História Only Fools Love - That I'd rather be

Ouviu um nome ser chamado, uma, duas três vezes, embora só então percebesse que o nome pertencesse a si. Olhou para a imagem do mago do outro lado do fogo crepitante queimando algumas toras de madeira.

- Algo o atormenta, Mr. Baggins? – Gandalf perguntou com seu olhar solícito. Bilbo se mexeu um pouco desconfortável com as costas no paredão de pedra – Vamos, diga o que tanto tira o foco de um hobbit sempre tão atento.

- Apenas estava pensando.

- Nunca o vi tão perturbado, mesmo antes de ir enfrentar um dragão. Se algo o assusta mais que isso, realmente não consigo pensar em que.

Bilbo não respondeu se perdendo novamente em seus pensamentos, mas dessa vez Gandalf decidiu por não intervir. O hobbit estava nervoso, não estava pronto para ver Thorin.

Desde que vira Thorin quase que cortado ao meio por uma espada e ter tido a certeza de que ele estava morto, percebeu que durante aqueles meses ao seu lado talvez tivessem o feito olhar para o anão de modo diferente e que se importava até demais.

Depois do guerreiro ter acordado e se recuperado o bastante para ficar sentado na própria cama, Bilbo simplesmente partiu de volta para casa sem nem mesmo se despedir – odiava despedidas. No começo cogitou estar beirando a insanidade, mas depois reconheceu ser amor – o que era apenas outro nome bonito para loucura.

E mesmo após suas aventuras, coisas ruins que nunca iria esquecer, sonhos que nunca parariam, a coisa que achou mais injusta que aconteceu consigo foi se apaixonar. Ainda mais por alguém que não demonstrava apreciar sua companhia com reciprocidade.

Agora estava no meio do caminho para Erebor, a cada hora mais perto de ver Thorin novamente e dessa vez com o fardo em suas costas.

Diziam que amor é algo lindo, grandiosos, um sentimento puro, falavam até das tão conhecidas “borboletas no estomago”. Seres tolos e idiotas que o fizeram acreditar nisso e nunca desmentiram tais absurdos! Amor dói!

Thorin, anão tolo que o fez sentir vontades estupidas, sonhos indecentes, curiosidades bobas.

Com raiva do amor, gradativamente e de repente adormece. Relembra alguns acontecimentos em forma de distorcidos sonhos.

*

- Vejo que dormiu pouco essa noite. – Gandalf comenta enquanto deixam para traás apenas as cinzas da fogueira e montam em seus cavalos e pôneis.

- Você está certo, algo me perturba.

- Não estou certo de que seja “algo”, Mr. Baggins, se me permite dizer, suponho que o correto seja “alguém”.

- Não diga besteiras! – Resmungou o pequeno.

- Fiquei pensando após nosso rápido dialogo: O que assusta mais a um mortal que a própria morte? Amor.

- Sinto informar, mas está errado. – Disse ativando seu modo de defesa, a grosseria (ao menos o que considerava ser).

- Se assim prefere. – O mago deu de ombros fazendo o outro bufar em irritação, porque sim, obviamente Gandalf sabia que estava certo e Bilbo sabia que ele sabia.

Conforme sua ansiedade aumentava, mais o sol parecia deslizar mais rápido pelo céu. Já estavam há mais ou menos dois dias de Erebor. Não era um adolescente, mas agia como um e isso causava uma imensa vergonha no hobbit de bochechas coradas pelo simples pensamento de estar tão perto.

Deixou o mago ir um pouco mais a frente com seu cavalo branco e observou em volta relembrando sua aventura. Engana-se quem acha que ele não conseguia se lembrar além do rei. Do rei tão perto de si no dia que se conheceram. Do rei e o abraço que lhe dera depois do primeiro reencontro com Azog. Do rei e o seu sorriso quando descobriram que “a ultima luz do Dia de Durin” na verdade era a lua. Quer dizer, ele conseguiu se lembrar de como estava nervoso naquela noite com os trols.

Bilbo também não tinha curiosidade em revê-lo, obviamente. Também não colocou sua melhor roupa na mala para usar no jantar que haviam sido convidados, isso nem passou por sua cabeça.

Já amanhecia novamente, Baggins acordava em cima de seu travesseiro improvisado com sua mochila e um capa que usava quando esfriava. Se sentou ainda sonolento e depois foi até Gandalf que observava uma borboleta azul pousada em seu indicador.

- Bom dia. – cumprimentou de olhos fechados nada acostumados com o sol.

