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História Omega - La loba


Escrita por: vanaheim

Notas do Autor


E ai....
Como prometido, no capítulo 28, será revelado que o Stiles é..............

Capítulo 28 - La loba


Stiles se acomodou no banco do carro e soltou um suspiro satisfeito, cheio de manha, acariciando e dando tapinhas na sua barriga. Permaneceu por alguns minutos ali, no estacionamento, descansando o seu almoço. Só havia parado naquele restaurante de beira de estrada pois estava faminto. Todos seus mantimentos – as porcarias que havia separado para a viagem – sumiram em questão de minutos. O nervosismo parecia cavar um abismo profundo em seu estômago. Deixava sua boca ansioso por mastigar algo.

Foi uma pausa em horas. Merecida, ele julgava desta forma. Estava dirigindo desde cedo. Saíra de casa antes do raiar do sol e antes do seu pai acordar. Seu pai... Stiles ainda estava chateado com o mais velho, embora ele tivesse cedido o carro e lhe liberado do castigo por hora. Seu jipe não aguentaria o pique horas na estrada. Isso ele agradecia, mas ainda estava inconformado com a atitude do mais velho.

Stiles detestava o fato do seu pai ser tão escorregadio. A forma como ele driblava questionamentos tão diretos, contornava o assunto e tentava muda-lo a todo custo; pior, quando se fazia de surdo. A mas Stiles não o deixou quieto até que ele se levantou e caminhou calmante até o quarto – como se estivesse sozinho em casa. E o falatório desenfreado de Stiles não fosse nada além de um zumbido irritante de um inseto – ele se trancou no cômodo como se aquele fosse o último bastião. O rapaz nem pôde insistir muito pois tinha que dormir cedo. E também desistiu de arrombar a porta quando fora ameaçado em lavar o canil caso fizesse.

Aquilo lhe tirou o sono, o fez revirar na cama por um tempo. Ele sabia que quando se tratava de homens seu pai ficava acanhado. Besteira, na sua opinião. Stiles já sabia de tudo afinal, ou quase tudo. Custava admitir de uma vez?

Mas não. Ele e Peter tinham que enrolar as coisas um pouco mais. E só não rolou uma chamada de vídeo a três – sim ele esclareceria alguns pontos na base da raiva – por causa do seu celular.

Stiles encarou o GPS de esguelha. Mais algumas horas e ele chegaria na bendita cidade Ukiah. As vezes ele pensava que gostava de passar raiva. Porque assim, não era possível. Ele se metia em cada uma que era quase impossível enumerar.

Maldita hora que inventou de mandar aquela carta para a sua mãe. Começava a repensar se não era melhor permanecer no escuro sobre a suas origens mesmo. Havia se virado muito bem sozinho até o momento.

Sempre que encarava a carta de sua mãe – no painel de carro – sua irritação inflamava. Era como jogar querosene em fogo.

“Estou em Ukiah. Venha me ver. “

Uma merda de frase simplista. Sua mãe tinha sérios problemas. Stiles suspeitava. E pedia aos seus que não herdasse.

Se Moira – a amiga que lhe repassava as cartas – não tivesse lhe dado a localização exata ele ficaria zanzando por aquela cidade atrás da sua progenitora. Francamente, Stiles estava cogitando a ideia de arremessar o GPS na cabeça da mulher, quando a encontrasse, para ver se ela criava um pouco de juízo.

Apesar de não gostar de ficar desconectado, Stiles estava curtindo aquela calmaria. Longe de toda aquela agitação e problemas. Ele lamentou não ter podido avisar seus amigos que não iria para o baile, tampouco para a festa na casa da Lydia, quando lembrou-se já estava longe do alcance da rede.

Stiles suspirou pronto para ligar o carro e sair dali. Ele olhou para o retrovisor, diretamente para o reflexo do seu pescoço; lembrando-se do chupão arroxeado que estava ali antes dele dormir, um presente da coiote. Tentava não pensar muito no sexo. Pois era só as imagens lhe vir em mente que ele ficava um tanto animado. E não, de jeito nenhum, ele se masturbaria em um banheiro público ou dentro daquele carro. Quando despertou lembrou-se que a coiote já não estava. Havia saído minutos antes do seu pai uma chegar. Reforçando a promessa de repetirem o coito quando retornasse.

O rapaz ainda remoía seu pai ignorar seus questionamentos sobre l suposto envolvimento amoroso. Quase se arrependia de não levar a garota ao baile e festa que aconteceria. Mas ele tinha que sanar aquelas dúvidas, precisava. Sobre a sua cura irregular e estranha. Porque os lobisomens – até mesmo Kira, quando se estressava – ficavam calmos na sua presença. O que eram aquelas coisas que apareceram. O que queriam, de onde vem, para onde vão e o que comem. A sim, ele pretendia fuzilar a mulher com perguntas.

Stiles seguiu de estrada em estrada. Quilômetros a fio sem parar. Parando vez ou outra para comer algo e beber água. Cada vez mais distante do seu pai, dos amigos e... Era uma sensação estranha. Estranhamente boa.

Ver o mudar das paisagens o distraia. Urbanas, rurais e descampados. O vento batendo em seu rosto, carregando os cheiros distintos. Árvores e mais árvores de todos os tipos. Tudo enchia seus olhos de cor e formas. Sempre quis dar um tempo daquela cidade. Mas haviam muitas coisas o mantendo com o pé no chão. A mais importante de todas era a certeza de que não queria deixar seu pai sozinho; muito embora John brincasse que já estava na hora de sair de casa. Stiles sabia que não passava disso. Um blefe.




•×•




Quando parou para reabastecer o veículo Stiles passou em uma cafeteria e comprou dois generosos copos de café para espantar o cansaço que o espreitava. Ele logo se tornava uma mera lembrança. Dois copos eram mais que suficientes para deixar o rapaz agitado e alerta. Sérvia de barreira contra o sono começava a sentir. O café fazia seu papel perfeitamente bem.

