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História On our way, I found you - Chapter 2 - I found you


Escrita por: Fuyuninn

Notas do Autor


Olá, gente! Mais um capítulo chegando. Tentarei postar mais um capítulo hoje e terminar até o fim de semana todas as postagens!

Espero que gostem!

Capítulo 2 - Chapter 2 - I found you


Sabe aquelas baboseiras que você geralmente ouve dos seus pais durante o seu crescimento? "Não faça isso." "Não faça aquilo." “Come isso, faz bem.” "Você vai se ferrar." "Meu filho, toma cuidado..." Bom, nunca me falaram o que era certo ou errado. Era mais fácil receber o dinheiro do mês, colocar minhas necessidades em cima de babás e viver do jeito que dava. E o valor do dinheiro variava. Lembro-me que iniciou com cem, depois duzentos, trezentos, quatrocentos…

Mil.

Isso em uma faixa-etária de o quê? Dez a quatorze anos?

Acredito que quando se é mais velho — se quinze anos é ser mais velho — você acaba recebendo meio milhão just for fun quando seu pai é um dos caras mais ricos que você já ouviu falar.

É, pois é. Admito que era uma forma bem eficaz de manter um pirralho na linha. Entretanto, se colocarmos em termos de famílias normais, seria mais ou menos: "Coma todo o brócolis e só assim compraremos seu brinquedo" ou alguma coisa parecida.

Mas, se colocarmos em termos da família Dragneel era: "Se você me deixar em paz, pode ir comprar a montanha russa que você queria". Sei que meu pai não via outra maneira de exercer sua influência sobre mim.

Não mesmo.

Dinheiro, Dinheiro, Dinheiro. Essa palavra faz o mundo girar de outra forma. Uma na qual já estava bem acostumado a lidar, e vamos, com apenas dezessete anos eu era um excelente pseudo-empresário, tanto que nem sei se queria realmente fazer alguma faculdade ou qualquer coisa que exigisse muito do meu esforço e tempo.

E aí você pergunta: por que estamos falando disso mesmo?

Espere um segundo, já chego lá.

Eu gostava mesmo de cuidar das empresas do meu pai, porque, bem, se sentir útil é incrível, não é? Você se sente capacitado a fazer alguma coisa para mudar o mundo e vê tudo de uma maneira diferente, como se estivesse renascendo.

O pessoal da psicologia diria que isso é a famosa "maturidade".

Mas quem precisa ser maduro para fazer alguma coisa para mudar esse mundo? Um mundo capitalista que só gira em torno do dinheiro, da fama e do sucesso em todas as áreas. O impressionante é que as pessoas aspiram com intensidade esse tal "sucesso", talvez por pensarem que é essa é a única maneira de ser alguém digno de viver aqui. Até entendo toda essa ladainha, porém, quem precisa de tanta coisa para ser feliz, dude?

Mas enfim, quem sou eu para falar alguma coisa de sucesso, fama, ou dinheiro se já nasci com tudo isso?

É, ninguém.

Então, o motivo para todo esse discurso crítico explicitamente ridículo — e desnecessário — era apenas um:

A minha falta de vontade de ir à escola.

Eu sei, parecia que eu estava tentando revolucionar o mundo, talvez convencendo algum nerd sardento de que ele poderia, sim, ser alguém no futuro, ou até mesmo me preparando para algum programa de argumentos hipócritas que só passa às três da manhã quando as emissoras não tem mais nenhuma bobagem decente para colocar em seus canais.

Porém, minha não ida à escola tinha mais do que motivos revolucionários como justificativa: havia o sono que me fazia dormir em todas as aulas, afinal se eu iria dormir na sala de aula e no final levar suspensão, por que já não ficar em casa?

Tá, tá, existem causas melhores também.

Pra quê ficar mais de oito horas numa instituição inteiramente detestável, com pessoas descartáveis e comida deplorável, revendo coisas nas quais já sabia, se houvesse a mínima chance de permanecer em meu quarto, em minha cama, comendo qualquer coisa — deliciosa ou não —, sem me preocupar com trabalhos escolares, provas ou briguinhas de gangues adolescentes?

Por favor, pense com carinho.