- Oh, - O mago olhou em volta e depois para o pequeno companheiro – realmente.

- Hã? Realmente o que?

- O dia realmente está bom. Ou quis dizer que se sente bem neste dia?

- Céus, não tente me confundir mais uma vez, acabei de me levantar. – Resmungou o hobbit pegando do chá que Gandalf fez na fogueira do dia anterior.

- Apenas estou dizendo que deveria ser mais especifico.

- Quer chá?

- Estou bem. – Respondeu enquanto balançava o indicador suavemente fazendo a borboleta ir embora – Me diga, se não é amor, o que ainda o perturba, Mr. Baggins?

- Bom... Eu sou um hobbit. Estou com saudades do conforto de minha toca.

- Ora, vamos. Sei reconhecer um péssimo mentiroso. Quando cheguei ao Bag End você estava tão eufórico em andar livremente, com certeza não é mais o mesmo hobbit depois de conhecer um pouco do mundo.

- Talvez eu tenha percebido o quão perigoso é.

- Certo, se não quer dizer a verdade, não insistirei.

Ficaram mais um tempo sentados em volta dos troncos queimados e cheios de cinzas do que já foi uma fogueira. Gandalf usava seu cachimbo e assoprava anéis de fumaça, aos quais o mesmo dava cores e os fazia danças sobre eles, uma tentativa de divertir Bilbo – o que fez muito bem, aliás.

Não demorou muito para juntarem todas as coisas e seguir viagem, não faltava muito, diria que até o fim da tarde chegariam lá se fossem um pouco mais rápido.

E foi o que aconteceu.

- Erebor. – Foi isso que Gandalf disse quando chegaram ao portão do castelo.

Olhou para cima vendo o quão grande era, estava acostumado com seu lar de apenas um andar, mesmo que não fizesse tanto tempo desde que vira o castelo, ainda se surpreendeu.

O portão se abriu e as dobras dos dedos do hobbit já estavam brancas por causa da força que apertava a própria capa. Um anão o qual ainda não conhecia veio em direção do seu pônei e depois do cavalo de Gandalf e saiu andando sem dizer nada.

Balin, Dwalin e Fili foram os primeiros a darem as boas vindas, Kili apareceu alguns segundos depois.

- Ms. Baggins, quanto tempo. – Disse eufórico o cumprimentando com um aperto de mão que mexia para cima e para baixo de forma animada.

Os convidados foram apresentados aos seus quartos e no caminho puderam ver Glóin, Dori e Ori.

Bilbo se instalou devidamente, tomou um belo banho e colocou roupas mais quentes. Com certeza aquela noite seria fria.

Baggins não pode deixar de pensar onde estava Thorin, estava em uma luta interna em querer e não querer vê-lo. O que diria? “Olá”? E se Gandalf perceber estar certo sobre a teoria do amor?

Escolheu por permanecer em seu quarto até a hora do jantar, apesar da fome o cansaço falava mais alto. Ciente de que não iria conseguir dormir, pegou um livro dos que haviam em seu quarto – aparentemente Thorin providenciou alguns numa língua que Bilbo pudesse entender, atenção que fez o hobbit apaixonado sorrir – e começou a lê-los.

Uma cama macia realmente fazia mágica, era relaxante, infelizmente não o bastante para fazer um coração ansioso ceder a uma soneca.

Ele leu duas páginas inteiras até perceber que não prestou atenção em sequer uma palavra, desistiu disso também e apenas se deitou olhando para o teto.

Quando chegou perto da hora do jantar o hobbit se aprontou em mente que iria ver o rei. Desceu a escadaria um pouco extensa até o salão principal vendo 12 anões e Gandalf sentados a mesa conversando alegremente.

Todos cumprimentaram Bilbo quando ele se ajeitou numa cadeira ao lado de Fili. Divertidos depois que se acostuma, algo que o mago disse tempos atrás para o Baggins, e ele não podia concordar mais. Sentiu saudades.

Ouviu eles se relembrarem sobre como expulsaram Smaug sempre floreando um pouco, porque aventuras impressionantes sempre merecem serem floreadas.

De repente todos ficaram um pouco menos exasperados, Thorin passou pela grande porta do salão e observou a mesa.

- Desculpem a demora, estava resolvendo alguns assuntos. – Falou como se não fizesse Bilbo corar e estremecer apenas com sua presença – Não pude dar as devidas boas-vindas aos meus convidados que vieram de tão longe, então, sejam bem-vindos. – Mirou Gandalf e Bilbo enquanto falava, respectivamente.

