História Onna no Chikara: Kunoichis em ação - Shippuden: Capítulo 10

Por um instante o silêncio dominou o grupo, deixando-os à mercê dos próprios pensamentos. Temas relacionados às bestas de caudas eram novos para Sakura, uma vez que nunca questionara Tsunade sobre isso. Haviam dois motivos para o seu aparente desinteresse. O primeiro, e mais óbvio, dava-se pelo fato do assunto não fazer parte do escopo do treinamento de um ninja médico. O segundo, e mais pessoal, tocava numa parte sensível do coração da garota. Sabia do quanto Naruto havia sofrido por ser um jinchuuriki, e, por conseguinte, sentia-se desconfortável quando pensava sobre o assunto. Para ela, o loiro era apenas seu amigo cabeça oca, e nada mais. Ao seu ver, era inimaginável uma criatura maligna viver dentro dele.

Porém, por mais doloroso que fosse, a rosada sentiu que o momento de encarar a verdade tinha chegado. Não só por Gaara, mas por Naruto e também Rin. Toda a sua vida estava conectada às bestas de caudas, e a ignorância, embora confortável, não era mais uma opção.

— Aconteceram várias guerras usando os Jinchuurikis, não é mesmo? — Perguntou diretamente a Chiyo, tentando absorver dela o máximo de conhecimento. — Então, como as bestas de caudas são extraídas? — Mordeu os lábios, sentindo o coração acelerar. Até mesmo sua voz falhou por um segundo.

Naruto, antes meio cabisbaixo, arregalou os olhos com o questionamento repentino.

— Duas coisas são necessárias — disse seriamente a senhora da areia. — Um jutsu de selamento forte o suficiente para contrabalancear o poder da besta e muito tempo — seu tom de voz assumiu um certo pesar nebuloso, como se estivesse prestes a dar uma notícia delicada. — Quando o processo chega ao fim… então os jinchuurikis... — nem mesmo ela teve coragem de completar a frase.

— Não vai me dizer que… — a garganta da rosada travou no momento que ia dizer a palavra. Não teria coragem de ouvir aquilo da própria boca, agarrou-se desesperadamente na possibilidade da sua mente estar agindo de forma paranoica.

— Isso mesmo… — arfou a anciã, com o olhar distante e fixado no chão.

Sakura fitou Chiyo assombrada, enquanto seu coração martelava violentamente e os joelhos tremiam.

Naruto arregalou os olhos, pois também não sabia da resposta. A adrenalina que corria em suas veias estava o asfixiando lentamente.

— Quando a besta de caudas dentro de um jinchuuriki é extraída, ele morre — completou Chiyo, num timbre tão soturno que pareceu estar dando uma sentença de morte.

O vento soprou intensamente ali, emitindo um uivo ominoso, como um mal presságio natural. As folhas queimadas pela batalha anterior pairaram no ar, intensificando a atmosfera funesta.

A expressão da Haruno mudou de assombro para tristeza. Seus olhos arregalados refletiram o quão chocada estava. Olhou ternamente para os fios dourados do amigo, sentindo um aperto no peito quando pensou que amanhã ele poderia não estar mais ali.

Um filme de todos os momentos felizes ao lado do loiro passou em sua mente. Lembrou-se do sorriso radiante dele quando prometera que traria Sasuke de volta à vila, lembrou-se também das diversas que ele a protegeu. Naruto sempre cuidava de todos ao seu redor, mas quem o protegeria quando ele precisasse? O silêncio na mente de Sakura foi ensurdecedor, e lágrimas passaram a escorrer compulsivamente em seu rosto quando imaginou a pressão pela qual ele passava.

Temari tocou no ombro da rosada, sem saber como reagir. Não tinha como consolá-la quando sua própria mente estava em completo pânico. Era a vida do seu irmão que estava em jogo.

— Você sempre chora tão fácil, né, Sakura? — Disse o Uzumaki num tom sério, cerrando os punhos. A Haruno virou para ele, surpresa. — Não se preocupe, eu prometo que vou salvar o Gaara — embora fosse sua vida que estava em risco, deu um sorriso simples, assim como fizera anos atrás antes de partir em busca de Sasuke.

— Você não entende… Naruto, eu estou preocupada com… — foi interrompida, antes que pudesse concluir a fala.

— A gente tem que se apressar — disse o loiro decididamente, dando as coisas. Em seguida, caminhou em direção à floresta, pronto para seguir em frente.

Como num flashback, Sakura observou-o se distanciar lentamente, igual no dia da missão de resgate de Sasuke. Aquela foi uma lição para si, daquelas que doem bem no fundo do coração. Assim como Temari, mesmo sob uma carga de estresse muito grande, ele permanecia inabalável.

