.
— Pois é. — O homem deu de ombros. Parando próximo ao arco, virando-se brevemente para que pudesse encarar seu filho outra vez. — já que vai sair, traga comida para essa casa. Comida mesmo.
O homem resmungou, apontando ligeiramente para o armário. Já havia decidido não dar corda ao seu filho.
Stiles balbuciou algo inaudível. Seu pai. Sempre escorregadio.
— Sim senhor.
O rapaz resmungou, vendo o mais velho ir para sala. Se levantou seguindo para o armário, de onde pegou um pote onde se guardava o dinheiro, tirou o que achou que seria suficiente para aquele dia, não queria fazer a feira. Passou pela sala, pegando a chave do carro, ciente de que Bruce estava em encalço.
Stiles esboçou um sorriso afiado. De soslaio via que seu pai estava sentado na poltrona, tentado a ligar a tevê.
— Não. Dessa vez você não vai, está bem? — Stiles se agachou e afagou a cabeça de Bruce. Que se sentou sobre as patas traseira, não muito satisfeito. — Faz um favor para mim? Fiquei aqui, de olho. Siga ele até mesmo no banheiro, se preciso, está bem?
Sua resposta veio com Bruce saindo em disparada. E se sentando de frente para a poltrona que seu pai estava e ali permaneceu.
O homem ergueu uma das sobrancelhas para a figura peluda à sua frente.
— Está na frente da teve. — O homem resmungou mal-humorado, balançando a mão como se o gesto fosse suficiente para enxota-lo dali, para o mais longe possível. Mas o cão permaneceu imóvel feito uma gárgula; só que com olhos grandes e bem vividos, cravados em si.
— Stiles…. — John chamou. E sem resposta gritou: — STILES!!!
Stiles riu a medida que caminhava até seu jipe, ouvindo seu nome ecoar algumas vezes mais.
°°°
Stiles poderia muito bem ter ido ao mercadinho próximo a sua rua. Mas no meio do caminho havia decidido que seria bom esticar as pernas um pouco mais. E também pensou que seria uma boa ideia deixar seu pai e Bruce um tempo sozinhos. Fazendo companhia um para o outro. Para que ao menos se conhecessem melhor. Quem sabe seu pai não parasse reclamar tanto, ao menos sobre o cachorro.
O rapaz desceu do veículo. E se prostrou ao lado do automóvel; tateava os bolsos só para ter a certeza de que não esquecera nada. Chave-de-fenda, dinheiro, tudo certo.
Se distraiu ao vistoriar-se. Que só notou uma figura – recentemente – conhecida. Estava tão perto de onde estava que estranhou. Havia passado por ali num segundo atrás e não a viu. A medida que ficou animado com a situação improvável de encontrar Malia. E
Ela estava próxima ao grande quadro, que ficava ao lado da construção. Ali os funcionários e pessoas pregavam todos os tipos de coisas. A promoção do dia, datas de eventos, cartaz de restaurantes, números de telefone rabiscado e endereços de sexy shop, e outras coisa bem vergonhosas.
Não que fosse do seu feitio mas o rapaz espiou, se mantendo exatamente onde estava. Ele se agachou na altura do capô no momento exato que a coiote olhou de um lado para o outro e colava um cartaz junto aos outros.
Malia lançou um olhar consternado para o folheto que grudara na quadro aveludado. Stiles ficou ali parado, meio que se escondendo, só esperando ela se afastar. O que achou bastante estúpido por espiar ao invés de ir até a garota e falar um oi, olá. Conversar um pouco, ao invés de apenas trocar algumas palavras nos corredores e – as vezes – no intervalo. Sair um pouco do âmbito escolar, já que era só ali que via os Hale-Tate-Whittemore. Aquela árvore genealógica era tão confusa. Mas era de seres sobrenaturais que se falava, ele não poderia esperar algo mais simples. E também não poderia incluir os outros, já que era com ela que mais conversava.
Apesar da sua vontade de trocar uma ou duas palavras. Suas pernas pareciam ser feitas de gelo glacial e o mantivera exatamente ali. Que só derreteu quando a garota coçou o nariz e caminhou até sumir do seu campo de visão. Stiles deixou-se levar pelo momento e a passos ligeiros e afobados se aproximou. As vezes sua curiosidade era algo bastante inconveniente.
