— Leia o primeiro trecho da página 130 do livro de física, Sr. Kamado. — O professor pediu, tirando Tanjiro de seu transe.
O garoto se levantou e abriu na página que seu professor havia dito, logo começando a ler. De cara era um trecho pequeno, então sem delongas o garoto havia terminado, logo sentando em sua cadeira novamente. O dia estava com um ar fresco, por mais que já estavam no começo do inverno. É nessas horas que Tanjiro queria estar deitado em sua cama dormindo, mesmo que ele gostasse de estudar e sempre tirava coragem e disposição do além.
O Kamado estava sentado com o queixo apoiado em seu braço direito, enquanto olhava pela janela o que acontecia fora da escola. Ele sentia que se encostasse sua cabeça em algum lugar macio ele provavelmente dormiria, mas se forçava a ficar acordado, pelo menos até que suas aulas restantes finalmente acabassem.
Estava analisando as folhas de uma grande árvore caírem, quando se assusta ao ouvir duas batidas em sua janela. Tanjiro solta um gritinho agudo por conta do susto, atraindo atenção de seus colegas de classe, incluindo seu professor.
— Está tudo bem? — Seu professor pergunta, nada curioso.
— Ah... Sim. — Tanjiro respondeu baixo, tentando não ser o centro das atenções.
Ele esperou que seus colegas voltassem a focar sua atenção na matéria e encarou a janela novamente, se dando de cara com um gato preto. O Kamado ficou assustado no começo, principalmente por ser um gato. Ele estudava no terceiro andar de sua escola, o quê diabos um gato está fazendo ali?
Tanjiro encarava o gato que também o encarava de volta, ambos ficaram assim por muito tempo. O gato olhava bem nos olhos do ruivo, parecia saber até seus segredos mais profundos.
"Se apresse Tanjiro, o trem saí às cinco. Se a força quiser alcançar, vá na biblioteca Eva, não demore."
Tanjiro se assustou novamente, mas dessa vez sem atrair a atenção de seus colegas. Ninguém havia dito nada, então de onde surgiu aquela voz? Voltou sua atenção para o gato ele já não estava mais ali, parecia que nem tinha um gato em um lugar como aquele...
Pensou que talvez estivesse ficando louco de tanto sono, então pediu para seu professor se ele podia ir ao banheiro. Saiu da sala de aula e foi rapidamente até o banheiro, lavando seu rosto e encarando seu reflexo no espelho. Tanjiro estava sentindo uma leve tontura, aquilo estava tirando sua paciência. Não conseguia nem sequer prestar atenção na aula. Aquilo também não era um motivo concreto para ter a permissão de sair de sua escola mais cedo, o que ele faria?
O Kamado não negava pra si mesmo que precisava de um descanso urgentemente, mas nunca conseguiu um tempo livre que seja descente. Sua agenda vive cheia, principalmente quando se trata de favores para os outros. Tanjiro ama ajudar as pessoas que precisam, mesmo que isso não o deixe ser honesto consigo mesmo e com outras pessoas. Mas, mesmo alguém como ele precisa de descanso, não é?
Saiu do banheiro pensativo, ainda tinha uns dois minutos até chegar em sua sala. Será que ele perderia nota se cabulasse aula só por um dia? A verdade é que ele vem pensando em fazer isso faz muito tempo, mas não pensou em como iria conseguir tirar seu material de dentro da sua sala sem ser visto. Era impossível, fato. Então Tanjiro resolveu deixar seu material na escola, no outro dia era só pegar de volta nos achados e perdidos.
Passou reto da entrada de sua sala, indo direto para a entrada principal de sua escola, com a intenção de sair e ir para casa. Como era quatro e meia da tarde, aquela área normalmente fica vazia, então Tanjiro não teria problemas nem tão cedo. Rapidamente o garoto já estava fora da escola, andando calmamente pela calçada. O vento batendo contra seu peito fazia com que o ruivo estremecesse, já que a camiseta de uniforme era feita apropriadamente para o verão, não para um tempo como aquele.
Andava sem prestar muito atenção nos detalhes, pois no momento estava passando por um rua deserta e afastada do centro. Ali não havia coisas extravagantes como cinemas, lojas de roupas e etc. No máximo eram umas lojinhas baratas de dangos, mas uma coisa estava diferente ali. Era impossível não prestar atenção naquilo, fazia até mesmo os olhos de Tanjiro se fecharem de tanta luz.