Stiles quase não acreditou quando enfim avistou placa ao longe. Quando ela passou por si e de relance ele viu o “Bem-vindos a Ukiah.” ele sentiu um nervosismo incomum.

Era como se um bloco de concreto tivesse despencando do seu amago, afundando em seu estômago. Começava a se questionar como ela estava. Se ela lembraria de si. Se ele a reconheceria logo de cara. Se havia se casado outra vez, se tinha outros filhos. Ele nunca perguntou essas coisas nas cartas.

Quase nove anos haviam de passado desde que ela fora embora e nunca mais voltou.

Stiles ainda se lembrava da mão da mulher afagando seus cabelos, enquanto ele estava aos prantos. Ela sorria. Mesmo que seu pai tivesse o puxado para longe dela naquele momento. Irritado, magoado e ressentido, aquele era o seu pai. “aconteça o que acontecer... Te amo. “ foram suas únicas palavras de adeus.

Dois anos para que mandasse a primeira carta. E mais dois para que Stiles conseguisse responde-la. Stiles não conseguia entender... não conseguia entender como alguém poderia amar outro e deixá-lo para trás.




•×•




O Stilinski não parou para observar os aspectos da cidade. Estava focado em chegar no seu destino. Tendo em mente que não se deslocara até ali para um passeio turístico.

Estava dando indícios que logo escureceria, quando Stiles chegou na localização exata que lhe fora dada. O céu estava límpido. Livre de nuvens e de um azul forte e manchado de verde e rosa. O Sol já não podia ser visto, oculto por um cume ao longe.

Ele observou com atenção o local. O circo, Los calaveras, estava acomodado em uma parte um pouquinho afastada da cidade, já nos limites. Era razoavelmente grande e ocupava uma grande área. A tenda central era chamativa aos olhos – como o topo da torre de um castelo – com seu laranja vibrante rajado de tom branco metálico.

Stiles permaneceu dentro do carro, naquele estacionamento vazio, até se acostumar com o nervosismo. Como se ele fosse um membro extra.

Ele vagueou de barraca em barraca, de tenta em tenda, pulando de atração em atração. Perguntando por Cláudia Stilinski mas ninguém parecia conhecer o nome ou a pessoa. Estavam apressados, ocupados com as apresentações de logo mais; mais pessoas começavam a chegar.

Aquilo começava a frustrar o rapaz. Até que ele se lembrou da foto que estava na sua carteira. Havia pego justamente para aquilo. Ele a mostrou para um homem que aparentemente exagerou na musculação.

— Conhece essa mulher aqui?

Stiles indagou, quase erguendo seu braço inteiro para que colocasse a fotografia na altura dos olhos do bigodudo.

— Porque? — o homem indagou desconfiado. Franzindo o cenho em direção ao papel e para o rapaz.

— Ela supostamente é a minha mãe. Deve nove anos de pensão. — Stiles afirmou, entediado.

— É... Vejo algumas semelhanças. Os olhos, o nariz... Vocês são parecidos. — O mais mais velho murmurou pensativo.

— você usa óculos não é? — Stiles ironizou.

O homem piscou surpreso.

— Como sabe? — Chegou a tatear o próprio rosto para ter a certeza de que não esqueceu de tira-lo.

— Sou meio vidente.

Stiles admitiu. Todo misterioso, remexendo os dedos longos.

— Sério? — Ele arquejou. Os olhos miúdos e escuros pareciam brilhar. — Estávamos mesmo precisando de alguém assim. Nossa antiga vidente morreu. Levou um coice no pé. Ela não era tão boa.

Stiles fitava o homem com incredulidade. Não estava crendo que o homem acreditou naquilo.

— Só me diz onde eu posso encontrar essa mulher... — Ele suspirou. Apontando para a foto com força.

O bigodudo assentiu brevemente, se empertigando.

— Ela está para lá. — Ele apontou para o final do caminho de terra batida. — vá direto e vire a direita, antes do estacionamento dos trailers. Vai encontrar ela por lá, com os bicho.

Stiles assentiu e se adiantou. Estava com pressa. Estava ansioso também.

— Pense bem. As pessoas pagam uma grana...

Ele ouviu o brutamontes dizer e revirou os olhos, resmungando mentalmente. Apressou o passo, sentindo o sangue ribombar em seus ouvidos a medida que se aproximava dos trailers. Ele virou a direita e seguiu adiante. Já conseguia ouvia ouvir ganidos e latidos, viu um cercado branco surgir diante dos seus olhos. Movimentos chamaram sua atenção, por trás da madeira pintada de amarelo. Corpos quadrupedes e um humanoide.

Stiles se aproximou até que a cerca tocasse a ponta do seu sapato. Ela era da altura do seu peito. Era uma espécie de canil, ele percebeu que se tratava de cães, dogues alemães de cores distintas. Eles ladeavam um corpo inquietos, como se esperassem ganhar algum mimo.

Era sua mãe sim, ele percebeu com um descompasso em seu peito. Ela estava de lado para si, se percebeu sua presença ali não demonstrou. Os cabelos acastanhados estavam cortados rente aos ombros. Usava uma bota até os joelhos e um vestido florido. Tirando isso ele não via muito mudança, ao menos não de onde estava.

Stiles se apoiou na madeira do cercado, observando tudo com atenção. As palavras que o anunciaram permaneceram detrás dos seus dentes. Cláudia estava com os braços abertos e levemente erguidos. Suas mãos se moviam no ar com delicadeza e precisão. Os movimentos eram tidos como comandos óbvios; como se ela fosse uma maestrina e os cães a orquestra muito bem organizado. Eles se moviam de forma sincronizado ao redor da mulher. Formavam dois círculos, dando pequenos saltos que facilmente alcançavam os ombros dela, dando a impressão de ondas. Eles se agruparam quando mais uma vez ela movimentou os dedos; os dogues se agruparam, se amontoaram e se equilibraram um em cima do outro, formando duas pirâmides de sete.

