— O que aconteceu?
— É ele, Vini. É ele. — falei agarrada a ele, choramingando.
— Ele quem?
— O Beijamim. Eu não o reconheci, lutei tanto para esquece- ló. Ele me deixou, doeu tanto ver ele partindo. Eu chorei quando não tinha mais lágrimas para chorar. Gritrei quando não tinha mais forças para gritar. Eu sofri. — desabafei com ele, enquanto deitavamos na minha cama. Coloquei minha cabeça no seu peitoral e ficamos um ouvindo a respiração um do outro, até que ele resolve quebrar o silêncio:
— Eu sou o melhor amigo dele...
— E você é o meu primo, o único que eu tenho... — ele me interrompe.
— Será que dá pra mim terminar de falar? — silêncio. — ah, obrigado mademoiselle! Então vamos começar a explicação do caso, " amor de infância 1".
— Amor de infância 1? — perguntei achando graça.
— Sim, o caso " amor de infância 2" é o Daniel. — explicou sorrindo.
— Há há, sem graça você, né?
— Que isso, imagina. Você tinha uma queda por ele.
— Tinha não. Ainda tenho. Tive certeza disso ontem de manhã, quando os guardas estavam malhando. Você precisava ver. Que delícia ambulante! Todos sem camisa, porém o que mais se destacava era o Daniel dando ordens sem camisa. Todo suado. Fazendo abdominal então... — suspirei. — que calor senhor!
— Desde quando você virou essa pessoa fogosa? E tenha certeza. Eu não preciso ver nada. Não gosto de ver homens sem camisa. Se fosse mulheres de biquíni, aí tudo bem. — dei um tapa em seu braço.
— E eu não sabia desse seu lado tarado. — Brinquei. — o baile já acabou?
— Já, devido aos ocorridos com o seu futuro marido alguns convidados decidiram ir embora. Na verdade a maioria já foi. O único que ainda está aí é o rei da África que está bêbado. Mas a mulher dele já deve ter o arrastado pela orelha para irem embora.
— Então você já sabe que nós vamos nos casar?
— Sim. Fiquei sabendo no mesmo dia que você.
— Trágico, trágico... — murmurei baixo.
— Nada de trágico querida. Lembra quando vocês eram menores e diziam que iriam se casar? Se vocês diziam isso é porque algum sentimento tinha. Quem sabe, esse sentimento não reapareça? — olhou para mim esperançoso.
— Marin... — Júlia abriu a porta dístraida, quando nós viu ficou vermelha de vergonha. — Desculpa... Não sabia que estava ocupada, volto mais tarde. — quando ela ia se retirando eu a chamo.
— Não! Fique aqui com nós. — falei.
— Mas...
— Sem, "mas"! Sente- se aqui. Levanta a bunda gorda, Vini. Dá espaço para a Júlia sentar.
Ele se afastou, e ela se sentou tímidamente ao lado do meu primo. Que por incrível que pareça, não deu uma palavra até agora. Tem alguma coisa estranha aqui, tudo bem que a Júlia é tímida, mas o Vinícius? Esse daí não cala a boca. É mais tagarela que um papagaio.
— Vini? — chamei.
— Hum...
— Hum? Você nunca fala: hum! O que tá acontecendo? Você não para de falar por um minuto!
— Não está acontecendo nada.
— Então vamos conversar. E você também Júlia! Se entrosa, meu povo.
Calei a boca e ninguém deu um piu.
— Ah! Pelo amor! Júlia esse daqui é o Vinícius. Meu primo.
— Prazer alteza. — comprimentou Júlia cordialmente.
— Você já falou isso antes. — lembrou Vinícius olhando para ela. Que olhava para a fechadura da porta.
— Já? — perguntei intrigada.
— Já sim. — respondeu ele.
— Eu não lembro.
— Claro. Você não estava na hora Marina.
— Você está me deixando confusa, primo.
— Nós nos esbarramos hoje mais cedo em um dos corredores do palácio. Eu estava indo para o meu quarto me arrumar para o baile. Quando, sem querer ela derrubou um copo de suco em mim — explicou ele.
— É, foi tudo culpa minha. Eu sou muito desastrada, a Maria sempre fala isso. Mil perdões alteza. Sério mesmo. — falou com receio.
— Eu já disse que não precisa me chamar de alteza. Vinícius, está de bom tamanho. Pelo menos uma coisa você tem em comum com a Marina.
— E o que é? — perguntei curiosa.
— Atrapalhada. — disse.
— Nem vem. Só porque cresceu, pensa que eu não lembro de você correndo pelos corredores do palácio só de frauda e com o nariz escorrendo?
— Não tá mais aqui quem falou. — se rendeu.
— Marina, o Beijamim falou para você o encontrar amanhã nos estábulos. — avisou Júlia. — Encontrei esse bilhete embaixo da sua porta antes de entrar.
— O que será que é? — indaguei, já desconfiando do que se tratava.
— Abra e veja. Abre logo tô curiosa. — se empolgou Júlia.
— E não se esquece de ler voz alta. — avisou meu primo.
— Calma. Deixa eu ver... — e comecei a ler.
"Você estava linda está noite. Pena que não pude ficar muito pra lhe apreciar. Me encontre nos jardins dos fundos amanhã às 20:30.
Do seu admirador secreto."
— Oh! Que romântico! Tudo que uma menina sonha em um dia acontecer com ela. — vi os olhos de Júlia brilhar.
— Minha priminha arassando corações. Ui! Ui! — exclamou Vinícius.
— Pare de besteira. É a segunda carta que recebo. Vocês acham que eu devo ir saber quem é?
— Eu acho perigoso. — revidou meu primo cauteloso.
— Pare de besteira, Vinícius. Deixe- a ir. Para isso temos guardas, qualquer coisa eles a socorrem. — falou Júlia. — Mil perdões pela informalidade.
— Que é isso. Eu já disse que não quero que você me trate formalmente.
— Gente... Vocês viram o Daniel? — perguntei.
— Não. Inclusive, eu vi alguns guardas que estavam no salão, sair. — comentou Júlia.
— Ele pode ter estado no meio deles. — contínuou Vinícius.
— Pessoal já vou. — Júlia, avisou levantando- se.
— É acho que eu também. — falou Vinícius.
— Ah! Mais já?!
— Já. Está ficando tarde. — completou Júlia abrindo a porta.
— Vini... Dorme aqui, por favor! — implorei manhosa.
— Golpe baixo! Você sabe que eu não resisto a essa carinha fofa que você faz. — voltou a cama.
— Boa noite. — desejou Júlia sorridente.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.