E eu nem sei do que estou falando sendo que raramente tinha tempo para qualquer lazer porque que eu trabalhava na empresa da família o suficiente para acabar com toda minha vitalidade juvenil.

Por algum tipo de milagre, eu estava de folga naquele dia, então a única coisa que eu fazia era assistir algum dos meus filmes de ação em meu quarto. Admito que sou fã de qualquer filme de ação, adoro as explosões, as matanças e como os personagens são frios e calculistas, prontos para qualquer coisa. Ah, e inteligentes também.

E simplesmente, na melhor parte do filme — onde o cara principal encontrou o esconderijo do inimigo dele e encontra a mulher que ele ama, e rola todo aquela pegação, e em seguida eles têm que correr porque o galpão onde ela estava tinha algum tipo de bomba que estava prestes a explodir. Para melhorar, rola todo aquele efeito especial extremamente invejável, e quando aparentemente todos estão seguros, o inimigo surge por cima da garota, e eles, visivelmente abalados, veem a arma apontada por cima de suas cabeças —, o imbecil do meu melhor amigo decide me ligar.

 Foi somente olhar para a tela do meu celular que tudo aconteceu em um segundo. Explodiu tudo — porque explosões são necessárias em algum contrato de filme de ação — a mulher gritou apavorada e o vilão e o principal morreram.

“Mas que merda foi essa?”

BSSS. BSSS. BSSS.

Algumas pessoas simplesmente não tinham “O” talento para filmes de ação, infelizmente.

Na verdade, tinha gente que nem deveria tentar fazer um filme de ação.

BSSS. BSSS. BSSS.

O celular continuava tocando, fazendo-me suspirar e me segurar para não jogar aquela coisa na parede.

— O que você quer? — perguntei, quando finalmente atendi a ligação.

— Bom dia, parceiro, tudo bem? — Sua voz soou sarcástica. Perfeito para o meu humor maravilhoso naquela manhã de terça-feira.

— Pelo amor de Deus, por que me ligou?

— Você ainda vai matar alguém com esse humor, querido! Tem que se acalmar! — E riu.

Sejamos sinceros, ter amigos era legal e tudo mais. Porém, tinham certos momentos — e devo dizer que eles aumentaram consideravelmente naquele momento — que eu simplesmente queria que cada um deles evaporasse.

— Tchau, Gray. — E antes que eu pudesse desligar, ouvi os gritos dele no telefone. Bufei — Que é?

— Você precisa voltar para a escola, buddy.

Hein?

— E por que eu faria isso?

— Porque o vovô já está irritadão com as suas faltas. Ele não vai muito com a sua cara. Na verdade, ninguém vai, mas enfim…

— Gray, eu não vou voltar. Tenho muita coisa para fazer na empresa. Falou isso para ele?

— Ô se já! Mas você acha mesmo que aquele velhote vai me ouvir?! Nem se colocar o Obama lá para depor a seu favor o cara acredita. Ele acha que você só quer passar a perna!

Pessoas inteligentes eram um saco.

— Argh... Eu faltei pouco esse ano, ele não pode reclamar! Eu pago essa merda que ele chama de escola!

— E daí, meu filho? É o Macarov, ele pode fazer o que quiser. E vamos ser sinceros aqui, nesse mês você faltou duas semanas, dude.

— Qual o problema? Eu tive que viajar para Tóquio, então a culpa não é minha!

— Olha, vou fazer jus às palavras dele: "Diz para o seu amiguinho de cabelo pink horroroso, que se ele não aparecer aqui em uma hora pode se considerar reprovado de ano."

Paralisei.

— O quê?!

— Se ferrou, foguinho.

— Ele não pode dizer que meu cabelo é pink! Ou horroroso!

— Começou o surto da criança…

— Morre, Gray! Eu não vou voltar pra aí, mesmo quando chamam meu cabelo de horroroso.

Ele bufou.

— Maluco, você ouviu a outra parte? Ele vai te reprovar, mermão! E o que acontece se você reprovar hein?

Okay, a minha ficha caiu. Aliás, meu cabelo não era pink. A cor rosa era naturalmente exótica. De família. Passado de gene para gene, um marco muito importante entre os Dragneel’s. E aquele baixinho acha que tinha o direito — apenas porque pensa que é alguém importante por ser diretor de uma das maiores escolas de Chicago — de ofender esse legado da minha família. Com certeza deveria ser punido de alguma forma. Pensaria nisso depois.

