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História Os Cavaleiros da Energia Divina - As Mensagens Enigmáticas de Nara


Escrita por: WingsLove

Notas do Autor


Oi gente :) como estão?
Bem, este era para ser o úĺtimo capítulo mas não deu, eu precisava de detalhar algumas coisas. Espero que não seja monótono para vocês, foi feito com muito carinho, e cada pormenor da Mai é importante.
O próximo capítulo já está quase todo escrito, não deverá demorar muito a sair também :)
Beijãããão

Capítulo 51 - As Mensagens Enigmáticas de Nara


bolha desapareceu no horizonte. Definitivamente Nara havia ido embora.
     As lágrimas de Milo tornavam-se insuportáveis mesmo na alegria de uma guerra terminada sem vítimas mortais. 
        Camus tentou aproximar-se do amigo, mas este apenas fugiu para a Casa de Escorpião.
Os próximos tempos seriam difíceis, nada mais voltaria a ser como antes.
         Enquanto todo o ambiente era de alegria, Aika sobressalta-se e cai de joelhos no chão, fitando o horizonte e, de seguida, o chão onde o sangue já havia desaparecido. Nara lhe havia enviado uma mensagem telepática assustadora e urgente. Uma mensagem com três grandes segredos que apenas a ela tinham sido mostrados. A dor de Milky Way era catastrófica, Aika não tinha força sequer para chorar, o choque era demais. Agora sabia a razão pela qual a amiga não se havia revelado a Érebos antes daquele momento. E a sua dor era tão forte que a jovem não conseguiu ficar indiferente.
        Levantou-se cabisbaixa, as suas asas não se ergueram com habitualmente. No meio de tanta felicidade pela vitória, poucos se aperceberam do estado de espírito da filha de Dohko. Estava a dirigir-se para a Casa do Grande Mestre, onde estava Shion, incrivelmente doente.
        - Aika. - chamaram Mu e Saga ao mesmo tempo, sem contarem, entreolhando-se no fim. 
           A jovem parou mas não retirou os olhos do chão. 
         - Shion está no décimo terceiro templo sozinho, pronto a morrer com um ataque que Nara lhe lançou assustada há algum tempo, não posso deixar isso acontecer. Não posso deixar que o meu mestre morra assim. 
         Aquelas palavras doeram no coração de Saga. Aika deveria estar mesmo magoada com ele, mas porquê? Que coisa tão errada ele havia feito? Amá-la? Porém, nem isso bastou para trazer sua armadura de volta. Gémeos continuava perdida, mesmo após Érebos ter posto fim à guerra.
         Mu seguiu Aika, afinal Shion era seu mestre também. Dohko seguiu-lhe o exemplo e Nerissa ia fazer o mesmo, mas foi interrompida por Altair:
             - Aika não está bem, pois não?  
             - Creio que algo de muito mau a está a incomodar.
             - Nerissa, você acha que... 
            A mãe de Aika olhou o companheiro de batalha nos olhos, desviando-os de seguida e continuando  a caminhar em direção à filha.
        Altair já havia percebido que algo não estava a bater certo em todo aquele fim da guerra. Algo de estranho se estava a passar. Olhou para Marie e sentiu um corrente de ar fresco bater ao de leve na sua face.
             - Marie... 
             O jovem pegou nas mãos da guerreira. 
             - Será que... podemos falar agora? 
             Marie suspirou e largou as mãos de Altair. 
          - Altair, o momento não é o melhor. Acho que o que importa mais agora é verificar como estão as pessoas, o que elas sentem depois de tudo isto, o estado dos guerreiros dos deuses e... como será o nosso futuro e o de todos aqueles que regressaram ao passado pelo poder de Chronos.
          Era verdade, a lenda falava da maldição dos divinos. Teriam de morrer para que as suas armaduras pudessem viver para as próximas gerações.
              - Essa é mais uma razão para falarmos!
              - Altair, não me pressione. Você não percebe?? O futuro foi alterado! Tudo o que você está vendo, estas pessoas que regressaram do futuro... alteraram o presente e tudo o que será vivido no futuro! Tenho até receio que cheguem à sua realidade e tudo o que se lembram seja esquecido e tomem a forma real de agora.
              - Como!?
          - Altair, perceba! Dohko já não vai mais abandonar seu filho, Raijin não vai crescer revoltado com o pai, Mu e Aika educariam Lorene de forma diferente ao saberem que a sua filha era a reencarnação de Atena! Tanta coisa mudaria!
           Saga ouviu aquilo. Ainda não sabia que Lorene era filha de Aika. Muito menos dela com Mu. Aquilo foi incrivelmente doloroso para ele, sua expressão não se alterou, mas seu coração estava completamente despedaçado. Porque é que tinha de sentir aquilo? Que sentimento era aquele? Aika era sua aprendiz, era dez anos mais nova que ele, era suposto ele protegê-la, não se apaixonar por ela. Como poderia ter isso acontecido?
           Saga estava perdido nos seus pensamentos quando Lorene se aproxima dele e lhe toca no ombro carinhosamente. O cavaleiro sustém a respiração por instantes e volta a fazê-lo normalmente.
              - É verdade? - perguntou.
              - O quê, Saga? - perguntou docemente a deusa.
              - É verdade que você é filha de Aika e de Mu?
         Lorene sorriu docemente e se sentou ao lado de Saga, nas rochas escorregadias daquela colina.
              - Sim, é verdade. E Mu foi um excelente pai...
           Saga mordeu o lábio e apertou o punho, sem deixar soltar qualquer som. Ter aquela confirmação era ainda mais doloroso.
             - Você está apaixonado por minha mãe, não é verdade?
            O cavaleiro de Gémeos ficou nervoso e sem fala. Era assim tão visível?
             - Não me irei intrometer num futuro que parece estar escrito há muito tempo...
           - Saga... ouviu Marie? O futuro foi alterado. Mu casou com Aika depois que Atena do seu tempo os obrigou a viverem na mesma casa, devido a você, Saga de Gémeos, ter morrido em batalha, e ninguém conseguir defender Aika perante a grande guerra. Isso tudo foi alterado...
            - Não me vou intrometer no amor deles. Se Mu tratar bem Aika não há motivo para tal. Aika estaria feliz. 
