História On The Turning Away - Bicho Papão Existe!

(...)

Fui pro Impala chorando em silêncio. Tia Julia me olhava preocupada pelo retrovisor.

-Não chora minha...você vai ficar com a gente...vai passar. - disse tentando me acalmar.

-Não chora minha princesa...tá partindo meu coração. - ele disse triste.

Porra , ver ele mal por minha causa me machuca. Ele é o cara mais incrível do mundo , é meu  segundo pai. Se eu o deixar triste , é o mesmo que deixar tio Christian triste.

Meia hora depois , havíamos chegado no prédio. Por incrível que pareça , moramos a menos de vinte minutos de distância.

Saímos do carro , mas me debrucei sobre ele e voltei a chorar.

Senti um abraço.

-Vamos entrar docinho...tá muito frio aqui...- tia Julia disse me abraçando.

Entramos e rapidamente entramos no elevador e subimos vinte andares.

As portas se abriram e entramos no apartamento de alto padrão que ele mantém.

Tia Julia me sentou no sofá , enquanto tio Jen fazia uma ligação.

Sequei meu rosto.

-Meus remédios...eu preciso tomar...- falei baixo.

-Julia , tá no nosso quarto. Christian me passou a medicação - ele disse se aproximando da gente. - pega lá , eu fico em ela.

Rapidamente , ela se levantou e seguiu para o quarto.

Ele se sentou ao meu lado e me abraçou forte.

-Shiu...calma meu anjo...não chora...sua mãe não tá aqui.

Respirei fundo. Dei por conta que tinha algo de muito estranho nisso , então resolvi perguntar.

-Tio Jen...você não reparou em uma coisa? - perguntei secando meus olhos com a manga da jaqueta.

-Hum? - ele indagou me olhando.

-É que...sei lá...você me busca pra gente lanchar , de boa , como a gente sempre fez , fomos pra lanchonete e...ela tava lá...e isso é muito estranho. Já fazia um bom tempo que eu não a via. Aí tio Christian fala pra eu ficar aqui...tá estranho. Até meus remédios estão aqui.

Ele respirou fundo.

-Nathallie , isso foi uma infeliz coincidência. Na verdade eu que queria passar o fim de semana com você , como a gente sempre fez...sair pra dar umas voltas , assistir filmes , jogar e tudo mais. Fui eu que disse pra ele deixar você aqui com a gente...por isso ele deixou algumas coisas suas aqui  inclusive seus remédios. Era só pra ser um fim de semana nosso...- falou fechando os olhos e respirando fundo.

-Mas o lance da minha mãe aparecer lá? - indaguei.

-Foi uma surpresa até pra mim. Uma surpresa muito desagradável. Não imaginei que isso ia acontecer , de verdade. Na verdade , ninguém sabia.

Eu sei que ele não mente. Tio Jen é ali , é ele mesmo. Se for pra falar na cara , ele fala.

Minutos depois , tia Ju aparece com duas cartelas de remédios nas mãos , juntamente com um copo de água.

-Toma florzinha. - disse me entregando. - vou tomar um banho e olhar uns papéis da empresa...assim que eu terminar eu fico com vocês. - ela disse dando um selinho nele.

Respirei fundo e engoli os comprimidos com dificuldade.

Ele ligou a TV e ficamos assistindo Netflix

-Como se sente? - perguntou beijando minha cabeça. - não tem como você ficar mal com um cara foda como eu do seu lado né mocinha? - ele falou rindo. Fiz o mesmo , mas de leve.

-Vai ficar... - respondi baixo. Ele olhou pra mim e sorriu.

-Minha pirralha mais linda do mundo...você é a filha que nunca tive. E eu amo você. Odeio ver ver triste. - disse arrumando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

-Eu também amo você tio Jen...você é meu segundo pai e sempre vai ser.

-Mas e aí? Como tá na escola? Aquele lugar me dá arrepios. -  falou fazendo uma careta.

Eu ri.

-Ah...tô levando como posso , mas...sinceramente? Escola interna é horrível. Não vejo a hora de sair de lá. É muito ditadorial.

