História One Baby For Camila - A força que recebo é a mesma que te dou

Alongo os músculos e apago a luz da sala. A casa à frente parecia observar cada passo meu dentro da minha própria residência, então fechei as cortinas e deixei os abajures acessos.

A observo no pé da escada. O pijama de unicórnio pendia em seus ombros finos, o pequeno urso preso firme em seus braços e a chupeta sendo sugada avidamente enquanto seus olhinhos me seguiam por todo o lugar enquanto eu ia à cozinha pegar sua mamadeira. Senti falta de toda aquela rotina nossa que deixava os dias leves, pois sabíamos que no final apenas nos deitaríamos juntas e os problemas sumiria.

Imaginei-me meses a frente quando tudo estivesse resolvido e aquela nossa rotina tivesse mais um integrante, mais uma vida, um amor. Afinal, quanto tempo era preciso para podermos fazermos planos com a pessoa que amamos?

E quanto tempo era preciso para eles se realizarem?

[PLAY: Marvin Gaye, Tammi Terrell – Ain’t No Mountain High Enough]

Ouço um toque começando e sorrio enquanto chacoalhava o leite.

Listen baby, ain’t no mountain high enough (Escute querida, não há montanha alta o suficiente)

Ain’t no valley low enough (Não há vale baixo o suficiente)

Ain’t no river wide enough (Não há rio largo o suficiente)

If you need me call me, no matter where you are (Se você precisar de mim, me chame, não importa onde estiver)

-Ah, você achou essa coisa velha. -Digo e me encosto no batente a assistindo bater palminhas e sorrir fofa por trás da chupeta.

Deixo a mamadeira sobre a mesa de canto e me aproximo, a luz do abajur deixando sua pele alaranjada, afasto a mesa de centro com passos rápidos e seguro em sua cintura com dedos firmes a puxando para mim. Ela gargalha e deita a cabeça em meu ombro, seus dedos enroscados na blusa do meu pijama, sua pele morna encostada na minha.

Seus passinhos atrapalhados fazia a dança ficar engraçada, mas nós não ligávamos, porque finalmente estávamos próximas o suficiente para sua respiração bater em meu rosto, seus cílios fazerem cosquinhas em minha bochecha, levanto seu queixo e beijo sua boca com saudade.

Com vontade reprimida por meses, finalmente explodindo sobre minha pele me deixando fervendo. A giro e me afasto arrastando o pé no chão, ela gargalha e solta minha mão soltando leves chutes no ar. Estalo os dedos e fecho os olhos, balanço a cabeça deixando-me voar com o ritmo rápido.

Lembrando-me de flashes que me colocavam numa casa pequena e cômoda, com meu pai e minha mãe dançando enquanto achavam que eu estava dormindo, mas percebiam de canto que eu estava sentada os observando na escada pensando que aquele era o amor que eu queria viver um dia.

Oh, como eu esperei por esse dia.

Por tê-la em meus braços, balançando os quadris e sacudindo os cabelos rebeldes. O sorriso aliviado por finalmente conseguir se expressar como queria, sem precisar se refugiar numa parte tão escondida de si mesma que nem ela conseguia se livrar do labirinto.

Seguro em suas pernas e a puxo para meu colo, a arrasto para a parede, prendendo seu corpo contra o meu, sentindo ânsia, quase desespero, por colar minha pele na sua com beijos quentes. Seus olhos verdes escuros, a parte dela que somente eu conhecia, somente eu amava.

-Não foge mais não. -Sussurro contra sua boca.

Lauren nada havia dito sobre o que aconteceu, ou qualquer outra coisa, se refugiando, se mantendo presa numa cela onde nada poderia machucá-la e privá-la da dor. Mas em consequência seria privada de tudo. De amar.

-Deixa a gente entrar. Não perde tudo o que já conquistamos. -Desço os beijos por seu pescoço, ela engole em seco e me aperta em seus dedos, suas pernas se cruzam em meus quadris. Arfamos, suspiramos, arranhamos.

Nos perdemos entre toques ansiosos, saudosos e carinhosos. Lauren era uma parte bonita de mim, que não importa qual fosse a canção, se as palavras fossem dedicações de corações puros e amorosos, eu dedicaria à ela sem medo.

-Camila... -Sua voz se perde na música alta, repetida talvez, minha boca se perde em seu corpo, buscando com a ponta da língua tocá-la, revirar os olhos em seu nome. Gritar para o mundo que não existia distância que me faria desistir de Lauren Jauregui.

Ain't no mountain high enough (Não há montanha alta o suficiente)

Ain't no valley low enough (Não há vale baixo o suficiente)

Ain't no river wide enough (Não há rio largo o suficiente)

Assim funcionava as coisas entre nós, ela clamava por mim, chamava meu nome, gritava minhas letras, suspirava meus amores e me puxava para si. Marcando-me arranhado, respirando fundo, suando quente.

Se mantendo por perto.

