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História Os dias eram assim - Nós estamos tentando


Escrita por: ladyjack

Notas do Autor


Olaaa gente.
Estou postando mais um capítulo.
Espero que estejam gostando.
Boa leitura!!

Capítulo 3 - Nós estamos tentando


• Nova York, julho de 1939

Sakura encontrava-se em um dos mais famosos e caros restaurantes da cidade. Localizado no hotel The Carlyle¹, no bairro Upper East Side², ele tinha inaugurado há apenas 9 anos, mas, já demostrava todo o seu esplendor nos seus 35 andares e da sua arquitetura em art déco³. Construído na esquina da Madison Avenue com a 76th street, a um quarteirão do Central Park, o restaurante de mesmo nome do hotel, era um local onde pessoas da alta sociedade frequentavam, para poderem confraternizar ou para falarem de negócios. Sua decoração era com móveis de madeira, em tons neutros, e paredes revestidas de veludo e mármore, e diversas pinturas do francês Pierre-Joseph Redouté (4), espalhadas por todo o ambiente, completavam todo o conforto e luxo que o lugar representava.

Sakura estava sentada em uma das diversas mesas espalhadas pelo salão, em um belo vestido verde-água, longo e de seda, sem mangas e um corte em 'V', que terminava em um belo bordado com várias pedrarias, deixando metade de suas costas à mostra, combinando perfeitamente com a cor de seus olhos, que eram de um tom de verde-esmeralda. Ela também usava luvas do mesmo tom do vestido, até a altura dos cotovelos, com braceletes de diamantes e um colar de pérolas no pescoço. Seu cabelo, que era de um tom rosa bem raro, estava preso em um coque baixo. Suas vestimentas faziam jus ao local em que se encontrava.

Ela resolvera ir àquele distinto local para se encontrar com duas de suas amigas e, também, integrantes da alta classe social nova-iorquina. Ao mesmo tempo em que almoçavam, elas também conversavam sobre os seus dias cheios de glamour e festas, até que uma das amigas, a mais velha e também a mais antiga companheira de Sakura, resolveu mudar o assunto para algo mais íntimo e particular.

-Sakura, querida! Estamos muito curiosas para saber, quando você pretende começar a ter filhos? Estou super ansiosa para ser madrinha. - Rose perguntou, visivelmente curiosa.

-Filhos!? - Sakura disse surpresa com a repentina pergunta.

-Sim! Já faz 9 anos que você se casou, mas até hoje nada. Você não acha que já está na hora de começarem a terem filhos?

-Bem... Estamos tentando já faz algum tempo, mas devido ao fato de meu marido sempre estar viajando a negócios, nunca temos tanto tempo para tentarmos.

-Mais quando ele está aqui vocês tentam, não é mesmo? - Mary disse empolgada com o novo assunto, deixando Sakura ruborizada com a pergunta.

-Ah... sim... sempre. Mas, ainda não tivemos sorte. - Respondeu quase gaguejando.

-Bem, espero que não demore tanto. É tão bom ter filhos em casa, você vai ver. Seus dias ficarão muito mais alegres e agitados.

-E, você também não pode ficar demorando muito, pois, já não é tão nova.

-Só tenho 26 anos. Não sou tão velha. - Sakura disse com um olhar raivoso para a amiga.

-Mas, também não é tão nova.

-De qualquer forma, você é uma mulher de muita sorte, Sakura. Casou-se com um dos homens mais ricos de Nova York. - Rose continuou.

-Sim! Meu marido, até hoje, fica surpreso com o fato de ele ter conseguido manter toda a fortuna, mesmo depois da Grande Depressão de 1929. (5)

-O que eu posso dizer? Ele é bem inteligente e soube lidar com a crise. - Sakura falou, não querendo prolongar muito o assunto.

-É. Diferente de centenas de outras pessoas, que vieram à falência, de um dia para o outro. Assim, como o que aconteceu com seu pai, Sakura. - Rose alfinetou a amiga.

-Sim, você tem razão, meu pai realmente veio a falir depois daquela crise, mas agora ele está bem. - disse com a expressão fechada e nada satisfeita com o rumo daquela conversa.

-Seu marido foi mesmo bem inteligente, para não ter entrado em falência. - Mary falou.

-Ele só soube lidar com a situação. É claro que nos dias que se seguiram à queda da bolsa, ele mesmo teve grandes perdas em suas finanças, mas ele soube lidar com as adversidades e deu a volta por cima. E, o fato dele possuir outras empresas em outros países, o ajudou a manter a empresa daqui, em pé, dado ao fato de que ela foi a que sofreu maiores rombos. Ele correu atrás do prejuízo e, com grande esforço, conseguiu se manter firme. E, com essa esperteza, agora ele é um dos mais ricos da cidade, se não o mais. Certo? - Terminou com um pequeno sorriso no canto dos lábios.