Porém, reprovar não era algo considerável. Meu pai deixou claro que os Dragneel's eram os melhores. Não existiam "reprovações" em nosso boletim de vida, ou sei lá o quê, segundo ele. Erámos conquistadores e dominadores, então perdas eram inaceitáveis porque não perdemos. Quem perde são os outros. Os Dragneel's são superiores a qualquer um.

E bem, ele disse que cortaria trezentos mil dólares da minha mesada se eu reprovasse.

— Você só pode estar de brincadeira…

— Volta para gente, chuchu, sentimos sua falta. — Tive que rir com sua palhaçada.

— Que horas eu tenho que estar aí?

— Agora são nove horas e o intervalo é às dez. Chegue até o intervalo e tudo vai ficar de boa.

— Eu não esqueci os horários das aulas, dude — falei, enquanto procurava alguma blusa decente para ir ao inferno novamente.

— Vai saber né, você é meio estranho.

Revirei os olhos.

— Você está matando aula?

— Aprenda, jovem: eu sempre mato aula.

— Quem é dessa vez?

Ellie, primeiro ano. Aquela morena, olho verde, bonita…

Reviro os olhos.

— Chego aí em dez minutos.

— Tranquilo, te vejo daqui a pouco, buddy.

— Yeah, se cuida. Às vezes a Erza anda pelos corredores no horário das aulas.

— E não é que a sua memória funciona?! Se o Jellal estiver com ela, fica tudo legal, mas, no pior dos casos, digo que estava com diarreia.

— Se ela acreditar... — Puxei uma calça.

— Ela nunca acredita. Mas ninguém pode saber se estou ou não de diarreia, certo?! Só se ela quiser ver. — E gargalhou.

Ri junto.

— Tanto faz, até mais.

— Assim você fere meus sentimentos. Tchau, man.

E desligou.

Às vezes, acho que devo trocar as minhas amizades, porém, Gray e eu nos conhecemos desde os sete anos e teria sido praticamente impossível não me tornar um “errante” caso meu amigo não estivesse por perto o tempo todo para me mostrar que eu nunca devo ser igual a ele. Em nenhuma hipótese.

Talvez trocar de amigos não seja uma boa opção.

Coloquei uma blusa branca, um jeans qualquer e o primeiro tênis que vi no closet. Passei algum perfume que considerei aceitavelmente bom e apanhei a mochila. Mas, antes de tudo, era bom checar se todos os materiais necessários estavam lá, porque o que eu menos queria era ficar de detenção em meu quinto primeiro dia de aula daquele ano.

Tá, não precisa falar nada.

Descer as escadas daquela mansão era muito cansativo. Não porque não tinha porte físico, por favor, claro que tinha. Mas, em tese, acredito que quando você está insatisfeito com as coisas que acontecem na sua vida, tudo fica meio chato e cansativo. Pior que isso. Então, recomendo algum tipo de exercício como: ficar na sua cama doze horas por dia, fazer alguma coisa que gosta pode ser muito relaxante e também…

— Prince!

Viajei legal.

Girei meus calcanhares para encontrar a dona daquela voz fininha que eu já sabia há muito tempo de quem era.

— Virgo — Sorri —, bom dia.

Ela me olhou desconfiada, enquanto andava em minha direção. Provavelmente ouviu meus passos rápidos da escada e quis ver o que aconteceu. Talvez ela pensasse que eu estava com aqueles tipos de “ataques” de gases novamente, graças a Deus era algo melhor dessa vez.

Ou talvez não.

— Vai sair?

— Aham. — Continuei sorrindo.

Sorria, ela pode farejar o medo, pensei.

— E vai aonde? Posso saber? — Levantou uma sobrancelha.

— Você pode saber o que quiser, Virgo — falei, ajeitando a mochila nos ombros — Mas, humm, nada com o que se preocupar. Não estou bêbado dessa vez.

Ela torceu o lábio em resposta.

“Isso vai ser longo…”

— Natsu, aonde você vai? — Preste atenção, ela perguntou aquilo com a voz mais baixa e assustadora que já ouvi. E, bom, do que adiantaria mentir? Ela, provavelmente, colocaria aquele guarda-costas estranho para cima de mim novamente se desconfiasse de alguma coisa, e aquilo era a última coisa que eu queria.

