Brooke Wright point of View.
— Você por acaso sabe que horas são, Brooke? — sonolento, Braun murmurava quase inaudível do outro lado da linha, tomado pelo sono que provavelmente era intenso até minha ligação interrompê-lo.
— Cinco e meia, meu caro Braun — comentei de bom humor, deixando para trás o meu prédio ao passar pela porta de entrada e saída do edifício. — E eu duvido que você queira voltar a dormir quando ouvir o que eu tenho a dizer. — O atentei, despertando uma respiração mais intensa do outro lado.
— Você está na rua? — sua entonação ficou mais evidente pela surpresa rondando seu tom de voz — O que está aprontando a essa hora?
— Los Angeles já esta completamente acordada, Scott — meu entusiasmo permitiu que eu o tratasse com mais intimidade, visto que o mentor de Bieber estava sempre devotado a me tratar como parte de sua família. — Vamos lá, quer ouvir ou não? — indaguei, almejante.
— Eu arrisco que sim, você raramente está tão empolgada, ainda mais neste horário — lançou-me, um pouco intrigado. Era verdade, as duas coisas eram novidade.
— Já sei como podemos fazer para não sair no prejuízo no show de Louisville — adiantei animadamente. Scooter pediu para que eu continuasse com um murmúrio interessado e preguiçoso, bocejando para despertar de seu sono. — Vamos abrir agora um lote com um pacote especial que programei com a sessão de marketing.
— E que pacote seria este? — de súbito, a duvida plantada em seu tom de voz era um misto de confusão com descrença. — Assim, tão em cima da hora? — obstinou-se, atrevendo a pontuar-me com sua insegurança a base de minha ideia.
— Escute o que eu tenho a dizer — solicitei sem perder minha animação. — Eu conversei com Tom ontem e ele concordou com a ideia. Pensei em fazer um pacote por um bom preço que permite que as fãs que o comprarem passeiem pelo Backstage e tenham acesso aos itens de Justin que foram usados nas outras turnês — elucidei, passando o smartphone para a outra orelha e redobrando meu cuidado ao passo que atravessava a rua. — Eles me disseram que ainda não se desfizeram dos figurinos, instrumentos e objetos usados nas estruturas e que até conseguiriam umas asas metálicas feitas de instrumentos usadas na Believe Tour.
— Hm... Genial! — vibrou o mentor de Justin, causando ruídos na linha por conta de seus movimentos afervorados.
— Eu ainda não acabei — me permiti sorrir com sua exultação. — Nós precisamos de uma pequena ajuda do Bieber. Pensei em acrescentar alguns itens da loja oficial autografados no fim da tour pelos bastidores e o pessoal do aplicativo Fahlo se comprometeu em postar fotos das fãs lá dentro.
— Excelente! Vou ligar agora mesmo para ele e mandar camisetas e bonés para ele assinar — prontificou-se, finalmente desperto.
— E a propósito — adiantei-me antes que ele desligasse. — Todos os ingressos que foram devolvidos serão distribuídos do lado de fora, o que acha?
— Isso, eu estava mesmo pensando em doar na porta ou algo assim.
— Então até lá, Braun — tratei de me despedir ao adentrar no táxi. — Tenho que encontrar com os organizadores agora.
— Valeu, Brooke. Eu sabia que estava certo em apostar em você.
Louisville, 20 de Abril de 2016 — KFC Yum! Center, 16h:00m.
Radiante. Eu estava feliz ao extremo por trás de meus trajes que passavam uma imagem serena aos demais integrantes da equipe. Scooter escondia-se por baixo de um boné com o sobrenome Bieber estampado em cores pretas e brancas e, sua barba estava por fazer. Celebrando com os funcionários, seus trajes eram largados e ninguém lhe daria crédito algum se ele não fosse um dos manda-chuvas dali. Os demais também não vestiam-se nada semelhantes a mim. Uma ou outra pessoa portava terninhos ou blazers, mas nunca cem por cento engomados do modo que eu gostava de fazer. A todo custo, era só um pequeno detalhe sem muita relevância.
Prontamente pela manhã, a notícia de que todos os pacotes adicionais haviam esgotado encheram meus ouvidos e me promoveram alegria. Meus colegas de trabalho também refletiam as mesmas emoções e nada poderia tirar aquela sensação de que tudo finalmente estava indo bem em minha vida. Eu consegui afastar meus pais do meu pé, minha relação com meu melhor amigo era harmônica e o ambiente familiar que me acolhia permitia que a barreira em volta de meu coração começasse a diminuir. Passei até a me dar bem com todos que tinha um contato frequente. Era mais do que eu esperava.