-Se é o que dizem. - Rose deu de ombros com o último comentário da amiga.

-Não é o que dizem. É a mais pura verdade. Vocês sabem disso.

-É, e você como esposa dele também é dona de tudo isso. - Mary completou, recebendo logo em seguida um olhar reprovador por parte de Rose, o que não passou despercebido por Sakura.

-Bem, agora terei que ir. Minha mãe pediu para que fosse até a casa dela para conversarmos. Não sei o que ela quer, mas vocês sabem como são as mães, quando estamos em casa elas não veem a hora de que vamos embora, mas quando saímos, elas ficam inventando um monte de coisas para que possamos ficar mais tempo juntas. Vai entender.

-Isso é verdade. - Mary disse rindo.

-Depois, a gente conversa. Até mais. - Sakura disse se levantando e saindo logo em seguida.

Seguiu para seu carro, onde o chofer a aguardava, e a ajudou a adentrar no veículo. Em seguida, seguiram o caminho indo em direção ao bairro Chelsea (6), local onde ficava a casa de seus pais e onde ela passara toda a sua vida, antes de se casar e se mudar para Upper East Side. Após alguns minutos, o carro adentrou uma rua arborizada e cheia de antigos casarões, até que parou enfrente a um enorme portão de ferro, que dava entrada para um pequeno jardim, que rodeava um caminho que seguia até uma porta de folha dupla de madeira. 

Ela seguiu pelo caminho e tocou a campainha, sendo, quase que imediatamente, recebida por um dos empregados da casa de seus pais, e levada para a sala de estar. Onde se sentou em um dos sofás e esperou por sua mãe, que não demorou muito para chegar, com um largo sorriso nos lábios, a cumprimentando com um abraço.

-Filha! Que bom que veio! Achei que não iria mais vir nos visitar! - Mebuki disse se sentando ao lado de Sakura. - Esqueceu-se de sua mãe, é isso?

-É claro que não! É que tenho outras coisas para fazer.

-Como o quê? Ficar gastando todo o dinheiro do seu marido em roupas e sapatos não é uma desculpa.

-Mãe! Eu não faço só isso. - Disse irritada com o comentário.

-Hum, é claro, querida.

Sakura não pôde de deixar notar o tom irônico na voz da mãe.

-De qualquer forma, estava morrendo de saudades. - Deu um enorme sorriso para a filha.

-Onde está papai?

-Onde mais se não no trabalho. É só o que ele faz agora.

-Pelo menos ele está fazendo alguma coisa. - Sakura não perdeu a oportunidade de alfinetar.

-Deixando o seu pai de lado, vamos conversar um pouco.

-Sobre o que quer conversar?

-Você sabe que ultimamente as coisas não andam tão fáceis para todos nós. Sempre tivemos tantas coisas e desfrutávamos de tudo aquilo, e do nada perdemos tudo. E, você sabe como tudo isso tem sido muito difícil para nós.

-Por favor, pare de enrolar e diga logo o que quer. – Disse revirando os olhos.

-Tudo bem! Se você quer, irei direto ao ponto. Quando pretende ter um filho?

-Filho? Como assim? - Sakura novamente se surpreendeu com aquele assunto.

-Você sabe! Um filho seu com seu marido. Não acha que está mais que na hora de vocês terem um filho?

-Parece que hoje, todo mundo tirou o dia para ficar me infernizando com essa história de filhos - Ela começou a ficar com raiva de toda aquela conversa.

-É mesmo? E quem mais disse isso a você?

-Aquelas que dizem serem minhas amigas.

-Ah! Então até mesmo elas já perceberam.

-É, mas eu não acho isso. Porque vocês estão insistindo em dizer que eu preciso de um filho?

-Você sabe que em um casamento é muito importante que tenha companheirismo e fidelidade de ambos, marido e mulher. Mas, somente um filho é capaz de manter um casamento em pé.

-O que está querendo dizer? - O seu tom de voz aumentou um pouco.

-Estou querendo dizer que você precisa ter um filho, para que seu casamento não vá por água a baixo.

-Está querendo dizer que para que eu consiga manter meu casamento, preciso ter um filho? Poupe-me de tudo isso.

-Sakura, todo mundo sabe que você casou com ele por obrigação, sem querer. Você mesma nem faz questão de esconder isso de ninguém. E isso é muito perigoso.

-Para quem?

-Para todos nós. Porque, é ele que mantém a nossa família. Você sabe disso.