Além de reprovar, claro.

— Para a escola — suspirei, ela levantou a sobrancelha — Tenho coisas pendentes lá, e, provavelmente, você não quer que eu reprove de ano.

Ela arregalou os olhos.

— COMO ASSIM “REPROVAR”, NATSU DRAGNEEL?

Não falei que ia ser longo?

Franzi o cenho pelo seu grito.

— Minha querida Virgo — Pela sua expressão, eu deveria medir minhas palavras, seria mais seguro —, eu só preciso ficar lá por um tempo. Aquele povo meio que gosta de pegar no meu pé — respondi, na maior serenidade que consegui.

— Prince, diga-me exatamente quantas aulas você faltou para que isso acontecesse — proferiu, mais calma. Mas quem disse que isso a deixava menos assustadora?

Pigarreei.

— Er... três dias? — Ela cruzou os braços — Tudo bem, tudo bem... Uma semana!

Ela olhou para o seu relógio de pulso.

— Henry está lá fora se você quiser…

Pelo amor de Deus!

— Okay! — Levantei meus braços — Ao todo?

Ela assentiu. Limpei a garganta.

— Três meses.

Ela arregalou os olhos enquanto eu revirei os meus.

— Oh, meu Deus! Você irá reprovar! — ela disse, com horror.

— Ei, ei, ei! Eu não vou reprovar, tá? Por isso estou indo pra escola, hum? Tá vendo isso aqui? — Apontei para a minha mochila — Está cheia de livros de trigonometria. Fantástico!

Na verdade, só tinha dois cadernos, salgadinho para o lanche e para o almoço, acho que algum casaco também, ou uma cueca. Tanto faz.

Ela suspirou.

— Estuda direito, garoto! Não quer ouvir seu pai reclamando com você, não é?! — Se aproximou — É seu dever tirar notas boas! — E beijou minha testa.

— Como se não tirasse as melhores notas daquela bagaça... — resmunguei.

— O que disse?

— Nada! — Dei um sorriso nervoso e ela me olhou com desconfiança novamente.

Acho que essas pessoas esquecem que quando eu não estou na escola — na maioria das vezes — estou na empresa, sendo um dos principais pseudo-gerentes daquele negócio. Porém, ter dezessete anos só faz com que os outros enxerguem sua principal função como estudante que você é obrigado a ser: estudar, estudar mais um pouco e estudar de novo.

— Pode deixar, vou estudar direitinho. — Beijei sua bochecha — Te vejo à noite!

Isso se eu não estivesse trabalhando.

Viram? Não era fácil ser um quase-empresário e um estudante ao mesmo tempo, mas era bem mais fácil cuidar de cláusulas contratuais do que fazer os exercícios de química da louca da Porlyusica. Acredite em mim.

Fui até a garagem, peguei minha Bugatti e arranquei pneus pelas ruas de Chicago. Não se esqueça de que, quando se tem um carro desses o que não pode faltar são os óculos escuros e o rádio ligado ao som de algum cantor que você esquece o nome, mas sabe a música.

Oh, yeah.

N&L

 

A Fairy Tail Academy não tinha mudado absolutamente nada — aliás, uma escola tem capacidade de mudar em apenas duas semanas? — desde a última vez que pisei os pés nela. Na verdade, havia um vaso novo no corredor da biblioteca. Será que tinham colocado para dar um ar mais legal? Será que o velhote esqueceu o que o time de basquete fizera com o antigo vaso de flores anos atrás?

Enfim, o principal problema que eu enfrentava, naquele momento, era ter que esperar para poder entrar na sala de aula. E, por favor, não se engane. A escola não era exatamente um lugar aceitável para se estar, mas eu tinha escolha? Reprovar não era uma opção, então, antes de tudo, teria que ficar esperando e só assim surgiria algum resultado.

E, vou ser sincero: eu odiava esperar.

Levantei do banquinho do pátio do colégio para pensar em alguma coisa que poderia fazer enquanto esperava o maldito sinal tocar. Olhei o relógio. Apenas 9h20min. Malditas fossem as horas. Ainda faltava quarenta minutos até o horário do intervalo. Suspirei.