            Lorene sorriu ao cavaleiro.
            - E você, Saga? Estaria feliz? 
            O cavaleiro desviou o olhar. 
            - Apenas quero que minha aprendiz esteja feliz.
         - Isso é bem altruísta, cavaleiro, admiro isso vindo de alguém que um dia me tentou assassinar.
            Saga levantou-se e virou costas a Lorene. 
            - Seja também você feliz, Atena do futuro.
        - Sua armadura não regressou, Saga! - exclamou a jovem, percebendo isso naquele momento.
            - Não poderei proteger Aika, Atena, aí tem a sua resposta. Nunca mais. 
           O geminiano dirigiu-se então para o local atrás das rochas onde Nara havia sofrido em silêncio durante quase toda a batalha. Encostou as costas à pedra e deslizou até ao chão.
           - Aika... - balbuciou, sozinho. - Que destino é este?
         O ambiente era de alegria junto à casa do Grande Mestre. Aika havia trazido Shion ao seu estado normal antes de Nara ter começado a decompor seu corpo lentamente. As dores que Shion sofrera tinham sido das piores que alguma vez ele havia sentido. Seu corpo estava a decompor-se com ele ainda vivo. Aika o havia trazido novamente à vida.
           A jovem fechou os olhos, apertou as mãos a Shion e disse:
        - Mestre, fui eu que o trouxe à vida. Sou eu que lhe dou o direito a continuar a viver, mesmo que eu algum dia padeça numa batalha. Shion de Áries, mestre do Santuário de Atena, viva agora.
         A jovem não havia esboçado um único sorriso desde a ida de Nara. Levantou-se, sem dirigir a palavra a ninguém, e saiu lentamente do décimo terceiro templo. Olhou o céu. A revelação da jovem deixava um vazio tão profundo nela. Não conseguia olhar agora o planeta com a mesma confiança de antes.
           - "Aika" - ouviu ela no seu interior.
         Kami havia percebido a dor da guerreira. Depois de um compasso de espera, a jovem respondeu:
            - Teremos de proceder à despedida, Kami.
          Com certeza não era isso que estava a incomodar a jovem. Mas ao que parecia, Kami não havia recebido a mensagem de Nara. 
            - "Aika, você... tem certeza que se quer sacrificar?" 
            A jovem estremeceu.
       - Não ouse pensar proteger-me, armadura. Você nunca o fez antigamente. Porquê agora?
           Kami não respondeu. Aika não pressionou. Dirigiu-se para o antigo campo de batalha, como se estivesse procurando algo no chão.
          Kiki e Takara olhavam um para o outro. Mil pensamentos surgiam nas suas cabeças. Toda uma vida a sonhar com a outra pessoa, com alguém que julgavam nem existir. E agora... um em frente ao outro. 
            - Takara... 
            A loira percebia nas palavras do ariano que algo não estava certo. 
         - Sei o que você está pensando. Mas não dá. Eu sempre sonhei com você também. Sempre a tentei proteger da melhor forma que consegui. Mas o seu lugar é aqui, neste tempo. Eu voltarei para o futuro. 
           A jovem impediu que duas lágrimas caíssem dos seus olhos. 
         - Nunca compreenderei as verdadeiras razões que nos fizeram encontrar em sonhos. Acredito que nem os próprios deuses saibam... Tenho de lhe agradecer, Kiki, você me ajudou imenso. Minha vida teria sido muito triste sem você.
     O cavaleiro abraçou-a, com imenso carinho e sofrimento. Agora sim, Takara não conseguiu evitar as lágrimas. 
       

Mai, a jovem a quem Camus tinha poupado a vida conversava animadamente com Aiolos de Sagitário. A forma de pensar do cavaleiro fazia a ruiva ficar admirada. 
           - Mai, você gostaria de jantar em Sagitário hoje? Comigo e com meu irmão? No fim da noite Atena fará um baile de despedida e você poderia acompanhar-me, claro, se assim o desejar.
         Camus ouvia a conversa ao longe. Ia dirigir-se para Escorpião, para falar com Milo, mas não havia conseguido evitar permanecer ali um pouco.
       - Acho uma ideia excelente! Sempre ouvi falar dos bailes de Atena, mas nunca sequer imaginei ir a algum. 
         Aiolos riu e despediu-se de Mai com um beijo na bochecha. 
         - Esperarei por você ao início da noite.
        Mai ficou parada, vendo o sagitariano se afastar para junto de Aiolia. Virou-se de costas, com um sorriso enorme nos lábios e viu Camus parado junto ao pilar.
         - Cavaleiro... - disse, aproximando-se.
         - Garota...
         - Meu nome é Mai e... Obrigada por me ter poupado a vida. 
     - Não tem de quê. - respondeu o aquariano, frio, como sempre, virando costas e se preparando para ir para Escorpião. 
        Mai gostava de poder falar mais com ele. Avançou e colocou-se à sua frente, olhando-o nos olhos. Dois olhos frios da cor das águas do mar. Camus ficou intimidado, algo completamente surreal.
         - O que foi? - perguntou o cavaleiro. 
         - Gostava de... Gostava de poder falar com você. Não sei... Você vai ao baile de Atena? 
        Camus levantou o queixo, não percebendo o motivo daquela questão. 
         - Não. Não gosto de bailes.
         - Por favor! Estou a pedir-lhe! 
        - Não insista, garota! Além de que você já tem par para o baile. Não creio que fosse de bom grado você o deixar para falar comigo.
         Camus arrependeu-se nesse momento do que havia dito. 
         - Você esteve a escutar a minha conversa com o cavaleiro de Sagitário?
        - N-Não... Eu estava passando e escutei sem querer. Bem, garota, não importa. Não irei ao baile. Lá porque a salvei não significa que possamos ser amigos. Não tenho nada para falar com você. 
         O aquariano voltou a andar na direção de Escorpião. 
       - Você é muito chato, sabia?! E apenas queria falar, não queria ser sua amiga! Você é horrível!!
         O cavaleiro parou surpreendido com aquela atitude.
         - Veja como fala. Não se esqueça que eu sou cavaleiro e posso...
         - Pode o quê? Eu enfrentei o deus da escuridão sozinha sem qualquer cosmo! Acha que terei medo de um "simples" cavaleiro que congela o chão?