O oposto de mim, Justin ainda estava naquele mesmo ciclo vicioso de passar reto e se isolar dentro de seu camarim até a hora da apresentação. Mas dessa vez eu não deixaria aquilo passar batido. Não naquela ocasião, que era um dos melhores dias da minha vida profissional. Ele tinha que ficar contente quanto aos resultados positivos apesar de seus atos incalculados terem nos afetado. Eu tinha acabado de consertar tudo.
Bati na porta de sua saleta e não recebi nenhuma resposta pelos próximos segundos de espera. Pelo que eu observava das outras vezes, quando Bieber não respondia, era um sinal de que talvez fosse preciso voltar em outra hora. Pelo menos era o que Allison e o restante fazia. Ignorando seu silêncio, abri a porta e adentrei sem permissão, deparando-me com um garoto escondido por trás de um moletom bege e de olhos focados em seu celular. O aspecto do loiro era de um ar desanimado e o mesmo escutava música tão alto que eu conseguia ouvir do outro lado do recinto.
— Você não deveria estar ensaiando agora? — retirei os fones do topo de sua cabeça, sobressaltando-o pela abordagem surpresa que fiz.
— Nunca te ensinaram a bater na porta? — o garoto respondeu na defensiva, relativamente desconcertado.
— Claro que sim. E você teria me escutado bater se não estivesse tão ocupado fritando seus tímpanos — desvencilhando-me de seus pés, caminhei até a poltrona que ficava de frente ao sofá que Justin estava sentado e abanquei-me da forma mais natural possível.
— Se eu não respondi, é porque não estou em um bom momento — ele demonstrou-se totalmente desinteressado quanto a minha presença, puxando a parte superior do capuz de seu moletom para cobrir seus olhos. — Eu não estou afim de conversar, Brooke.
— Não precisamos fazer isso então — dei de ombros, cruzando minhas pernas uma por cima da outra. — Que tal ficarmos nos encarando até você entender que seu isolamento não vai funcionar comigo? — Justin proferiu algumas palavras inaudíveis como resposta. Ele me parecia triste e seu rosto inchado tinha sinais de que havia acordado recentemente de uma soneca. — Parece que você se divertiu muito em Bora Bora, hm? — o alfinetei com deboche, tentando tirá-lo de sua zona de conforto para arrancar-lhe algum sinal de vida que não fosse só respirar e piscar, pois eram atos inerentes ao ser humano.
— Fala sério, até você? — resmungou de mau humor — Vai começar a ser sarcástica comigo agora? Eu não aguento mais esse assunto — o garoto maculado defendeu-se, aborrecido por completo.
— Não, Bieber — rolei os olhos por um momento — Estou só te enchendo como uma boa amiga faria — dizer aquilo só me pareceu uma boa ideia dentro de minha cabeça. — Vim cumprir minha parte do acordo. — Após ouvir o que eu disse, Justin retirou as mãos da borda de sua touca e a levantou para tirá-la dos olhos — Quer conversar sobre o que está sentindo? — de primeira ele se negou. Imerso em sua mudez, o loiro encarou seus próprios dedos e pareceu pensar bastante sobre minha proposta ao passo que os embolava.
— Como sabe que estou sentindo algo? Não pensou que talvez eu só esteja cansado? — Se inclinou para frente, com o semblante abatido de quem havia sido desvendado.
— Você está cansado mesmo depois de uma semana de folga? — questionei.
— Folga? Eu tive que ir á vários programas de TV e rádio para falar sobre a minha polêmica — comentou, soltando o corpo para trás — Estou exausto, Brooke.
— Esse é o preço que se paga por sair por aí sem roupas. É uma indireta para a G magazine te chamar para posar nu, ou...? — não pude conter meu sorriso sarcástico após disparar aquilo.
— Mais uma piadinha sobre Bora Bora e eu te jogo para fora — ele ressaltou numa rima improvisada, entrando na brincadeira, mas aparentemente envergonhado sobre o assunto.
— O que foi? Ficou com vergonha? — o provoquei, juntando meus braços para cruzá-los em frente ao peito.
— Você chegou a ver as fotos? — suas íris levantaram-se para me encarar com uma dose de pavor. — Não! — ele mesmo se interrompeu — Não responda, eu prefiro não saber.
— Só as com tarjas — respondi imediatamente, ignorando seu pedido. — Eu teria pesadelos. Ew! — expus minha língua para fora numa breve careta.