Ele riu.

-Palavras difíceis agora? Eu não entendo nada!

-Quis dizer que ela é muito rígida! - respondi.

-Tão fácil traduzir as coisas! Mas e aí? Tá com fome? - perguntou se levantando. - o titio tá com fome!

QUE?

-De novo? - indaquei. Ele comeu feito um boi na lanchonete.

Ele soltou uma gargalhada.

-Meu amor...eu sou grande e preciso me alimentar , você é pequena e precisa crescer!

-Com pipoca e coca cola? Achei que você gostasse de coisas saudáveis! - perguntei rindo ao vê-lo colocando a embalagem no microondas e em seguida pegando a garrafa na geladeira.

-Mas claro que é saudável! Pipoca é feita de milho e milho é bom...coca cola tem açúcar e açúcar também é bom!

Ah...Jensen Ackles sendo Jensen Ackles. Mereço. É incrível como ele consegue me distrair , como me faz rir e como ele é amigo. Ele sabe do meu estado e mesmo assim faz de tudo pra me fazer rir.

Minutos depois , ele volta pro sofá com uma tigela cheia de pipoca , coca cola e dois copos. Não sei como ele arrumou aquilo tudo , mas se tratanto dele , nada me surpreende.

Ele se sentou no sofá , colocou as coisas na mesa de centro e logo voltamos ao filme. Estávamos assistindo Zootopia.

Peguei o copo , enchi de coca cola , mas...

-NÃO! - ele grita colocando as mãos na cabeça.

Levei um susto.

-O que? - indaguei.

-Isso tá muito gelado pra você tomar mocinha! Olha sua sinusite! Espera esquentar um pouco!

Ah , que gracinha ele sendo todo cuidadoso comigo. Maluco.

-Que paranoia! - falei rindo de leve.

-A louca da sua tia me fez milhares de recomendações pra eu cuidar de você...não posso vacilar! - disse rindo.

-Você quase me matou lá na pista , lembra? Isso é cuidar? Colocar a vida da própria afilhada em risco? - falei arqueando com as sobrancelhas e pegando o copo. Ele desconversou.

-Eu? Claro que não! Eu estava a oitenta numa pista de sessenta , só isso , e....NATHALLIE MARIE LARGA ESSE COPO AGORA! - ele disse bravinho.

-Mas eu quero!

-Mas eu quero ver você bem logo , agora me dá isso aqui, daqui a pouco você toma! - falou rindo e beijando minha testa. - teimosa.

-Eu odeio você Sr Ackles!

-Odeio quando me chama assim!

Ficamos por muito tempo conversando. Ele me contou as coisas que ele e tio Christian aprontavam na faculdade. Ele se formou em Direito , junto com ele e quase se tornou advogado , mas é pós graduado em Direito Internacional. Tio Christian é advogado , mas não excerce a profissão. Que coisa.

Ficamos mais tempo conversando e logo tia Julia se juntou a nós.

-Tá bem? - indagou se sentando no sofá.

-Vai passar...- respondi espirrando. - droga!

-Você tá quente heim garota...- ela disse colocando a mão a minha testa.

Tio Jen me olhou assustado.

-Vem cá...deixa eu olhar isso. - ele disse tirando um termômetro de dentro do bolso da jaqueta.

-Onde arrumou isso? - indaguei.

-Seu tio me entregou e simplesmente esqueci de guardar. Agora levanta o braço e fica quietinha...se tive com mais de trinta e sete , vai pra cama.

(...)

-Ok , agora vamos olhar isso...- tis Julia disse tirando o termômetro. - é...alguém vai ter que ir pra cama mais cedo! - ela disse rindo.

-Quanto? - perguntei

-Trinta e oito ainda.

Ah não.

-Droga. - reclamei baixinho e bocejando.

-Hey...vamos para de reclamar! Você já tá cheia de sono e tá frio aqui! - ele disse rindo.

-Ele tem razão...você tá super gripada! - ela disse rindo. - já arrumei sua cama , é só se trocar e dormir!

Tio Jen me olhou de uma forma engraçada.

-O que?