Stiles não podia negar que estava um tanto impressionado. Ele olhou em volta para ver se mais alguém além dele assistia, mas não havia outra pessoa. Logo matou a ideia de que aquela era apresentação da mulher e sim se tratava de um treino, talvez antes dela. Seus olhos se recaíram sobre um cavalete ali perto. O objeto sustentava um cartaz; era um desenho vintage do busto da mulher, cercada pelos cães. Os lábios estavam esticados em um sorriso confiante, tal como o olhar. Em letras bem elaboras e de tom acinzentado estava escrito: “La Loba. a encantadora de cães.”

O rapaz semicerrou os olhos. Lendo as pequenas letras. Leu-as até chegar nas “estrelado por Amélia.”

— tá de sacanagem. — Ele lançou um olhar indignado para a mulher. — Estou um pouco surpreso. Amélia.

Stiles rumorejou em alto e bom som. Se referindo ao treino que presenciou e debochando do nome que ela usava. Agora entendia porque ninguém sabia lhe responder quando ele perguntava sobre Cláudia Stilinski.”

As orelhas dos cães tremeram em sua direção, mas eles mantinham a atenção visual na mulher. Cláudia deu um um saltinho, assustada com a voz repentina. Estava concentrada em repassar a introdução. A mulher franziu o cenho na direção do visitante e dono da voz. Demorou mais tempo do que ela gostaria para reconhecer os traços. Obviamente ele estava bem mais alto e encorpado do que ela se lembrara. Afinale ele nunca mandou as fotos que tanto pediu.

— Mieczyslaw? — Ela pôs as mãos na boca. Chocada.

— É Stiles! — Ele grunhiu mal-humorado.

— Mieczyslaw! — Cláudia exclamou. Sinalizou para os cães e o mesmo se sentaram, em guarda, em fileira. — Você veio mesmo. E olha só para você. Todo alto, voz grossa. Quem diria.

Ela arreganhou um sorriso, se aproximando. Mantinha os braços abertos como se fosse abraça-lo. Mas não só o cercado serviu de empecilho como o recuo do rapaz, que se afastou alguns passos.

— aposto que o tempo e a puberdade. — Ele resmungou.

— Vejo que não perdeu o humor. — A mulher balbuciou, colocando as mãos na cintura.

— Faço questão de afia-lo diariamente, de hora em hora. — Afirmou o jovem.

— Usando John como alvo, aposto.

A mulher afirmou, achando graça. Ela ladeou o cercado até achar a portinhola. Stiles não a respondeu, queria que ela fosse direto ponto. Viu-a se aproximar, reparando nas rugas de expressão. Ela estava bem, para uma quarentona.

— sabia que isso é falsidade ideológica? — Ele aponta para a placa, para o nome.

Claudia revira os olhos.

— Chato como o pai. Como ele está? — Ela quis saber. Fitando a prole intensamente, enquanto esfregava as mãos na parte de trás do vestido. — seu pai.

Stiles a encarou atentamente, sem entender aquela enrolação toda.

— Bem, saudável e namorando. — Mentiu o rapaz, sem remorso algum. Queria esfregar alguma coisa na cara dela, qualquer coisa.

— Sério? — Claudia exclamou extasiada, sorrindo-lhe. O olhar se distraiu quase que um instante, como se imaginasse a cena.

Algo que Stiles não gostou. Como fosse impossível seu pai encontrar alguém, ele imaginou que ela estaria pensando.

— A Claro. — Stiles afirmou com um resmungo. — Peter, é o nome do cara. Jovem, forte e bonitão. O tipo dele.

Ele balbuciou, Murmurando mentalmente um “eu acho” não sabia qual era o tipo do seu pai, para ser sincero. Mas queria ver qual seria a reação dela. Mas não vinha nada do que ele esperava.

— Que bom. — Cláudia disse-lhe. — Seu pai merece alguém legal.

O rapaz massageou as têmporas. Toda aquela calmaria e passividade estava lhe irritando com uma facilidade que beirava a do Scott. Como se tudo fosse ficar bem, como tudo estivesse certo. Quando claramente não estava.

— Então... — Ele balbuciou. Tentando retomar o assunto e encerra-lo o mais rápido possível. — O que eu lhe pedi na carta. Você poderia ter respondido de imediato, mas aparentemente precisava ver a minha cara para poder abrir o bico.

Cláudia suspirou coçando o pulso.

— apressado. — Ela lamentou e com um olhar pesaroso falou: — A conversa vai ter que ficar para depois.

— Não fode.

Stiles praguejou incrédulo. A mulher pareceu não ligar para o uso da palavra.

— Infelizmente o meu número começa em quinze minutos. Preciso me preparar. — Ela explicou. Apontava para as botas sujas de terra e para algumas manchas no tecido do vestido.

— Cláudia pelo amor... — Ele reclamou, esfregando o rosto. Não viajara tudo aquilo para ser enrolado.

— Teremos tempo Mieczyslaw. — Ela garantiu, seria e irredutível. — Agora venha comigo.

A mais velha o chamou com um balançar de mão, antes de girar nos calcanhares e passar a caminhar. Ela dedilhava os dedos nas ondulações do cercado. Os cães saíram de posição e a acompanharam. Em pé eles facilmente ultrapassavam a cerca. Eles esperavam, quando ela os passava eles corriam e se colocavam praticamente debruçados sobre a cerca outro vez esperando pelo afago na cabeça.

Stiles a seguiu no encalço, até um trailer cinzento e retangular. Ele relutou a entrar, a porta continuava aberta para si. Ele apertou a alça da mochila, sua ideia inicial era não se demorar; nem que ficasse em um hotel na cidade. Mas sua mãe queria complicar as coisas para o seu lado.