A rosada então cerrou os punhos, e ali mesmo fez uma promessa a si mesma: custe o que custasse, protegeria Naruto. Não iria cair no mesmo do passado.

[...]

Quando o tom alaranjado no céu anunciou o pôr do sol, Kakashi subitamente parou de saltar entre os galhos e desceu até o chão.

— Parem aqui — ordenou seriamente, erguendo com discrição a cabeça para cima.

— Mas por que? O que foi, Kakashi-sensei? — Naruto cerrou os punhos de forma insatisfeita.

— Vamos fazer uma pequena pausa — concluiu o jounin de cabelos acinzentados, colocando as mãos no bolso. Sabia que não seria tão fácil assim convencer o loiro.

A ideia soou irreal para Naruto. Como poderia descansar enquanto Gaara estava correndo perigo? Pensou que definitivamente mais ninguém apoiaria aquela proposição tão sem pé nem cabeça.

— É uma decisão muito sábia — concordou Chiyo.

Naruto ficou sem chão, e então olhou angustiado para Sasuke, Sakura e Temari. Esperava que pelo menos um deles se opusesse, mas tudo que obteve em resposta foi silêncio. Estava com os nervos à flor da pele, sentia-se traído pelo próprio time. 

Movido por uma torrente de insatisfação, o Uzumaki correu até o sensei.

— Como assim?! Foi você mesmo que disse que não podíamos mais perder tempo!!! — Bradou, gesticulando irritadamente com as mãos. Por conta da diferença de altura, teve que erguer a cabeça para olhar diretamente nos olhos dele, mas isso de forma alguma conteve seu impulso de rebeldia — Se ficarmos aqui parados sem fazer nada, o Gaara vai… — antes que pudesse concluir a frase, foi interrompido.

— Cala a boca, Naruto — reclamou Sasuke num tom ácido de desaprovação. Era irritante vê-lo agindo como um adolescente teimoso.

— Nosso ritmo diminuiu desde que enfrentamos aquele Itachi falso — Kakashi já sabia que a melhor forma de lidar com o aluno era com muita calma e paciência. E isso tinha de sobra. Notou o olhar antes colérico dele se abrandar.

— O Kakashi-sensei tem toda razão, Naruto — ponderou Sakura, tentando de alguma forma contribuir para que o outro se acalmasse.

— Se a gente descansar agora, vamos chegar ao nosso destino mais rápido — prosseguiu o Jounnin, sem perder a compostura. — Não se esqueça que amanhã a gente vai ter que lutar contra os caras que sequestraram o Gaara — embora seu tom não fosse dos mais formais, definitivamente tinha o respeito do aluno, e podia sentir isso só pelo olhar dele. — Vamos precisar estar cem por cento.

— Tudo bem, eu entendo, sensei — anuiu como um cãozinho com o rabinho entre as pernas.

Depois disso, não houve mais diálogo, todos estavam cansados demais para isso.

[...]

O único lampejo de luz que brilhava no coração daquela floresta silenciosa era a fogueira montada por Kakashi. A temperatura mais baixa e o vento frio eram fatores que tornavam a atmosfera de certa forma macabra.

Apesar disso, Naruto e Sakura adormeceram sem dificuldades. Talvez fosse culpa do cansaço, ou talvez de todo o estresse acumulado.

Chiyo observou o loiro aninhado no próprio saco de dormir. Seu semblante pacifico e lábios imóveis a fizeram reviver memórias antigas, as quais eram um tanto quanto dolorosas. Lembrou-se da infância de Sasori. Certo dia, o vira dormindo pacificamente no meio da cama, entre o pai e a mãe. Assim como Naruto, naquele dia ele carregara a mesma expressão facial angelical.

Era cruel o quão rápido o tempo havia passado. Anos atrás, seu querido neto era uma criança descansando no calor proporcionado pelo amor dos pais, e agora era um criminoso mundialmente procurado. Isso doía, doía de uma forma que nem gostava de pensar.

[...]

Antes mesmo do sol raiar, Kakashi acordou a todos.

Após cruzar a estrada de areia contornada por árvores que se estendia por incontáveis quilômetros, o grupo chegou a um grande lago. Ao vislumbrar a paisagem digna de ser comparada com o campo dos elísios, todos ficaram boquiabertos com tamanha beleza natural. Ao oeste, era visto um grande paredão rochoso, onde no topo se encontrava uma grande floresta rica em árvores de médio porte. Na margem do lago, uma curta faixa de areia cor-de-palha mostrava-se como um agradável cartão de boas vindas. Logo adiante, a água esbanjava toda a sua formosidade cristalina, refletindo o primoroso céu azul.