O quadro/mural estava dois metros a sua frente. O rapaz esperava que não fosse um panfleto com um anúncio daqueles eventos escolares para arrecadar dinheiro lavando carros. O treinador Finstock sempre o forçava a participar.
Francamente ele mal lavava o seu.
Quando finalmente se pós de frente para o mural seus olhos vacilaram. Correram de folheto em folheto quando enfim encontrou o que, sem sombras de dúvidas, seria o que Malia havia colocado.
Seu corpo gelou como de estivesse nu, na rua, em pleno inverno.
Com um movimento incerto ele puxou o papel, rasgando as ponta no processo. O rapaz piscava algumas vezes, incrédulo do que via e tinha em suas mãos.
A imagem do seu cachorro enfeitava boa parte do cartaz de procura-se. Uma foto preta e cinza de corpo inteiro. Era Bruce, era ele. Mesmo que a imagem não possuísse cores vividas ele o reconheceria. Aqueles olhos não lhe enganavam, tampouco o tamanho exagerado, comparado a poltrona em que estava sentado.
Stiles sentiu uma pontada na cabeça. Seu cérebro parecia ter levado um nó bem dado. A medido que o sangue em seu corpo era bombeado em seu corpo num ritmo que o deixava tonto.
Aquele pedaço de papel o preocupou, bastante. A ideia de Bruce possuir um(a) dono(a) já havia passado em sua cabeça diversas vezes, o suficiente por toda uma vida. Mas jamais quis imaginar que seria real. De que ele possuía e estavam, absurdamente, próximos a si.
Tudo passou como um raio em sua cabeça, a ponto de deixá-lo tonto, num piscar de olhos. Era questão de tempo. Eles eram lobos, não demoraria até que eles o encontrasse. Estava surpreso, até, por ainda não terem batidos na sua porta. Algo ainda pior lhe ocorreu. E se seu pai olhasse um daqueles panfleto? E resolvesse entregá-lo.
Seu pai havia o aturado em casa por um único motivo. E a solução para esse motivo pendia em sua mão.
Stiles girou nos calcanhares. Estava pronto para deixar as compras de lado e ir para caso. Tinha que bolar um plano, caçar panfletos por toda a cidade quem sabe?! Mesmo sabendo que aquilo não era justo. Que os donos poderiam estar desesperados atrás do cãozinho. Mas ele Havia se apegado e só em pensar em entregar Bruce seus olhos ardiam.
Quando ousou dar um passo, Malia surgiu bem a sua frente, ereta. Tão próxima que Stiles quase trombou na garota. Tentando evitar o esbarrão ele cambaleou para trás, quase caindo com um grito preso na garganta.
— O tom sorrateiro não serve para você.
A garota falou em reprovação, balançando a cabeça em negação. E tão logo esboçou um sorriso fino, cruzando os braços rente ao peito.
Stiles sorriu amarelo, com a mão no peito pelo susto. Seu coração dava solavancos enfurecidos nas costelas. O mini-infarto parecia iminente.
— Já o de assustador se aplica perfeitamente a você. — Ele balbuciou, recuperando o fôlego. Sob o olhar avaliador da garota percebeu como sua frase poderia ter mais de uma interpretação, o que era bastante desconcertante. — bem, digo: não nesse sentido. E sim por você me assustar, né. E…
— eu entendi. — Disse Malia. Rindo baixinho. — Você está bem, Stiles?
Perguntou. Notava a forma como o rapaz estava. Como se seus nervosos estivessem a ponto de explodir. Toda aquela inquietação fazia deu nariz coçar. O ritmo do rapaz retumbava em seu ouvidos, talvez realmente tenha-o assustado.
— Estou, claro. — Ele admitiu, nervoso. Tinha que ficar atento ao super faro sobrenatural. Temia que o cheiro de Bruce estivesse em si e ela sentisse. — Eu só… foi só o susto.
A Tate assentiu um tanto sem graça, abaixando o olhar. No movimento acabou por notar o cartaz nas mãos do rapaz; que percebeu para onde havia ido a atenção da garota, tornando impossível não constranger-se.
— …. É um belo cão. — Ele esboçou um sorriso. Tentando manter-se calmo. — desculpa ter arrancado para olhar. Ele é… Seu?.
