Daegu 2021
Nove meses antes...
Enrolando o doce do pirulito com a língua, dou os últimos retoques na mixagens das faixas pelo notebook. Meu cérebro trabalho nesses últimos dias como louco depois de encontrar com o produtor. O acordo só não foi fechado ainda pois o CEO da empresa quer assistir nosso concerto e estimar o quanto podemos valer para empresa, e com a nossa formação atual em frangalhos, tentei adiantar alguns detalhes antes de gravar com as vozes dos outros integrantes.
Pode ser interpretado como uma desculpa também, depois de que Soobin contou sobre sua irmã, eu não tenho coragem de encara-lo mais uma vez. Sinto que é um favor que posso fazer tanto para ela quanto para Beomgyu.
Definitivamente, sou o maior culpado desse acidente e dela estar em coma nesse instante.
Afasto o notebook do meu colo e jogo minhas costas contra o sofá, prendo o canudo entre os dentes. Reflito nessa merda mais uma vez, apreciando a forma como a culpa me sufoca.
Por isso que estou enfiado dentro do meu apartamento durante esses dois meses, a música permitiu que a mente ficasse ocupada, mas não é como se fosse durar para sempre.
Precisava urgentemente reparar toda essa catástrofe.
Salvo todo o processo e vou tomar um banho antes de Soobin bater em minha porta.
— E aí? — foi a primeira coisa que disse ao vê-lo esperando ser atendido.
— E aí. — ele forçou a sorrir. Seu semblante expira exaustão, principalmente com as bolsas debaixo de seus olhos.
Dou espaço para que entre, sentindo o nervosismo subir da barriga ao peito.
— Como estão as coisas? — pergunto, receoso.
Soobin se joga no sofá antes de responder em um suspiro.
— Nada bem. Eles não sabem quando ela pode acordar. — contou, fitando o teto.
Mais de dois meses... E nada?
— Cara, como aconteceu esse acidente? Já sabem? — sento ao seu lado.
— Não está claro o que realmente aconteceu, mas um caminhão bateu na lateral do carro dela. — passou as mãos pelos cabelos — Precisou levar ponto na cabeça.
Foi pior do que pensei que diria.
Jogo a cabeça no encosto igual a ele, encarando o nada da tintura sem graça do teto do apartamento.
— Precisa de ajuda com algo? — eu não sabia bem o que dizer após ter conhecimento do que parcialmente aconteceu. Só sei que havia sim parcela de culpa minha sobre aquela situação desastrosa.
— O cara que dirigia o caminhão arcou com todos os custos do carro. E... Não tem mais nada a fazer à não ser esperar que reaja aos medicamentos.
— E Beomgyu?
— Ele não sai de perto dela. Passou esses últimos tempos cuidado dos gatos e do apartamento. Ate tentei dá-lo uma folga dessa bagunça toda, mas não pensou duas vezes em recusar. — ajeitou-se melhor no acolchoado — Porra, ele realmente ama muito ela.
— Sim...
E eu estraguei tudo.
— Me sinto culpado as vezes porque sei que andam ocupados.
— Não temos como continuar tocando nessas circunstâncias. — digo, batucando os dedos cruzados na barriga — Nenhum de nós está com cabeça para isso.
— Você pelo visto é excessão.
Franzo a sobrancelhas para o menor, percebendo só assim que mira a tela ligada do notebook na mesa de centro.
— Eu esqueci de desligar. — estico para deslizar a seta na tela inicial.
— Espera. — pediu, segurando em meu braço — Me mostrei o que fez.
Intercalo a atenção para ele e o objeto aberto.
— Não está finalizad-
— Não tem problema, só... Quero ouvir.
Estranho sua entonação, mas mesmo assim faço como pedido.
Abro a pasta com as demos em andamento, Soobin quis escutar todas, desde as mais pesadas como as mais melancólicas.
E terminando de escutar a última faixa, ele rio soprado.
— Gostei de todas.
Foi impossível não ficar sem jeito.
— Sinto que falta algo nelas para ficarem perfeitas. — admito.
— Acho que sei o que quer dizer, provavelmente notas limpas de teclado dará o toque que precisa. Mas estão ótimas assim mesmo.
Encaro Soobin meio desacreditado por estarmos falando sobre música, tanto que acabo rindo.
— O que? — ele questiona, confuso.