         - Como é que é?!
     - Não quer ir ao baile? Tudo bem, no fundo se falasse com você, iria apenas ficar entediada. Por isso, se calhar é mesmo melhor você nem aparecer! Obrigada por me ter poupado a vida, mas realmente achei que você fosse mais amigável. Com licença!
         O cavaleiro vê Mai a afastar-se e interrompe-a.
         - Você é ridícula. Se queria falar, por que não falava agora? 
         Mai pára de caminhar, aperta os punhos e volta-se para ele novamente.
         - Ridícula? Você só pode estar brincando mesmo!
         - Não estou brincando. - falou, com calma.
     Mai aproximou-se novamente e ficou a poucos centímetros do corpo de Camus. O cavaleiro era bem mais alto do que ela. 
         - Que foi agora, garota? 
      - Você consegue ser muito irritante. Não parece ser nem um cavaleiro de Atena, uma deusa tão bondosa...
        - Garota, deixe de ser carente. 
      Mai fica extremamente irritada com o comentário de Camus e dá alguns passos atrás. Sem prever, seu pé falha e a jovem desequilibra-se, quase caindo do precipício, não fosse Camus ter previsto a tempo e segurado a sua mão, puxando-a novamente para terra firme.
         - Pelo menos veja onde põe os pés. Tenha amor à vida.
      Mai volta a dirigir o seu olhar para os olhos do cavaleiro. E Camus já estava ficando cansado de se sentir atordoado com isso. Parecia ver o oceano neles, não dava para simplesmente ignorar isso. 
        - Onde vai ficar nos próximos tempos? Deduzo que se for ao baile logo, não deverá ter tempo de ir para o vilarejo. E ainda é de manhã. Você precisa de descansar.
          - Eu me arranjarei.
          - Q-Quer ficar em Aquário até à hora de jantar? - Camus corou.
          - Você está a oferecer-me a sua casa para eu dormir?
          - Eu estarei fora, irei ver Milo, você poderá ficar à vontade. A casa é um pouco fria, mas pelo menos estará segura e...
          - Tudo bem, eu aceito. Não durmo há várias noites. 
         Camus susteve a respiração e começou a andar agora em direção a Aquário, com Mai o seguindo de perto. Que garota tão irritante era aquela? E como teve ela coragem para enfrentar Érebos sozinha para dar tempo a Aika de reviver os guerreiros todos? Sem uma ponta de cosmo energia sequer.
           - Você foi corajosa na luta com Érebos. Não o volte a fazer ou morrerá rapidamente.
          Mai fechou os olhos e avançou na frente de Camus sem lhe responder, ela sabia que a casa do cavaleiro não deveria ser muito longe dali. Não estava com paciência para responder àquilo. 
          O aquariano ficou novamente admirado com a personalidade da jovem, independente e insolente. 
       A garota chegou junto de Aquário e observou a imponência da casa. Era de facto lindíssima, diferente das demais, fácil de distinguir. 
            - Wow...
            - Aquário é assim desde sempre.
           Mai não responde e deixa Camus passar à sua frente, entrando na casa.
           - Minha casa não é muito frequentada por causa da temperatura. Eu criarei à sua volta um cosmo que a impedirá de congelar com a temperatura baixa. O quarto de hóspedes está pronto e talvez haj... Mai?!
          A jovem tinha desaparecido da vista de Camus, o cavaleiro apressou-se a procurá-la, se avançasse muito iria congelar. 
            - MAI?! Onde você está?! 
      Mai tinha avançado mais do que o desejado, estava no grande salão da casa, e apaixonada por toda aquela beleza brilhante. Cristais de gelo por toda a parte, o grande cadeirão atraiu-a para ele de imediato.
            - Que beleza... - murmurou.
         A garota abriu um grande sorriso e avançou para ele rapidamente. Tocou-lhe, quase que hipnotizada e sentou-se nele, imitando uma grande rainha. Foi ali que notou que o meio do salão era de gelo puro, e foi para lá que avançou mesmo. 
        Camus acabava de a encontrar no salão, viva ainda e enérgica. Rodava agora numa dança solitária bem por cima do zero absoluto. Como era possível? Rodava com tanta velocidade que o frio começou a cortar-lhe a pele naquele momento.
        - Ai! - reclamou, tropeçando em si própria quando sentiu a velocidade do frio no seu corpo. 
          - Sua idiota! Não lhe disse para esperar?! - reclamava agora Camus, colocando-lhe uma coberta grossa sobre o corpo. - Esta casa tem lugares com temperaturas extremas! 
       - Eu não preciso disso! - gritou a jovem, avançando novamente, sendo agarrada pelo cavaleiro.
          - Não se volte a afastar ou pode ter a certeza que não irá descansar aqui. - deixou claro o cavaleiro, repondo-lhe a coberta sobre os ombros.
        Mai estava ferida. Estava agarrada ao braço que sangrava bastante. Calou-se e não o revelou. Não queria dar razão a Camus, mas sabia que tinha sido errado. 
          Camus orientou-a para o quarto onde ficaria instalada até ao jantar. 
       - A roupa da cama está propositadamente aquecida e a temperatura do quarto está amena, você aqui estará segura e à vontade. Eu irei sair. Até logo.
       Mai olhou para a ferida no braço e arrepiou-se vendo como estava. Uma queimadura bem feia e estranha.
          - Cavaleiro... - chamou, sem dizer mais nada.
          - Sim? 
          - Obrigada por me deixar ficar aqui. Fico-lhe a dever um favor. 
     A jovem perdera a coragem para falar da ferida, e deixou Camus se retirar sem desconfiar. Deitou-se na cama e rezou para que, quando voltasse a acordar, a ferida não tivesse piorado.
       Camus avançou até Escorpião, tentando não pensar em absolutamente nada. O seu amigo deveria estar devastado com a partida de Nara e de certo precisaria de apoio.
           - Milo! - chamou alto, assim que entrou na casa.
          Não obteve resposta. Sentia ali o cosmo de Milo, avançou mais um pouco até ao salão principal e o que viu lá deixou o seu frio coração apertado. O escorpião estava sentado junto à sua fonte venenosa com o cesto de Nara nas mãos. 