— Cão. — a garota meio que bufou e meio que deu uma risada ao repetir a palavra. — chega a ser uma palavra apropriada para descreve-lo.
Ela meneou positivamente. Como se cogitasse nomeá-lo daquela forma. Mesmo em seu abalo Stiles não podia discordar; não que Bruce fosse uma atentação na maior parte do tempo, mas ainda sim… Acabou por se lembrar da vez que chegou e seu quarto estava uma zona; lençóis e roupas pelo chão, travesseiro estraçalhado e um livro mordido, como se ele precisasse de ajuda para deixar o quarto num estado deplorável. Ou quando chegava e encontrava a casa e o tapete salpicado de patinhas de barro, por isso passara trancar a porta do quintal na chave.
— Esse demônio fugiu á alguns dias. Ele parece querer reinventar o jogo pique esconde. Está deixando a família inteira maluca. Meu pai e minha prima, principalmente. Estamos tentando manter segredo.
— Humn… — Stiles engoliu em seco. — u… vocês gostam bastante dele. De quem ele é…
Calma, ele precisava manter a calma. Respirou fundo, Malia era uma coiote, ele tinha isso em mente. E insistir no assunto, conhecia os riscos, mas precisava saber.
Ela demorou para responder. Como se tentasse lembrar de algo.
— do meu primo. — ela murmurou e franziu o cenho — ele é da família. Ou seja se minha tia descobrir que… Hã, eu deixei o bebezinho dela fugir…
Malia passou o dedo pela garganta, de orelha a orelha. E Stiles não soube dizer se ela estava apenas brincando ou se falava mesmo sério.
— escapou na mudança. Enfim, não estamos conseguindo encontrá-lo. O que é óbvio, pelo cartaz. Farejar não é um opção, não sentimos nada. Como… como se ele já não estivesse mais aqui, o que é preocupante.
Stiles coçou a nuca sem jeito. Vai a aflição nós olhos da coiote, assim como via-se de mãos atadas.
Abrir mão da única coisa boa que lhe aconteceu desde que quebrara alguns ossos? Era errado, porém, nem pensar! Lembrou-se então dá tatuagem, algo como três espirais que se interligavam, que tipo de pessoa tatuava um cachorro?
— a sua tia veio com vocês? E o resto da família?
Malia balançou a cabeça em negação, aquele assunto parecia mesmo deixá-la apreensiva.
— Não, felizmente. Ela vai continuar morando em Nova Iorque, com o meu tio e prima. Negócios. — ela deu de ombros. E stiles não deixou de pensar em como aquela matilha parecia ser grande. — Havíamos pensado que voltar para Beacon Hills o ajudaria a…
A garota mordiscou o lábio inferior, se censurando. Como se só agora percebesse que estava falando demais.
— O que? — Stiles Indagou curioso.
— Nada de mais. Só que a vida fora de uma cidade grande nos faria bem. Você sabe, lobos, a cidade grande é um pouquinho apertada. E meu pai garantiu que vir para Beacon seria bom para nós. Mudar os ares, conhecer a cidade Natal da família. — Garota de cabelos castanhos mudou de assunto. — E você, o que faz por aqui?
Embora muito quisesse que Malia terminasse o que havia começado a falar, ficou agradecido pelo rumo da conversa ter mudado; já não aguentava mais e não saberia dizer até quando conseguiria de manter neutro e disfarçar. A garota corria risco de ser punida, pelo que pôde entender, e seu livramento seria Bruce. A culpa crescia e ele a afundava em seu amago.
— Comprar carne para o velho. — Stiles apontou para o local. — vou abrir uma exceção.
Ele abriu um sorriso maldoso. A garota quase podia ver as engrenagens girando em sua cabeça.
— humn… — Malia sorriu desconfiada. Decidida a ver, ao invés de perguntar o que ele estaria aprontando. — Quer companhia?
Stiles da de ombros. Não via problema algum em uma companhia. De qualquer forma, poderia tentar conseguir um pouco mais de informação.
— para comprar carne? Porque não?!
Passaram a caminhar lado a lado rumo ao está estabelecimento. Quando Stiles parou de repente. Com aquele papo de cheiros, Bruce e olfatos superdesenvolvidos; acabou por se lembrar da escola e da enxurrada de narizes direcionados a si.
