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História One me two hearts - Ele cai


Escrita por: unkn0w

Notas do Autor


ATUALIZADO - 03.12.18

Capítulo 13 - Ele cai


Fanfic / Fanfiction One me two hearts - Ele cai

WILL

— Alô? Percy? — falou ao telefone.

— Will! Quanto tempo, não é? Já estava ficando preocupado, a gente nunca mais se viu. 

Mas Will notou o tom forçado.

Então riu.

— Quer sair pra conversar? Como você disse, faz tempo e tal.

— É sobre o Nico?

Will sorriu.

— Talvez seja.

— E você se importa?

— Eu gosto dele.

— Que bom. Ele merece isso. Ele merece alguém como você.

Will sorriu meio hesitante.

— Nico estava um pouco chateado, pensando em você. Sei que ele nunca me diria nada, então...

— Sou seu último recurso?

— Meio que sim.

Percy riu, e sua gargalhada parecia de uma criança travessa.

— Quer andar de skate na praça aqui perto hoje à tarde?

— Pode ser ali pelas quatro horas?

— Parece bom.

Will despediu-se e desligou a chamada, procurando seu pai em volta para avisa-lo do compromisso.

— Pai? — levantou e andou pela casa.

— Ok, então eu passo hoje de noite — ouviu seu pai dizer de outro cômodo. Parecia vir da cozinha, então Will foi até lá. — Não, imagine [...] Sim, é longe, mas afinal, eu que esqueci a carteira aí [...] Olha, eu não quero recusar, se você realmente insistir, terei de aceitar — Apolo riu. — Certo, sete horas então. Até.

Apolo jogou o celular em cima da mesa de qualquer jeito e escancarou a boca, como se gritasse, mas sem sair nenhum som.

— O que foi? — Will riu e negou.

— Eu-tenho-um-encontro — cantarolou dançando. — Vou jantar com Hades hoje à noite.

— Estou feliz por você, mas por quê? — Will riu novamente. — Quer dizer, ele não era hétero?

— É, mas eu meio que “esqueci” a carteira na limousine, e ia lá buscar, mas Hades disse que é muito longe e que viria até aqui, mas daí eu disse que é muito longe e ele disse pra gente se encontrar num restaurante que fique num ponto intermediário.

Will arqueou uma sobrancelha.

— Nico poderia te levar amanhã, não?

Apolo suspirou.

— Você não entendeu, Will? — bateu a mão na testa. — Eu deixei...   

— Eu entendi perfeitamente. Mas isso já não é apelar demais, não?

O mais velho apenas sorriu.

— Você não entenderia, nem se eu quisesse te explicar. Você nunca se apaixonou de verdade. Ainda.

— Certo... Enfim, hoje eu vou sair com Percy, ok?

— Oh, Percy — Apolo deu um sorriso suspeito, com as sobrancelhas levantadas. — De boa.

Will o encarou por um momento, mas preferiu não perguntar nada. Tinha suas suspeitas sobre a sanidade do próprio pai.

***

 

O horizonte deveria ser colorido pelo fim de tarde, mas aquilo não era verão, e muito menos um filme, então era apenas um pôr do sol coberto de nuvens cinza, sem nada de muito interessante. O tédio tornava o ar ainda mais cinzento, o ambiente ainda mais normal e aquela conversa menos dramática do que poderia ser.

— Ainda bem que não choveu. — Percy disse depois de terem descido a rua inteira de skate. Seus olhos ficavam um pouco cinza naquele fim de tarde nublado.

— Até quando vai evitar o assunto? 

Will virou-se para ele, seu skate estava entre suas pernas, ele apoiava os braços cruzados nele e sua cabeça em seus braços.

Ele estava sério.

Percy coçou a cabeça, sem graça.

— Comece.

Os olhos de Will estavam estreitados, e sua expressão numa dúvida hesitante. Colocou o skate no chão e se apoiou pra trás, em suas mãos. Fechou os olhos.

— Como vocês se conheceram?