Sakura deu um longo e demorado suspiro. O ar ali parecia mais leve, e, de certa forma, se mostrava como um apaziguador para o clima tenso do grupo..

Uma brisa revigorante lançou seus cabelos para trás e ela sorriu.

Na parte inferior do grande muro pedregoso, além de um arco Torii de cor vermelha,  existia também uma rocha que bloqueava a passagem do que parecia ser uma caverna. Logo à frente da barreira lítica, eram distinguíveis as silhuetas de Tenten, Gai, Rock Lee e... Neji. Ao avistar aquele par de ombros largos, o coração da garota passou a bater mais forte.

Não esperava encontrá-lo ali, e, por mais que o conhecesse a bastante tempo, ainda assim havia um sentimento fresco de novidade. Definitivamente, não podia evitar de saborear as descargas de adrenalina proporcionadas pelo seu coração palpitante. Era louco, mas sua mente agia como se estivesse encontrando-o pela primeira vez.

A rosada ficou parada por um segundo, e quando menos percebeu fora deixada para trás por Naruto e Kakashi.

— Me fala, Sakura. O que você tem? — Inquiriu Temari, cruzando os braços.

— Não é nada… — corou levemente. — Vamos! — Avançou rapidamente na direção dos outros, sempre concentrando chakra na planta dos pés para não afundar na superfície da água.

Quando chegou perto o suficiente, a Haruno olhou de relance para Neji. Ele também estava olhando na sua direção, e, essa troca de olhares fez seu coração esquentar. O Hyuuga estava mais belo do que nunca. Teve que lutar contra um desejo repentino de abraçá-lo. Queria contar tudo para ele, especialmente sobre o sucesso do tratamento de Kankuro. Daria o mundo só para ver novamente um sorriso orgulhoso nos lábios dele.

Neji, por outro lado, esperou ansiosamente por uma iniciativa vinda dela. Um simples cumprimento já seria suficiente.

Entretanto, a rosada sabia que deveria ser profissional, e por isso não fez nada.

— Sakura, Temari! — exclamou Tenten, com o rosto iluminado por alegria. — Quem é essa vovozinha com vocês? — Seu tom assumiu uma curiosidade notória.

As duas responderam com um sorriso igualmente caloroso.

— Essa é a senhora Chiyo. Ela é uma das conselheiras da aldeia da areia — indicou Sakura educadamente.

— Prazer em conhecê-los — Sorriu a senhora da areia, fazendo um gesto semelhante ao número dois com a mão.

— Sakura, está tudo bem? — Perguntou Sasuke calmamente. — Achei que você estava vindo logo atrás do Naruto.

O Hyuuga sentiu o sangue ferver, e seu olhar antes meigo tornou-se claramente indisposto. Os dois se fitaram  com uma insatisfação notória no rosto, como dois cães rosnando silenciosamente.

— Eu parei para tomar um ar — respondeu. — E então, o que descobriram até agora?

— Há uma espécie de barreira que não nos deixa quebrar a rocha que está bloqueando a passagem — explicou Tenten, sem entender muito bem o motivo do clima pesado entre o Uchiha e o Hyuuga.

— Vamos nessa Kakashi! — comentou Gai animadamente.

— Neji, use seu Byakugan para ver o que está acontecendo dentro da caverna — solicitou Kakashi sem demora. — Precisamos saber a real situação que vamos encontrar.

— Entendido — concordou, já ativando seu doujutsu.

Sakura observou discretamente as veias que saltaram das têmporas do ninja de olhos perolados. Elas tinham um contorno bonito e unicamente misterioso, que, somadas à expressão focada dele, deixou-o ainda mais atraente. Indubitavelmente, homens inteligentes chamavam a sua atenção.

Viu as orbes de Neji irem de um lado para o outro, escondendo segredos que só ele mesmo conseguia ver. A rosada estava hipnotizada, tanto pela apreensão pelo o que estava além daquela pedra, quanto pela beleza do garoto.

— O interior é bem maior e espaçoso. — disse o Hyuuga, completamente concentrado. — Eu vejo uma grande estátua. Ela tem vários olhos que parecem se mexer, mas agora estão se fechando… Eu não entendo… — comentou, tentando descrever da forma mais clara possível, mas os olhos desumanos daquela figura de pedra pareciam perturbá-lo, eram atordoantes. — Existem oito pessoas posicionadas acima acima dos dedos da escultura, mas seis delas não tem sistema de chakra. É como se fossem ilusões, apenas nuvens de energia.

— Neji, e o Gaara?! — Arfou Naruto num tom alto, visivelmente angustiado e tomado por uma onda de ansiedade

— Ele está lá dentro, mas…. — engoliu seco, tentando captar o máximo daquela imagem.