Já passava das nove da noite quando Katy finalmente desligou o computador. Alongou o pescoço, sentindo a tensão daquele dia se acumulando nos músculos. Tinha ficado até tarde fazendo pesquisa sobre a carreira de Rihanna para se preparar para uma entrevista que nem tinha marcado ainda.
Era conhecida na redação por fazer pesquisas minuciosas e trabalhar em cima de pilhas e pilhas de anotações. Até aquele momento ficava feliz em alimentar a reputação, mas dessa vez era diferente. Katy já sabia muito sobre a carreira de Rihanna. Mesmo depois de seguirem com suas vidas e perderem contato, a jornalista continuou acompanhando os passos da cantora. Tudo o que ela queria naquele momento era manter a cabeça ocupada para que a sua memória não começasse a exibir um flashback contínuo do pouco tempo que tiveram juntas.
Juntou suas coisas, jogou tudo dentro da bolsa e pegou o celular – cinco chamadas não atendidas. Todas de Margot. Ainda bem que a namorada já estava acostumada com os horários malucos de Katy, pelo menos não teria que aguentar uma cena quando chegasse em casa. Desceu os 11 andares de elevador e ligou para a companheira enquanto caminhava em direção ao carro.
– Oi, amor. Desculpa não ter atendido. Estava fazendo uma pesquisa e você sabe que eu fico meio aérea nesses momentos, né?
– Não tem problema, só estava preocupada. Na verdade, eu queria te fazer um convite, mas como você não atendeu, fica para outro dia.
– Fala, o que foi?
– É que uns amigos estão na cidade e eu chamei um pessoal para uma reuniãozinha aqui em casa. Coisa pouca, umas 15 pessoas, e eu queria que você viesse...
– Você vai ficar muito chateada comigo se eu não for? Eu mal dormi essa noite e fiquei trabalhando até essa hora! Estou exausta. Tudo o que eu quero é um banho quente e cama.
– Eu já imaginava que essa seria a resposta. Te vejo amanhã?
– Com certeza. Te amo!
– Eu também te amo.
Katy se sentia culpada e aliviada. Culpada por estar pensando tanto em uma pessoa do seu passado, enquanto a namorada queria passar algum tempo com ela. E aliviada por ter uma desculpa perfeita para passar uma noite tranquila antes de ter que enfrentar aquelas memórias mal resolvidas.
Assim que colocou a chave na fechadura, o telefone de Katy tocou. Era uma mensagem de Johnny: “Para de fugir e liga logo para a Rihanna! Eu te conheço e sei que você ainda tem o telefone dela em algum lugar”. Ela sorriu ao ler o recado mal criado do amigo. Esse era o problema com a intimidade – não havia escapatória.
O pior é que Johnny tinha razão. Katy nunca conseguiu realmente apagar Rihanna de sua vida e o número de telefone dela não era exceção.
Largou o aparelho e a bolsa em cima da mesa de jantar e foi direto para o banheiro. Qualquer que fosse a decisão, podia esperá-la tomar um bom banho. Enquanto esperava a banheira encher, se serviu uma taça de vinho e colocou uma música tranquila. Não costumava usar a banheira com frequência – não sozinha, pelo menos –, mas se havia um momento em que um banho relaxante viria a calhar era aquele.
Fechou a torneira e deixou que a água morna relaxasse seus músculos. Somente naquele momento se deu conta do quão tensa toda essa história a havia deixado.
Levada pela música e pelo vinho, Katy se permitiu, pela primeira vez desde o almoço com Johnny, pensar em Rihanna como a cantora iniciante com quem teve um caso muitos anos atrás. Sua mente voou direto para aquele apartamento apertado. Fechou os olhos e foi capaz de ver perfeitamente a mulher morena que tirava o casaco na sua frente. Ela era linda, sensual. Exalava uma confiança que Katy tinha poucas vezes visto.
Flashback
Rihanna se virou para encarar a morena que a acompanhara até em casa. Gostou dela desde o momento em que a viu, entrando no bar com um bando de amigos. Ficou feliz quando viu que a menina se destacou do grupo e se posicionou ao lado do seu palco e não teve dúvidas em chamá-la para sair. Tinham certeza do que queriam e não terminariam aquela noite sem conseguir.
Com um meio sorriso, Katy viu Rihanna avançar em sua direção. A morena encontrou a cantora no meio do caminho para um beijo esfomeado. Sem que suas bocas descolassem, Rihanna tirou o próprio casaco e o de Katy. Com o caminho agora livre, Katy passou a explorar o pescoço e o colo da outra, arrancando suspiros da outra.
flashback- off
Antes que as lembranças saíssem de controle, Katy terminou a taça de vinho e afundou na banheira, só voltando à superfície quando os pulmões gritavam por oxigênio.
– Droga! Por que é que essa mulher precisava voltar para a minha vida?
Sabendo que resposta nenhuma viria do espelho, saiu da banheira e se enrolou em um roupão. Ocupou-se dos cabelos molhados e do resto de maquiagem que ainda sobrevivia em seu rosto. Qualquer coisa que exigisse um mínimo de concentração e afastasse suas lembranças daquele corpo moreno.
Na cozinha não achou nada para comer a não ser um pacote de biscoitos. Margot tinha razão – precisava comprar comida decente. Agarrou o saco de salgadinhos e foi tentar achar alguma distração na TV. No caminho agarrou o celular que largara na mesa de jantar. Jogou-se no sofá, ligou a televisão e ficou encarando o aparelho que tinha em mãos por algum tempo.
Tentava decidir se devia ou não ligar para Rihanna. Fosse essa uma ligação para uma completa estranha, com certeza deixaria para o dia seguinte. Já passavam das dez horas da noite e não era mais socialmente conveniente fazer um telefonema naquele horário. Além do mais, se fosse uma desconhecida, Katy podia ligar a qualquer momento que não ficaria tão mexida.
Mas não era o número de uma estranha que ela via na tela do seu telefone. Era o número de Rihanna e ela sabia que precisaria de toda a coragem que tivesse para completar a ligação. Temendo não conseguir repetir o feito no dia seguinte e sabendo que os horários da cantora não seguiam convenções sociais, apertou o botão que completaria a ligação e colou o aparelho à orelha.
Do lado de lá, o telefone tocou uma, duas, três, quatro vezes sem que ninguém atendesse. Katy começava a pensar que talvez ela tivesse mudado de número. Ou não quisesse falar com ela. Já afastava o aparelho para desligar quando o quinto toque foi interrompido na metade. O estômago da jornalista deu uma cambalhota de ansiedade. Não sabia o que esperar vindo do outro lado.
E bastaram duas palavras na voz melodiosa de Rihanna para que Katy voltasse a se sentir aquela jovem universitária descobrindo o mundo além dos seus muros protegidos.
– Katheryn Hudson!
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.