— Bom, nós estudávamos na mesma escola quando menores. Ele era apaixonado por artes, e não demorou muito para ele se destacar absurdamente entre aqueles de nós que nasceram normais. Mas ele não começou a aproveitar seu dom cedo, e acabou sendo  tarde demais quando ele cresceu, pois Nico já havia desistido de tudo. Mas mesmo assim, eu e minha mãe o indicamos para Dionísio, achamos que se ele fosse para uma escola apropriada talvez... Talvez pudesse pensar em tentar de novo.

Will teve que absorver por um momento. Eram tantas pontas soltas e buracos sem informação que ele não sabia ao certo por onde começar. Então decidiu ir direto ao ponto.

— E do que se tratava aquela conversa de vocês?

Percy suspirou.

— Só pra saber, você e ele estão...?

— Não namoramos, mas eu gosto dele. E sei que ele de mim.

— É estranho te dizer isso, principalmente porque você é um dos meus melhores amigos.

— Isso se chama frescura, Percy Jackson.

— Quando Nico perdeu a mãe, há pouco mais de dois anos, ele estava acabado, como deve imaginar. O pai dele meio que descobriu que ele era gay algumas semanas depois, quando ele já se empenhava pra virar pastor, então tudo ficou bem caótico. Ele não tinha certeza de mais nada, e eu não estava namorando a Annabeth na época. Então... Coisas começaram a rolar. E tudo terminou estranho, acho que meio mal. Culpa minha.

— Você gostava dele? De verdade

— Eu gostava dele porque ele gostava de mim — Percy sorriu tímido, meio nostálgico. —  Era difícil.

— “Esse é o problema” — Will repetiu as palavras de Nico. — “É só por uma noite”

— Eu sinto muito por tê-lo magoado, mas precisei dar um basta um dia...

— Mas estava pedindo para que ele ficasse com você de novo anteontem. Que sentido isso faz?

Percy olhou nervosamente para as próprias mãos.

— Eu e Annabeth tivemos uma discussão, eu estava com raiva e parcialmente bêbafo, não pensava direito. Já pedi desculpas a ele por isso, e se te ofendeu, me desculpe também. Não é minha intenção forçar o Nico a fazer nada, nem iludi-lo, eu só...

— Eu já entendi. — Will levantou. Ele sorria, mas, se você o conhecesse bem, saberia dizer que ele estava com raiva. — Obrigado, Percy.

— Olha, eu...

Obrigado, Percy. Por hoje, é só.

E jogou o skate no chão, subindo em cima dele. Seus ombros largos subiam e desciam numa respiração descompassada, de quem está a ponto de se descontrolar.

Will não sabia direito de onde vinha tanta raiva.

 

NICO

A paleta de cores dos sonhos é diferente. O cheiro também. O que diferencia é a quantidade de detalhes, o quão atenta é a sua percepção no subconsciente. Não é real, e, ao mesmo tempo, é o mais real que poderia ser. Ainda mais real que a realidade. Porque está dentro de você, e não existe nada mais verídico para você que você mesmo.

Aquele sonho tinha tons escuros, cheirava a escuro, e a nostalgia.

Nico sentia-se flutuar.

Uma música sussurrada soava pelo corredor, seu corpo se movia sozinho até a suíte principal, então devia vir de lá. Instantaneamente, percebeu que era um sonho, e que não tinha controle de nada nele. Mais um daqueles sonhos em que você parece estar prestes a desmaiar.

A porta do quarto abriu sozinha, e logo viu a imagem de si mesmo, cobrindo os olhos, cantando uma melodia parecida com a de Good Bye, mas tremida e terrivelmente amedrontada.

Ele conhecia aquela cena. Quando ocorrera, ele tinha 13 anos, não 15, como no sonho.

Nico foi até dentro do quarto. O lugar que era pra ser de Maria di Angelo na cama estava tomado por Will Solace.

— Não abra os olhos — disse Will na exata entonação que sua mãe usara. — Não abra.

O Nico do sonho saiu do tom quando Will acabou de falar isso e assentiu com a cabeça. Suas mãos apertaram-se mais contra o seu rosto, a sua voz começava a falhar. Aquele Nico e o Nico de verdade sabiam o que estava por vir, mas ambos não se seguraram e tiveram de olhar:

Com um sorriso doce e de olhos fechados, Will, que estava de pé no parapeito da varanda, deu um passo para trás e caiu de cabeça no ar frio da noite. Nico ouviu o barulho do corpo, o crânio quebrando, o coração parando de bater.