-Ah! Mais é claro, dinheiro! O que mais poderia ser? Não é mesmo? - Estava indignada com toda aquela conversa, não conseguindo mais esconder sua frustração diante de tudo aquilo. - Não tem nada a ver com a minha felicidade.

-Mais é claro que tem tudo a ver com sua felicidade. Você viveu sua vida inteira no luxo, que é providenciado, adivinha só... Pelo dinheiro! Então, acredite em mim, filha, se estou dizendo isso é porque estou pensando em sua felicidade.

-E na sua também.

-Na sua felicidade e de toda a sua família. – Mebuki completou.

-Isso é ridículo. Não vou ficar aqui escutando essas coisas. - Disse levantando-se apressadamente.

-De qualquer forma, já se passaram 9 anos. Já está mais que na hora de vocês começarem a tentar ter um filho.

-Meu Deus! Nove anos não é tanto tempo assim. Não vivemos mais no século XII onde deveríamos ficar grávidas na nossa noite de núpcias.

-Eu sei que não. E, acho que você estava certa em ter tirado um tempo só para você. Mas agora você tem que pensar em outras coisas como, por exemplo, no seu futuro.

-Eu sei muito bem o que vou fazer do meu futuro, não se preocupe mãe, ele já foi bem traçado na minha cabeça. Não preciso da opinião de ninguém.

-Tudo bem. Então, quer dizer que você já está planejando ter um filho?

-Nem comece. - Disse levantando as mãos para que ela parasse de falar.

-Pelo menos, vocês estão tentando?

-Eu disse para parar de falar isso. Mais que coisa!

-Só estou tentando ajudar.

-Você me ajuda ficando quieta, ok.

-Por que tanta relutância em falar nesse assunto?

-Porque não quero ter um filho, é por isso! – Sakura cuspiu as palavras de uma só vez.

-Como assim, não quer ter um filho!? Você tem que ter um filho.

-Não quero ter um filho e ponto final. Na verdade, nós dois decidimos em não ter.

-Pera aí! Seu marido está de acordo com isso? - Agora foi à vez de Mebuki ficar surpresa com o que acabara de escutar.

-Sim. Ele está de pleno acordo com isso.

-Você só pode estar de brincadeira. Por que ele não iria querer ter um filho?

-Eu não sei, mãe. Talvez ele não sinta necessidade disso, talvez ele não tenha instinto paterno ou algo do gênero. Isso não me importa. Só sei que ele não quer ter, assim como eu.

-Não entendo. Ele é dono de uma empresa multimilionária de comunicação e mesmo assim não quer ter um herdeiro? Então, pra que ter todo esse dinheiro, se depois não vai ter para quem deixar e tudo vai para o governo?

-Eu não sei! Mas, se ele quer assim, que assim seja.

-Ele que quer ou foi você que fez a cabeça dele? – Disse desconfiada.

-Mãe, você acha que eu seria capaz de persuadi-lo em relação a isso?

-Eu não sei. Quando você quer uma coisa, vai até o fim.

-Não vou ter um filho e pronto.

-Por que você não quer?

-Para não estragar o meu corpo.

-O quê?

-É isso mesmo que você escutou, para não estragar o meu corpo. E também, para que eu não fique perdendo o meu tempo cuidando de crianças, sendo, que eu poderia estar fazendo outras coisas muito mais interessantes.

-Filha! Se você se cuidar como se deve, ter um filho não vai estragar o seu corpo. Eu mesma sempre dizia que não queria ter um filho, mas o seu pai insistiu e insistiu e acabei tendo você. E, isso não estragou o meu corpo. Na verdade, ainda estou muito bem para a minha idade. Você pode fazer o mesmo e ainda garantir o seu futuro.

-Você está achando que ele vai me abandonar se eu não der um filho a ele?

-Eu não sei o que ele pode ou não fazer. Isso ninguém sabe. Mas, você não acha melhor garantir?

-Me casar com ele já não foi o suficiente? Sacrifiquei toda a minha vida só para garantir o bem dessa família. Só para garantir o luxo das suas roupas, para manter essa casa e seus empregados, e você me vem com sermões? Eu sei muito bem o que faço da minha vida, não preciso de ninguém falando nada.

-Você está culpando a seu pai e a mim por sua infelicidade? É isso?

-Sim, é isso mesmo. Porque se não tivesse sido eu, hoje vocês estariam morando debaixo da ponte.

-Sakura! Você está agindo como se a gente tivesse mandado você para um abate. Foi você mesma que propôs tudo isso, que propôs o casamento.