-Obrigado pelo convite, é bom estar de volta. – Murmurou o menor da mesa tentando manter a voz firme, mas obviamente o mago percebeu a diferença em sua fala pela forma que o olhou.

- A comida está esfriando! – Bombur reclamou fazendo alguns rirem.

Bilbo ainda tremia enquanto comia torta doce; não imaginava que estaria tão, tão nervoso estando uma cadeira de distancia de Thorin, odiando seu corpo o traindo.

- Bilbo? – O hobbit olhou na direção de quem o chamava e viu Thorin o olhando como se esperasse algo.

- Hã... Sim? – Soltou os talheres no prato e recuou minimamente para trás como um coelhinho, o rei tinha uma grande interrogação no topo da cabeça e ao perceber isso o menor ajeitou a postura.

- Perguntei o que fez durante esse últimos meses.

- Oh... Bem, quando cheguei em casa estava tendo um leilão com minhas coisas, eu as recuperei e li alguns livros. Dois meses e meio é pouco tempo para ter novidades o bastante para contar. – Soou mais calmo dessa vez.

- Leilão? – Fili ao seu lado;

- Quando um hobbit desaparece por um longo período de tempo, é considerado morto e suas coisas são leiloadas. – Explicou.

- Fili não teria nada para leiloar, é um tapado e perde tudo. – Kili gritou rindo do irmão.

E assim voltaram a conversar novamente, brigando e brincando. Bilbo estava gostando de observar.

Quando todos se deram por satisfeitos não parecia que o jantar estava perto de acabar, agora chegava as bebidas, em sua maioria cerveja clara – e vinho tinto para Gandalf.

Por causa do álcool Bilbo sentiu mais frio e agora suas bochechas estavam um pouco vermelhas. Ele se levanta e sai do salão sem que o perceberem, sempre sorrateiro.

Ele sobe a escadaria, no corredor ele vê uma porta qual não tinha visto um pouco mais a frente. Descobre uma sacada não tão longe de seu quarto que não havia visto antes.

Tem muitas estrelas, o céu. Apoia seus braços na balaustrada de proteção para ver melhor, ele olha para baixo também e é aterrorizantemente alto e a montanha é medonha de noite.

Fica pouco tempo olhando para o nada, sem pensar e tudo parece bem distante.

- Bilbo? – ele ouve e se assusta olhando para onde a voz vinha – Desculpe, não queria te assustar. – Thorin diz surpreso com a reação de hobbit, mas não deixou de acha-la um pouco engraçada.

- Tudo bem, eu só estava... Alto? – Sua afirmação soa mais como uma pergunta, o rei o deixava um pouco nervoso, então apenas muda de assunto – Precisa de algo?

- Ter certeza se está bem, saiu de repente. – Reponde rapidamente observando o horizonte escuro.

- Oh... Tudo bem, - estava vermelho agora, mas poderia culpar a bebida – só vim pegar algo frio... acabei esquecendo... e desviei meu caminho para um lugar mais frio ainda. – Riu ao concluir sua frase e perceber sua desatenção – Vi que aqui tinha uma visão boa do céu. – Justificou-se enquanto virava para o lado contrário de Thorin, voltando a olhar as estrelas – E a vista daqui é linda.

- Realmente.

Bilbo estranhou o silêncio após a fala do rei, mas não ouviu passos indo embora. Curioso, olhou para trás tendo os olhos de Thorin fixados em si. Corou sem jeito e sem saber o que fazer. Será se ele estava se referindo a si? Besteira, não é?

O olhar dele era diferente e parecia ansioso. Então deu um passo hesitante mirando seus lábios e depois seus olhos, dando ao menor entendimento de suas intenções e esperou qualquer indicio que devesse parar, mas o hobbit não o fez. Habilmente deslizou uma das mãos até a cintura e a outra a bochecha do menof puxando-o para um beijo, tudo em um movimento só.

Baggins se surpreendeu de início, mas logo correspondeu ao beijo. Segurou no tecido do braço de Thorin tentando ter a certeza de que fosse real, foi tudo tão rápido, sua mente apaixonada poderia ter-lhe pregado uma peça.

No momento havia se esquecido da altura do castelo, do céu, estrelas e de que estava negando sentir algo por Thorin, ele estava perdidamente apaixonado.

Amou a sensação das mãos grandes na sua cintura e o carinho lento na sua bochecha. Amou o beijo. Amou que ele o apertava contra si sem força, mas com firmeza, como se pudesse escapar.