Havia uma grande e antiga mansão com um letreiro ali, onde estava escrito "Biblioteca Eva", era tão extravagante e ao mesmo tempo brega. No momento em que o ruivo leu o letreiro se lembrou do que a voz desconhecida havia falado na escola. Só podia ser uma grande coincidência, essa era a única explicação. Tanjiro estava bem na frente da biblioteca que alguém falou para ele ir, além de que aquela mansão não estava ali nos dias anteriores.
Ele queria seguir reto e tentar esquecer isso tudo, mas sua curiosidade estava falando mais alto. Tanjiro nunca se sentiu tão curioso como estava se sentindo agora, até ele mesmo estava surpreso com isso. Talvez seja só uma simples biblioteca nova, apenas. Mas, Tanjiro não saberia se não entrasse ali e tentasse descobrir, não é? Já faz um tempo que Tanjiro vem querendo uma diversão como essa, por mais simples que seja.
O garoto andou lentamente até a entrada da biblioteca, levando sua mão até a maçaneta com a intenção de abrir a mesma, porém a porta se abre sozinha. Tanjiro se assustou e andou para trás, com um leve medo em seu corpo. Por mais que uma parte de seu corpo sentisse que aquilo não iria gerar coisa boa, uma outra parte de seu corpo queria mais. Aquilo estava cada vez melhor, as batidas se seu coração só iam ficando cada vez mais rápidas, mas isso cessou por um tempo quando o ruivo adentrou a biblioteca e encontrou apenas prateleiras de livros empoeiradas. Ele se sentiu meio decepcionado, não era aquilo que ele esperava. Mesmo assim ele andou mais um pouco até o fundo da biblioteca, onde havia uma pequena recepção, com um idoso sentado em uma grande cadeira, lendo um livro aleatório.
— Olá. — O idoso cortou o silêncio, sorrindo para Tanjiro. — Há algo que deseja? — O velho perguntou simpático, ele parecia estar disposto a ajudar Kamado.
— Bom... Eu sei que pode parecer só uma mentira boba de um adolescente, mas meio que eu ouvi uma voz me dizendo pra vir aqui pegar um trem que sairia às cinco da tarde. — Tanjiro respondeu receoso em relação se o velho poderia ajudar ou não, mas a única resposta que o ruivo teve foi uma risada divertida do velho.
— Então você é um iniciante na bruxaria, não é? — Ele perguntou, saindo de seu aposento. — Venha comigo, vou te levar até a estação.
Tanjiro estava com várias perguntas em sua cabeça. Iniciante na bruxaria? Estação? Provavelmente isso tinha algo a ver com a voz desconhecida, então resolveu seguir o idoso sem questionar. O velho levou Tanjiro até o porão da biblioteca, onde havia um elevador.
"O quê diabos um elevador está fazendo aqui?!"
O Kamado se perguntava, quase ficando louco de tantas dúvidas. Ele estava muito receoso, a cada movimento do idoso ele estremecia, sua alma aparentava querer sair de seu corpo a qualquer momento. Aquilo estava muito estranho, mas não iria para trás. Mesmo que ele voltasse para sua casa e tentasse esquecer isso tudo, ele não iria conseguir pregar os olhos mesmo.
Ele estava tremendo, isso só ficava mais óbvio ainda por conta de que o idoso estava bem ao seu lado, analisando Tanjiro. O velho não tinha nenhum tipo de olhar ou sorriso malicioso em seu rosto, pelo contrário, ele sorria divertidamente, e aquilo fez com que o nervosismo de Tanjiro se anulasse um pouco.
A verdade é que o velho estava extremamente surpreso em relação ao ruivo. A aura de Tanjiro emanava coisas boas, tão lindo de se ver. Mesmo que Tanjiro estivesse estranhamente nervoso e curioso, continuava com um olhar amigável e um sorriso gentil em seu rosto, aquilo era uma surpresa, mesmo que para um velho que já tenha visto muitas coisas em sua jornada de vida.
— Quando você entrar no elevador, aperte a sequência de botões 1,4,7 e 8, depois disso apenas fique parado e espere o elevador abrir e saía, quando chegar no seu destino peça por informação. — O idoso empurrou Tanjiro para dentro do elevador. — Não demore, logo o trem irá sair.
— Ei, me expliqu- O ruivo é totalmente interrompido, já que a porta do elevador fechou bem em sua cara. — Qual era a sequência mesmo?!
Tanjiro estava surtando, estava morrendo de medo de acabar apertando os botões errados. No final o Kamado conseguiu lembrar da sequência correta, não demorou muito e a porta do elevador se abriu novamente. Tanjiro estava surpreso e assutado ao mesmo tempo, aquilo não parecia ser real.
