Seohyun não tinha aceitado o que Jimin havia feito a ela. Não apenas a humilhação de ter algo tão íntimo para si sendo revelado daquela forma quanto a investida dele para retomar sua herança e, consequentemente, tirá-la de Hanbin.
Yoongi não a deixava se aproximar por muito tempo do garoto, mas aquilo não importava naquele momento. Hanbin era muito novo para ouvir e seguir os conselhos dela, deveria esperar um pouco mais para só então conseguir entrar na vida do menino.
Ela precisava, também, abrir os olhos de Chaeyoung, pois a garota também tinha muito o que perder com aquilo. Não apenas Hanbin deixaria de ser herdeiro, mas ela também. Sem estar casada com Yoongi, não teria quase nada, para os padrões que mantinham.
Sendo assim, ligou para ela e a instruiu a ir até a empresa, para tentar dissuadir o ômega a completar aquela vingança, afinal, ela e ele eram primos, tinham o mesmo sangue e, no último caso, ela deveria usar Hanbin como artifício.
Chaeyoung já estava ciente do retorno de Jimin, bem como de suas intenções. Seu pai não parava de falar sobre aquilo e de xingá-lo em casa. Mas o que a deixava mais irritada era que sabia que Yoongi estava mexido.
Durante os dois anos que Jimin tinha ido embora, o alfa estava frio, duro e só o viam sorrindo quando estava com o irmão mais novo ou com o filho. Jimin havia chegado há pouco tempo e Yoongi já tinha ganhado um brilho que há muito havia sumido.
Eles não estavam próximos, segundo Seohyun, mas ela duvidava muito que a agitação e a mudança de atitude do alfa não tivesse a ver com ele.
Por isso, aproveitou que Hanbin estaria sob a responsabilidade do pai e foi até a sede da empresa e exigiu um horário com Jimin. Ela não estava em condições de fazer algo como aquilo, mas, surpreendentemente, Jimin quis deixá-la subir.
Seus saltos soavam no piso marmorizado e assim que foi liberada pela assistente do Park, ela entrou.
Manteve a cabeça erguida, mas seus lábios abriram sutilmente.
Já tinha visto Jimin no dia da festa, porém, daquela distância, ela quase podia vê-lo irradiando poder.
— Chaeyoung — disse Jimin, num tom cantarolado, um sorriso brincava em seu rosto e ele sentava confortavelmente em sua cadeira de couro sintético. — Não esperava uma visita sua, não tão cedo.
Ela se aproximou, deixando a bolsa sobre a mesa dele, o que o fez erguer uma sobrancelha.
— Acha que pode agir como se tivesse a mesma criação do que nós? Vindo aqui e sentando nessa cadeira, tirando o lugar do meu pai!
— Vamos mesmo falar sobre pais, Chaeyoung? — ele retrucou, calmamente, bem diferente dela. — O processo está correndo em sigilo. E, depois de tanto tempo, do jeito que ele está velho, no máximo ficará em casa, sem poder sair.
— E você acha que ninguém vai questionar o fato de um dos maiores magnatas da Coreia ter simplesmente sumido dos eventos sociais enquanto você toma a frente de tudo?
Jimin deu de ombros.
— Me desculpe, mas esse não é um problema meu.
— Você quer tirar tudo de nós! Não vê o que está fazendo? Hanbin tem apenas dois anos de idade! Ele vai sofrer desde a infância com tudo isso e você não se importa!
O ômega teve que levar uma das mãos ligeiramente ao ouvido porque Chaeyoung gritava.
— Youngchul não pensou em nada disso quando decidiu matar meus pais. — Jimin olhou para ela, vendo-a respirar de forma ofegante. — Por que está tão preocupada? Você não tinha um casamento milionário? Yoongi não casaria com você assim que soubesse da criança e vocês não construiriam um império muito maior para ele? Por que está com medo agora, Chaeyoung?
Ela não respondeu.
Hanbin era a sua segurança. Desde o início, ter o bebê com Yoongi a garantiria um casamento, mas aqueles planos deram muito errado. Yoongi não se casou com ela e, agora, nem mesmo o filho seria um herdeiro. Não tinha outra profissão, nem era especialista em nada. Estava perdida assim que Jimin seduzisse Yoongi, e ela tinha certeza que era o que ele queria fazer.
— Você conseguiu fazer uma carreira bem longe daqui — ela disse. — Por que voltou para nos assombrar? Por que não continuou de onde estava e nos deixou continuar também?