         Camus aproximou-se, sabia perfeitamente que o amigo já tinha notado sua presença, não precisou de falar.
           - Esta cesta é a única coisa que me confirma que realmente ela existiu. 
           - Você tem de ultrapassar isso, Milo. Nara foi embora.
        - NÃO! Não volte a dizer isso! Nara foi embora, mas eu vou ter de a encontrar! Nem que... - o cavaleiro calou-se.
           - Nem que o quê, Milo?
           - Nem que para isso tenha de deixar de seguir Atena! E começar uma jornada solitário.
           Camus arrepia-se ao ouvir aquilo.
           - O-O quê? Você quer deixar de ser um cavaleiro de Atena por causa de uma garota?
        - Não é só uma garota! Eu rebaixei-a durante meses, magoei-a imenso, quando era a última coisa que eu queria! E ela entregou-se por mim. Eu teria morrido se ela não tivesse impedido o ataque dos guerreiros a Érebos.
          - Isso não é motivo para deixar o Santuário!
         - Camus, quando você conhecer uma mulher que faça seu coração bater forte você irá entender isto tudo. 
          - Hum...
        - Eu ainda hoje renunciarei a Atena, comprometendo-me a lhe ser fiel, mas não a lutar mais ao seu lado. Depois de Érebos me ter possuído é o mais correto a fazer. 
          Camus virou costas ao cavaleiro de Escorpião.
          - Como você acha que a irá encontrar?
       - Lerei todos os livros disponíveis e procurarei o reino de Érebos, nem que para isso tenha de morrer!
          O aquariano dá um soco no rosto de Milo.
       - Você é um idiota! Uma garota não é motivo para você deixar tudo aquilo a que se comprometeu há anos e em que acredita! Muito menos para desejar perder a vida!
        - Quando você conhecer alguém irá perceber! Não ouse voltar a tocar-me! Não tenho medo de começar novamente uma guerra de mil dias com você! 
          Camus volta a socar o amigo.
          - Acorde para a realidade, Milo! Você está cego!
      Milo explode contra Camus, que se defende, surpreendido que o Escorpião tivesse mesmo tido coragem para iniciar uma guerra de mil dias. Aquela batalha acabou com a festa toda que se fazia sentir junto à casa do Grande Mestre. Shion, Aika, Atena e os restantes sentiram que dois cavaleiros de ouro começavam uma guerra agora.
          - Você está sendo incrivelmente idiota! - gritou Camus.
          - Eu? Você deveria estar a proteger a garota a quem poupou a vida na batalha mas está aqui, tentando me dar lições de moral!
          O aquariano foi apanhado desprevenido com aquele comentário.
          - Você não é ninguém para me dizer o que fazer! Essa garota já me tem dado dores de cabeça suficientes!
          - Tem? Você é um idiota! Ela tomou conta de seu corpo quando você morreu! Podia ter fugido mas compadeceu-se de você!
          Camus não sabia.
        - Acha que eu não sei que ela só continuou a lutar "comigo" por causa de você?! Para vingar a morte de quem lhe tinha poupado a vida anteriormente! Você é um burro, Camus!
         Nisto, o aquariano perde as forças e é atingido em cheio no peito pelo choque de poder de Milo que, vendo o que aconteceu, apressou-se a chegar junto do amigo e estancar-lhe a hemorragia.
          - IDIOTA!! Que foi que lhe deu?! - gritou o cavaleiro de Escorpião.
          - A sua armadura... A sua armadura é mais forte que a minha... 
          Camus estava ofegante no chão, não se conseguia mexer.
         - MENTIRA! Eu não estava a usar meu poder todo! Nem você! Você deixou-se atingir... Porquê?!
          A custo, o aquariano responde:
          - Atena... e os outros cavaleiros não tardarão a chegar aqui. Arranje uma desculpa para ter entrado em guerra comigo...
          - O que é que se passa com você?!
          - Eu- Eu não sabia que Mai se tinha importado comigo. Nunca ninguém o fez.
          - Sério? Por causa disso você deixou que eu o atingisse?!
          - Não. Eu perdi a concentração por completo.
          Milo abre a boca de espanto e ajuda Camus a levantar-se.
          - Qual é o problema? Vá lá junto dela e convide-a para jantar!
         - Não, jamais o faria. Ela vai jantar com Aiolos esta noite. E será o par dela no baile de logo. Ela estava feliz a falar com ele. Ela jamais estaria assim feliz a falar comigo...
          - Você gosta dela?
          - Claro que não.
          - Diga-me onde ela está agora que eu irei buscá-la logo após o deixar em sua casa!
          - Aquário...
          - O quê?
          - Mai está em Aquário a descansar, eu ofereci-lhe a minha casa para o fazer... 
          - Você é mais esperto do que eu pensava... Mas que bela ideia também, oferecer a sua casa gelada à garota, ela deve estar com uma bela primeira impressão. Se é que ainda não congelou! Vamos!
           Milo apoiou Camus nos seus ombros, ajudando-o a andar. 
        - Iremos contornar Sagitário e Capricórnio, rezemos para que não haja ninguém nas periferias, prometo que seremos rápidos.
           Milo avançou rápido e em poucos minutos estavam em Aquário.
           - Friozinho congelante este. Deve ser o melhor lugar no Inverno...
           - Mai deve ainda estar dormindo no quarto de hóspedes, eu não a devo despertar.
           - Vá lá! Diga que preciso de falar com ela, depois dela ter lutado "comigo".
         Camus avançou para o quarto e Milo para o salão principal, que ele já conhecia bem. Porém, travou o passo antes de entrar. Uma presença ali. Uma presença que ele não percebia. Avançou com cuidado.
          Era Mai. Estava no cadeirão tremendo, com um livro no colo e uma coberta sobre os ombros e braços.
           - Camus vai ficar furioso quando souber que você lhe desobedeceu, está congelando aí e ainda lhe roubou um dos livros de estimação.
            A jovem estava tremendo realmente, mas não era com frio. Milo percebeu que algo se estava a passar.
            - Eu-Eu consegui ler durante um bocado, mas agora... agora está a ficar insuportável...
            - Você não está com frio?
            - Não... Mas...
            - Mas?
            - Prometa que não conta ao cavaleiro de Aquário...
            - FALE!