— Para a sua informação, meu pai chegou até a me perguntar como é que eu alimento essa coisa — um sorriso convencido brotou nos lábios rosados do loiro. Ele finalmente demonstrou sinais de que minha distração estavam tirando-o de seu mar de solidão, mas da maneira mais errada.
— Ele... — arregalei meus olhos. — Céus, Justin. Guarde isso pra você — foi a minha vez de constranger-me, pois por um átomo de segundo, me peguei pensando em como seriam as fotos sem censura.
— Ficou com vergonha? — Bieber repetiu minha frase de instantes atrás contra mim, como um modo de defesa.
— Não — desconversei, tremendo os lábios por conta de minha vontade de rir.
— Você não sabe mentir — ressaltou, contendo sua risada também.
— Vai à merda — lancei-lhe uma almofada, resultando em um Justin sendo atingido em cheio pelo objeto macio.
Ouvir sua gargalhada despertou em mim a comoção de dever cumprido. Não importava quais outras sensações vieram antes dessa, nem as que surgiriam posteriormente; a felicidade por estar realizada em meu emprego, a vontade de compartilhar isso com todos e inclusive ele — que se encarcerava semanalmente —, me fazia enxergar a realização que era poder ser responsável por um riso espontâneo de sua parte.
— Ah, é assim? — o tatuado levantou sua sobrancelha, seu lábio repuxando-se em um sorriso travesso.
— O que? — fingi inocência ao dar de ombros, mas a almofada já havia voltado contra mim numa força duas vezes maior. — Você não fez isso — semicerrei os olhos, vendo Bieber se colocar de pé para tentar fugir antes que eu revidasse.
Ficando de pé também, segurei a almofada com força entre meus dedos e apressei-me ao arremessá-la contra Justin, que desviou ligeiramente num piscar de olhos. Seus reflexos eram impressionantes e funcionavam bem mais que os meus.
O garoto moveu a poltrona rapidamente de lugar para barrar minha passagem. Diante de nossa corrida pela saleta, tentando acertar a almofada um no outro enquanto ela voava para todos os lados, passando de mão em mão, não conseguíamos encerrar a breve competição. Justin era competitivo como eu e, tendo em vista de que jamais pararíamos, só tivemos que interromper as brincadeira quando ele lançou-me a almofada e eu me agachei, resultando numa das lâmpadas de uma luminária estraçalhando-se no chão em diversos estilhaços.
— Opa... — me levantei devagar e nós esbugalhamos os olhos um para o outro.
A porta do gabinete logo fora aberta apressadamente. Scooter nos fitava apavorado com o estrondo, temendo que algo mais grave tivesse acontecido.
— O que está pegando aqui? — as falas do mais velho saíram afobadas e tudo que eu consegui, foi fazer uma tour com os olhos pela bagunça que nós deixamos no local. A prova do crime.
— Foi mal, nós nos empolgamos. — Justin recolheu o pequeno saco almofadado, repousando-o de volta ao seu devido lugar naquele assento.
— A culpa foi minha, Braun — pigarreei, recompondo-me ao passar a mão direita sobre meus fios de cabelo. — Eu vim conversar com Justin e não aguentei vê-lo para baixo...
— E aí vocês resolveram quebrar o camarim todo? — Scott franziu o cenho, mas aliviou sua feição tensa assim que colocou seus olhos em Justin e o ouvir rir com a suposta bronca que receberíamos.
— Sim, exatamente. — Ele teve a audácia de responder, mas eu interferi com um movimento negativo de cabeça.
— Me desculpe por isso, eu posso pagar a lâmpada — caminhei um pouco para o lado, me inclinando para recolher os cacos.
— Não precisa pagar, Brooke. — Scooter assegurou, rindo baixo com a minha atitude de assumir a responsabilidade. — Eu achei que Justin estava tendo alguma crise de novo, então me deparo com esse garoto rindo pela primeira vez em dias. Tinha até me esquecido como ele fica bonito assim — caçoou, aliviando-me por completo de ter entrado numa fria.
— Você prometeu não me cantar na frente de garotas. — Bieber seguiu seu embalo, zoando com seu empresário.
— Prometi, mas ela é só a Brooke. — ressaltou, apoiado o peso de seu corpo na maçaneta da porta. — Gostei de ver vocês dois se dando bem, é esse o espirito da coisa. — recebi uma piscadela do meu companheiro de trabalho enquanto jogava os maiores cacos de vidro no cesto de lixo. — Não se esqueça da passagem de som, Justin. E Brooke, o pessoal irá sair para distribuir os ingressos agora, você vem?