-Tenho uma coisinha pra você , não sai daqui. - ele disse indo até o outro sofá e voltando com uma sacola nas mãos e se sentou do meu lado.

-Você vai gostar...eu acho! - falou rindo.

Ele abriu a sacola e tirou um touca de tricô de dentro dela.

Mas não era uma touca qualquer...era uma touca rosa de porquinho , com direito a orelha e tudo!

Não acredito que ele fez isso.

-Own modeuso , que linda a minha porquinha rosa! - ele disse colocando a touca na minha cabeça e rindo. Não aguentei e fiz o mesmo. - ele me abraçou.

-Nathallie , ele quis porque quis comprar isso! Não pude evitar! - tia Julia disse rindo.

-Porquê faz isso comigo? - falei rindo um pouco.

-Primeiro : sempre quis te dar uma touca dessas e segundo : tá frio e não é bom que seus ouvidos fiquem descobertos!

Revirei os olhos e me levantei.

Ele me deu um puta abraço e não perdeu a oportunidade de me apertar.

-Boa noite minha porquinha , durma com os anjos. - falou após me dar um beijo na cabeça. - Deus te abençoe.

-Boa noite tio Jen , tia Ju , e...obrigada pela noite , gostei muito.

-Era pra ter sido melhor meu bem...mas da próxima vamos melhorar! - ela me abraçou e se despediu.

-Qualquer coisa você grita, principalmente se o bicho papão sair do armário e puxar de seu pé de madrugada! - ele disse rindo. - ninguém toca na minha garota!

Idiota!

-Bicho papão não existe! - respondi.

Por fim saí da sala e subi. Fechei a porta do quarto de visitas, abri minha mochila que estava lá,  me troquei rapidamente e fui me deitar. Fechei os olhos e respirei fundo , ainda não acreditando na péssima noite que tive. Contive o choro engasgado e as lágrimas que queriam descer , mas eu precisava me controlar.

(...)

Eu tentei dormir ,  eu juro.

Mas não deu. Por mais dopada que eu esteja , por mais sono que eu tenta , não dá pra dormir. Eu estou cercada de demônios e coisas ruins. Eu tô num mundo que não é meu.

Tive um pesadelo horrível , onde minha mãe apontava uma arma para minha cabeça.

Será que ela tem vontade de me matar?

Apenas me sentei na cama , chorando baixinho entre soluços. Minhas lágrimas molharam o chão.

Ouvi passos no corredor e logo cessaram. A maçaneta se mexeu e a porta se abriu.

-Nathallie? O que foi meu amor? Te ouvi chorar lá do meu quarto...- tio Jen disse entrando e logo se sentou.

Não consegui responder.

-Shiu...vem cá meu anjo...- me abraça - falou me abraçando. - conta pra mim...o que foi? Fala pro dindo bebê...

-Eu sonhei que minha mãe queria me matar...acho que ela vai...- tentei falar, mas ele me cortou.

-Psiu , hey! Para com isso! Não vai te acontecer nada. Não vamos deixar. - ele disse secando meu rosto com os dedos. - agora deita...tô aqui agora.

Ele me ajeitou na cama e se encostou ao meu lado.

-Tio Jen...lembra daquela hora que eu disse que bicho papão não existe? Eu me enganei. Eles existem sim...minha mãe é um...- falei olhando pra ele , ainda em lágrimas.

Ele sorriu de canto e mexeu no meu cabelo.

-Mas sabe de uma coisa? Eles sempre perdem no final...- respondeu me cobrindo. - eles vão embora.

Eu o abracei e ele fez o mesmo , beijando minha cabeça e segurando minha mão e começou a cantar baixinho:

"Baby I see this world has made you sad

Some people can be bad

The things they do, the things they say

But baby I'll wipe away those bitter tears

I'll chase away those restless fears

That turn your blue skies into grey

Why worry, there should be laughter after pain

There should be sunshine after rain

These things have always been the same

So why worry now..."

Minha mãe havia se tornado o meu bicho papão , o monstro que queria me arrastar para um lugar sombrio e frio.

Ou ainda quer.