Jimin soprou uma risada.
— Está falando como se eu estivesse roubando algo de vocês. Eu só vim pelo que é meu, pelo que eu deveria ter herdado se o seu pai não tivesse matado o meu!
— Ele não fez isso! — ela gritou.
— Mandou fazer, sua tonta. Então dá no mesmo. Pode ir embora, essa conversa não vai levar a nada.
Jimin se perguntava se ela não se achava culpada pelo que fez com Yoongi também. Do jeito que se eximia de culpa, era muito capaz que achasse que estava certa em sua atitude, que havia feito aquilo por amor.
— Esse assunto não está terminado. Você não vai conseguir nada com isso — falou, mas Jimin apenas voltou a escrever sobre os dados que havia recebido antes. — E muito menos o amor de Yoongi — jogou, vendo a caneta parar por um instante. — Ele jamais vai perdoar você se causar qualquer dano ou quiser prejudicar Hanbin.
— Que bom que eu não me importo — retrucou, então a mulher deixou sua sala depois de alguns instantes.
Ele largou a caneta que usava e agarrou seus cabelos com as duas mãos. Ainda ficaria louco ao final de tudo aquilo. Não faria nada que prejudicasse Hanbin, mas não tinha nada a ver com querer o amor de Yoongi. Já tinha desistido daquilo anos antes.
Jimin deixou a empresa ao final do expediente. Ainda tinha muito o que aprender, mas ele estava se dedicando e até gostava daquele trabalho. Era mais calmo do que estar sempre sob os holofotes.
Ainda tinha muito cuidado para não ser visto repentinamente na rua, mas de certa forma, até se sentia mais normal. A vida de modelo era muito glamourosa, a de empresário era um pouco menos.
Tinha anunciado às marcas que promovia e aos agentes em geral que faria uma pausa, então podia ficar cerca de um ano e meio ali, até que o processo fechasse.
Ele via Yoongi e tinha reuniões com o alfa, mas as coisas entre eles ainda não estavam muito bem e Jimin preferia que continuasse assim. Não se odiavam, não se tratavam mal, mas também não eram amigos ou próximos. Falavam de trabalho, discutiam sobre negócios, e era bom, Jimin percebeu, estar no mesmo patamar que ele.
Antes, Yoongi nem tinha como falar consigo sobre o que fazia no trabalho. Ele não entendia e não lhe cabia. Os anos fora foram bons para a sua cultura também. Jimin ficou mais esperto, mais estudioso e consequentemente mais inteligente.
Era dono de muita desenvoltura também, então lidava com aqueles outros empresários exatamente como um deles. Falava sobre os melhores vinhos, carros, marcas, golfe e investimentos. Ele tinha aprendido muito naquele tempo.
Ele percebia os olhares interessados, agora que não era apenas um pé rapado, dos outros alfas em relação a ele, mas não deixava de notar os olhos pequenos de Yoongi muito atentos a ele por vez ou outra.
Naquela noite, aproveitou que o tempo estava fresco e vestiu-se para correr um pouco. Precisava aliviar a cabeça e cuidar do seu corpo; tinha que estar pronto para qualquer trabalho que fosse chamado.
Jimin também queria ficar cansado ao ponto de esquecer a voz de Yoongi, o rosto dele, a forma como o via brincando com Hanbin. Até mesmo na empresa ele o tinha visto com o menino e precisava admitir que não conseguia fingir indiferença quando via o alfa com o pequeno.
Yoongi se transformava em algo que Jimin não esperava ver. Um homem dedicado, cuidadoso e que não pensava duas vezes em escolher e decidir pelo bem-estar de seu filhote.
Ele parou a corrida, fechando os olhos e sacudindo a cabeça. Estava ali para esquecê-lo e aconteceu exatamente o contrário. Jimin pensava nele e perdia o foco, perdia a confiança, repensava tudo o que tinha planejado fazer até ali e se perguntava se deveria desistir de tudo.
Sentiu os primeiros pingos de chuva caírem sobre ele e, fatidicamente, estava em um espaço muito aberto, sem cobertura, e nem onde pudesse parar. Correu mais um pouco, mas a chuva ficou mais forte, com gotas grossas e em instantes ele já estava molhado.
— Ei! Aqui! — Ouviu alguém indicar por baixo do som alto que aquela pequena tempestade causava e, cobrindo a cabeça com um dos braços, para que conseguisse enxergar, Jimin foi até onde alguém já se abrigava.