Porque não havia montanha alta, vale baixo ou rio largo o suficiente que pudesse me parar, mantendo-me longe de seu amor.

-Prometa tentar. -Digo no pé do seu ouvido.

-Prometo. -Ela diz cortado.

E bastava isso para me fazer feliz.

Perrie’s POV.

Beijo a testa de Ally e ela se ajeita na cama, seu cobertor a cobrindo até o pescoço, a mamadeira vazia pendia do seu lado e a coloquei em cima do criado-mudo encaixando a chupeta em sua boca. Seus olhinhos brilhavam, seu sorriso babado me fazia suspirar.

Devia haver tantos pensamentos confusos naquela cabecinha que ela não conseguia conversar com ninguém, não conseguia expô-los e gritar para o mundo o quão injusto tudo era, porque ela queria viver e pessoas más a impediam de seguir em frente.

-Ally... -A chamo e ela me olha curiosa, me ajeito na cama, sentada na beirada e encarando seus olhos castanhos fofos. -Você ta com medo? -Pergunto baixinho, ela desvia o olhar e brinca com os dedinhos.

Me aproximo e a ajeito na cama, apoiando seu corpo na cabeceira. Retiro uma mecha de cabelo que atrapalhava a visão dos seus olhos e a faço olhar em meus olhos, tento enxergar ali o que ela queria me contar, mas não conseguia colocar em palavras.

-Eu... Eu estou confusa. -Ela diz em tom normal, sério. Como eu já tinha a ouvido falar algumas vezes, mas sabia que somente eu conhecia aquela parte da minha menina, aquela parte que ainda não se conhecia muito bem, mas sabia que queria lutar. -Uma parte forte de mim esta dizendo que eu tenho que ser o bebê que ele quer porque ele voltou... Ele machucou a Lolo, ou ela... Uma parte de mim se lembra do último dia que passamos com ele, e acha que foi ontem, e outra, bem pequena, sabe que foi apenas uma discussão com Clara... Eu não sei quem ouvir, esta confuso. -Ela suspira pesado e limpo uma lágrima que escapou fazendo a cena apertar meu coração.

Ally havia conquistado tudo em mim. E definitivamente me transformou em uma pessoa mais paciente e melhor, aprendi a respirar fundo e segurar em sua mão quando tudo parecia desabar sobre nós, e saber coisas que quase ninguém, ou ninguém sabia sobre ela me fazia sentir a pessoa mais especial de todas.

Porque eu era especial para ela.

Entende? Você não precisa ser especial para todo o mundo, se quem te considera especial é a pessoa que mais deixa o seu mundo feliz.

Não é questão de quantidade, e sim de intensidade.

-Você sabe que esta comigo, não sabe? -Ela assente e morde a parte interna da bochecha numa mania criada depois de tantas confusões. -Então saiba que eu vou te proteger dele, dela, de quem for que te queira mal... Porque você é o meu bem e eu não posso permitir que essa situação continue te machucando. Eu sei que você voltou para a parte de sua cabeça que esta programada para ser o bebê fofo que espera ele voltar, mas, meu amor, ele não vai voltar. Você não precisa voltar tanto no tempo, porquê já avançamos demais até aqui.

Ela funga e limpa o rostinho que tinha um semblante tristonho. Ally estava confusa, perdida e triste dentro de si mesma e eu não podia deixar aquilo se estender por muito mais. Me levanto e caminho até o canto do quarto, o violão preto brilhava na luz acessa do corredor, a porta de ligação até o quarto de Normani e Dinah estava fechada, depois de muita reclamação por parte da última.

Não seria a primeira vez que eu dormiria ali, e ambas sabiam que nada mais aconteceria porquê eu esperaria o tempo de Ally e sabíamos que esse tempo não era agora.

Volto a me sentar na cama e arranho a garganta chamando sua atenção. Seu olhar brilha e ela se ajeita melhor me deixando apoiar a perna no colchão.

[PLAY: Noah Cyrus & MAX – Team]

Dedilho as cordas do violão numa música já conhecida por nós. Me lembro de sentarmos sob as estrelas, sua voz completando a minha, seu sorriso brilhando mais que o céu.

O vento frio não nos incomodava, o inverno completava nossa necessidade de se estar perto. Então eu entregava um papel qualquer em sua mão e cantava o que me vinha a cabeça quando pensava nela, começando com os primeiros versos tranquilos.

Look at me (Olhe para mim)

You think that I'm tryin' to fight ya (Você acha que estou tentando lutar com você)

But I'll always be on your side, yeah (Mas eu sempre estarei ao seu lado, yeah)

A vejo sorrir por trás das lágrimas.

Sua voz sempre me arrepiava.

Ela começa.

You know me (Você me conhece)

Why you're always on défense then? (Por que você esta na defesa então?)

Making me feel like your friends did (Me fazendo sentir como seus amigos fizeram)

Eu já havia dito tantas vezes a ela que não precisava se preocupar, porquê eu ainda estava do lado dela, sem me importar com todas as pessoas fracas que diziam que aquilo era errado e ela nunca serviria para mim.