— Malia vou fazer uma pergunta, e provavelmente será estranha.
A garota o observou com atenção, vendo-o girar nos calcanhares e lhe encarar; como se ela fosse um problema pronto a ser resolvido.
— humn… defina estranho.
Malia balbuciou como se o desafiasse. E Stiles aceitou-o.
— Sente algum cheiro em mim? Estranho, fora do comum?
Ele deu um passado a frente, como se alguns centímetros a mais ou a menos fosse fazer diferença. Aquilo o estava irritando; aquele funga, funga, e os comentários que recebera. Não sabia como a coiote poderia lhe ajudar; já que quando chegará ele já estava com aquele “cheiro” fora do comum e ela não conhecia o seu cheirinho natural. Aquilo não poderia ser mais bizarro.
Mas tão logo se arrependeu de seu pedido imprudente. Enquanto a risada abafada de Malia preenchia o local percebeu que provavelmente estaria impregnado com o cheiro de Bruce. E que o problema dos Hale-Tate-Whittemore talvez fosse a distância; e lá estava ele de frente para uma coiote, fazendo um pedido que não poderia fazer.
Estava pronto para pedir que ela esquecesse o que havia pedido. Mas a coiote se adiantou.
— Vou ser sincera, sou péssima nisso. — Disse-lhe. — mas vem cá…
Ela o puxou com um movimento tão brusco, pela gola da camisa, que Stiles temeu que não fosse aguentar a força da coiote. Tropeçou nos próprios pés devido ao puxão, em outras circunstâncias não acharia tão estranho uma garota enfiar na curva do seu pescoço. A não ser, pelo fato, dela farejar. A pele de Malia era quente como vapor, ele sentia-a na curva do pescoço, e seus cabelos possuíam cheiro de cravo e limão. Uma mistura interessante.
O rapaz pôde sentir um calor aflorar em seu rosto, a medida que a ponta do nariz alheio se esfregava em sua pele. Ele pedia mentalmente que não estivesse tão claro quanto imaginava.
A garota se afastou movendo as narinas, como quem move os lábios apreciando um sabor. O que era engraçado. Balançou a cabeça positivamente.
— Você tem um cheiro bom…
Stiles gostou de ouvir aquilo. Nada de 'cheiro estranho', 'cheiro diferente' ou 'cheiro ruim'. Era bom. Aquilo o agradava. Provavelmente seus amigos lobisomens e coisas a mais estariam com um parafuso a menos. E o melhor: nada de Bruce. Só para garantir ele insistiu:
— Nada fora do comum?
Ele perguntou, erguendo uma das sobrancelhas. Mais uma vez havia se esquecido que Malia era nova por ali. E o normal, se é que um dia existiu, ela não conhecia.
Mas ela se limitou a esboçar um sorriso de canto. Fazia muito aquilo, como se para qualquer momento aquilo fosse a solução.
— Nãooo… tudo certo. — Ela negou com veemência. E o sorriso se alagou de repente. — tirando o medo, o nervosismo e sua clara excitação. Você deveria se aliviar mais, sabe!?
O movimento de carros e pessoas parecia não intimida-la; enquanto observava a cara de espanto do rapaz, Malia deixou um risinho escapar.
Stiles engoliu seu constrangimento. E um grasnido de surpresa.
— Malia. Você é tão inconveniente.
Ele se virou e passou a encaminhar-se ao estabelecimento. Enquanto que esfregava o rosto com as mãos, de modo que o calor em suas maçãs parassem. A, aquela garota estava implicando consigo. Ele não precisava de… de nada.
Ela continuava a rir a suas custas. Mas parecia segui-lo.
— Tem cheiro de animal também. Cachorro, talvez um lobo. — Malia disse e Stiles quase travou. Não havia dificuldade em seguir seu ritmo, já estava lado a lado ao castanho. — mas isso não tem muita importância, certo!? Você vive cercado por lobos. E aquele baixinho sempre te abraça. Então…
Ela deu de ombros. Stiles tinha razão, aquela pergunta era esquisita. Não via nada demais, de qualquer forma era suspeita para falar, uma vez que acabara de conhecê-lo.
