Camila's POV.
Acredito que toda vida é um ciclo.
Não mais do que isso, não menos. Talvez um caminho errado entre nossas divagações diárias, e seja ali que nos perdemos e nos enrolamos em um ciclo.
Mas ainda continuamos sendo um ciclo.
Eu estava perdida em um dos muitos ciclos que comecei e havia parado pela metade. E, sinceramente, esse era o ciclo que eu mais gostaria de ter finalizado.
Perder um bebê é difícil, a notícia da existência dele foi uma surpresa, mas saber que ele não existiria mais foi horrível.
Talvez eu devesse ter contado para meu namorado o que havia acontecido antes de me isolar do mundo social e entrar em meu mundo imaginário onde eu poderia ser qualquer coisa. Mas até nisso eu estava falhando então no momento a minha existência se resumia a comer, dormir e assistir Jogos Vorazes e filmes da Disney.
Mas, tudo muda, então na manhã de sábado da última semana eu havia acordado decidida a melhorar. Tomei um banho que me deixou mais leve - acho que a depilação ajudou nesse sentimento - e saí do meu apartamento indo para a casa do meu namorado decidida a ser a melhor pessoa que não havia sido no meu período de luto secreto.
Mas ele também havia seguido alguma parte do ciclo dele que o fazia seguir seus instintos carnais, dos quais eu havia falhado em corresponder, e o flagrei na cama com sua secretária. Me senti ofendida por fazer parte de um clichê tão baixo.
Não poderia ser alguém diferente somente para mudar o enredo? Logo a secretária loira e olhos azuis.
Tão típico que me senti em um filme de comédia americana barata. Nesse momento eu seria alguém como Drew Barrymore.
Então, como uma boa latina de sangue quente, fiz meu drama - não que eu estivesse realmente sofrendo com aquilo, mas fidelidade era sempre bom de se cobrar - e gritei como se realmente estivesse magoada. Ele chorou e até se ajolhou em busca do meu perdão, senti vontade de rir por tamanha falta de criatividade.
Eu estava vivendo um inferno clichê.
Recusei qualquer desculpa oferecida e sai de sua casa, a qual era bastante confortável de se morar com a mãe, me despedi de minha sogra, essa que me amava mais forte que seu filho, e falei tudo o que havia acontecido - talvez com mais detalhes e mais dramas do que de fato havia acontecido, e talvez, apenas por maldade, eu tenha inserido o causo da perda de meu bebê, não me culpem eu estava realmente ofendida - e entrei em meu carro sentindo orgulho do que havia feito.
Drew Barrymore dava suas voltas por cima.
Contado todos os fatos iníciais que me levaram ao nosso momento presente, toda historia precisa começar em algum ponto, certo?! Agora estou me mudando para uma pequena cidade no interior, do qual não me recordo o nome por pura preguiça de decorar nomes complicados (ou até mesmo os fáceis), os meus peitos doendo dentro do sutiã dois números maiores do qual eu estava acostumada me faziam lembrar da perda recente e de tudo o que ela havia me acarretado ao final de tudo. Me sentia triste.
Pensamentos rápidos feitos. (Eu não era alguém que parava para respirar quando contava uma historia). Vamos a seguinte narrativa.
Outono era, com certeza, a estação que eu mais gostava. O modo como as folhas amarronzadas, ou laranjas dependendo de seu humor, caíam nas calçadas e irritavam os senhores idosos que perdiam suas manhãs na difícil tarefa de se livrar daquilo era o que transformava meu mau humor em uma gargalhada contagiante enquanto eu bebericava uma xícara de café na janela da cozinha.
Espero encontrar isso em minha nova casa.
A caçamba da caminhonete vermelha que havia ganhado aos 18 anos estava lotada com caixas de papelão, essas por consequência estavam lotadas de roupas e pertences pessoais. A música que tocava no rádio me lembrava algo como... Música do Justin Timberlake em 2012, e eu não gostava muito daquele som.
As casas iam se tornando menores e mais familiares, ao ponto das crianças correrem soltas no quintal e me deixar com o coração apertado por saber que eu nunca viveria aquilo com o pequeno que fizera lar em meu ventre por cinco longos meses.
Chego em minha nova casa, não ousaria chamar de lar por enquanto, as folhas cobrindo o quintal - carma é algo realmente interessante - a varanda confortável e uma leve expressão do tempo que me lembrou o filme Up - Altas Aventuras. Eu amaria flutuar com aquela casa pelos ares em milhares de balões coloridos. Mas ainda acredito na física e não irei me encantar tão fácil por essa ideia maravilhosa, me desculpe Sr. Fredericksen.
Estaciono a caminhonete no máximo que a minha capacidade motora me permitiu e começo a carregar as caixas.
-Precisa de ajuda? -Ouço uma voz rouca e levemente infantil. Me viro, segurando uma caixa relativamente pesada, e dou de cara com uma garota em seus um metro e meio de altura, os cabelos pretos caíam sobre os ombros, as bochechas vermelhas em sua pele tão branquinha e sua respiração ofegante me davam indícios de ela estava correndo, os olhos inocentes me encantavam mais do que a cor em si, verde me lembrava arvore e no momento arvore me lembrava as folhas que eu teria que varrer. -Papa diz que sempre precisamos ser educados e oferecer ajuda a quem precisa. -Ela diz em tom explicativo, sua cabeça se inclina levemente e ela sorri fofa.
-Seu papa está certo. -Ela sorri largo ao me ouvir concordar e assente feliz.
-Então precisa de ajuda? -Ela volta a perguntar invadindo o portão que estava aberto e pegando uma caixa da caminhonete. -Eu gosto de ajudar. -Sorrio ao ser acompanhada por ela até dentro de casa.
-Ainda não me disse seu nome. -A lembro e ela abre a boca em choque, sua mãozinha viaja até a testa em uma leve batida.
-Sou Lauren. -Lauren estende a mão educamente e eu a cumprimento.
-Camila Cabello.
Ela sorri.
A vida é feita de ciclos. E aquele era um novo começo para mim. Lauren me parecia ser a mais adorável das criaturas, talvez conhecê-la logo no início de tudo seria um indício do quão bom seria minha nova vida naquela cidade pequena - da qual ainda não me lembrava o nome.
Acho que o destino às vezes nos reservava coisas boas.
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