— Não, é que... — esfrego o nariz para me conter — Não conversamos assim sobre música desde... O ensino médio? — faço careta ao recordar.
— Ah, entendo.
Silêncio toma aquele cômodo, o que era uma atmosfera mais reconfortante se tornou algo oposto depois do que disse. E não parecia ser em relação somente a sua irmã.
Fico surpreso que o próprio acabou abrindo a boca antes que pudesse tentar puxar isso dele.
— Para ser sincero, sinto falta do passado. Quando apenas podia ser só um garoto sonhador com ambições grandes demais para a própria realidade.
— Algo me diz que trabalhar com seu pai não foi a melhor opção que escolheu. — decidi também ser sincero, julgando por seu semblante pra' baixo.
Soobin mexe as sobrancelhas sem desmentir e nem em concordância.
— Aprendi que devo colocar meu dever em primeiro lugar, só por isso desisti. — conta cutucando a cutícula das unhas — Não tem um dia que não me arrependa.
— Cara, você ainda tem chances de mudar isso. — afasto o notebook para ficar de frente para ele — Não diga essas coisas quando há tempo de fazer tudo diferente. Você é um músico incrível, sei que vai longe um dia se escolher viver disso.
Sorriu minimamente de escaneio.
— Olha, caso esteja certo de que quer seguir esse caminho, venha até mim. — seguro seu ombro — O TXT está pensando em abrir audição para entrada de mais membro na banda, caso queira tentar será bem-vindo.
Não tenho certeza que pela feições de Soobin ele irá aparecer para fazer o teste, mas achei válido contar depois de ouvir seu desabafo. Ficaria arrasado se escolhesse permanecer aonde está porque ele acabou de acender uma faísca de esperança de que voltaríamos a trilha nossos sonhos lado a lado. Contudo, estou mais preparado para ouvir um "não" de sua boca desta vez, do que estaria anos atrás.
Meu celular volta a vibrar, pelo visor percebo que é o mesmo número persistente.
— Não vai atender? — Soobin perguntou, devido ter ficado bastante tempo imerso na tela.
Bloqueio a tela e largo o aparelho de lado, respondendo sua pergunta.
Daegu 2021
Sete meses antes...
Bato a sola do sapato no chão, constantemente e impaciente com a demora de Beomgyu para atender a porra de um telefonema do Taehyun. Naquela altura sua raiva deve ter ultrapassado o limite de ser profissional, isso porque há dias estamos tentando entrar em contato.
— Vou na casa dele. — declaro, pegando a jaqueta de cima da mesa do estúdio.
— Não vai encontrar ele lá hyung. — diz Taehyun.
— Eu sei disso, mas se ele não quer atender, talvez os pais ele atenda. — argumento, decidido.
Prestes a pegar maçaneta da porta. Huening abre o bico.
— Beomgyu não está falando com eles.
Torço o pescoço para o loiro.
— Como é?! — pisco, pasmo.
— Não sei se recorda hyung, mas Beom-hyung havia dito que estava tendo problemas em casa. Durante tudo o que rolou, conosco. — prosseguiu sem graça — À situação só piorou.
Se ele não está falando com os pais, quer dizer...
— Ele está cuidando do apartamento da noona, então, deve ser lá que está morando agora. — deu de ombros.
Dou passos em falso para trás, esfregando o rosto com a palma da mão. Batuco os dedos no topo da cabeça, pensando no que fazer diante de tantos problemas que não parecia ter um fim.
— Só temos mais duas semanas para entregar essas demons, se Beomgyu não fazer a parte dele, terei que fazer por ele.
Esse não é o maior dos problemas, o fato de que estou tendo que me virar do avesso para essa banda não desmoronar está se tornando cansativo. Odeio ter que deixar um membro sem trabalhar no que preparamos, sempre fizemos isso em conjunto, é inadmissível que tenha que puxar a orelha de um garoto com mais de vinte anos nas costas que sabe de suas responsabilidades.
Até quando terei que lhe dar tempo? Estamos ficando sem prazo.
O toque do celular volta a tocar, novamente aquele número que me dá má sensação. Não estava com saco para mais drama, então opto por seguir meus instintos e não atendo a ligação.
Seoul
Seis meses antes...
Checo o horário pela vigésima vez. E nada daquele garoto.
— Vão entrando, vou esperar por ele mais um pouco.