Era um pequeno quiosque, que já estava fechado devido ao horário, e quando ergueu o rosto para agradecer ao estranho, percebeu que não era alguém tão estranho assim.
— Yoongi — falou, ao notar o alfa parado à sua frente. Ele não estava prestando atenção e o aguaceiro acabava dissipando o cheiro, mas ao estar ao lado dele, era impossível não sentir. — O que está fazendo aqui nesse horário?
— O mesmo que você. É um parque, é bom para correr — respondeu, vendo o ômega assentir, balançando a cabeça.
Jimin virou para a frente, sem olhar para ele, encostou-se no quiosque e suspirou. Por que tinha que chover logo agora e por que Yoongi tinha que estar ali?
Ele se afastou minimamente quando o alfa ergueu a mão e aproximou um pano de seu rosto.
— Só estou secando. Você vai pegar um resfriado — Yoongi explicou.
Jimin não se moveu, apenas permaneceu olhando para ele. Reparou que Yoongi tinha se molhado bem menos do que ele, talvez já estivesse mais perto do quiosque quando a chuva começou a cair.
O alfa apertava suavemente o tecido contra seu rosto, depois contra seu cabelo. Ele podia sentir o calor do corpo de Yoongi e via a pele clara pela abertura do agasalho dele.
A respiração quente contra seu rosto, os lábios pequenos bem à altura dos seus. Yoongi parecia um pouco cansado, mas estava tão bonito quanto se lembrava dele.
Jimin segurou o braço do alfa, afastando-o ligeiramente.
— Eu estou bem, pode parar de fazer isso.
Yoongi o viu engolir em seco e desviar o olhar, mas suas bochechas estavam mais coradas do que antes.
— Está com medo de que eu faça algo com você? Que eu possa te machucar?
Jimin olhou para ele, duvidava que Yoongi pudesse machucá-lo, mas não era bom estar tão perto. Ele não tinha que mentir para si mesmo, ainda era apaixonado pelo alfa.
— É claro que eu não tenho medo de você — falou.
— O que é, então? — perguntou Yoongi, ao seu lado.
— Só não fique tão perto — Jimin disse, encolhendo-se um pouco.
Yoongi o observou, tentando entender aquilo tudo. Jimin estava corado e respirando de forma descompassada. Não olhava para ele, mas não movia um pé dali.
O alfa deu meio passo, ficando mais perto dele.
— Eu disse para ficar longe de mim, Yoongi — Jimin insistiu, mas Yoongi não se movia também.
— Se não está com medo de que eu te machuque, me diga, está com medo do quê?
Jimin soprou uma risada.
— De nada, por que eu teria que ter medo de alguma coisa?
O alfa ficou em silêncio e isso pareceu incomodar Jimin, pois ele olhava para ele e respirava mais rápido.
— Isso se parece com o dia em que nos falamos pela primeira vez — disse, lembrando-se da carona que deu a Jimin para que este não se molhasse.
— Eu não deveria ter entrado no seu carro — Jimin murmurou, mais para si mesmo do que para Yoongi, um bocado ressentido.
Yoongi olhou para ele e o viu mirar seus próprios pés, com uma expressão amargurada enfeitando sua face bonita.
— É disso que está com medo? De sentir tudo de novo?
Jimin não o respondeu, olhou para a frente, desejando que a chuva passasse logo, ele só queria sair dali.
O cheiro de Yoongi o alcançava e ele queria sentir mais. Não lembrava que sentia tanta falta. Fechou os olhos, lembrando-se de quando ficava sozinho com ele, tardes de risadas e amor, com bobagens sendo ditas ao pé do ouvido enquanto ele descansava a cabeça sobre o peito do Min e se perguntava como tinha acabado por merecer tudo aquilo.
— Jimin — Yoongi falou, melancólico, e só assim ele percebeu que estava chorando, em silêncio, apenas lágrimas desciam por sua face.
Num instante, ele sentiu seu toque outra vez, em sua cintura, gentil como sempre, caloroso e paciente. Depois em seu rosto, quando o polegar de Yoongi capturou uma de suas lágrimas e a empurrou para o lado.
Seus dedos instintivamente agarraram o tecido do agasalho do alfa, segurando-se nele enquanto seus corpos se alcançavam, colando um no outro.