Ele entrou – antes que ela o chamasse – e olhou o interior com atenção. Notando como era espaçoso. Parecia um quarto. Com direito a cozinha e sala.

— Vai assistir? — Ela quis saber, parada em frente a uma porta, que só podia ser o banheiro.

— Não quero ver seu número. — Ele ditou. Não uma mentira, tampouco birra, ela sabia disso.

— Tudo bem.— Cláudia assentiu, mordendo o lábio inferir. — aproveite para descansar da viajem. Sei que foi longa.

A mulher balbuciou, se esgueirando para o interior do lavabo.

— Espero que não tenha me feito perder tempo. — ele resmungou, caminhando até o sofá, onde se jogou. A bolsa ficou no chão.

— Defina perder tempo. — Ela gritou do interior, sobre o barulho da água caindo.

Stiles a ignorou. Remexia os dedos de forma agoniada. Estava inquieto. Nenhum pouco a vontade em estar ali, com sua mãe. Parecia irreal. Como se fossem dois estranhos se encontrando pela primeira vez. Ele só queria uma coisa, nas nem isso ela podia lhe adiantar.

Cláudia saiu minutos depois. Enrolada em uma toalha, os cabelos amarrados em um rabo de cavalo. Ela seguiu para o quarto e puxou a cortina, dividindo o trailer quase que pela metade. Quando saiu estava vestindo uma calça social e uma camisa frouxa, nada tão chamativo.

— até logo. — Ela balbuciou, pegando um paletó de paetês vermelhos. Fitava o filho em busca de uma resposta.

Stiles a observou sair, quando a porta se fechou ele fitou o teto. Não sentia vontade de ligar a tevê ou pegar seu celular. Se remexia no sofá como se estivesse deitado sobre pregos. O tempo passa devagar a algazarra no lado de fora quebrava qualquer linha de raciocínio. Ele buscou por alguma pista nas coisas da mãe mas não encontrara nada de interessante, logo tornou a se deitar. Fechou os olhos e esperou. Era irônico como o tempo passava devagar quando ele queria que fizesse exatamente o contrário. Que passasse depressa. Na maioria das vezes acontecia nas aulas do professor Harris. Ele já agradecia por não ter mais que frequentar as aulas do homem.




•×•




O despertar fora atípico. A movimentação chamou sua atenção. Stiles sequer se deu o luxo de abrir os olhos. Os manteve fechados por um tempo. Estava atento ao caminhar, no tilintar dos metais, eram ruídos mínimos e pré-calculados.

O rapaz massageou o rosto – ainda embriagado pelo sono – e piscou os olhos. Quando se acostumou com a claridade percebeu que a luz não era artificial, que já amanhecera. Stiles respirou profundamente, fitando o lençol que lhe cobria.

Ele ergueu os olhos – um tanto chateado – encarando sua mãe. Que estava de frente para o fogão, remexendo em algo na frigideira.

— Porque não me acordou?

Stiles indagou, sentando-se, nem o cheiro de comida lhe acalmou. Aconteceu exatamente o que ele não queria: adormecer ali, prolongar sua estadia.

— Você estava cansado da viagem. — Cláudia falou sem encara-lo. Se virando e colocando os ovos mexidos em cima de uma prato.

— Não foi esse o combinado.

O mais jovem reclamou. Puxou a bolsa para mais perto e pegou o seu celular defeituoso e lutou para enviar uma mensagem para o seu pai, afirmando que estava tudo bem. Estava começando a se habituar com a atual situação do aparelho.

— Não combinamos nada em específico. Eu disse até logo. Não falamos em horário ou dia, então não reclame. — Cláudia reclamou, colocando os pratos e xícaras sobre a mesa retrátil.

O Stilinski praguejou mentalmente, estapeando a própria testa. Xingando o universo e quem o regesse. Se perguntando retoricamente porque as coisas tinham que ser tão difíceis.

— Vá banhar. Tem uma toalha lá para você.

Stiles não discutiu. Imaginou que provavelmente ela estaria lhe testando de alguma forma. Ele deu a atenção para sua mochila; pegando sua escova e roupas limpas. Estava mesmo precisando de um banho. Por isso se trancafiou dentro do lavabo. Era espaçoso, para um armário de vassouras. Ele ainda estava surpreso por ter uma ducha ali dentro.

Stiles se despiu e deixou suas roupas penduradas nos ganchos da porta. Enquanto se banhava ele tentou se acalmar. Se estressar com a mulher não o deixaria mais perto das respostas que almejava.

Quando saiu do cômodo ele se deparou com a mais velha já sentada a mesa. Não lhe deu ouvidos – quando ela pediu que ele deixasse as roupas sujas em um canto – e a enfiou num saco e na mochila em seguida.

— Venha para a mesa. — Ela insistiu, mantendo a calma.

— vim até aqui por um motivo. E não foi para tomar chá com você.

— não seja rude. Você está com fome. — A mulher reclamou. — E eu não gosto de chá.

Cláudia o fitou como se o desafiasse a negar. Se lembrava perfeitamente de ter escutado, minutos atrás, a barriga do rapaz roncar. Também não era como se ela esperasse que àquele reencontro fosse ser as mil maravilhas. Entendia a antipatia do filho perfeitamente.

— Que seja.

Stiles resmungou com um dar de ombros. Se aproximando e puxando uma a cadeira que dobrou. Estava sim chateado. Se ela tivesse contado na noite anterior a essa hora ele já poderia estar na estrada.

— Que tipo de criaturas nós somos?

Ele indagou e passou a se servir daquela mesa abastada. Pegou de tudo um pouco.

— Comece a falar. — Ditou o rapaz, mastigando uma fatia de bacon e levando uma colherada com ovos a boca, tomando uma boa golada de suco em seguida.

— pode esperar só mais um pouco? — Ela pediu, bebericando do líquido calmamente. — O mundo não vai acabar enquanto comemos, certo?