Poderia ter pego algum livro para me distrair ou encontrar algum guri do clube de xadrez, eles sabiam como aproveitar a vida.

Mais um suspiro.

Por falta de boas opções, deitei na grama, esperando algum tipo de sonolência se apoderar do meu corpo. O que era muito improvável, afinal o fato de ter sido criado pela sua governanta faz com que ela te coloque para dormir assustadoramente cedo, para que você tenha um “dia produtivo”, segundo ela. Porém, o que se perde com isso, meu caro, é a vontade de dormir tarde porque você se acostuma em acordar de manhã mesmo quando não há nada para fazer.

Até que a grama nem era assim tão ruim. O lado bom de estudar em uma escola como a Fairy Tail Academy era o fato de só ter gente rica nela. Não pessoas esbanjando grana como eu, mas gente que se dava o trabalho de diferenciar a escola de um presídio — não que fosse muito diferente —, e, pelo menos, as pessoas tomavam banho para ir ao colégio.

Eu acho.

E havia o lado ruim de ficar deitado na grama — não, não eram as formigas —, o simples fato de que em alguns segundos, um tédio gigante faz com que você se sinta um babaca por estar deitado na grama e não fazendo algo útil. Por isso, você apela para os joguinhos estúpidos no celular.

Movido pelo lado entediado do meu cérebro, já estava enfiando a mão no bolso da calça para pegar o aparelho quando ouvi um pigarro.

— Hein? — Levantei os olhos e juro, que agradeci a Deus por ser saudável e jovem. Aquela imagem poderia matar qualquer um que tivesse qualquer tipo de problemas cardiovasculares — Vai assombrar um bicho, velhote! — Pulei da grama em dois segundos e o encarei, tomando ar — Se eu não conseguir dormir esta noite, vou mandar a minha conta de luz para você pagar.

— Bom dia, Natsu — ele falou, com um sorriso no rosto. Esse vovô sabia sorrir, gente? — Fico feliz que tenha retornado. Como foi sua... Quantas foram mesmo? Trigésima pausa? — Ergueu a sobrancelha.

— Bom dia, velho — respondi, dando meu sorriso inocente — E não vamos ser exagerados, hum? Ao todo só deram três meses de falta esse ano! Estamos no lucro!

— Claro que sim — E o sorriso, falso, diga-se de passagem, desapareceu do rosto dele. Aí vem bomba... — Suponho que tenhamos assuntos inacabados, Natsu.

— Temos? Já falei que quem quebrou o seu computador foi o otário do clube de literatura. Ainda sobra alguma dúvida? — Levantei as mãos em rendição, claramente zoando da cara dele, mas ninguém precisa saber.

— Tsc. Menino insolente... — resmungou. Dei minha melhor expressão debochada e coloquei as mãos no bolso da calça. Ele deu outro pigarro — Estou certo que já está ciente de que tem uma grande possibilidade de reprovação, Natsu Dragneel.

Revirei os olhos.

— Come on! Velhote, nós dois sabemos que só falou isso para me assustar, pode deixar que não durmo mais nas aulas da Evergreen. Serei um gênio da biologia!

Ele pareceu meio irritado.

— Claro que não falei só para te assustar, idiota! Você pode, sim, reprovar este ano se não assumir suas próprias responsabilidades como estudante!

Sabe, aquele diretor conseguia dar uma de sério quando queria. Digamos que dessa vez ele não parecia querer pregar uma peça em mim como sempre fez e eu até tinha uma ideia do porquê.

— Hã...?

— Natsu, suas notas são espetaculares, mas nada justifica suas faltas, meu jovem. Precisa aprender que tem que vir à escola todos os dias, como fazem todos os estudantes em boa parte do mundo. — Para completar, colocou as mãos nas costas como se quisesse bancar o carinha do Poderoso Chefão.

— Nada justifica? Como diabos nada justifica?! Eu tenho outras coisas muito mais importantes do que ficar brincando de pirralho burro numa escola onde só vão me ensinar tudo que já sei e tudo que preciso! — Sinceramente? Eu já estava ficando irritado. Quem aquele cara pensava que era para se meter na minha vida?!

— Oh, é aí que você se engana, Dragneel! Você tem dezessete anos e é um estudante como qualquer outro. Há responsabilidades na escola e é aqui onde vai ficar nos próximos anos até a formatura.