Tanjiro havia se metido em algo paranormal, porquê aquilo era impossível.
O idoso mandou o Kamado para uma rodoviária subterrânea, com várias pessoas e coisas estranhas. Tinha algumas pessoas com chapéus pontudos – aparentavam ser de bruxas – e usavam varinhas, aquilo era muito estranho. Principalmente o fato de que os objetos estavam flutuando, como aquilo era real? Tanjiro coçou os olhos e beliscou sua pele, pensando que talvez estivesse em um sonho.
Antes que a porta do elevador se fechasse novamente, Tanjiro acelerou o passo, acidentalmente se misturando no meio daquelas pessoas. Eram tantas, Tanjiro não conseguia nem respirar direito. Seu corpo era pequeno e perto das pessoas que estavam ali ele parecia uma simples formiga sendo massacrada por gigantes. Ele tentava de todo modo sair do meio daquelas pessoas, ele já estava se irritando, não tinha como aquilo piorar.
— Que droga... — Tanjiro falou baixo no momento em que anunciaram que o último trem já estava pra sair. O ruivo não sabia se aquele era o trem que ele tinha que pegar, mas se é o último então provavelmente é esse.
O tumulto de pessoas foi ficando cada vez mais vazio, deixando então finalmente uma passagem para o Kamado passar. Mesmo assim Tanjiro se massacrou no meio daquela gente, mas por causa disso ele conseguiu informação para chegar ao trem rapidamente. De acordo com uma garota aleatória, era só seguir reto que Tanjiro chegaria rapidamente ao último trem. E, novamente, ela disse que era para o ruivo acelerar o passo, o garoto tinha menos de dois minutos.
Tanjiro nunca correu tão rápido como naquela hora, seu coração batia rápido e ele não tinha sequer tempo para respirar. Tanjiro não sabia exatamente o que fazer quando chegar no trem, mas estava disposto a fazer o que o idoso disse, por mais arriscado que seja. Correu mais um pouco e finalmente conseguiu chegar na frente do trem, sem esperar os funcionários falarem nada, apenas andou e entrou no trem, colocando a mão em seu peito, tentando controlar sua respiração.
O trem não estava muito cheio, havia alguns lugares vazios, mas mesmo assim eram poucos. Tanjiro se apressou e se sentou em um dos assentos do trem, encostando sua cabeça na janela. O Kamado só saiu de seu transe no momento em que sentiu o trem em movimento, logo após uma presença desconhecida ao seu lado.
— Olá meu jovem, este assento está disponível? — Um homem com aparência exótica perguntou, sorridente.
— Está sim, pode sentar aqui se quiser. — Tanjiro respondeu encantado com o homem, que aparentava também estar curioso sobre quem seria o ruivo.
O homem continha seus cabelos loiros com uma coloração avermelhada nas pontas, aquilo era estranhamente bonito. Ele usava uma capa branca com as bordas em forma de chamas de fogo, incluindo uma grande katana. Ele sorria e analisava descaradamente Tanjiro, fascinado com a beleza do menor.
— Bem, meu nome é Kamado Tanjiro, e você é?... — Tanjiro tentou conversar com o homem, que apenas sorriu em reposta.
— É um prazer conhecer você, meu garoto! — O homem exótico respondeu, mantendo toda a sua atenção sobre Tanjiro. — Me chamo Kyōjurō Rengoku.
— É um prazer conhecer você também, Rengoku-san.
Rengoku era um homem simples e simpático, por mais que ele falasse um pouco alto demais, Tanjiro conseguiu se abrir rapidamente para o homem. O Kamado resolveu não dizer que não sabia para onde estava indo, por via das dúvidas isso seria o correto a se fazer. Ou não...
Por conta do trem ser um ambiente estranhamente calmo, o cansaço de Tanjiro foi se fazendo presente rapidamente, ele até havia esquecido que não dormiu e fugiu da escola para fazer exatamente isso. Não é que ele não queria ter entrado naquela biblioteca, é que tudo está acontecendo rápido demais, ele nem sequer consegue pensar sobre as escolhas que ele deve fazer. Não sabe como voltar para casa, também.
Seu corpo balançava querendo um lugar para seu apoiar, a única coisa que ele queria era dormir, descansar. Suas pálpebras estavam pesadas, Rengoku aparentava estar ciente do estado do ruivo, então segurou levemente a cintura de Kamado, trazendo o corpo do menor para mais perto de si. Tanjiro não argumentou nem nada, apenas descansou sua cabeça no ombro de Rengoku e dormiu, rapidamente.
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