Stiles moveu a cabeça, assentindo. Impossibilitado de falar, já que sua mente gritava. Aquilo fazia um pouquinho de sentido. Muito embora Stiles tivesse a certeza de que o cheiro “estranho” estava relacionado a Bruce, não tinha dúvidas sobre isso. Só queria entender melhor. Ele a encarou de soslaio, parecia distraída com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco. E perguntou-se se Malia seria tão ruim assim, como alegava ser, com deus dons olfativos.
— o Liam. — Disse depois de um tempo. Aos passarem pela porta de vidro. — tem razão.
Concordou. Queria dar um fim naquele papo de cheiro. Era arriscado e, agora, constrangedor. De qualquer forma, por hora, não fazia diferença.
°°°
Stiles havia preparado o almoço. Fora para a boca do fogão assim que adentrou a casa, sob o olhar impaciente de seu pai. Sua cara não era a das melhores, mesmo depois do garoto ter se desculpado pela demora.
Bem, havia perdido ao horário ao estender a conversa com Malia, quando se sentaram em uma praça ali perto. Quando deu por si, o sol aquecia sua nuca, deixando sua pele ardida.
Não havia escutado nenhum terço dos resmungos sobre Bruce. Seu estava se aperfeiçoando na técnica rabugentice. E o melhor era não dar corda. Por isso se concentrou na comida, enquanto o pai assistia.
Bruce não havia descido para lhe cumprimentar, o que era estranho, e ele tinha pressa imposta pelo pai. Sua vontade era de vê-lo e estar perto com seu bichinho. Havia uma certa urgência, afinal sabia até quando ele ficaria consigo. Tentava não ser pessimista mas dada as circunstâncias era impossível. Seu pai era o xerife e os cartazes estavam pela cidade, pelo que soube. E os donos de Bruce eram seres sobrenaturais de sentindo aguçados. Questão de tempo.
Com a mente a mil e a vã tentativa de organizar as ideias, quase despelou seu dedo enquanto cortava os temperos. O cartaz de procura-se parecia pesar uma tonelada em deu bolso.
Depois de tudo pronto ele decidiu que um banho cairia bem. Já que seu bichinho parecia querer manter uma certa distância de si. Stiles ouviu seus passos enquanto descia as escadas; esperou que Bruce aparecesse para lhe fazer companhia mas nada disso aconteceu, tampouco adiantou chamá-lo. Sempre que o via de soslaio, rondando o cômodo, ele se afastava rapidamente. Francamente Bruce parecia preferir a companhia de seu pai, que não gostava nenhum pouco da presença do lobo em sua poltrona, do que a sua.
Stiles chegou a conclusão de e que deveria estar fedendo, muito. Sua camisa estava salpicada de suor; ficar sentado naquele banco de praça sobre o sol, conversando sobre a vida dos lobos em cidade, teve seus prós e contras. Geralmente ele ficava assim quando chegava da escola e Stiles não tinha outra escolha não ser banhar.
Quando desceu seus cabelos ainda pingavam água do banho. A história de Bruce pertencer aos novos moradores da cidade o fisgara de tal modo que as vezes parecia que sua mente fugia de seu corpo e divagava por lugares bem longes dali. Foi assim que ficara quase vinte minutos debaixo do chuveiro; saindo de lá somente quando seu pai bateu na porta, reclamando da conta de água, demora e fome. Agora ao lembrar-se de que, à alguns dias atrás, praticamente desfilara com Bruce naquele parque, sem saber de como correra o perigo de ser pego, o deixava tenso.
Felizmente a suposta falta de odor marcante de Bruce lhe ajudava. Lhe daria tempo.
Quando adentrou a cozinha viu que pegou seu pai debruçado sobre o fogão. Na mesma situação de mais cedo: procurando comida, só que no lugar errado dessa vez.
— Stiles. — John grunhiu sem se virar. Parando de mexer nas panelas vazias e só então o fez. — Onde está a carne?
Perguntou o homem com um cuidado de se desconfiar. Seu olhos estavam inquietos e pulavam de Stiles para a mesa de forma repetitiva; como se uma dúvida pairasse no ar.
— Porque está mexendo nas panelas, sei que hoje a louça é com o senhor, mas a comida já está toda na mesa. — Disse o rapaz. — Onde estão seus óculos de gatinho?