— Sim — ajeitei minha postura quando fiquei de pé, relaxando os ombros a medida que Scooter saia e deixava a porta aberta.
— Ganhei de W.O. — Justin se pronunciou depois que fomos deixados sozinhos. O W.O. ou Walkover, era a atribuição de uma vitória a uma equipe ou competidor quando o adversário está impossibilitada de competir.
— Você quebrou uma luminária, então quem saiu com vantagem fui eu — me gabei depois que o sufoco já havia passado.
— Não teria acontecido se você não tivesse desviado — rebateu, cruzando seus braços e caminhando em minha direção.
Nós dois passamos pela porta e eu fiz só negar com a cabeça, já que a desculpa de Bieber havia sido inválida.
— Considere um empate e não se fala mais nisso — por alguns instantes, aquele-Astro-Pop pareceu pensar na possibilidade, entretanto, soltou um riso nasalado e se negou.
— Desculpe, Brooke, sou competitivo demais para admitir um empate — ambos sustententamos os olhares desafiadores, porém, o contato visual foi quebrado após o nome dele ser chamado do outro lado do backstage e meus passos rumarem a direção contrária para que eu pudesse assumir meu posto novamente.
Com as energias rejuvenescidas, minhas passadas largas se estenderam pelos corredores de piso de granito completamente polido. O eco de meus saltos marchando de forma decidida era o único ruído que meus ouvidos captavam com perfeição, mas ao dobrar o local íngreme, a falação preencheu o ambiente e me fez transbordar daquela sensação desconhecida por mim.
— Aqui estão — Caleb estendeu-me uma boa quantia de ingressos e eu os apanhei com satisfação — vinte e cinco para você, vinte e cinco para mim e o resto para aqueles dois ali dividirem — gesticulou, apontando para Allison e seu acompanhante Lucas.
— Vamos então — segurei os tickets com firmeza entre meus dedos, o puxando de maneira tão entusiasmada, que o fez perguntar que bicho havia me mordido.
Do lado de fora, uma tarefa fácil se tornou incrivelmente prazerosa. Chegando como quem não queria nada, observei com atenção as diversas fãs que eu escolheria presentear com a passagem para a realização de seu sonho. Mellark e eu nos dividimos, mas nos mantivemos perto o suficiente para que nenhum alvoroço fora de nosso controle tivesse a chance de começar. Abordei algumas garotas de um jeito que mascarasse qualquer envolvimento com a equipe, porém, depois que outras me reconheceram, foi difícil completar o trabalho no anonimato. Algumas histórias de fãs comoveram-me. Haviam pessoas que viajaram muitos quilômetros para ter a chance de comprar um ingresso de última hora, mas a bilheteria havia fechado há mais de duas horas. Tentando não me deixar levar pelo emoção que elas emitiam depois de receber seu bilhete mágico, recebi diversos abraços e gritos histéricos como recompensa. Eu só não imaginava que ver alguém chorando de felicidade faria meu trabalho valer tanto a pena. Por onde se esconderam essas sensações? Como eram capazes de encherem uma pessoa desconhecida de amor? E como um simples gesto abalava minhas estruturas daquela forma?
(...)
Mais uma etapa completa indicava que o show foi um sucesso. Ostentando um sorriso contagiante, Justin cumprimentava a equipe e vinha abraçado de lado junto a Elysandra Quinõnes, uma das mais belas dançarinas do cantor. Assim que avistou Alfredo, ele não mediu esforços para pular nas costas de seu amigo e fotógrafo, que quase caiu no chão com o impacto surpresa.
— Nós deveríamos sair! — Exclamou, completamente elétrico. — Vamos jogar Hockey hoje?
— Tá falando sério? — o amigo perguntou num tom parecido. — Demorou! Vamos antes que você mude de ideia.
— Estou, cara — ele retirou a bandana vermelha que cobria metade de sua testa e seus cabelos platinados.
— O que te deixou tão motivado assim? — Flores perguntou curioso, mas Justin respondeu com um riso baixo e segredado.
— Chame os caras, vou pedir para a Alli reservar um horário na Alpine Ice Arena — a celebridade deu tapinhas sobre o ombro de Alfredo e encontrou o meu olhar. — Você vem, não é, Brooke?
— Eu? — espantei-me vagamente. — Nós temos um voo amanhã cedo, Bieber...
— Por que ter uma boa noite de sono, se podemos nos divertir com o pessoal? — rebateu sorridente. — Você tem que ir, vou te apresentar a Hails.
