História Opostas - Destino

A cada dia que se passava, Leona sabia que precisava encontrar Diana logo. 

Era visível a mudança em seu modo de ser após ter recebido os poderes divinos do sol. Após descer o Monte Targon, fora recebida com honra e glória pelos cidadões Solari. Os homens mais influentes da cidade se reuniram e logo debateram entre si sobre o que seria feito em relação aos anciões assassinados por Diana, essa que ainda estava desaparecida desde então. A culpa em seu coração pesava cada vez que escutava o nome da Lunari. Sabia que havia julgado-a mal. Quando o novo líder Solari fora designado, a primeira ordem dada por ele foi a que capturassem a herege que havia causado tanta desgraça em apenas um dia. Leona logo ofereceu-se para tal tarefa, vendo que ali seria uma boa oportunidade para que resolvesse seus assuntos com ela. 

Ela se retirou da sala de reuniões e já estava prestes a ir até a sua casa, pegar seus pertences e partir. Se não fosse pela mão enorme que segurou o seu pulso, impedindo-a de seguir em frente. Leona virou-se, com uma cara confusa. Era Pantheon, um grande amigo de infância. A ruiva sabia que ele tinha sentimentos amorosos por ela. Já recebeu diversos convites para encontros mas sempre desconversava. Apesar de adorar provocar e rir com a reação dos soldados ao verem uma bela mulher lutando melhor do que a maioria, romance não era a sua praia. Se entretinha mais treinando e lutando. 

— Quer dizer que você vai embora? Sozinha? - perguntou Pantheon. 

— Não é como se eu nunca mais fosse voltar pra cá. - ela deu um sorriso pra quebrar aquele clima esquisito. - Preocupado? 

— Você mesma viu o que aquela herege pode fazer. É perigoso. 

Uma sensação esquisita tomou conta do coração de Leona. Não gostava de ouvir que Diana era uma herege. Eles não sabiam o que diziam. 

— Ah, então eu sou fraca? - ela cruzou os braços e levantou uma sobrancelha.

— Não foi isso que eu quis dizer... - Pantheon suspirou. - Você não deveria ir sozinha. Eu vou com você. 

— Eu sou grandinha o bastante pra cuidar de mim mesma, Panty. - ela deu uma risadinha e bateu a ponta do dedo indicador no capacete de seu amigo. Conseguiu escutar a respiração acelerada do homem constrangido por trás daquele elmo. - Nos veremos em breve. 

A ruiva se despediu dele e de seus conhecidos, partindo após algumas horas em busca de Diana. 

Pra grande alegria da Solari, estava na estação mais quente. O sol a aquecia e dava energia enquanto descia Targon cada vez mais. Fazia pausas rápidas para descansar e seguia adiante novamente. Sabia que havia chegado a hora de parar por completo quando o céu se escureceu e a lua subiu no lugar do sol. Deixou o seu escudo pesado sob o gramado e sentou-se, observando o lugar em que estava. Haviam algumas árvores e arbustos próximas ao monte. Na sua frente estava um lago. Olhou pra cima e arregalou os olhos com a visão que estava tendo. O céu estava cheio de estrelas junto da enorme lua. Preferia a manhã com as nuvens em tom azul claro, o sol quente e radiante. Porém estaria mentindo se dissesse que a noite não era bela.  

Foi tirada de seus pensamentos quando ouviu o som de algo se movendo pelos arbustos próximos de si. Segurou a sua espada firmemente e torceu pra que fosse algum animal que pudesse se tornar o seu jantar. Apenas deparou-se com a conhecida armadura prateada, os longos cabelos do mais puro branco. Sentiu um leve nervosismo ao ver a pessoa na qual ela procurou por todo esse tempo. Não fazia ideia do que fazer, então só tentou parecer o mais amigável possível. 

— Então você estava aqui, digo, oi... - Leona forçou um sorriso amigável. 

Diana franziu o cenho ao ver a conhecida ali. Sabia muito bem quem era ela. A majestosa e gloriosa Leona. Não esperava por encontrar alguém naquele lugar mas já sabia muito bem o que ela queria estando ali. 

— O que VOCÊ faz aqui? - Diana perguntou em tom seco, levantando a sua espada crescente e andando na direção da ruiva. 

— Espera! - Leona levantou suas mãos - Eu só vim pra conversar! 

— Suas mentiras não vão funcionar comigo, Solari. 

A runa na testa de Diana passou a brilhar e uma luz cobriu o seu corpo, ela pegou impulso e saltou pra cima dela numa velocidade impressionante. Leona fez a primeira coisa que veio à sua mente, pegando o seu enorme escudo e protegendo o seu corpo do ataque de Diana. O som do aço se chocando deixou a ruiva nervosa e ela olhou pro rosto pálido da Lunari. 

— Eu não quero lutar com você! - gritou Leona, mostrando que estava falando sério. 

— Por que eu deveria acreditar?! - perguntou no mesmo tom de voz da Solari, batendo sua espada contra o escudo com mais força ainda. 

— Apenas acredite, droga! 

— Chega de mentiras! Eu vivi com elas pela minha vida inteira! 

Diana gritou e colocou mais força em seus braços, fazendo diversas esferas reluzentes rodearem o seu corpo e irem na direção de Leona. Uma delas pegou em seu braço e ela deu um leve grito de dor. Era uma sensação de queimadura. A ruiva bateu o escudo contra o rosto da albina, que a empurrou pra trás. Viu uma oportunidade e pegou a sua espada que também estava no gramado. 