Stiles apontou para a mesa, onde o almoço estava posto em recipientes separados. Estava até surpreso de seu pai ainda não ter bisbilhotado.
Seria melhor se ele já tivesse olhado…. Se bem que perderia toda a graça.
— Não sinto cheiro de carne. — John insistiu. Havia se aproximando da mesa e encarava os bolinhos de soja com repulsa. — Isso não é carne.
Ele lançou um olhar zangado para o filho, que j de sentava a mesa.
— mas é claro que é.
Stiles usou da mesma insistência.
Enquanto seu pai cutucava os bolinhos com um garfo, como se fosse uma granada prestes a explodir. Bruce se materializou bem ao seu lado, e esfregou o focinho melado em seu cotovelo, com cuidado; como se estivesse farejando uma bomba nuclear. Não muito diferente de seu pai. Deveria pensar duas vezes antes de deixar esses dois sozinhos, sem supervisão.
O cão pareceu satisfeito, pois lambeu deu pulso.
A mão do rapaz pousou na cabeça do lobo, passando a afagar a pelugem escura. Ao menos agora ele conseguia, sem que Bruce saísse correndo, ou produzisse um som agudo na garganta; como se estivesse pronto para rosnar, mas se continha. Igualzinho daquela vez.
Stiles franziu o cenho, espremendo os olhos, como se tivesse levado um soco. Um estalo lhe ocorreu e parte do indecifrável quebra-cabeças começava a se montar. Stiles laçou um olhar urgente ao bichinho, parando seu afago. Baixinho ele sussurrou:
— Você a conhece mesmo… Malia.
Bruce o encarou, indeciso entre permanecer ali ou subir as escadas correndo. Seus olhos pareceram brilhar com a menção do nome.
"Ótimo", Stiles pensou, "tudo o que eu não queria."
O rapaz recolheu o braço, incerto. Se perguntando o motivo de ele fugir de si sempre que chegava após uma conversa com Malia. Porque cheirava a ela? Era um pouco estranho de se pensar. As vezes agradecia por não possuir esse tipo de olfato. Chegando a conclusão de que em certas circunstâncias deveria ser uma verdadeira maldição. Como entrar no banheiro masculino por exemplo.
— Eles maltratavam você. — Indagou o rapaz. Se curvando, tentando falar o mais baixo possível para não criar um caso. — por isso fugiu?
Bruce moveu-se, como se fosse recuar. E fez o que Stiles pensou ser uma careta. Aquela resposta negativa não o animou. Queria pensar outra coisa a pensar que ele simplesmente fugira.
— não? Então como você se machucou?
Ele Indagou, aquilo o preocupava um pouco. Suas cartas mas mangas se esgotavam; e tentar achar um forma de culpar a família, para aliviar a própria culpa sobre saber o paradeiro do cachorro, já parecia uma ideia distante.
As orelhas pontudas do bichinho se encolheram. De modo que pareciam sumir em meio aos pelos negros. Stiles o observou com atenção, mas antes que pudesse perguntar qualquer outra coisa, fora interrompida.
— Pare de falar com o Bruce desse jeito. — John grunhiu.
Quando ergueu os olhos Stiles viu que seu pai o encarava com um olhar de advertência.
— Só estou fazendo um carinho nele. Só isso. — O rapaz se empertigou, sentando-se corretamente. Não queria dar assunto a mais ao seu pai
— aham. Claro. Agora. C-a-d-ê a carne? De verdade…
O homem insistiu com teimosia. Havia puxado uma cadeira e se sentado a mesa. E Stiles se viro para encara-lo, já estava se cansando de toda aquela reclamação e aquele assunto e seu pai agindo feito uma criança birrenta. Mesmo sabendo que estava errado
Stiles suspirou ruidosamente. Decidindo que o ignoraria, passando a servi-los; purê, salada de ervilhas e a – “terrível” – carne de soja.
— Carne animal. — Ele resmungou outra vez. E olhou para Bruce, como se pedisse ajuda para quem menos quisesse. — Você me entende, certo?
Stiles olhou do cão para seu pai. Com as sobrancelhas erguidas. Bruce não parecia dar muita bola para o que ele dizia e sumiu debaixo da mesa.
— A. Não envolva o Bruce nisso. — disse o rapaz. E ditou num emendo. — Prove a salada.