       Mai largou a coberta e mostrou o braço queimado pelo zero absoluto. Parecia ter piorado ainda mais.
            - Isso é zero absoluto? - perguntou, assustado, o Escorpião.
            - Eu não sei...
         Milo sentiu que Camus já tinha percebido a ausência de Mai no quarto de hóspedes, pegou nela nos braços e levou-a para junto do amigo.
          - MAI! Não lhe tinha pedido para não se afastar do quarto ambientado de propósito para você?
             Camus ainda estava fraco e não conseguia reagir bem.
              - Camus, você está bem? - perguntou Milo, ainda com a jovem nos braços.
             A garota continuava a tremer com dores, sem largar o livro de Camus.
             - Faça a dor passar, por favor... - disse, com voz chorosa. - Eu errei, me perdoe.
          Aquele pedido... o aquariano lembrou-se do momento em que lhe havia congelado a perna de forma a que não sentisse dor nem perdesse mais sangue.
            - Q-Que dor? O que lhe fizeram, Mai?
      Mai continuava a não largar o livro de Camus. Milo colocou-a no chão e retirou rapidamente a coberta, deixando a ferida à mostra, o que fez a jovem entrar em pânico, achando que tinha despertado a ira dos cavaleiros.
           - Não me castiguem, por favor! Eu não volto a desobedecer! Eu vou embora e...
          Camus tinha pouca força, mas percebeu que as dores daquele ferimento deveriam ser impossíveis de aguentar. Aproximou-se, congelou todos os nervos, e aplicou uma mistura estranha que parecia já propositada para aquilo.
           - Você agora ficará bem...
           Mai surpreende-se com a forma calma como Camus a estava a tratar. 
           - Você fica bem, Camus?
         - Sim, Milo, pode ir, acertarei contas com Atena depois, não tome, por favor, nenhuma decisão precipitada.
            Milo suspirou e saiu.
           - Ele não está bem... - falou Mai, observando o escorpião. - Deve ser por causa daquela guerreira que partiu com o deus da escuridão. Ele parecia desesperado quando ela foi embora. Não deve ser fácil ver a pessoa que amamos partir assim. 
        Camus continuava fraco. Quase não conseguia manter a cabeça erguida. Sentou-se num cadeirão e inspirou profundamente.
            - Você também não parece bem. O que se passou?
          - Milo entrou em guerra comigo, mas tudo não passou de um "treino". Eu ficarei bem, pode ir jantar com Aiolos...
          Mai aproximou-se do aquariano, pousou o livro junto ao cadeirão e segurou as mãos do cavaleiro.
            - Você deveria descansar agora para logo estar com energia para o baile.
            Camus bufou.
            - Você não se cansa mesmo de pressionar? Eu não irei. Especialmente neste estado.
            Mai sorriu para o cavaleiro.
        - Mesmo com essa aparência gélida e reservada, você ainda consegue ter as mãõs quentes.
         O aquariano desestabilizou-se e afastou as suas mãos da jovem. Ela, vendo a ira que tinha causado com aquele comentário, segurou rapidamente no livro e afastou-se do dono da casa. 
         - Me perdoe, não tinha intenções de o ofender ou constranger. Peço desculpa. Eu... Eu sairei agora para Sagitário, agradeço a estadia e o tratamento da minha ferida.
        Ele percebeu que, mesmo sem falar, havia assustado a garota. Realmente não sabia como agir perante ela.
         - O que é que você tem nas mãos? - perguntou, vendo que Mai tinha um dos seus livros.
       - Eu... Quase terminei este livro, enquanto você não estava, não conseguia dormir com dores, então foi a única coisa que encontrei para fazer. Lamento, eu possivelmente encontrarei este livro na biblioteca da vila, não o ia roubar, eu juro. 
         Mai aproximou-se, assustada, de Camus, e depositou novamente o livro no cadeirão ao seu lado. Afastou-se novamente.
          - Este livro... Você gostou? - perguntou o aquariano, vendo o título do livro.
         - S-Sim... Não sei como será o final, e estou muito curiosa, mas eu esperarei. Tenho de me arranjar para o jantar, Atena deverá ter algum vestido que me possa emprestar. Com licença...
       - Este livro foi-me oferecido pela minha mãe, quando eu ainda nem sabia ler. Mas... tome. Fique com ele. Eu já o sei de cor.
          Mai parou por instantes e, desconfiada, olhou para Camus novamente.
          - Não aceitarei. Não posso. Eu conseguirei encontrá-lo em outro lugar.
       - Eu insisto. Fique com ele, minha mãe gostaria de ver que estava sendo passado a outras pessoas.
        - Cavaleiro, não posso! Eu voltarei aqui para o terminar de ler, se me permitir, mas não aceitarei um presente que lhe foi dado por sua mãe. Não o posso fazer!   
          Camus suspirou. 
          - Muito bem. Se precisar de dormir aqui hoje, poderá fazê-lo, e amanhã de manhã pode continuar a sua leitura. 
          - Poderei chegar um pouco tarde, cavaleiro. Não o posso obrigar a esperar.
          - Eu esperarei sim. O Santuário tem de ser vigiado.
          Mai baixa o olhar. 
         - Possivelmente Aiolos irá oferecer-me estadia esta noite, será falta de respeito aceitar o jantar e não aceitar a dormida. Lamento, cavaleiro.
        Camus sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo. Ele que não sentia frio absolutamente nenhum, não percebeu o motivo daquela sensação. O olhar de Mai perturbou-o.
          - Não está feliz por jantar com o cavaleiro de Sagitário?
          - Tenho um pouco de receio que ele...
          - Sim?
      - Nada. Não há problema nenhum. Eu amanhã voltarei para me despedir de você e agradecer por tudo o que fez por mim. Agora, com licença, irei sair para Sagitário.
          Camus voltou a arrepiar-se. Mai não estava segura, Mai queria falar mas tinha receio. 
          - Não precisa de ir a Sagitário se não quiser. Pode jantar aqui!
         A garota estava quase junto à porta de saída. Voltou a parar.
        - Eu quero jantar com Aiolos. Não sei se quero dormir na casa dele, mas quero conhecê-lo melhor. Ele parece ser muito carinhoso e preocupado. Sem dúvida, uma excelente pessoa para conhecer.
