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História One me two hearts - Garoto imbecil


Escrita por: unkn0w

Notas do Autor


oi yago oi izzy e aí como vcs tão

Capítulo 32 - Garoto imbecil


Fanfic / Fanfiction One me two hearts - Garoto imbecil

WILL

            Ele e Nico não conversaram mais naquela noite. Nem pela manhã, durante o café, ou mesmo durante os ensaios. Às vezes Nico pegava sua mão, dava um sorriso para ele, mas nunca uma troca de palavras mais extensa do que um cumprimento ou uma resposta rápida. Oi, está tudo bem? Sim, como sempre. É claro que está. Sempre está. Quer um pouco de molho no seu bife? Por favor, se puder. Pode ligar o amplificador pra mim? Obrigado.

            Sentia como se estivessem afundando lentamente em areia movediça, sendo imobilizados sem nem perceberem, engolidos por aquela massa devoradora que era o silêncio. Fingimento, monocromia, medo. O mesmo papo furado de sempre, ele estava cansado.

            Algo estava acontecendo com o Nico.

            Algo sempre estava acontecendo com o Nico.

            Depois do almoço, eles tinham mais ou menos duas horas para descanso, depois, impreterivelmente, teriam de ensaiar. Menos Nico, ele teria de voltar uma hora mais cedo, pois alguns de seus ensaios eram separados dos demais.

            Will não podia deixar de admitir, ainda que essa fosse uma parte horrível sua, que uma inveja começava a incomoda-lo um pouco, como um corte de papel entre os dedos enquanto você toca flauta.

            A música era tradição na família dos Solace. Apolo era formado em música, com todos os cursos possíveis e todo o entusiasmo para aprender sobre novas áreas da música, que não eram poucas. Artémis era professora de dança, uma bailarina excelente e cantora lírica. Sua avó era professora de música em quatro escolas diferentes e seu avô, quando vivo, fora maestro. Se voltasse ainda mais, até os seus bisavôs, encontraria de musicistas clássicos a cantores de música popular, provavelmente. Desde pequeno,  Will dedicara-se às artes. Fazia o papel principal em todas as peças do colégio com louvor. Destacava-se na academia de dança desde os cinco anos. Fazia solos no coral da escola desde que se lembrava... E mesmo assim, toda essa dedicação pareceu ser pisoteada no momento em que Adele chamou Nico para fazer um dueto com ela. Ali estava ele, aquele prodígio que não precisara mover um dedo para ser brilhante.

            Não poderia estar mais feliz por Nico, mas ainda assim, era frustrante.

            Esse desconforto tinha se dispersado um pouco quando ele, Nico, Jason e Calipso haviam sido convocados para assumir posição de destaque na apresentação de Hallelujah. Todos de música participariam, mas suas vozes sobressaltariam as demais, o que era um tremendo de um elogio por parte dos produtores.

            Apesar de toda essa questão o atormentar, era uma desculpa. Assim ele tinha no que concentrar seus pensamentos, um foco de angústia. Assim ele não precisava pensar naquele calafrio constante que percorria sua espinha desde a noite anterior, nem no frio no seu estômago que estava perto de fazê-lo vomitar. Podia evitar até mesmo a onda de comoção que o invadia toda vez que pensava em sua mãe; a existência dela mais próxima de si do que jamais pôde lembrar.

            Se concentrasse seu mal-estar numa inveja idiota, não precisaria pensar nessa sensação que ele tinha em relação a Nico. Como se di Angelo fosse um rei e a presença de Will não fosse solicitada. Ao passo que ele estava bem ali, ao seu lado, parecia a oceanos de distância. A atmosfera a sua volta fazia Will sentir como se não tivesse permissão para falar algo que não o que Nico mandasse.

            Era uma sensação absolutamente ruim.

            — Você acha que eu pareço com uma das mil esposas no harém de um rei rico e poderoso? — Will perguntou para Tomás, enquanto saiam de Radio City e caminhavam pelas ruas de Nova York, não tão admirados com a paisagem quanto achavam que deveriam. Era só uma cidade normal, só que com muita coisa.

            Atravessaram a rua sem poderem conversar, por causa do barulho ensurdecedor do tráfego, e quando estavam em frente à loja Nine West, Tomás riu e respondeu:

            — Que tipo de pergunta é essa?  — comprimiu uma tosse e continuou. — É assim que Nico tem-te feito sentir?

            Will estreitou os olhos por conta de uma rajada de vento súbita. Ele olhou de soslaio para Tomás, tentando decifrar, nem que um pouquinho, o que tentava insinuar nas suas falas enigmáticas.

            — É mais ou menos isso. Parece que ele dispensa a minha companhia com aquele sorrisinho gentil dele toda vez que me aproximo. Como se eu fosse inútil, algo que ele não tem que aguentar nesse momento tão estressante.

            Will soltou um riso sarcástico, mas sem humor algum. Só então percebeu o quanto aquele assunto o estava deixando com raiva.

            Com a falta de resposta do amigo, voltou-se para ele no meio da rua.