— Não sei. — Ele ironizou. — Vai que você resolva ir embora a qualquer momento.

Claudia sorriu afetada. Imaginou que aquele assunto chegaria cedo ou tarde.

— não pretendo ir a lugar nenhum.

Stiles comeu a encarando a todo momento. Em silêncio, absorvendo o som do dos talheres; até que o silêncio parecia um vibrar. O vibrar de um martelo nos seus tímpanos.

— Não confio. Afinal você já me abandonou uma vez.

Ele falou-lhe. Antes que as palavras lhe engasgassem com a ajuda do suco. O motivo de estar ali não era aquele mas não lhe custava ouvir da boca dela.

— Não abandonei você. — A mulher falou com suavidade. — Deixei sobre os cuidados permanentes do seu pai.

— Bela resposta ensaiada. — Ele admitiu. Balançando o bacon como se fosse uma seta, antes de levá-lo a boca. — Porque foi embora, não éramos bons o suficiente para você?

Claudia suspira lentamente. Ciente de que ele estava lhe provocando.

— as pessoas romantizam de mais a ideia de família perfeita. — Ela balbuciou. — Nem todos nascem para ser pai ou mãe, Stiles. Eu não nasci para esse papel, infelizmente.

— Porque me teve então? — Ele resmungou. — Não existia camisinha na época de vocês?

A mais velha fitou-o com as sobrancelhas erguidas. Claramente o censurando.

— Essa é uma pergunta triste e idiota. — Ela disse e afagou a própria barriga. — Você já estava aqui e John ficou muito empolgado com a notícia.

— Humn...

Stiles resmungou como se estivesse entediado. Ele fitou o seu prato, sentindo-se repentinamente cheio; embora ainda restasse um pouco de ovos e bacon.

— O problema não era você ou o seu pai. — Cláudia afirmou com pesar. — Eu não nasci para aquilo. Ser dona de casa, ficar parada. Aquela cidade estava me sufocando, acabando comigo aos poucos.

A mais velha murmuro, apoiando o cotovelo na pequena me e o rosto no punho fechado, pensativa.

— Era ela ou eu. John ama demais o trabalho e aquela cidade. Eu não o faria escolher.

Stiles não disse nada. Conhecia bem a história fe como eles haviam se conhecido. Em um bar. Ela era nova na cidade e estava trabalhando ali há uma semana. E bem... Eles se envolveram e começaram a transar.

Claudia voltou a si nos segundos seguinte – antes que se perdesse revivendo os nove anos naquela cidade — Ela se levantou.

— Bem. Vamos logo com isso antes o teu mal-humor me contagie. Ainda tenho que banhar o Febo e a Amicia.

Ela falou, sorrindo, como se fosse uma velha piada que claramente fora esquecida pelo jovem. Cláudia se dirigiu a entrada e saiu porta afora. Stiles correu até sua mochila e a pegou. E tratou de segui-la.




•×•




O Stilinski não sabia para onde ela o estava levando. Eles seguiram mais ao fundo do estacionamento dos trailers, ela sempre cumprimentava um ou outro que resolvia aparecer. Eles logo alcançaram os limites do circo e se afastaram do mesmo, seguindo em frente em uma linha reta.

O caminho logo mudou. A terra deu lugar a vegetação, grama e mato, não muito longe de onde estava já conseguia avistar algumas árvores. As folhagem orvalhadas deixavam seus tênis húmidos. O que não contribuía positivamente para o seu humor. Ele gostava sim de natureza, mas porque diabos ele sempre acabava no meio dela? Parecia o mesmo cenário sempre. Um labirinto sem fim. Para onde quer que fosse se deparava em uma encruzilhada de matos e folhas.

Sua mãe o guiou por entre as árvores, por um caminho de relava pisoteado – como se passar por ali fosse algo costumeiro – que em muito lhe lembrou o “esconderijo” de Paige.

— Se não tivesse trago a bolsa não estaria tão cansado.

A mulher observou, sem encara-lo. Empurrou um galho que estava no seu caminho. Stiles o segurou, antes que recebesse o ricochete. Ele controlou um arfo e se empertigou, só para contradize-la.

— Poderia ao menos ter se dado ao trabalho de avisar que faríamos uma trilha.

Stiles reclamou, ajeitando a mochila de uma forma mais confortável para os seus ombros.

— aqui ninguém vai nos atrapalhar. Ou bisbilhotar. — Cláudia balbuciou. Colocando as mãos na cintura e alongando a coluna, soltando um suspiro satisfeito enquanto olhava ao redor.

Chegaram em uma região do local com uma quantidade menor de árvores, como se fosse o limite. Mais a gente havia a encosta de um monte. Ele realmente estava começando a se lembrar da mendiga e não estava gostando nenhum pouco.

A mulher se jogou no chão, sem se preocupar se sujaria as roupas de terra e lama. Entrava entre raízes grossas de uma árvore muito larga e velha. Ela se recostou no tronco coberto de musgo e fitou-o com os olhos de âmbar.

Stiles se deu conta de que àquele era o lugar dela. Que vinha quando não tinha mais nada circense para fazer, ou quando tivesse entediada, talvez .

— O que você quer saber?

— Deixei claro na carta. — Stiles disse-lhe. — E perguntei minutos atrás. Não brinque comigo!

— Quanto estresse. — Cláudia fez uma careta. — Você não é muito novo para isso?

— Estresse e problemas não escolhem idade. — ele retrucou inquietando-se. Se a intenção da sua mãe era lhe deixar nervoso, ansioso e irritado ela estava conseguindo com toda aquela enrolação.

A mais velha assente, concordando e suspirou por fim, dando um peteleco em uma aranha que subia em seu calcanhar.

— Tudo o que você precisava estava diante dos seus olhos, ou mais perto do que imagino. Isso é, se você os chamou ou não.