— Bom, e se eu não obedecer? O que você pode fazer? — debochei.

Ele deu passos lentos em minha direção, com a expressão mais raivosa que já vi saindo daquele anão.

— Eu reprovo você — Apertei os punhos —, e não apenas isso. Reprovo e ainda o classifico incompetente para administrar uma empresa como a de seu pai enquanto ainda é um adolescente.

Sabe aquele momento que seu sangue gela e parece que tudo em você está meio morgado e dormente?

Era aquele momento.

— O quê? — Eu quase não ouvi minha voz por ela ter saído tão aguda e baixa que jurava que nem um passarinho faria melhor.

— Exatamente, Natsu. E ainda digo ao seu pai como está irresponsável ultimamente. Será que ele deixará você continuar seu trabalho com todas as queixas?

— Você não pode fazer isso! — gritei.

— Ah, eu posso sim. — Ele deu o sorriso mais diabólico que já vi — Agora você vai esperar os quinze minutos restantes para o intervalo e depois que acabar, sentará na sua carteira — Cerrei os dentes —, e vai prestar atenção no que a Evergreen explicar. Vamos ver se realmente é um verdadeiro gênio da biologia. Fui claro?

Não respondi e virei a cabeça para o outro lado.

— Fui claro, senhor Dragneel? — insistiu.

Bufei.

— Com toda certeza, diretor Macarov. — Eu me segurei o suficiente para não mandar aquele cara ir se ferrar, entretanto, meu autocontrole não era tão surpreendente assim. Se ele inventasse mais alguma gracinha, era provável eu pegá-lo no colo e jogar do outro lado da rua para algum caminhão atropelar aquela cara de melancia que o velho tinha.

E graças a todos os améns possíveis, ele deu um sorriso satisfeito e se retirou, tranquilo, como se não tivesse ameaçado um membro da família Dragneel.

“Maldito…”

Não era provável que desobedecê-lo fosse uma opção. Afinal, como disse antes, eu tinha tudo e meu pai me deu apenas uma condição para que minha vida pudesse ser perfeita pelo resto dos meus dias: orgulho.

E isso não era algo exatamente fácil, para falar a verdade. Meu pai ficou muito surpreso em saber que eu conseguia trabalhar na empresa com apenas dezessete anos. Mas ele não sentiu orgulho de mim. Foi algo satisfatório. E todos os meus As nas avaliações não faziam diferença para ele. Nem mesmo minhas conquistas em todos os esportes da escola. Até o fato de ser premiado rei do baile da primavera um milhão de vezes não fazia diferença.

Er... esqueçam essa última.

Todavia, todas essas coisas o deixavam incrivelmente satisfeito de ter um filho como eu. Mesmo tentando ser indiferente ao meu pai, cada pequeno passo, infestado de conquistas, que dou faz com que eu esteja cada vez mais perto de alcançar seu orgulho, e uma decepção poderia colocar tudo a perder.

Que tipo de filho gosta de ser a decepção dos pais, pelo amor de Deus?

Por isso, faria como sempre fiz; ninguém sairia decepcionado.

É eu sei, sou um garoto extremamente inseguro que gosta de ser o filhinho perfeito do papai, e daí?

Isso soou um pouco triste.

Ignorei meus pensamentos, peguei minha mochila praticamente toda coberta de grama, coloquei nas costas, e parti em direção à entrada do corredor principal. E justo naquele momento o sinal decidiu tocar e as cambadas de adolescentes saíram das salas de aula em direção aos vinte minutos de liberdade.

Enquanto eu caminhava — não sabia aonde — várias pessoas me cumprimentavam, o que tornava tudo muito exaustivo. Até parecia que realmente tinham sentido minha falta. Todos sempre preservam aqueles que consideram superior, mas nunca irão se importar o suficiente com o seu bem-estar. O importante é o que conseguem tirar de você. O segredo é sempre se proteger com bons amigos e isso eu tinha.

Bom, entretanto, não duvidava que o Chad do grupo de xadrez tenha realmente sentido minha falta. Aquele cara parecia me perseguir para todo o canto. Mas, tirando isso, eu deveria me lembrar de sempre me trancar no banheiro quando chegava atrasado ou antes do intervalo e almoço.