            — O que foi?

            — Apenas não me parece algo que Nico faria.

            — Você o conhece melhor que eu?

            — Não existe grau em conhecer um amigo. Existe gente que conhece uma face de certa pessoa, e existe gente que conhece outro lado. Os que conhecem determinado lado não precisam, necessariamente, conhecer o outro também. O que não significa que não o conheçam.

            — Ok, eu vou fingir que entendi o que você falou e aceitar o seu tapa sem mão — riu. — O que acha que está acontecendo, então?

            — Você sempre precisa que as pessoas digam pra você o que se passa com aqueles a sua volta?

            — Se não quer me contar sua opinião não comente coisas que levem a tal — Will revirou os olhos e continuou andando.

            — Não é i...

            — Veja — o interrompeu rispidamente. — Chegamos.

            Will adentrou a panificadora primeiro, rompendo numa marcha solene até o balcão. Mas antes que pudesse chegar lá, Tomás o segurou pela manga do sobretudo.

            — O que eu queria dizer é que você acaba não deduzindo as coisas por si mesmo, e isso é irritante — sua voz era um sussurro entredentes. — Agora vá comprar a merda que você quiser pra gente continuar conversando.

            Magolia Bakery era uma panificadora de ar clichê e confortável. Os doces lá eram caros, estava sempre lotada, e tinha aquele cheiro irritante de baunilha no ar. Mas Will nunca tinha estado em Nova York, então decidiu que seria um desperdício se não gastasse dinheiro com alguma coisa do gênero.

            Acabou por pedir uma caixa que vinha com uma dúzia de cupcakes.

            — São $54, senhor.

            — Deus tenha misericórdia.

            Tomás o esperava perto da porta. Decidiram voltar para Radio City, já que as mesinhas dentro da Magnolia estavam todas ocupadas, e o clima lá fora estava horrível, com um céu cinzento e todo aquele vento que trazia o terrível cheiro de combustível e esgoto que as ruas tinham.

            Onde estava a magia de New York?

            — Eu não tenho ideia do que o Nico passou para ficar assim — Tomás retomou em tom monótono. — Mas estou certo de que ele vivenciou perda e sofrimento o suficiente para aprender a desistir. Pra mim, ele não age como se não te quisesse por perto. É impossível não te querer por perto, Solace. É mais como se ele estivesse com aquele tipo de dor tão grande que nos tira a vontade de falar.

            Após um intervalo dramático, Tomás deu de ombros e concluiu:

            — Ou talvez ele só esteja sob pressão. Isso cansa, se você não sabe.

            Will acabou admitindo para si mesmo que o que Tomás dissera fazia sentido. Por um lado, o fazia se sentir mais leve, afinal, o problema então passava a não ser com ele. Mas também o afligia. Se a primeira hipótese fosse verdade, Nico talvez escondesse algo dele.

            Esse pensamento parecia muito paranoico.

            Aliás, tudo aquilo parecia demais, como se Nico fosse o centro do seu mundo, como se ele fosse a nova arte do século XXI. Pareceu ridículo, e patético.

            Assim que adentraram a recepção do teatro, Apolo veio como uma avalanche.

            — Onde você estava, Will?

            — Eu saí para comprar alguns doces... Por quê?

            — Tinha a esperança de que Nico estivesse com você. Ele simplesmente sumiu.

            Will arqueou uma sobrancelha.

            — Já pensou em procurar no banheiro ou algo assim?

            — Isso foi há vinte minutos. Quem demora vinte minutos no banheiro?

            — Talvez ele esteja passando mal...?

            — Então, meu anjo, — Apolo foi irônico — você pode fazer o favor de acha-lo pra mim? Obrigado.

            Sem esperar uma resposta, Apolo rompeu num passo irritadiço para o outro lado do salão, onde tinha um corredor que levava até o auditório de ensaios.

            — Ele está estranho — comentou avoado com Tomás, enquanto pegavam o rumo dos banheiros.

            — Quem? Apolo?

            — É. Primeiro ele me parecia meio cabisbaixo, agora está todo irritado por tudo. E não tenho como colocar a desculpa nessa apresentação, porque já passamos por eventos tão grandes quanto, e ele fica ansioso, mas nunca deixa isso afetar o seu comportamento. Principalmente comigo.

            — Talvez tenha a ver com uma namorada... Ou algo do gênero.

            — Namorada? — Will riu. — A última mulher que aquele cara pegou foi a minha mãe, provavelmente.

            — Mas você não me dizia que ele vivia tendo casos até...? — Tomás parou de falar, sua expressão nitidamente mostrando que ele entendia. — Oh. Ás vezes, esqueço que ele é bi.

            — De toda forma, não tem como ele estar assim por causa de um relacionamento. Que eu saiba, ele só tem interesse no...

            Will parou de andar. Estavam na frente dos banheiros mais próximos ao auditório de ensaios.

            — Pai do Nico — completou num sopro. — Agora entendi.

            — O seu pai gosta do pai do Nico? — Tomás perguntou com incredulidade.