Ela balbuciou pensativa. Stiles de jogou no chão, se sentando, ciente de que ficar em pé era perda de tempo. Cláudia iria dar voltas e voltas, pelo visto.

— ótimo. Estou me sentindo um idiota por não ter percebido toda essa obviedade.— ele resmungou, abraçando a própria mochila. Repassando mentalmente se valia mesmo a pena passar por todo àquele estresse emocional.

Cláudia sorriu-lhe gentil e riu achando graça. Stiles possuía um bico nos lábios que deixou-a nostálgica.

— Você é uma Peeira, Stiles. Assim como eu. — Ela disse por fim.

Stiles piscou os olhos. Absorvendo a frase cada palavra e letras que a compunham e todo o contexto.

— uma Peeto? Não um. — Ele repetiu. Só para ter a certeza de que não escutou errado.

— uma Peeira. Sim. — Ela o corrigiu.

— Porquê não um peeira?

Ele indagou em meio a uma careta. E a mulher ergueu uma das sobrancelhas.

— porquê é assim. Quando você olha uma mosca você diz “veja só, um mosca?”

Cláudia quis saber. Stiles se calou por um instante, concordando a contragosto.

— É difícil dizer mesmo. Porque se trata de uma mosca e eu não sou nenhum especialista em insetos. — Ele resmungou. Particularmente naquele dia estava se sentindo um velho. — mas para nós é meio óbvio. — apontou para mãe e para ele em seguida.

— Sério? Vai implicar com o nome agora? — A mais velha balbuciou. Brincando com uma pedrinha no chão, a revirando com as unhas.

Stiles estava inquieto e nenhum pouco conformado. Ele puxou o celular de dentro da bolsa e o destravou. Ficou feliz por ter sinal, mesmo que fraco. Ele ignorou as mensagens que recebera e jogou o nome no google. Foi uma pequena briga com o aparelho ruim, mas ele conseguiu.

— O que está fazendo? — Cláudia perguntou curiosa – havia estranhado o silêncio repentino do rapaz – observando a forma como ele movimento os dedos.

— pesquisando. — Disse-lhe. De olho na tela trincada. Demorou um pouco, custou o resto da paciência que lhe sobrou, mas ele conseguiu. Abriu o primeiro site que apareceu.

— Você trouxe essa coisa... — Cláudia reclamou com antipatia.

Stiles leu pro alto. Olhou da mãe para o celular, repetindo o gesto até processar tudo aquilo.

— Fada... — Ele balbuciou com indignação. — Uma fada? Que porra é essa, mulher?

Cláudia deu de ombros. Sem entender a que ele e se referia.

— Está dizendo isso ai?

— Está. — Ele pontuou. — Como descobriu que somos fadas?

Stiles debochou. Queria estapear a própria cara até esquecer. Estava com raiva da Krasikeva também, ela deu a entender que sabia o que ele era. Poderia ao menos ter dito logo, lhe humilhado num pouco mais.

— Quer parar de dizer isso? — Cláudia reclamou.

— Não dá. — Stiles grunhiu. — Me sinto enganado. E ridículo. E com medo de nascer um par asas na minha costa.

Ele tentou tatear o próprio dorso. Claudia mordeu lábio inferior, claramente se segurando para não rir.

— Isso não vai acontecer, Mieczyslaw. — Ela garantiu. — Não confie em tudo que você encontra nesse negócio ai. Definitivamente não somos isso. Aí também diz que somos todas mulheres. Você é ou se sente mulher de alguma forma?

— Não.

Stiles afirmou. E se calou mais uma vez, suspirando.

— então pare de implicância.

— e o nome disso é celular. — Ele balbuciou, enfiando o aparelho dentro da bolsa.

— Eu sei o que é. E continuo não ligando.

Stiles torceu o nariz e os lábios. Vendo-a atirar a pedrinha para longe.

— Então... — pigarreou. — Tem mais alguma coisa que eu precise saber sobre ser... Uma Peeira? — Ele indagou como se estivesse ruminando e tornando a mastigar a palavra.

Cláudia coçou o queixo, pensativa, tentando achar as palavras certas.

— Não temos garras ou presas, meu filho. — Ela falou-lhe com orgulho da mesma forma prosseguiu. — Mas não pense nem por um segundo que isso nos enfraquece. Pelo contrário, nos torna mais forte. Não somos dependentes de algo tão trivial.

Stiles não sabia o que dizer, fazer, a não ser escutar. Balançava a cabeça a todo momento, deixando claro que estava entendendo.

— Nos trazemos paz e acalmamos essa selvageria das criaturas raivosas. Somos como alfas, só que bem mais controlados. — Ela afirmou. Os olhos possuíam um brilho estranho – nada como os dos lobos ou aquele amarelo doentio do Matt – como se estivesse no escuro e refulgisse o mínimo de luz. — Temos essa ligação qualquer membro da família canidae. Contudo, isso se aplica a outros seres. Dependendo de o com próximo vocês são.

Stiles balançou a cabeça debilmente. Seu cérebro parecia uma máquina trabalhando a todo vapor, trazendo-lhe memórias e fazendo comparações. Aquilo fazia sentindo. Acalmara Bruce na noite, que estava assustado, nervoso e ferido. E Liam nas luas cheias. Ele sempre deu mais problemas do que o Scott, se descontrola mais rápido, mais fácil. Kira e Matt. A sim, de vez em quando ele dava trabalho.

— Como descobriu tudo isso? — Ele balbuciou extasiado. O nome da sua espécie pouco importava agora. Tampouco a falsa informação que leu. — Achou seus pais biológicos?

— não. Um velho amigo me contou

— Que amigo? Esbarrou em uma peeira por aí? — Stiles perguntou curioso e desconfiado.

Cláudia sorriu para ele, antes de erguer a cabeça.