Anotado.

E essa correria durou um tempão até eu encontrar Gray, do outro lado do corredor.

— Dude! Como é bom te ver, cara! — Ele parecia assustadoramente animado quando colocou as duas mãos em meus ombros e uma falsa cara emocionada — Achei que você tivesse fugido para o Brasil depois de tanta demora!

— E te deixar aqui?! Para pegar todo o meu dinheiro?! Sonhe com esse dia, buddy. — Apoiei as mãos em seus ombros, dando tapas em seguida.

— Assim eu até consigo sentir o seu amor, mermão! — disse, rindo — Encarou o velhote?

Fechei a cara.

— Encarou, foi?! — Gargalhou — Eu te falei para faltar pouco! Você não ouve! Agora se ferra, bocó.

Não respondi, apenas fiquei encarando-o com a cara amarrada.

— Foi muito ruim? — perguntou, o sorriso irritante. O típico sorriso de quem adora ver o amiguinho do lado receber uns tapas na cabeça por motivo nenhum.

— Foi uma merda. Ele ficou com aquele papo que enche a minha cabeça.

Começamos a andar, as pessoas ainda me cumprimentando e Gray parecia que iria explodir de tanto que segurava a risada.

— E você esperava o quê, hein?! Não te falei que o velho tava pilhado com as suas faltas? Você tem que começar a ouvir os outros se quiser se dar bem com aquele cara.

Revirei os olhos.

—  Vai se ferrar — falei, e ele riu — Como foi com a garota? A Erza te encontrou?

—  Ah! As tretas! — Ele coçou a cabeça — Claro que não. Aquela mulher deveria estar se pegando com o Jellal na biblioteca de novo. Só que houve outro assunto.

— Que assunto?

— A garota... Qual era o nome dela? — Parou um pouco, colocando a mão no queixo — Helena? Heloísa? Elliana?

— Sei lá.

— Ah… não lembro… — Ele encarou o teto, me encarou, sorriu para uma menina que passou do seu lado e enfim suspirou, resignado — Okay, que se dane. Só sei que ela me pediu em namoro.

— Ela também?! — Por que as mulheres insistiam em querer namorar um homem como Gray?

Gosto muito do meu amigo, mas há certas ações que precisam ser avaliadas.

 Você olha para Gray e acha que ele serviria para namorar?

Pense com cuidado.

— Estou sentindo um tom de julgamento em sua voz, pequeno imbecil.

— Perdão. — Dei de ombros — O que você disse para ela?

— Ué, que eu ia pensar e dar a resposta pra ela depois de amanhã.

Gargalhei.

— De novo, essa desculpa, dude?!

— E eu ia dizer o quê, seu merda?! — sussurrou — “Mal aí, gatinha. É que eu prefiro as mais velhas, você foi só uma brincadeira”?! A menina é filha do delegado!

— “Você tem que escutar os outros”, hum? — caçoei — Escute agora: a verdade pode ser melhor do que qualquer coisa.

Ele praguejou baixo.

— Que tal a gente parar com esse assunto? Você também vai se ferrar, sabe por quê? — Levantei a sobrancelha, questionando — Porque você ficou esse tempo inteiro for a da escola, tá namorando a Lisanna e deixou ela sozinha aqui para fazer a vida de todo mundo um inferno.

Lisanna Strauss era irmã de Mirajane Strauss, capitã das líderes de torcida de Fairy Tail Academy. Eu as conhecia pelas nossas famílias serem de alguns círculos sociais semelhantes, mas nunca prestei muita atenção nelas. Um dia, Lisanna perguntou se poderíamos começar alguma coisa casual e, como eu não estava procurando um relacionamento, aceitei.

Aparentemente, ela tinha ocultado a parte do casual.

O que era estranho, na verdade. A gente apenas se beijava algumas vezes, mas sempre percebi que ela parecia estranhamente exultante por causa disso. Talvez ela tenha espalhado que estávamos namorando quando eu estava fora da escola. Crap.

Mais um motivo para ficar fora do ambiente acadêmico: intrigas adolescentes.

— Eu me resolvo com a Lisanna depois. — Até eu notei minha voz desanimada, como se estivesse na Disney, mas o cara fantasiado de Mickey estivesse doente.