            Will riu e colocou o indicador sobre os lábios, falando baixinho:

            — Shhh, é segredo.

            — Isso é bizarro.

            — Eles são fofos, ok? — respirou fundo. — Agora preciso achar meu namo... Nico. Preciso achar Nico.

            — Claro — Tomás fez uma careta. — Vá dar uma de babá. Eu vou procurar Cath.

            Will entrou no banheiro com tanta certeza de que veria Nico que foi como se tivesse despencado numa montanha russa quando encontrou o ambiente vazio. Franziu o cenho e o chamou, só pra ter certeza. Mas não houve resposta. Qualquer outro banheiro se encontraria em outro andar, e eles não tinham permissão para ir a outro lugar que não o auditório de ensaios. Onde ele estava?

            Sem alternativa, fez tudo que restava fazer: pegou o celular e telefonou para ele.

            Ouviu um toque.

            Dentro do banheiro.

            Era o toque de Nico, não podia ser coincidência.

            Um arrepio percorreu seu corpo todo. Por que Nico não respondera quando o chamou?

            Sentiu como se o sangue deixasse suas veias, o suor frio escorria pelas suas costas. Will se sentiu em pânico.

            — É isso aí, Solace, você me achou. Parabéns, detetive.

            Will prendeu a respiração e andou alguns passos da forma mais silenciosa que conseguia. Você está com medo dele?

            Nico estava sentado no chão à frente de uma parede no fundo do banheiro, que coberta por relva, como se fosse uma cerca viva. Quanto mais se aproximava, podia ver que não era apenas uma parede em si, mas um espaço além das cabines. Como uma sala de cinco metros de comprimento de um de profundidade com trepadeiras cobrindo o cimento. Dava um contraste bonito com o resto do ambiente, que era límpido.

            — Por que está aqui? Meu pai está doido te procurando.

            — Não quero ensaiar.

            Will suspirou como se estivesse falando com uma criança. Ainda assim, não sentou nem se abaixou para falar com ele.

            — Algum motivo racional?

            — Música é ruim.

            — Ah, certo — Will soltou uma risada grotesca. — Você é uma espécie de mente milagrosa para música, está no lugar onde muitos, inclusive eu, dariam um rim para estar, e isso sem a necessidade de nenhum esforço absurdo... E me diz que está fugindo simplesmente porque não gosta de música?

            — Sem nenhum esforço? — Nico levantou, encarando-o com raiva. — Você sabe como é difícil pra mi...

            Sempre é difícil pra ele.

            Porque ele é o rei do mundo, ele é quem importa na Terra.

            Você está cansado.

            Você também existe, você também importa.

            Mas que perda de tempo.

            — Claro, claro, é difícil, é horrível. Ó meu Deus, será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz ou então pegar em armas contra o mar de angústias e, combatendo-o, dar-lhe fim? — bufou. — Todo mundo passa por coisas difíceis, você é grande o suficiente para saber disso.

            Nico abriu a boca para retrucar, mas desviou seu olhar para o chão, simplesmente sem vontade.

            — Você não precisa ser tão agressivo. Eu só... — negou com a cabeça. — Eu realmente... Não quero falar mais com você agora. Acho que nem pelo resto do dia.

            Ali estava ele, fazendo de novo.

            Garoto imbecil.

            Nico passou por ele e tinha a intenção de sair do banheiro, mas Will, fervendo de raiva, agarrou o seu pulso antes. Cravou os dedos em seu ombro e o virou de frente para si.

            — Will! — Nico guinchou e tentou se afastar, o que só fez com que Will o puxasse para mais perto. — Isso dói! Me solte...

            — Não.

            Machuque.

            Quebre.

            Vamos, faça. É o que você quer.

            O esmague com mais força.

            Seu estúpido.

            — Por favor... — gemeu de dor. Os nós dos dedos de Will estavam brancos de tanta força que fazia em seu pulso e em seu ombro. Sentiu suas unhas se enterrarem em sua carne. — Você... Você está me machucando, Will!

            E foi como se ele despertasse.

            O que está fazendo?

            — D-desculpe.

            Sua voz saiu num fio.

            Nico esfregou o pulso com marcas vermelhas de dedos e as meias-luas arroxeadas que suas unhas haviam deixado. Olhou Will com tamanha mágoa que o loiro não pôde retribuir o olhar.

Apesar de que sua mente parecia estranhamente nublada naquele instante.

E apesar de assistir tudo, mas não sentir como se realmente o atingisse. Parecia que ele deveria se sentir mais culpado, tinha a sensação de que deveria se sentir mais errado.

            — Não. — Disse Nico firmemente, apesar de sua expressão estar arrasada. — Eu que peço desculpas.

            E saiu.

 

"Parece que existem oceanos

Entre eu e você de novo

Nós escondemos nossas emoções

Por baixo da superfície e tentamos fingir"

- Oceans (Seafret)


Notas Finais


rsrsrs oi meninas, hoje vamos falar de relacionamentos abusivos rsrsrs


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