— não seria assim tão fácil.... Se bem que pode ser considerado fácil sim. — Ela balbuciou pensativa, olhando para o céu por entre os galhos frondosos, antes de se decidir e focar no filho. — Espero que, a essa altura, tenha perdido seu medo de fantasmas, filho.

A mulher bateu com a mão na própria blusa – ignorando o franzir de cenho do jovem – levou o polegar e o indicar, curvados como um gancho, aos lábios e assim que encheu os pulmões de ar ela assobiou. Um som alto, presente e duradouro que ecoou por entre as árvore e se expandiu para além da pequena clareira.

O silêncio que veio a seguir se perpetuou pelo local. Nada de cantos dos pássaros ou o som das cigarras. Anda além do farfalhar dos galhos e folhas. E então vieram os rosnados e os uivos como resposta. Um coro de sons melancólicos e distantes que gelou o corpo e a alma de Stiles. Ele sentiu sua pele ficar eriçada, no momento em que fechou os olhos.

“A não...” ele balbuciou mentalmente, estremecendo. “ de novo não, eles não...”

Stiles respirou fundo sentindo a movimentação ao seu redor. O farfalhar, a relva sendo pisoteado. Ele ousou semicerrar os olhos, de pouquinho em pouquinho. Até que os viu, estava cercado. O semicerrar logo evoluiu para um olhar arregalado.

Eles os ladeavam, se amontoaram em um semicírculo. Alguns possuíam olhos estranhos, além de vidrados. Eram de um azul mais forte e intenso dos da maioria, alguns eram amarelados. Haviam outros além de lobos

Seus olhos se moviam de um canto a outro, observando as criaturas. Pedia mentalmente que eles fossem embora o quanto antes, que ela os mandassem o quanto antes.

— Esse são os meus bebês. — Claudia balbuciou muito bem humorada. Sorrindo ao reconhecer cada rosto animalesco. — Nosso número só cresce...

Stiles engoliu em seco. Sentia que havia um bolo se formando na garganta. Gostava de pensar que aquilo não passava de um delírio. Ajudava-o a não pirar.

Uma loba se aproximou da mulher, a pelugem prateada refugia facilmente a luz do dia. Ela fungou no pescoço da mulher, que sorriu e afagou a cabeça da criatura. A loba se sentou, o corpo pesado fez a poeira se erguer. Tão sólida e real quanto aquelas árvores, definitivamente não era um delírio.

— Não tema, Mieczyslaw. — A mais velha aconselhou. Olhando-o através do corpo de um coiote que se moveu a sua frente. — Eles não te farão mal algum.

Stiles iria retrucar dizendo que não possuía cem por cento de certeza, mas as palavras certas se ausentaram. Foram difíceis de falar, ainda mais quando a loba – que estava ao lado de sua mãe – virou cabeça animalesca em sua direção. Os olhos se fixaram no rapaz como se fossem uma mira, vermelhos como sangue.

— ela é... — ele balbuciou. Estava inquieto com os olhares vítreos sobre si.

— sim, sim... Foi uma alfa, sim. — Ela afirmou um tanto empolgada. — Vejo que conhece os lobisomens.

— É...

Ele balbuciou, tentado a coçar a nuca mas o nervosismo o manteve quieto. Ele contou sobre a sua antiga panelinha enquanto observava uma raposa se mover com agilidade, passando por debaixo dos lobos. O brilho dela era escuro, como uma aura, e os olhos eram de um branco leitoso; lhe encarando com curiosidade, movendo a cabeça de um lado para o outro

— então Scott é um lobisomem. E a menina Martin uma banshee. — Ela balbuciou impressionada.

— é. Ele foi transformado em um acampamento de verão.

— curioso. Melissa sabe?

Stiles assente brevemente. Decidira fitar a própria mochila, era melhor.

— Interessante... — ela balbuciou, observando-o com atenção.

— O que são essas... Eles?

Cláudia olhou em volta, atenta a um movimento atrás de Stiles, que a fez sorrir largo.

— Espectros. Espíritos dos mortos que permaneceram aqui. Podemos evoca-los, atrai-los. Eles respondem as vibrações emocionais que emitimos. Seu comportamento fica inquieto, difícil quando estamos com medo ou muita raiva.

Claudia contou-lhe, esfregando a pelugem translúcida da loba.

— Como se faz? — Stiles quis saber. Se soubesse, quem sabe, poderia evitar ao máximo.

— Não faça. — Ela aconselhou. — Apenas sinta, deixa fluir. Chame por eles, conscientemente. As vezes ele aparecem quando nos sentimos ameaçados. Foi assim que aconteceu com você?

— É, foi.

Stiles balbuciou lembrando-se exatamente do momento em que o punhal fora cravado em seu ombro, dos efeitos do feitiço. Da sensação de ter metido os pés pelas mãos, até eles aparecerem.

— Ela é o seu velho amigo?

Ele indagou, apontando para a loba de olhos vermelhos. Sua mãe assentiu brevemente, se inclinado e beijando a cara da fera. Aquilo agoniou Stiles.

— a própria. Foi a primeira. — Cláudia falou animada. Coçando abaixo do maxilar da loba.

— Tá, mas como ela falou com você? Como consegue entendê-los?

Stiles indagou exasperado. Aquilo ainda estava muito mal explicado para si.

— O que é um kanima?

Cláudia perguntou audivelmente. Stiles fechou a boca antes de abri-la para pronunciar a primeira palavra; percebeu que sua mãe não falava consigo e sim com a velha loba, encarando-a nos olhos.

— escamas, asas, parecido com um dragão é... Isso parece problemático e muito perigoso. — Cláudia balbuciou, e ergueu os olhos para encarar o filho boquiaberto. — Você tem amigos interessantes.

Stiles não discordou. Cada um era uma surpresa. Ou um terror para outros.

— eles estão por aí a muito tempo. — Ela contou-lhe. Balançando a mão ao redor, como se indicasse cada espectro ali presente. — Sabem de coisas.