— Hails? — franzi o cenho, perdida em confusão.
— Hailey. Minha melhor amiga. — Justin se divertiu com minha careta. — Ela é a garota mais legal que você vai conhecer, te garanto.
Embarcando naquela loucura, o garoto me convenceu a acompanhá-los. Primeiro de tudo, voltamos para o hotel e tivemos cerca de trinta minutos para trocar de roupa. Caleb preferiu descansar naquela noite, isso fez com que eu repensasse a ideia de ir, mas Ryan não me deu escolhas depois de arrastar-me para fora de meu quarto.
Sem vestir social — milagrosamente — optei por uma calça Jeans recém comprada com meu primeiro salário. Não tão radical assim, ainda vesti um suéter de cashmere branco, pois a temperatura lá fora havia caído e eu definitivamente odiava usar roupas que fugiam demais de meus costumes. Minhas botas de cano alto e sem salto ainda faziam barulho ao passo que tentávamos ser discretos e saíamos pelos fundos do hotel para despistar os fãs, mas tudo deu certo quando nós saímos em três carros para a arena de Hockey que Kaye conseguiu reservar as dez da noite.
No carro que fui, Alfredo, Ryan, Rudy e Post Malone comentavam aos gritos suas apostas e estatísticas para a futura divisão do time. Nos demais carros, Maejor Ali, o DJ Tay James, a garota loira denominada Hailey, Khalil e outros dançarinos fariam do ambiente ainda mais caloroso assim que todos estivessem reunidos. Sem demora, concluindo a trajetória em quinze minutos, saímos dos carros com meus ouvidos zunindo pelo resultado da gritaria. Quando passamos pelo estacionamento todos juntos, o pessoal agiu como se fosse coincidência terem se encontrado ali, encenando muito mal a brincadeira em conjunto. Só então, desviando de toda a presença masculina em peso, Hailey, a melhor amiga de Justin veio em minha direção sem precisar de uma apresentação formal com a ajuda de Bieber.
— Você deve ser a Brooke — ela sorriu calorosamente ao me estender a mão.
— E você a Hailey. — Nós apertamos a mão uma da outra. — Ainda bem que ao menos uma garota veio.
— Eu ia dizer o mesmo. Toda vez que venho ver esses loucos jogarem, tenho que assistir e gravar tudo sem ninguém para zoar eles comigo — começamos a andar uma ao lado da outra, sendo as últimas a adentrarem o local, sem contar os dois seguranças que haviam chegado primeiro para averiguar a arena e nos passar conforto do lado de dentro.
Era como um grande ginásio de uma escola, obviamente mais estruturado e espaçoso, tirando o fato da iluminação branca, que era de arder os olhos. Os garotos desapareceram por uma das portas do vestiário com suas grandes malas em mãos, cujas haviam seus respectivos trajes para praticar tal esporte. A única vez que presenciei um jogo de hockey foi atrás da tela de uma TV. Não que desta vez contasse como um jogo de verdade, já que se tratava apenas de um monte de caras passando um disco pela pista de gelo no objetivo de marcar pontos contra o time adversário.
— Vamos ficar na terceira fileira? — indagou a loira e alta Hailey para mim. — La embaixo é muito gelado.
— A terceira está ótima — lhe ofereci um sorriso grato, acompanhando-a entre os bancos da arquibancada.
— E então — a garota se sentou, virando-se para mim com as sobrancelhas juntas. — Ouvi o Scooter falar muito de você — ela relaxou seu corpo no assento de madeira que nos estava disposto, fazendo com que eu copiasse seu ato.
— Oh, é. Nós nos conhecemos há uns meses atrás — coloquei uma mecha de meu cabelo preso por detrás de minha orelha. — Você o conhece ha muito tempo?
— Desde os quinze. Conheci o Justin quando ele tinha aquele cabelo de capacete horrível e fez quase todos os adolescentes da época acharem que tigelinha era legal — disse, referindo-se ao nome do corte de cabelo.
— Céus, foi com ele que aquela droga começou? — Esbugalhei os olhos, lembrando da quantidade de pessoas que eu já vi com aquele corte.
— Foi! — Hailey gargalhou depois de ver minha feição — Ainda bem que o problema de vista que ele tinha, fez com que ele cortasse. Nunca achei que agradeceria tanto o fato dele usar óculos.
— Justin usa óculos? — estreitei os olhos.
— As vezes sim — a loira deu de ombros, virando-se para ver o primeiro dos membros da equipe adentrar ao campo de uniforme.