Os mais novos fizeram como pedi e seguiram para entrada da empresa. Miro o céu da primavera e bufo para manter a paciência intacta.
O custo está cada dia mais difícil de lidar. Não só pela falta de notícias de Beomgyu, mas todo caos em si. Havia o triplo de responsabilidade nas minhas costas e aquela oportunidade não se pode ser jogada fora. Sentia-me mentalmente estafado e lutava para manter a sanidade no lugar.
Recaindo o olhar para frente, enxergo um corpo familiar. O vestido preto justo por cima da cacharel branca e a irreconhecível boina preta, caminhando com par de botas que vão até os joelhos pelo estacionamento.
Okay, isso já virou perseguição.
— Não me diga que é essa agência que te contratou. — gritei, para a garota que até então não me reconheceu a princípio, girou o rosto em minha direção.
Até ela não parecia acreditar que estava bem ali.
— Para ser sincera, fui contratada pela subsidiária. Então de vez em quando terei que vir aqui. — explicou, em seguida negando com a cabeça ainda descrente —E você? O que veio fazer?
— Talvez, fecha contrato. — comento, vendo-a se aproximar — Alguns dos membros já estão dentro do prédio.
— E quem que está faltando?
— O guitarrista.
— De quem beijou a suposta namorada? — indagou.
Passo a língua nos dentes e suspiro conformado.
— Isso aí.
Suas sobrancelhas ergueram em cinismo.
— Está bem mais encrencado do que imaginei. — franziu a boca, sem conter o sarcasmo.
Não faz ideia do quanto.
— Gostaria de continuar conversando Junie, mas tenho que ir andando. — seus braços passam por minha cintura, por cima da jaqueta jeans que visto para sussurrar na ponta dos pés em meu ouvido — Qualquer dia, me convida para foder no banheiro.
Furo a língua na bochecha para conter o sorriso. É inacreditável.
Não deixo de arrepiar com a possibilidade, tanto que percebo que estou encarando-a ir embora como um perfeito bobalhão.
Mordo o lábio, o diabo deve andar rebolando daquele jeito da mesma forma.
É perceptível que não teríamos mais do que relações carnais, e acho que é até melhor assim. Somos uma bagunça, dúvido que algo há mais nós manterá juntos por muito tempo. Ela principalmente, se entendia com muito mais facilidade do que eu, não iríamos conseguir seguir a vibe casal sem causar escândalos em nossas vidas.
Imerso nesse pensamentos, reparo uma cabeleira comprida passará por mim sem se dirigir uma mísera palavra. Beomgyu vai adiante para entrada do prédio, enquanto reviro os olhos e o alcanço.
— Boa tarde para você também. — irônizei.
Silêncio. Foi a mesma coisa de falar sozinho.
Respiro fundo e deixo por isso mesmo, não havia mais tempo para me humilhar pro menor, o produtor deve estar impaciente com tanta demora.
E entrando na sala designada, realmente tive certeza que estar certo.
Após uma longa conversa e análise de cada demon que produzi, a reunião teve a duração mais longa do que determinado para o dia. E foi bom, pois acredito que chegamos a conclusão certeira em relação como queremos trabalhar na banda daqui para frente.
Cada um dos membros teve a chance de colocar suas ideias na mesa, escolher opções de produção e mais um monte de burocracia. No prazo para assinar os papéis, procuro o olhar de cada membro para ter certeza de estar fazendo o certo, tanto Hueningie como Taehyunie assentiu confiantes; Beomgyu apenas deu de ombros, sem qualquer emoção à não ser desprezo por mim.
Tomo coragem e assino definitivamente, fechando contrato com a empresa de entretenimento.
Fora do prédio, Beomgyu deu as costas, persistindo não dirigir a palavra comigo. Os garotos perceberam o clima tenso e foram embora junto com ele.
Sozinho, no estacionamento parado, desbloqueio o celular e mando mensagem pelo número salvo da garota.
Ainda está no prédio?
Não demorou um minuto para que respondesse.
Sim. Por quê?
Questão respondida: ela ainda está com o mesmo contato. Quer dizer que não é ela que está me ligando sem parar.
Não penso muito a respeito, só dígito e envio a próxima mensagem antes de retornar para dentro do prédio.
É seu dia de sorte.
Me espere no banheiro.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.