Yoongi esperou algum sinal, com seus olhos pequenos bem abertos e suas sobrancelhas bonitas franzidas, esperando a permissão dele.
— Yoon — choramingou, agradecendo por não ter desabado em lágrimas em seguida, pois Yoongi o abraçou apertado e beijou sua boca com muita saudade.
Seus lábios buscavam os de Jimin com pressa, sua mão segurava seu rosto ali, para que não escapasse e, daquela vez, Jimin o retribuía na mesma intensidade. Puxava-o para ele, movia seus lábios com os dele.
Yoongi encostou contra a parede do quiosque e continuou aquele contato, deixando que tudo o que precisava vir à tona viesse.
Jimin ainda chorava, mas precisava tanto dele, de seus braços ao redor de si, exatamente como estava fazendo. Protegendo-o, mantendo-o perto. Era com aquilo que Jimin sempre sonhara.
Demorou até que parassem de se beijar, com Yoongi ainda o segurando e beijando o rosto dele, a testa, as bochechas, as lágrimas.
Jimin não precisava dizer que sentia saudades, ele continuava agarrado ao Min como um koala, sentindo o cheiro dele, sendo acalentado pelo calor que vinha dele.
Yoongi sorriu, segurando-o contra seu corpo. Parecia seu Jimin outra vez.
[🧡]
Yoongi voltou para a mansão e viu o carro de Chaeyoung no local. Ela deveria ter ido ver Hanbin e o alfa esperava que não demorasse.
Ele tinha ficado mais algum tempo com Jimin, ainda sem falar nada, apenas abraçado a ele enquanto Jimin pensava. Era esperado que o ômega pedisse para que ele esquecesse aquilo, mas Yoongi disse a ele que não ia fazer isso.
Apesar dos planos de vingança de Jimin, ele não pretendia deixar que se afastassem outra vez. Os planos não o envolviam, então, Yoongi aguardaria o parecer da lei com relação à herança dos Park.
Jimin foi embora, dizendo que teriam que falar sobre aquilo depois e Yoongi concordou com ele. Já era ótimo saber ao menos que ele ainda sentia, assim como ele mesmo.
Poderia levar algum tempo até que tudo se acertasse, mas ele estava disposto a descobrir o que futuro o reservava para eles.
Chaeyoung estava quase deixando a casa quando ele entrou, apenas o aguardava
— Você precisa me avisar quando quiser falar algo comigo, não deve aparecer assim, sem mais nem menos.
Ela o avaliou, percebendo sua calma e leveza, apesar do atual problema com a empresa.
— Eu preciso saber que decisão vai tomar com relação ao Park estar no nosso negócio — exigiu. — Você afastou meu pai do cargo, o que vai fazer depois? Entregar a empresa nas mãos dele?
— Eu sou o presidente eleito, Jimin pode ser, se depois de resolverem a questão da herança dele, quiser competir comigo.
— E você diz isso assim? E como fica o nosso filho?
Yoongi ergueu os olhos para ela, cansado. Odiava ter que falar dos negócios com Chaeyoung porque era o mesmo que nada.
— O meu filho vai herdar o que é dele por direito, tudo o que hoje é meu. Hanbin não vai precisar da herança do avô para viver bem, mas eu entendo o seu medo.
— E o que vai fazer quanto a isso? Vai apoiá-lo? Você sabe que ele vai tentar nos destruir!
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Isso não tem a ver comigo, Chaeyoung. Mesmo com Jimin como presidente, eu ainda serei um sócio. O problema com a família Park, vocês terão que resolver com ele, afinal, foi o seu pai quem mandou matar o dele.
Yoongi disse que não queria mais conversar e subiu as escadas em direção ao seu quarto.
Chaeyoung saiu da mansão ainda transtornada. Ela não esperava que Yoongi fizesse algo por eles, nem que a pedisse em casamento agora, mas ao menos Hanbin deveria ter o direito de continuar com a herança dele.
A chuva ainda continuava a cair, mas ela digitou no telefone uma busca para saber onde Jimin estava morando ou se hospedando e aquele foi mais um erro em sua caminhada.
Chaeyoung verificava o celular, buscando por informações do primo e não percebeu quando passou por um sinal vermelho em um acesso e só ouviu a buzina do caminhão que vinha em direção a ela tarde demais.
O carro se chocou contra o veículo maior e ela foi arremessada contra o para-brisa, sobre o capô do seu próprio.
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