O Nico do sonho arregalou os olhos e não moveu nenhum músculo. A consciência de Nico pareceu sofrer um estalo agudo, como se ele se desprendesse das cordas invisíveis da falta de controle, ele avançou. Ele correu e sentiu a resistência do ar. Ele piscou e viu a escuridão tão nítida quanto se estivesse acordado. Ele arfou, e sentiu as lágrimas virem, e sufocou com a dor em seu peito.

Ele pensou que estivesse acordado.

— Will! — gritou, mas sua voz não saiu. — WILL!

Dessa vez, ele sentiu o grito rasgar a sua garganta, e explodir para fora dele.

Debruçou-se na sacada e viu o corpo de Will Solace repousado numa poça de sangue. Fraquejou, por um momento desejou nunca ter o conhecido.

Nico não queria trazer a sua morte.

Então, um toque frio o empurrou.

Ele desequilibrou, e rodou, caindo desajeitadamente quase em cima de Will. A queda mal durou um segundo, ele nem percebeu. Olhou para a janela de onde havia caído, e Bianca sorria. Sem mexer a boca, a voz dela soou:

— Há uma rachadura em todo lugar, até na pessoa mais íntegra. É assim que todo mundo quebra.

Nico acordou. Estava na hora de se arrumar para ir ao colégio.

*** 

 

A sala o encarava, esperando, nutrindo expectativas. Pressão. Ele odiava isso. Preferia quando todos duvidavam de suas capacidades, o olhavam com desprezo, e então se surpreendiam. A sensação era infinitamente melhor. Mas quando todos tinham expectativas, alcança-las era um saco.

— Pode tocar e cantar uma música lírica, Nico? — pediu o professor e Nico assentiu.

Sentou-se na frente do piano e suspirou. Olhou para Will por um segundo e o viu gesticular “arrasa”.

Tocou as notas no automático, sem realmente sentir ou pensar, a única coisa que se passava pela sua mente era a partitura decorada de Lilium.

Abriu a boca para cantar, mas um calafrio subiu pela sua coluna. Olhou para trás, abandonado as teclas brancas.

No parapeito cinza da enorme janela da sala estava Bianca, de pé. Ela fez uma imitação fajuta de Will no sonho e se jogou para trás, se desfazendo em névoa branca antes de realmente cair.

O estômago de Nico revirou.

Ele era a morte, não era?

Era sombra. Era o fim.

Estava trazendo isso para Will. Ele seria a morte de Will.

Se ele cantasse, coisas ruins aconteceriam. Aquele era um aviso de Bianca e sua mãe: ele perderia algo importante se ousasse contar para qualquer um de novo. Por isso sua voz não sairia mais, ele a guardaria o mais longe possível de seu coração. Não importava se ele se sentia perfeitamente completo apenas quando cantava, ele sacrificaria sua felicidade... Ele tinha que deixa-la ir.

Procurou por Will, que havia chamado por ele.

Quando a escuridão do olhar de Nico se encontrou com o céu azul do de Will, Nico teve de desviar. Ele não aguentava, doía muito.

Eu não quero enfrentar esses pensamentos do quanto você me quer, mas não pode me ter. Eu não estou pronto.

Desculpe — Nico disse para o professor, sua voz estava fraca e rouca. Algumas pessoas diriam que seus olhos eram distantes e frios, mas, para Will, ele parecia prestes a chorar. — Eu não posso continuar na aula de canto, eu não... Apenas não posso.

O professor franziu o cenho.

— Está se sentindo bem, Nico? Quer ir pra enfermaria?

Nico olhou em volta.

Máscaras, muitas máscaras. Curvando-se, distorcendo-se, rindo do seu fracasso.

Sentiu o suor frio descer por suas têmporas e sua nuca, o seu estômago queria sair pela boa. Ele estava ficando ofegante, sua visão ganhava pontos pretos.

Estava em pânico.

E então, ele caiu.



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