Que traje mais exagerado.
Pelo capacete na cabeça, não consegui ver quem se escondia por trás daquele monte de equipamentos, mas não era Bieber. Assustava-me a peripécia de reconhecê-lo pela fisionomia e o porte de seu corpo. Entregava que a nossa aproximação começava a ter resultados que eu jamais achei que teria.
A celebridade por fim, saiu acompanhada de seu amigo Alfredo, que colocava seu capacete no momento em que patinava com maestria para o centro da pista. Bieber escondeu seu rosto em seu capacete branco também e depois de colocá-lo, ajeitou as ombreiras e joelheiras, checando os cadarços de seus patins em último lugar. Com um número seis estampado atrás de sua camisa azul marinho, ele fez graça, contornando cada um de seus colegas ao patinar pela lateral dos mesmos e finalmente frear seus pés próximo do que parecia ser Ryan. Os homens tiraram a sorte através de números em seus dedos cobertos por luvas, contudo, não conseguia ter uma boa visão de quem saiu como ganhador. Sendo assim, times foram formados. Maejor segurou o disco no alto e o jogou para cima, dando início a uma batalha brusca pelo objeto que corria entre um taco e outro, deslizando ligeiramente pelo gelo.
— E aí, qual é a tua aposta? — a amiga de Justin perguntou após gravar um vídeo em seu celular.
— Eu não entendo nada dessas coisas — admiti, num muchocho produzindo um som com a boca, usando a ponta da língua contra o palato superior.
— Você nunca viu um jogo de hockey? — Hailey entreabriu a boca, desacreditada.
— Não — admiti, sentindo-me até culpada pela forma indiscreta que a loira abominou-me por um segundo.
— Está brincando? — persistiu, realmente desconfiada.
— Não, é verdade — sorri introvertida, não me importando muito com o acontecimento. — Venho de uma família bastante rígida. Nunca tive tempo para essas coisas.
— Minha nossa — espantou-se — meu pai sempre me levava aos jogos do Maple Leafs. É o time do coração do Justin, juro, ele é bastante obcecado com isso.
— Ele é obcecado com quase tudo, não é? — comentei com deboche, levando-a a rir comigo.
— Sim, bastante — afirmou, risonha. — Mas fazia um bom tempo que ele não demonstrava essa animação com o esporte e as coisas em geral. Hoje ele até me abraçou forte e eu tive que medir sua febre, algo aconteceu para que ele tenha ficado tão animado de repente.
— Talvez tenha sido porque nós não tivemos prejuízos com o show de hoje. O estádio estava lindo e completamente lotado, isso me faria feliz se eu fosse uma celebridade. — Hailey concordou com um sorriso e nós nos encaramos por um breve instante.
Sem nenhum esforço, nós nos demos bem de primeira, dispensando qualquer ajuda de terceiros. Ela me deixou a par de sua vida, revelando para mim uma nova visão mais ampla de quem era. Além de melhor amiga de Bieber, também era conhecida por ser modelo e eu busquei dentro de minha memória, ao menos um indício de que seu rosto era conhecido de alguma forma por mim. A conversa fluiu tão naturalmente, que desligamos-nos dos demais caras disputando um disco numa batalha travada de competitividade lá embaixo. De início, achei que seria melhor não falar muito sobre minha vida, mas vendo que Baldwin estava tão disposta a ouvir e falar sobre aquilo, eu cedi meu orgulho mais uma vez, pois eram raras as vezes que tinha oportunidade de conversar sem envolver nenhum negócio no meio do diálogo.
— Meia-noite, meninos! — Hailey levantou-se para gritar depois que acabamos de dividir um saco de salgadinhos.
Os garotos foram parando aos poucos; suados, eles tiravam seus capacetes e se apoiavam nas barras de segurança na lateral da área isolada por uma porta envidraçada.
— Infelizmente vocês não são tão bons quanto antes. — Justin se gabou. — Ei, Wright! — o mesmo me chamou, retirando suas ombreiras. — Vem aqui.
— Está frio aí, nem pensar — neguei com a cabeça. — Vem você até aqui.
— Deixa de ser chorona, vem logo — insistiu, provocando-me com sarcasmo.
— Vai lá, Brooke. Acerta ele com o taco. — Hailey me encorajou, retirando o saco vazio de Ruffles de meu colo. — Ela vai descer aí e te mostrar quem é chorona, seu panaca! — gritou, mostrando a língua para Bieber depois que ele fez o mesmo para ela.