     Camus não responde e deixa Mai sair. Não a voltou a interromper, deixou-a seguir. Suspirou e olhou para o teto brilhante da sua casa. Tinha de se preparar. O baile não demoraria muito a chegar. 

Mai estava a chegar à Casa do Grande Mestre, para falar com Atena. Milo estava já a aguardá-la também. 
           - Cavaleiro de Escorpião.
           - Garota que teve coragem para lutar sozinha contra um deus.
           - Fiz apenas o que qualquer pessoa faria no meu lugar.
      - Parece que Camus lhe congelou o medo também. Você deveria ser treinada no Santuário, para não se arriscar novamente daquela forma. 
           Mai baixou os olhos. 
          - Aquela coragem não era normal em qualquer pessoa. O que você fez não daria para ser feito por um mero mortal. Você tem garra, garota, aproveite isso. 
         - Não tenciono ficar pelo Santuário muito mais tempo. Meu desejo nunca foi ser uma amazona de Atena. 
           Atena aparecia agora. 
           - Milo! Pode explicar-me o que foi aquilo?!
        - E-Eu e Camus apenas estávamos a testar nossos cosmos depois da batalha. Tudo normal, Camus está em Aquário e mais tarde falará com você, Atena. - respondeu o cavaleiro, curvando-se. 
        - Não permitirei mais confrontos pessoais entre os meus cavaleiros. Você sabia que isso era proibido e mesmo assim entrou num combate com Camus. Não posso permitir isso! 
           - Lamento imenso, Atena, não voltaremos a fazê-lo. 
           A deusa suspirou e virou costas. 
         - Como é que você ousou bater no cavaleiro de Aquário?! - questionou Mai, pondo as mãos na anca, autoritária.
           - Ah, garota, me poupe! Não devo justificações a você! É algo entre mim e Camus!
         A jovem percebeu novamente a ira que desencadeava nos cavaleiros. Seria igual com Aiolos? 
           - Não era minha intenção abusar, cavaleiro. Me perdoe. 
           Lágrimas começaram a descer-lhe dos olhos, sem ela controlar. 
           - "Droga, assim nem vale a pena ir ter com Aiolos!"
          - Você está chorando?! N-Não era suposto ficar assim! - atrapalhou-se Milo, sem saber como reagir. - Eu e Camus tivemos uma discussão mas tudo se resolveu no fim, não precisa de...
        Mai viu Atena afastar-se e não teve coragem de lhe pedir um vestido. Naquele momento não tinha coragem para mais nada. Começou a correr no sentido oposto, em direção às periferias de Peixes. Milo agarrou-a já longe da casa do Grande Mestre.
           - Que se passa, garota?! - perguntou, preocupado.
      Mai apenas chorava em prantos, sem ter noção do pânico que estava a causar no cavaleiro. 
        - "Camus! Venha para junto da Casa de Peixes rápido! É a idiota da garota que você salvou...!" - enviou telepaticamente ao amigo.
       A garota soltou-se do Escorpião e, pedindo desculpa dezenas de vezes, avançou ao longo das periferias de Peixes, em direção a Aquário. 
           - "Droga! Onde você está, seu idiota?!"
     Camus agarrava agora Mai nos seus braços. Não tinha a sua armadura trajada, provavelmente estaria a descansar. 
          - Deixe-se de correrias, está a desestabilizar a paz no Santuário! - reclamou o cavaleiro. 
     Mai chega a piorar mais com aquele comentário. Chorava ainda mais, em prantos impossíveis de controlar. Camus estava assustado, também ele não sabia como reagir perante aquilo.
          - Mai! Pare de chorar! Está a irritar-me com isso!
       A garota, que tinha caído ao chão e estava a chorar cada vez mais, levanta-se e, sem responder a Camus, começa a dirigir-se para a floresta nas imediações do Santuário. A floresta que a levaria de volta à aldeia. Talvez não pelo caminho mais seguro.
         - Espere, Mai! Esse caminho é perigoso a esta hora da noite!
         - Eu não me importo. Não me estou a sentir bem aqui!
         Camus continuou a segui-la, como se fosse uma sombra.
         - Porque é que está a vir atrás de mim? 
         O cavaleiro não lhe respondeu. 
         Um barulho fez Mai parar e recuar uns passos.
         - Cavaleiro! O que foi isto?
         - Fale baixo. - respondeu Camus, envolvendo a jovem e baixando-se com ela.
        Três homens armados avançavam na floresta, provavelmente vindos da aldeia, julgando que o Santuário continuava desprotegido.
         - Ali! - gritou um deles, vendo a ruiva e o cavaleiro. 
         Mai gritou, fazendo com que um deles lançasse um tiro para o ar. 
         - Vão embora! - pediu Camus, levantando-se, sem medo.  
         - Nos obrigue, palhaço, se for homem! 
         - Hum...
        Camus simplesmente lhes começou a congelar as armas. Foi o bastante para os fazer fugir e gritar de medo.
         - Ridículos.
        Mai estava a desesperar. Tinha entrado em pânico com o tiro, agora tinha receio de se levantar e dirigir para onde quer que fosse.
         - Por esta razão é que a floresta não é o melhor caminho para o vilarejo. Estes homens eram ladrões, vê-la sozinha seria catastrófico, não o volte a fazer. - disse Camus, sentando-se ao seu lado novamente. 
           A garota não estava bem. Camus não falou disso.
           - Você está a perder o jantar com Aiolos, ele não vai gostar.
          Novamente Mai voltou a entrar em desespero. 
           - M-Mas o que foi? Porque é que você chora com tudo o que eu digo? 
      - Estou a irritar toda a gente! Sempre foi assim, não sou útil para nada, nem para ninguém. Eu apenas lutei com aquele deus para sentir que tinha algum valor uma vez na vida, mesmo que fosse morrer. Consegui irritá-lo a você, cavaleiro, ao cavaleiro de Escorpião e a todas as pessoas com quem contactei a vida inteira. Provavelmente com Aiolos seria igual. 
          Camus bufou.
        - Você vai voltar agora comigo para o Santuário. Você vai usar um dos vestidos dos baús de gelo de Aquário e vai ao baile de Atena com Aiolos. E se ele se irritar com você, você irá dormir em minha casa hoje. 