Se separaram por alguns segundos, o rei olhou no rosto do outro que nem se deu ao trabalho de abrir os olhos ainda imerso nas sensações recentes. Depois de ver o rosto fofo de Bilbo e que não se afastou, interpretou aquilo como mais uma oportunidade para beija-lo novamente.

Foram vários dessa vez, se separavam e voltavam, ficando muito tempo assim.

Bilbo leva sua mão até a lateral do rosto de Thorin e Thorin foi descendo os beijos até seu maxilar, depois pescoço e parou a li, distribuído beijinhos estalados. O rei o puxou para si, colando-os totalmente de forma que o hobbit teve que usar as pontas dos pés.

Subitamente a noite fria parecia quente.

Suas pernas tremem e sente que está mais vermelho que antes.

- Th-Thorin. – Chama risonho e aperta o tecido da sua blusa de modo limitante, o outro para o que estava fazendo.

- Desculpe. – Diz ainda perto do seu pescoço fazendo o hobbit estremecer.

- Não é nada, só que não é o lugar certo para esse tipo de... demonstração? – Comentou ainda sem jeito e nervoso entre os braços do mais alto.

- Entendo, está certo. – Thorin responde ajeitando sua postura mirando os cabelos fofos de Bilbo, mas não solta sua cintura o mantendo perto – Estava ansioso para que viesse. – Murmura com sua rouca, grossa, porém não mirava seus olhos como se estivesse tímido com sua própria declaração fazendo o pequeno sorrir.

- Eu também. – Parecia dizer um segredo e relaxa um pouco sabendo que não era o único bobo.

- Acho que eu deveria voltar ao salão antes que sintam falta, vai vir?

- Claro, mas tenho que pegar uma roupa mais quente em minha mala, então pode ir na frente.

- Certo. – Dessa vez olhou nos olhos de Bilbo que torcia para que suas pernas não o traíssem.

O rei antes de sair dá um beijo em sua testa deixando o hobbit mais bobo ainda. Depois dele virar o corredor, Baggins vai até seu quarto e pega um suéter e se senta no chão.

Passa a ponta dos seus dedos sobre os próprios lábios e segura um riso. Havia beijado Thorin Oakenshield e provavelmente iriam repetir, certo? Estava agindo como um adolescente idiota novamente, mas estava preso nas sensações de minutos antes para ligar.

Mesmo assim, se levantou, colocou o suéter e voltou para o salão, que continuava da mesma forma de quando saiu. Discutiam e conversavam de forma divertida.

Olhou em volta torcendo para que ninguém estivesse olhando para ele e notasse suas bochechas vermelhas, mas para sua infelicidade Gandalf o encarava como se soubesse todos os seus segredos.

- Mr. Baggins, está tudo bem? – O mago perguntou chamando atenção da maioria da mesa.

- S-Sim, por que não estaria? – Respondeu e poderia explodir agora, não era o melhor dos mentirosos.

- Ficou por tanto tempo lá em cima.

- Perdi-me no corredor, não lembrava qual era meu quarto.

- Thorin subiu para ajuda-lo, eu suponho. – Gandalf olhou para o rei rapidamente e depois focou no hobbit ansioso, ao decidir que o torturou o suficiente apenas mudou de assunto. –Lembrei-me daquela história que Fili sumiu de seu próprio aniversário e encontraram-no dormindo numa floresta próxima.

A maioria dos anões mais velhos continuaram conversando mesmo após a saída de Gandalf , quase em seguida Bilbo se despediu da mesa e subiu as escadas de forma lenta até chegar em seu quarto.

Ver uma cama toda o esperando era realmente algo satisfatório.

Mas não de rende ao sono mesmo após se preparar para isso, ainda lê algumas páginas do livro de mais cedo, até ouvir algumas batidas não tão fortes.

De pijama, vai até a porta e se surpreende só um pouco com Thorin, quer dizer, não estava acostumado com a atenção vinda do anão.

Ele fica em silêncio olhando para Bilbo parecendo estar em conflito.

- Thorin? – E ele pareceu acordar.

- Atrapalho? – Perguntou indicando o livro na mão do pequeno que negou rapidamente – Vim verificar se não precisava de algo.

- Não, tudo bem.

- Certo. – Diz e em seguida se vira em direção as escadas.

- Mas o qu- Thorin! – Bilbo o chama indignado.

- Sim?

Baggins anda até ele, o beija rapidamente e sorri.

- Eu não disse boa noite.