No Mickey, man.

— Quem manda querer dar uma de comprometido?! — E riu.

— Faltou apenas a intenção de estar comprometido, não é mesmo? — ironizei.

— Que coisa, não é? Já pensou se você acaba casando com alguém por causa desses seus descuidos românticos, mate? Só não case com a Lisanna que eu tenho minhas dúvidas sobre a saúde mental daquela menina. Se você soubesse… — Eu sabia que ele ainda estava falando, tinha plena consciência disso, infelizmente. Mas minha atenção foi imediatamente direcionada para uma cabeleira loira curiosamente desconhecida.

Era uma garota. Ela estava arrumando os cabelos num coque e ajeitando a roupa, tudo com uma tensão no corpo. Então, recomeçou a andar. Meus olhos capitavam cada movimento dela; tudo parecia gracioso naquela garota. Absolutamente tudo. Até mesmo o All Star encardido, que já fora branco um dia, parecia lindo nela.

Até que ela virou a cabeça em minha direção e nossos olhares cravaram. Parecia a visão de um anjo — anjos não são loiros? — simples e delicado. Seus olhos eram um castanho, que de longe pareciam o chocolate mais gostosos, como os que são feitos na Suécia. Maravilhosos, lindos e inexplicavelmente belos; sua pele alva fazia contraste com seus cabelos loiros e chamativos que, no momento, estavam um pouco desgrenhados, mas nunca imaginei que alguns fios soltos pudessem ser tão lindos em uma pessoa.

Ao que aparenta, algum guru romântico usurpara meu corpo.

E como se fosse para a perfeição se instalar, ela corou. Suas bochechas ficaram num tom lindamente rosado, que a minha vontade foi de acariciá-la para intensificar aquela cor.

— Hey, Natsu! — Sobressaltei, perdido. Gray poderia ser meu melhor amigo, mas isso não impedia as minhas vontades de quebrar a cara dele em certos momentos.

— Que é, seu idiota? — questionei entre dentes.

— Morreu? Você não pode se desligar assim não, meu filho. Até parece o Jeff.

Jeff era um cara do grupo de estranhos da escola que só apareciam nas aulas de biologia. Ele vivia voando por aí, quase literalmente. Eu achava o cara muito gente fina. O problema era a vontade de sacudi-lo toda vez que alguém perguntava se ele queria ser levado para enfermaria ou se estava com sono.

Ignorei meu amigo idiota e olhei em direção ao anjo de olhos chocolates suecos. Porém, ela já andava pelo corredor em passos apressados.

— Quem é aquela garota? — Eu ainda olhava para sua figura magra e um pouco baixa, passando pelo corredor.

— Hum? Quem? — Ele olhou na mesma direção só que não sabia a quem eu me referia, lógico.

— A loira, ali — Apontei — Camiseta cinza.

— De coque? Deixe-me ver... — Ele franziu o cenho, até que ela parou em um dos armários, colocando a senha para abri-lo — Ah! É a novata.

— Novata? — repeti, e continuei observando-a apanhar um livro grosso de cor verde.

— Pois é, buddy. As coisas podem mudar em duas semanas — Olhei-o, em deboche — Okay, nem tanto. Mas podem.

— O que você sabe sobre ela? — Virei-me para meu melhor amigo, já que a loira tinha sumido entre os corredores daquele lugar enorme.

Gray sabia tudo sobre qualquer pessoa da escola inteira. Esquisito, mas útil.

— Bom, o nome dela é Lucy. Não sei o sobrenome. Só tirou notas incríveis nas avaliações. Parece você. — Deu um sorriso irônico — Aparentemente se mudou faz pouco tempo e... hum, ela não sabe socializar muito bem.

— Lucy... — repeti novamente, testando o nome com a minha voz.

— Ficou interessado? — Riu alto — É aula da Evergreen agora, vamos de uma vez.

— Fiquei interessado do mesmo jeito que você pela Heloísa. — Riu.

— Claro que ficou, amorzinho. — Bufei, rindo em seguida.

— Vamos logo, seu babão.

— Só se você me levar no colo, gatinho.

Começamos a rir, indo para a sala de aula na maior lentidão possível, porque, really, quem aguenta aula de biologia?!

 



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