           - O-O quê? Você não está irritado? 
         - Estou! Mas apenas porque não sabia que o motivo era tão deprimente quanto esse. Não sei o que Milo lhe disse, mas você para mim não tem tão pouco valor assim. Você gosta de ler, você tem coragem e personalidade forte, você não é só mais uma. E ainda consegue tolerar o frio da minha casa como ninguém. Você vai voltar comigo. Vai jantar no pouco tempo que ainda tem em minha casa. 
          Mai levantou-se e olhou o cavaleiro nos olhos, novamente aqueles olhos azuis infinitos invadiam os de Camus. A garota abraçou o seu peito de forma imprevisível, o deixando desconfortável.
          - Obrigada, cavaleiro. 
          - Vamos? Está ficando tarde.
       Ambos começaram a dirigir-se para o Santuário de Atena, tinha de pensar numa boa desculpa para dar a Aiolos.
          - Como é que pode ter vestidos na casa de Aquário? Você é casado, ou tem namorada?
          Camus sorri discretamente pela primeira vez.
       - Casado? Garota, jamais uma mulher toleraria viver comigo muito tempo. E para ser honesto, não tenho problemas com isso. Os vestidos não sei de quem são, fazem parte de Aquário há muito tempo, muitos deles são compostos por finos cristais de gelo, lindíssimos, na verdade. Devem ter centenas ou milhares de anos.
         - Não corro o risco de os estragar?
         - Se os estragar não haverá ninguém para reclamar disso. 
        Mai não respondeu e seguiu com o cavaleiro. Sentia-se protegida ao seu lado. Mesmo com toda aquela aparência fria e calculista, ele conseguia surpreendê-la. 
        Já Camus tentava não pensar em absolutamente nada do que estaria a sentir, era tudo estranho e diferente para ele. Ao invés disso, tentou pensar nos vestidos que estavam na sua casa, na verdade nunca tinha olhado bem para eles, julgando que nunca lhes daria uso.
        Ao chegarem junto de Aquário, Camus dá a primeira entrada a Mai e depois orienta-a até ao quarto remoto onde estariam os vestidos. 
           - Não se assuste, é que... 
       Camus abriu a porta e não era para menos. O brilho era extraordinário, os vestidos estavam suspensos em cabides junto às paredes escuras e pareciam refletir as luzes todas dos candeeiros ainda a fogo daquela divisão.
           - É lindo...
          - Deixarei você experimentar. Espero-a para jantar no salão. Não é certo você ir para o baile com fome. Esteja à vontade, Mai. 
        Camus foi saindo e confecionar ele próprio o jantar. Normalmente nunca o fazia para outras pessoas, apenas para ele e para a sua solidão habitual.
      - "Obrigatória a presença de todos no baile desta noite. Aika tem um comunicado extremamente importante para dar a todos os cavaleiros e guerreiros presentes na Terra." - enviou Atena a quem estava no Santuário.
         Camus já contava mesmo ir ao baile, mas algo de muito importante deveria estar para ser comunicado. Normalmente, Atena nunca pressionava para os cavaleiros se apresentarem no salão do Grande Mestre.
          - Cavaleiro... - falou uma voz, a medo, espreitando para o salão.
          - Sim? Gostou de algum dos vestidos?
       - Creio que... - disse e avançou para o salão, fazendo-se mostrar. - Creio que este até ficou mais ou menos.
       Camus ficou extasiado, perplexo, anestesiado, sem voz. A garota estava simplesmente divinal, belíssima, brilhante como o gelo.
         - O que foi? Está muito mau? Eu posso trocar, havia muitos!
         - Você está bem, Mai. - foi a única coisa que o aquariano conseguiu dizer.
         Mai mostrou-se um pouco desiludida, mas sabia que não poderia pedir mais de Camus. Aquele comentário deveria ter sido dos mais agradáveis que ele lhe diria.
         Jantaram juntos, um pouco à pressa, e Camus trajou Aquário.
         - Eu acompanho-a até à Casa do Grande Mestre. Lá, deixá-la-ei com Aiolos, e se depois desejar dormir em Aquário, será bem recebida.
         - Muito obrigada, cavaleiro.
         O baile já deveria ter começado há alguns minutos.
         Em pouco tempo estavam já na casa de Shion e foram recebidos por Dohko e Nerissa à porta, passando por Zeus para entrar no templo. 
         - Você está lindíssima, jovem. - disse Dohko, beijando a mão de Mai. 
         A garota fez uma vénia e sorriu, envergonhada.
         Mai olhou à volta e encontrou Aiolos, imponente, com a sua armadura trajada.
         - Eu levá-la-ei até Aiolos. 
         - M-Mas...
         Camus não quis saber, levou Mai até ao Sagitário e disse-lhe:
         - Penso que Mai seja seu par neste baile, Aiolos, protegê-la é sua obrigação.
         Aiolos mostrou-se feliz por ver a jovem.
        - Mai! Você veio! Fiquei preocupado com você, achei que tivesse acontecido algo. Mas... por Atena! Como você está linda!
         - Você ouviu o que eu lhe disse, Aiolos?!
        - Sim, Camus, me desculpe, mas a beleza de Mai deixou-me anestesiado por completo. Ela estará sob a minha proteção, fique tranquilo. 
         O aquariano virou costas e procurou Milo com os olhos, que estava olhando o ambiente exterior através de uma das grandes janelas ali existentes.
         - Você ainda está mal por causa de Nara?
         - Ela desapareceu e eu nem mesmo sei para onde. Não há nada em absolutamente livro nenhum. Apenas o deus da escuridão e seus descendentes diretos conhecem a localização do reino referido e...
         - Fale... - aproximou-se o cavaleiro de Aquário. - E o quê?
       - Uma espécie de profecia. "A luz do reino que está apagada desde épocas milenares voltará a brilhar um dia e levará toda a escuridão que insistiu em se depositar no coração de cada habitante." - fez uma pausa e continuou. - "Haverá apenas uma oportunidade. Ou a luz ou a escuridão eterna. E apenas algo que ninguém vê o poderá fazer."
         - Você sabe o que isso significa? 
        - Não. Não consigo nem saber como isso me poderá levar até Nara. Mas Camus... será que ela está feliz? 
         O aquariano baixou a cabeça.