— Você está me irritando desse jeito! - gritou Leona, levantando a sua espada. 

A arma da Solari se iluminou em tom alaranjado, junto de seu corpo. Estava rápida. Ela sentiu todo o poder que havia adquirido e partiu pra cima de Diana. Se ela não escutaria o que tinha para dizer por bem, faria escutar por mal. A albina arregalou os olhos com a aproximação repentina e fincou sua espada crescente no gramado, fazendo uma runa que reduziu os movimentos da ruiva. Uma grande explosão de luz foi causada com os dois ataques ao mesmo tempo. Quando a fumaça se dissipou, Diana estava de pé com um sorriso satisfeito no rosto.  

—  Nada mal. Parece que agora vai mostrar para o que veio. - a albina falou em tom arrogante e fez diversas esferas de luz rodearem o seu corpo novamente. 

— Você é louca?! Eu não quero lutar! - levou a mão até a testa, xingando a Lunari mentalmente por não ter entedido ainda. 

— Eu não acredito em você. É uma Solari. - retrucou, indignada. 

— E qual é a droga do seu problema?! Você conviveu com os Solari! - gritou. 

— Nunca teria feito parte se tivesse escolha.

— Você é uma ingrata! Eles te acolheram, deram um lar e abrigo. Continuaram sendo gentis mesmo com você causando problemas o tempo todo! 

— E isso é da sua conta?! Parece que andou me observando demais enquanto estive por lá, não é mesmo? - reclamou, revoltada com o nível da conversa que estavam levando. 

— Era impossível não saber sobre as coisas que fazia! Os anciões viviam reclamando das vezes que questionava tudo que diziam. Blá, blá, blá Diana fez tal coisa. Blá, blá, blá Diana, Diana e Diana. - começou a resmungar, imitando uma voz irritante. 

— Uau. Parece que alguém perdeu um pouco do seu destaque. Isso é inveja? - provocou Diana. 

— É claro que não, sua maluca! - gritou - Eu vim de muito longe pra conversar com você civilizadamente mas parece que já está familiarizada com a selvageria desse lugar, não é possível! 

— Pfff... e o que você queria? Que eu te recebesse com flores e um sorriso amigável falando sobre o quão incrível você é? - respondeu Diana. 

— Parece que a invejosa aqui é você... - provocou a ruiva, rindo. 

— Vai a merda! 

As duas continuariam discutindo a noite toda se fosse preciso. Estavam ocupadas demais jogando palavras ácidas ao invés de lutarem ou conversarem civilizadamente. Já haviam jogado suas armas no chão pra gesticularem e mostrarem o quão indignadas estavam com tudo aquilo. Se viram obrigadas a parar de falar ao escutarem um som vindo de um arbusto. De lá saiu um ser extremamente pequeno e que brilhava conforme andava. De cabelos pretos e pele arroxeada com diversas runas pelo corpo. Leona logo chegou a conclusão de que se tratava de um espírito da floresta. Ele andava com certa pressa e batia seu pé com força no chão. 

— O que é isso...? - sussurrou Diana pra si mesma, curiosa. 

— Olá, pequeno espírito. - Leona sorriu amigavelmente. 

O espírito começou a falar um idioma que as duas não reconheciam e com muita rapidez. Sua voz era extremamente fina e Leona não deixou de dar uma risada, fazendo-o falar mais rápido ainda. 

— Você irritou ele! - reclamou Diana. 

— Eu não entendo o que ele diz! Para de reclamar! - respondeu - Desculpa por ter rido da sua voz... tem alguma maneira de nos redimirmos? 

—  Não me meta nisso... - falou a albina. 

O ser pequeno bateu o pé, irritado. Um brilho de dourada saiu de suas mãos e ele apontou na direção do pulso de Diana e Leona, fazendo um enorme feixe de luz cegarem as duas por alguns segundos e forçando-as a fecharem seus olhos. 

— M-Merda, o que foi isso?! - Diana abriu seus olhos, confusa. Ela olhou para o seu pulso e ficou incrédula. Nele havia uma algema de cor dourada que ligava com o pulso de Leona. 

— É por culpa de pessoas como vocês que a paz não reina aqui! Aprendam a conviver juntas!   - o espírito finalmente falou o idioma delas, deixando-as mais confusas ainda. 

Leona olhou para o seu pulso e só sussurrou um ''Não'', fazendo uma careta ao olhar para Diana. Já tinha ouvido falar sobre espíritos que jogavam maldições em quem os desrespeitavam quando era menor mas pensava que era apenas um conto para crianças dormirem. Bem, ela se enganou. O espírito desapareceu logo em seguida, adentrando os arbustos. 

— Olha o que você fez! - reclamou Diana, confusa com tudo aquilo que estava acontecendo. Ela tentou correr atrás do espírito e deixar Leona para trás, o que a albina logo concluiu que foi uma péssima ideia. Correntes invisíveis a seguraram e fizeram-na ir de encontro ao chão. - Isso só pode ser uma brincadeira! - gritou. 

— Não é uma brincadeira... isso é sério. - disse Leona calmamente, tentando entender a situação. Seja lá o que aquele espírito disse, estava presa. Com Diana. Aquele feitiço ou maldição impedia que saissem de perto uma da outra. Não era bem o que planejava mas seria o suficiente no momento pra conhecer a Lunari melhor. 

Talvez aquilo fosse o que o destino queria para que se entendessem logo de uma vez.