John grunhiu puxando o prato, para mais perto, de mal-gosto. Ele encarava o conteúdo do objeto como se fosse um quebra-cabeça no qual não sabia por qual peça teria de começar.
— porque não fui comer fora?
Balbuciou o homem. Começando a fazer o que sempre fazia quando seu filho fazia alguma comida inovadora; comia no automático.
— Dê um desconto pai. E pare de reclamar tanto.
Stiles balbuciou e fez o mesmo. Francamente, já havia comido soja, estranharia no começo mas não era assim tão ruim como o seu pai pintava.
— porque você não pode ser uma adolescente normal e me incentivar a comer bem?
— é o que estou fazendo. Viu?
Stiles serviu-o com mais duas almôndegas.
Apesar de reclamar ele provou da carne. O que já era satisfatório a Stiles.
Por um breve momento o silêncio se instalou por ali. As únicas coisas que se ouviam era o som dos talheres contra o prato e os grunhidos de Bruce deitado sobre os seus pés. Ele gostava bastante quando o Stilinski remexia os dedos entre seus pelos, sob sua pele, como se fosse uma massagem.
O tilintar seguiria frio e soberano se Stiles não tivesse se lembrado de algo. Algo que o distraiu um pouco e que havia deixado para perguntar depois e acabou enrolando e se esquecendo. É, eles não andavam conversando tanto quanto gostaria.
— E então. Como foi aquele encontro? — Ele balbuciou. E John fez um barulho como se por pouco não estivesse engasgado. — Sabe. Estou bastante animado, por você, claro, depois de tanto tempo sair com alguém e…
— Não foi.
O homem lhe cortou, antes que Stiles começasse a perguntar mais do que devia. Como sempre, apesar de não fazer muita diferença em interrompe-lo ou não.
"E não faz tanto tempo assim", resmungou baixinho e enfiou um punhado de soja na boca. Era uma ótima desculpa pra se manter em silêncio por um tempo.
— Pai…
Stiles murmurou, deixando seus talheres se lado. Queria entender melhor, pois não lembrava de ter visto seu pai chegar; mas tinha certeza de que quando saiu do seu quarto e ele já estava, assistindo tevê, estava tarde e ele pensou que tudo tinha ido bem. E no momento não perguntou nada, o que agora repensava o motivo.
O rapaz observou seu pai mastigar, as bochechas infladas pelo exagero. Esperou com paciência.
— E então?
— Não aconteceu, simples. Eu… — ele engoliu, tomando cuidado para não se entalar, como se fosse ajudá-lo com o desgosto daquela frase ao descer. — Eu levei um toco. E é isto.
Resmungou. Como quem não quer nada. Mas parecia bastante chateado.
Stiles soltou um longo assobio. Surpreso tanto pelo relato como por seu pai ter comido tudo.
— Para ser sincero. Não sei o que dizer.
Ele se manteve quieto. Olhando do rosto consternado de seu pai, para o prato quase vazio. Sentindo um misto de pena e satisfação.
— Não fazer piadas? Já é um começo!
Jhon deu de ombros.
— Toco, sério?
Stiles indagou, levemente interessado. Respeitosamente continha um sorriso.
John assentiu, resmungando com mal-humor. Fazia aquilo muito bem ultimamente.
Stiles ergueu as sobrancelhas, esperando que seu pai dissesse algo.
— Não vai me contar quem é? Ou era?
— Faz diferença?
O homem lhe fitou por alguns instantes. Antes de uma movimentação estranha ocorrer debaixo da mesa e fazê-la tremer.
Ele se inclinou para poder observar. Stiles não precisou pois via que era Bruce. Que saía debaixo da mesa e havia mordido uma das pernas de uma cadeira.
— O que…
O xerife perguntou. Vendo o assento ser puxado, arrastado pelo piso.
— é só o Bruce. Agora me conta, quem era?
Stiles sorriu. Estava tranquilo, e acostumado. Mas o olhos de John se arregalaram quando o animal decidiu que havia uma distância perfeito entre a cadeira e a mesa. Com um pulo ele subiu no assento e se sentou, deitando a cabeça sobre a mesa.
— A, não. — John sobressaltou-se, se levantando. — Aí já é demais. Vou ligar para o canil. Melhor, um padre.
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