         - Ela gostava de você, Milo. Duvido que prefira estar lá a estar com você.
        O escorpião suspira e aperta os punhos.   
       O baile foi passando. Camus não tirava os olhos de Aiolos e Mai, que parecia muito feliz com o cavaleiro. Havia-se esquecido da sua presença. Num abrir e fechar de olhos, o sagitariano aproxima o seu rosto do de Mai. Realmente seus olhos também eram lindíssimos. O cavaleiro não conseguia evitar o seu nervosismo, os dois estavam próximos demais. Iam beijar-se. Ele tinha certeza disso, mas não conhecia aquele sentimento, aquela sensação de medo e de perder o chão por completo. Pensou congelá-los, mas sabia que não era o correto a fazer.
       - Cavaleiros, guerreiros, deuses, todos os presentes... - falou Atena, interrompendo o momento, para felicidade de Camus. - Aika, a cavaleira da energia divina de Milky Way, tem um comunicado a fazer a todos nós. Algo que é importante que todos, absolutamente todos, ouçam.
      Aika estava virada para outra janela há imenso tempo. Todos os que se tentavam aproximar dela, se voltavam a afastar rapidamente devido à falta de interação. A lua no céu parecia ser bem mais interessante do que qualquer pessoa que lhe dirigisse a palavra. Nem Mu, nem seus pais, nem os restantes divinos, conseguiram que falasse com eles.
         A jovem, após um compasso de espera, volta-se, eleva a cabeça sem nunca mostrar um sorriso, e avança para junto de Atena. Elevou a mão e fez onda de energia branca descer sobre todos.
       - Caros guerreiros, caros deuses, caros companheiros de batalha, os habitantes do vilarejo não ouvirão o que vos tenho a dizer. Da minha boca verão sair palavras de agradecimento e lamento por toda a dor passada. Mas a vós, apenas a vós, eu direi a verdade... Antes que seja tarde demais. 
          A seriedade das palavras de Aika fez os deuses ficarem sérios de repente, e da mesma forma os guerreiros divinos.
          - Peço-vos que não se exaltem, por favor. As revelações podem ser catastróficas.
          - O que se passa, Aika?! - perguntou Altair, aproximando-se da companheira de batalha. - Eu sinto que algo não está bem e...
          - Nara me enviou uma mensagem antes de desaparecer no céu. 
          Milo ao ouvir aquilo avança para a frente de todos os que estavam a ouvir a guerreira.
          - O que foi que você disse?
         Aika esboçou um leve sorriso ao ver Milo.
          - Milo, você veio...
          - Atena ordenou! Mas fale logo o que tem a dizer, Aika de Milky Way!
          - As coisas talvez não sejam tão certas como vocês julgam. Nara entregou-se a Érebos para evitar um mal maior do que o que iria suceder se não o fizesse. A mensagem que me enviou telepaticamente mostrava as coordenadas exatas do reino de Érebos e toda a dor e maldade existente lá. Talvez só o Inferno se assemelhe a tal.
          - O Inferno é o meu reino, derrotarei Érebos facilmente! - falou Hades.
          - É protegido por uma barreira negra impenetrável. Um ambiente tóxico e assustador.
          Milo esboçou um sorriso enorme ao ouvir as palavras de Aika.
          - Não se alegre, Milo. Apenas referi um terço do que me foi transmitido.
          Aika subiu dois degraus e colocou-se no ângulo de visão de todos.
         - A segunda coisa que me revelou foi que o futuro havia sido alterado drasticamente, e grande parte dos guerreiros aqui presentes se regressassem ao seu tempo, morreriam na hora.
         - O QUÊ?! - exclamou Zeus, cerrando os pulsos e olhando para a filha de Shaka, Diana. - Como pode ter certeza disso?!
        - Ela está falando a verdade, Raijin. Apenas você, Lorene e Kiki permaneceriam vivos. - intrometeu-se Marie, a divina seguidora de Chronos.
          - Isso significa que... - começou Raijin.
          - Que terão de permanecer neste tempo... ou morrer. - respondeu Marie.
          Diana respirou fundo e agarrou o braço de Shaka, confiante. 
         - Tudo bem. Permaneceremos. - falou a jovem, segura. - Penso que falarei em nome de todos os cavaleiros do futuro aqui presentes. Renunciarei à minha armadura de ouro se for necessário. O meu cosmo é suficiente para combater qualquer inimigo.
          Aika esperou Diana acabar de falar para completar:
         - Atena não desejará que renunciem às vossas armaduras de ouro, visto que a terceira mensagem que me foi revelada consegue ultrapassar todas as anteriores.
          - Fale logo, Aika, eu estou sentindo que algo de grave está acontecendo. - intrometeu-se Altair.
        - Se não formos resgatar Nara, a Grande Guerra regressará muito em breve. E aí será impossível vencer. Nara tem o triplo da força de Érebos mas também um compromisso escrito a sangue com o seu reino. Zeus tentou libertá-la desse destino doloroso milénios atrás, mas não teve sucesso. Daí Nara não se querer entregar ao deus da escuridão. Érebos prendeu-a para conseguir possuí-la. No entanto, atendendo ao poder que a divina de Antimatter tem, isso poderá levar tempo. 
          Um murmúrio de medo e choque inundou todos.
          - Nara sabia que isso aconteceria se se entregasse. Mas preferiu fazê-lo ao invés de... 
          - De... o quê, Aika? - perguntou Altair, já calculando qual fosse a resposta.
        - Érebos viraria alma novamente quando o corpo de Milo fosse atingido. Não se pode destruir uma alma com um ataque físico. Apenas Milo sucumbiria. Érebos continuaria a viver.
         Aika abre a boca com intenções de voltar a falar e dizer algo mais. Mas não prossegue. Termina e diz:
        - Voltarei a trazer as palavras reais aos ouvidos dos habitantes do vilarejo agora. Peço-vos que não comentem isto com ninguém para evitar que o pânico se instale. É... tudo. 
       Milky Way trazia novamente os murmúrios ao salão. Tudo agora estava esclarecido. Nara se havia sacrificado por um bem maior. Mai baixa o olhar quando Aika pára de falar.


Notas Finais


Lamento o tamanho, o que acharam?
beijooo


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