— tá, mais como...

— Você sabe como. — A mais velha suspirou, um tanto desapontada por ele não ter prestado atenção. — Já deve ter feito e achou que estava brincando, simulando uma conversa. Eles não se expressam com falas. Preste atenção, foque neles. Veja os movimentos, cada um deles. A expressão, os movimentos das orelhas, das pálpebras, dos lábios, os bigodes, os olhos, o quão expostos os dentes estão. É assim que funciona. Tudo faz parte da linguagem.

Ela explicou por fim, se levantando e se espreguiçando. Passando entre eles, que abriam caminho. Stiles nem se preocupou em assentir ou dar indicativo de que havia entendido tudo. Absorver aquela quantidade de informação lhe dava a sensação de que estava estudando para uma prova importante em cima da hora. O que, claro, ela já havia feito.

— quando eles começaram a aparecer?

Ela quis saber, parou ao lado do filho, fitando arvoredo logo atrás m

— Depois de uma briga.

— Posso saber como?

Cláudia o fitou de relance. Stiles suspirou, já começava a se cansar de contar a mesma história. Ainda assim resumiu; desde a chegada de Bruce até a sua partida no hospital.

— você teve muitas aventuras. Imagino que mais além desta.

Ela balbuciou pensativa, olhando para longe. E assim permaneceu, em silêncio, antes de rir baixinho.

— O que? — Stiles indagou perdido, a encerando por cima do ombro, decidiu se levantar. — Posso saber qual é a graça?

— Estava refletindo sobre o feitiço dessa moça. — Ela contou, ainda sorrindo. — Engraçado. Bastante curioso.

— Mãe... — Stiles grunhiu indignado.

— Veja bem. — ela pediu. — quem nutria fortes sentimentos negativos sobre ela nunca de fato conseguiu encontrá-la. Não é curioso? “Quem tiver raiva de mim, que não possa se vingar…” para lobos ambas as coisas são quase impossíveis...

Stiles a encarou um tanto surpreso. Não tinha pensado naquilo, até então. Ele acabou por fitar o pulso que meses atrás estava torcido e se lembrou da pergunta do seu pai.

— Ei. Pode explicar como funciona a cura. Uma vez demorei semanas para me curar. Em outro demorou horas, minutos.

— Depende da situação em que estamos. — Cláudia balbuciou sem fita-lo.

Aquilo começava a despertar uma curiosidade a mais no jovem. Que começava a se perguntar o que de tão interessante ela via naquelas árvores.

— como assim?

— Você estava longe do bando. Isso influencia bastante. Mas quando o seu está por perto...

Cláudia abriu os braços, apontando para todos os lados; Stiles imaginou que ela não só falava dos espectros como dos cães no circo. Ele se lembrou de quando se furou com chave de fenda já havia se reaproximado da Lydia, do Liam e do Matt. E de como o ferimento do punhal se fechou ainda mais rápido.

— Isso era tudo? — ela questionou.

Stiles mordeu o lábio inferior. Repetindo a pergunta da mulher.

— Não sei. — Ele admitiu. — Acho que sim. Fica difícil pensar em algo enquanto eu gravo tudo isso.

— porque não nos apresenta, enquanto faz isso?

Claudia fitou o filho por cima do ombro, que a encarou com confusão.

— nos apresentar?

— eles. — Ela aponta para as árvores, mas o Stiles não viu nada além delas. — Eu os senti assim que você chegou. Os espectros são bem leais. Eles te seguiram até aqui.

Stiles manteve o olhar sobre as árvores, sentindo o ar fugir dos seus pulmões mais rápido do que ele conseguia repor.

— eles estão aqui? agora?

— Estão. chame eles. — ela o incentivou.

— Não sei como e não sei se quero. — Stiles grunhiu baixinho.

Cláudia suspirou balançando a cabeça. Ela ladeou o jovem e cobriu os olhos com uma das mãos, enquanto levava a outra ao peito.

— Está aqui. Basta querer. — Ela sussurrou soltando-o em seguida, as mãos pousaram nos ombros do filho. — Não há sentindo em temer os mortos, Mieczyslaw, não quando eles querem te ajudar. Não quando verdadeiro mal vive.

Stiles respirou profundamente, controlando-a e diminuindo o ritmo. Seu coração deu um descanso para as suas costelas, que há minutos eram espancadas. Ele tentou deixar de lado o receio que sentia, lembrar que eles apareceram para lhe ajudar, deixar de lado o seu medo, por hora.

Ele abriu os olhos lentamente. Pedindo mentalmente que eles viessem até ele. Ele viu as cabeças animalescas surgirem por entre as árvores, caminhando lentamente. Os quatro daquele dia e mais alguns.

— Ah, eram só quatro!

Stiles exclamou exasperado. Ele aperta a mão da mulher, que não reclamou da força usada.

— você logo se acostuma.

Claudia riu baixinho, achando graça, enquanto afagava a cabeça do lobo que se aproximou. Stiles tinha certeza que era o mesmo que quase arrancou o pé da Paige.

— A, sério? Humn... Eles estão chateado com você.

Claudia informou-o e Stiles a encarou assustado.

— Comigo? Porque?

Indagou fitando um dos espectros que chamou. Era o menor, parecia um filhote de olhos amarelados. Ele fungava em seus dedos. Stiles controlava o ímpeto de puxar a mão. Parecia jovem de mais. Ele não gostava de imaginar o que aconteceu como um lobisomem tão jovem fora morto.

— você não deixou eles terminarem o serviço. Vingarem. — Ela disse simplesmente. Sorrindo docemente, enquanto Stiles engolia em seco.


Notas Finais


Realmente não acredito que essa história já possui 28 capítulos, estou um pouco chocado sim. Eu ia dividir ele meio mas decidi que não seria tão malvado e que iria cumprir com a minha palavra. E é isso. Qqqq


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