Me levantei com os olhar estreito e desconfiado para o garoto e rumei meus passos até ele, que não era tão alto quanto seus amigos — cujos esvaziavam a pista para ir trocar de roupa.
— O que você quer? — apontei cismada, apoiando-me na porta de vidro entreaberta.
— Você já patinou antes? — quis saber, suas íris brilhando de curiosidade.
— Não — arqueei uma sobrancelha.
— Quer tentar? — inquiriu, se apoiando em minha frente com a face vibrando por uma resposta positiva. — Não faça essa cara, eu posso te ensinar. — Justin disse na defensiva de minha expressão incrédula.
— Não é uma boa ideia. Você já ensinou alguém antes? — estava receosa, não havia tom que encobrisse minha insegurança.
— Claro que já, eu sou a pessoa mais apta a ensinar alguém.
— Sem falsa modéstia — entortei os lábios e revirei meus globos marrons escuros.
— Vai amarelar, Brooke? — de certa forma, ser desafiada ainda afetava meu ego. Eu já tinha começado a superar todos os modos de querer provar para as pessoas minha capacidade, mas Justin estava bem ali, demonstrando que se eu desse para trás, seria motivo de chacota pelo resto dos dias de nosso convívio. Portanto, respirei fundo e mordi meu lábio inferior, apontando para um patins reserva ao seu lado.
— Passa isso pra cá — movimentei meus dedos para passar um sinal de que ele deveria ser rápido.
Deixando o capacete de lado e todas as medidas exageradas de segurança, o garoto me passou os patins e me cedeu suas cotoveleiras, as quais eu apanhei sem pensar duas vezes. Oferecendo-me um daqueles capacetes apenas por chacota, Justin não abandonou o sorriso presunçoso que me lançou desde que aceitei sua proposta desmiolada. Subistituindo meus sapatos pelos patins, Bieber ofereceu-me sua mão e sem escapatórias, tive que pegá-la para não cair, ao passo que pisava devagar na pista de gelo e arfava com a textura estranha que o mesmo continha abaixo de meus pés.
— Ei, Justin! — Ryan gritou lá de cima, passando um dos braços pelo ombro de Hailey. — Nós estamos indo, cara. Você vai ficar?
— Podem ir! — o loiro gritou de volta. — Levo a Brooke depois. — De imediato, o olhar dele fixou-se no meu, buscando por uma permissão á sua ideia.
— Tá certo — concordei com desdém e para que os demais entendessem, Justin os dispensou com um aceno de mão.
Pela segunda vez no dia, éramos só nós dois. Ambos sobre uma temperatura abaixo de zero que o suporte de meu cashmere quase não podia suportar. As palmas de suas mãos já livres das luvas que antes as cobriam, estavam quentes e Justin estava de frente para mim, andando no sentido contrário que ele me guiava.
— Você tem certeza que é seguro? — meu medo transpareceu pela minha falta de habilidade na pista.
— Confia em mim, Wright — ele rolou os olhos. — Agora dobre os joelhos bem devagar. — tentei executar o que ele me coordenou, porém, bastante afoita estava convicta de que aquilo não daria muito certo. — Não tanto assim. — Justin gargalhou com a posição comprometedora que me fez fazer.
— Estou me sentindo ridícula. — murmurei, segurando com firmeza os seus pulsos, pois tinha medo de seus dedos me deixarem escapar.
— Está indo muito bem para uma iniciante. — Justin acelerou um pouco mais seu ritmo, fazendo a coisa parecer fácil na aplicação que seus pés tinham.
— Não tão rápido! — Pedi com um pouco de afobação, arfando após fechar os olhos.
— Mas nós nem atingimos a velocidade inicial, Brooke — ele riu, gingando nossos corpos tão confiante de si, que me permitiu relaxar com a firmeza de seus atos.
Nesse tempo, nós efetuamos mais de quatro voltas inteiras e alguns círculos até que Bieber me passasse a segurança de que eu realmente não iria cair de quebrar algum osso. Sim, era aquilo o que me assombrava, no entanto, perdendo o temor a cada volta que completávamos, um sentimento de liberdade e alegria plantou-se e aflorou dentro de meu ser, permitindo que o mais sincero de meus sorrisos fosse liberto, conforme eu arriscava movimentos individuais.
Cautelosa, alcancei Justin que pediu-me para que eu o alcançasse na barra de ferro em que ele estava apoiado. Fiquei tão orgulhosa de mim — pela primeira vez liberta de todas as minhas preocupações do mundo lá fora—, que gargalhei, transbordando a euforia que jamais fora descoberta antes.