Ally era teimosa, sempre duvidando das minhas palavras, mas sabendo nas batidas dos meu coração que meu amor era dela. E mesmo com toda a insegurança eu ainda a queria para mim, por perto, comigo.

A abraçando forte em uma noite de neve, rindo e apostando corrida até o balanço. Comendo sorvete sentindo meu cérebro congelar, a ouvindo gargalhar alto, se libertando de todas as correntes que a prendiam no chão.

Eu sempre estaria no time de Ally. Torceria por ela até que conseguisse ganhar, estamparia blusas e venderia cartazes com sua foto se assim fosse preciso, mas sabia que ela conseguiria.

And I’ll cheer your name, girl (E eu torcerei por seu nome, garota)

Cause I'll always be on your, I'll always be on your team (Porque eu sempre estarei, eu sempre estarei no seu time)

Ya, I'll always be on your team (Sim, eu sempre estarei no seu time)

Cantamos juntas e sorrimos uma para outra. A sentia mais forte, precisava dela assim, porque eu também estava com medo. Medo de não ser boa o suficiente para conseguir fazê-la bem, e isso me assustava.

Mas ali, quando cantávamos juntas, sua voz completando a minha, eu percebia que ela não precisava de muito, ela não aceitava muito. Que as flores que colhi no parque quando a primavera começou havia sido o melhor presente de fim de tarde que ela poderia receber. E o urso fofo ainda estava ao seu lado, a noite ela o abraçava e lhe contava o seu dia, me incluindo em seus planos para o dia seguinte.

Eu poderia torcer contra alguém assim?

So whenever you're losing (losing) (Então quando estiver perdendo, perdendo)

I celebrate ya (l celebrate) (Eu celebrarei você, eu celebrarei)

Appreciate ya (appreciate ya) (Aprecio você, aprecio você)

I'll get you up on your feet (Eu vou te levantar)

Whenever you're winning (winning) (Quando estiver ganhando, ganhando)

I'll give you strength, girl (Eu te darei forças, garota)

Ainda podia sentir o vento em meu rosto do dia que deitamos no gramado, nos esquecendo do mundo, porquê o nosso era tão mais interessante, e a forma que nossos planos se cruzavam ainda me surpreendia. O futuro me assustava, mas o futuro ao lado de Ally me deixava ansiosa, me fazendo sonhar mais e mais, apertando sua mão entre as minhas e lhe fazendo cosquinha somente para vê-la sorrir.

E que fosse seus medos, se quando ela se apertava em meus abraços segura se sentia, eu seria seu muro de proteção quando Ally precisasse. Seria a doida gritando seu nome, torcendo por sua vitória, desejando-a ver conquistar o mundo, como eu sabia que era para ser.

Ainda me sentia quente quando sua boca tocava a minha ao longo dos dias, ainda sentia a felicidade em meu peito ao abrir os olhos e ver suas bochechas coradas porque eu sabia que ela queria mais então a enchia de beijinhos terminando por suspirar em seu pescoço a fazendo se arrepiar. Me deitando em seu ombro e observando as nuvens branquinhas formarem bichos engraçados.

Dedilho as cordas sentindo as lembranças dos tempos me trazerem saudades, mas ao mesmo tempo orgulho por ver o quanto caminhamos juntas e fizemos o possível para continuarmos mesmo com todas as dificuldades.

Ya, I’ll always be on your team. (Sim, eu sempre estarei no seu time.)

Dedilho as notas finais e deixo o violão sobre o chão, me preparo para escalar a cama, mas ela pula em meu corpo me levanto para trás e me arrancando risadas bobas.

-Obrigada! -Ela diz beijando todo meu rosto. -Você vai estar comigo?

-Sempre. -Levanto o dedinho e ela sorri largo.

-Então eu prometo tentar. -Beijo suas bochechas gordinhas, sua testa quente, a pontinha de seu nariz e finalmente sua boca.

Beijar Ally era meu momento favorito do dia. Me fazia esquecer o mundo, as dores e as causas, era ela e eu no nosso mundo, na nossa bolha, onde nada poderia nos machucar e sua mão ainda estaria segurando a minha enquanto eu a puxava pela cintura.

-E eu vou ser orgulhosa de você de qualquer forma.

Porque a força que eu dava para ela era a mesma que, mesmo sem perceber, ela me dava. Me doando pequenos detalhes que formavam um encaixe perfeito, o eu com o ela.

Me deito ao seu lado com ela em meu peito, seus dedos brincando com a barra da calça sem nenhuma malícia ou segunda intenção. Seu carinho macio que me dava sono e deixava leve, pronta para voar.

-Eu te amo. -Ela diz me fazendo sorrir.

-Eu também te amo. -Respondo sincera.

As palavras escapam fáceis, sem nenhum tom de mentira, apenas a pureza dos sentimentos sendo colocados para fora.

Era fácil ser pura ao lado de Ally.

Era fácil amá-la.