O garoto segurou-me pelos ombros e seus lábios iam de canto à canto num sorriso semelhante, quando disparou em seu ápice:
— Você deveria sorrir mais — nossos olhos enfrentaram uma batalha mista de sentimentos imersos em felicidade. — Fica ainda mais bonita assim — reforçou, como se precisasse de mais para complementar seu elogio.
Eu não tive palavras nem reações. Do mesmo jeito que paramos, permanecemos. A sensação não era incômoda, mas estranha. Os globos de mel de Justin contrastavam perfeitamente com a luz fria acima de nós, mas não havia nada de gélido entre ambos no espaço de tempo em que era permitido tal contato. Um transe pairou sobre minha mente, levando-me direto para aquela-certa-noite em que tivemos uma aproximação parecida.
Salvos pelo gongo, o toque do celular de Bieber na bolsa em cima da primeira fileira ecoou pelo local vazio, nos dando um duplo susto. Ele soltou o ar pesadamente pela boca, deixando esvair telepaticamente que por pouco o clima não ficava mais tenso. Levando-me até a beira, permaneci ali e o permiti prosseguir até o lado de fora, onde atendeu seu celular na segunda vez que o mesmo tocava.
— Alô? — o Astro Pop fez uma pausa, de costas para mim. — Sim, eu sei. — Outra vez o silêncio. — Estou indo... — ele soltou os ombros, jogando a cabeça para trás. — Não me esqueci, Alli. Já estou voltando — dito isso, Bieber desligou e enfiou o celular de volta na grande mochilha que guardaria seus equipamentos.
— É sobre o voo amanhã de manhã? — retirei meus patins depois de andar feito uma pata até o banco para completar a árdua tarefa.
— Acertou — o loiro que continha um depósito de tatuagens sorriu amarelo, removendo seus patins também e adiantando o armazenamento dos demais conjuntos de apetrechos em sua bolsa preta.
Nosso trajeto de volta para o hotel foi silencioso. Eu não tinha ideia de como preencher o vazio de palavras com algum assunto, pois não os possuía. Era limitada a minha habilidade de estabelecer uma conversa digna, ainda mais depois de termos nos colocado naquelas circunstâncias. Não, nem ele, nem eu tínhamos culpa desta vez. Não poderíamos usar o álcool como escapatória, pois infelizmente estávamos sóbrios para tal pretexto. Poderia julgar que era besteira de minha cabeça e que só eu havia levado o acontecido para outro lado, mas se era a única, por que Justin estava tão quieto?
— Obrigado por hoje, Bieber — esforcei-me para lhe agradecer com a mais pura sinceridade, apesar de estar um pouco dispersa.
— Eu é quem agradeço, Wright — parados no estacionamento, o carro que ele dirigia desligava o motor em uma vaga, enquanto o automóvel de seus dois seguranças lá atrás, ocupava uma outra vaga. — Me diverti bastante hoje.
— Também me diverti — confessei, sentindo-me tão nervosa por admitir, que borboletas se instalaram no interior de meu estômago. — Quem diria que você era tão divertido assim?
— Espera, você está me elogiando? — Justin sorriu travesso, aproximando-se de mim e atrevendo-se a quebrar abruptamente nossa distância que já era mínima.
Minha respiração trancou sem que eu me desse conta de fazer isso. Automaticamente, arregalei os olhos quando o rosto de Bieber ficou tão perto do meu que me fez recuar e ofegar por instinto.
— O que está fazendo?! — proferi, indignada. — Não confunda as coisas, Bieber. — Fui rápida em contravir, mas tudo o que eu recebi em troca, foi uma expressão confusa vinda do garoto, seguida de uma risada desacreditada.
— Eu só estou abrindo a porta, Brooke — o loiro empurrou-a para me ceder passagem e só depois de notar que sua inclinação havia sido apenas para alcançar a maçaneta, meu rosto ruborizou-se em brasa.
— Eu sei. É claro que estava — franzi o cenho, disfarçando tudo o que supostamente pareceu ser dentro de minha cabeça. — Eu quis dizer que não é só porque permiti que você fosse educado mais cedo, que significasse que de repente, perdi as habilidades de abrir uma porta — dando a volta por cima, consegui encobrir o caso num rápido jogo de cintura, no intuito de abandonar o carro depois de evitar olhar em seus olhos outra vez. — Boa noite. — Apressada, o deixei para trás, colocando a mão no peito depois de ter certeza que sua atenção não estava mais em mim.
Caramba, o que foi isso?
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