-É claro que eu fiz isso. Vocês praticamente estavam implorando de joelhos para que eu o fizesse. E, além do mais, eu só tinha 17 anos. Nem tinha ideia do que estava fazendo.

-Ah! Você é tão engraçada! - Mebuki fingiu rir. - Age como se fosse vítima, mas você fez tudo isso única e exclusivamente para você mesma. Não enxerga o quão cínica você é?

-Cínica, eu!?

-Sim! Você viveu toda a sua vida no luxo, sempre foi mimada, e quando viu que estava prestes a perder tudo isso, ficou completamente desesperada. Não via a hora de uma oportunidade aparecer na sua frente e a agarrar para não perder tudo isso que você tinha. E ele estava lá, o seu marido estava lá e você não pensou duas vezes antes de se oferecer a ele. E, você fez tudo isso porque você sabia que ele iria te dar tudo o que quisesse! Na hora que você quisesse! - Ela estava com raiva e falava tudo o que pensava. - Todas as roupas, todas as joias caras, onde você quisesse ir, empregados e mais empregados. Ele daria tudo o que você quisesse. E você conseguiu tudo isso, não é mesmo? Tudo isso e muito mais. E, agora fica aí, se fazendo de vítima, dizendo que foi obrigada a se casar, só pra conseguir manter a riqueza de nossa família. Isso para mim é cinismo, Sakura. E, é o que você esta sendo, cínica!

-Tudo bem! Não vim aqui para ser insultada. – Disse, dando as costas e saindo da sala.

-Não estou te insultando, estou dizendo a verdade. Sou sua mãe e tenho o direito de te falar isso. – Disse a seguindo.

-Tudo bem, você tem razão. - Sakura falou vermelha de raiva, se virando para sua mãe. - Eu me casei com ele porque sabia que ele iria conseguir manter meu padrão de vida, e até mais. Mas, eu não achei que iria pagar tão caro por isso. - Disse olhando para baixo, com os olhos marejados.

-Por quê? Ele está te maltratando? – Falou demostrando preocupação com a filha. - Ele anda te obrigando a fazer coisas que você não quer?

-Não. - Sua voz estava fraca, como por um fio.

-Não minta para mim. Ele está fazendo alguma coisa com você?

-Não! Ele não está fazendo nada comigo! - Falou elevando a voz quase em um grito. - Ele é uma ótima pessoa. Ele é tudo e muito mais do que todo mundo diz. Ele é cavaleiro, educado, me trata super bem e me dá tudo o que quero. Nunca encostou um dedo em mim sem que eu permitisse e, além de tudo isso, ele ainda é rico. Não poderia querer coisa melhor, não é? Sou a pessoa mais sortuda do mundo! Não é o que todos dizem? Mas, sabe de uma coisa, mãe? Tem apenas uma coisa que ele não pode me dar, apenas uma coisa que ele nunca vai pode me dar, e sabe o que é? Amor.

-Como assim, ele não pode te dar amor? Os olhos dele brilham quando olha para você.

-Mais eu não amo ele. E, o fato de não amá-lo, é mais que o suficiente para me fazer infeliz.

-Filha, a gente aprende a amar com o tempo. Com os anos de convivência vai aprender a amá-lo.

-Não acha que depois de nove anos já não deveria amá-lo?

-Às vezes pode demorar mais tempo do que a gente espera, mas, acredite em mim, um dia você vai amá-lo. E, o fato de você ter um filho com ele, só vai aumentar ainda mais essa probabilidade.

-Eu vou embora. Já fiquei bastante tempo fora de casa e minha cabeça está doendo um pouco.

-Me promete que pelo menos vai tentar? - Disse pegando as mãos da filha.

-Eu prometo. – Disse relutantemente.

-Bom. Ouvi dizer que ele está voltado por esses dias. É verdade?

-Sim. Daqui a dois ou três dias ele deve estar de volta.

-Isso é ótimo. Quando os homens ficam muito tempo fora de casa e longe de suas mulheres, ao voltarem, sempre estão mais dispostos a demonstrarem toda sua masculinidade. E, essa é uma ótima oportunidade para vocês começarem a tentar ter um filho.

-É, a senhora tem razão. É uma boa oportunidade. Agora, tenho que ir. – Sakura tentava a todo custo sair de lá, para que pudesse se livrar o mais rápido possível daquele assunto constrangedor.

-Depois me conte como foi. - Deu uma piscadinha. – E, lembre-se que você tem que ter o seu futuro sempre em suas mãos.

-Não esquecerei isso. – Pela primeira vez naquele dia, Sakura disse a verdade. Ela definitivamente iria tentar manter o futuro em suas mãos.

Com isso ela se retirou, indo em direção ao carro que estava estacionado em frente à casa.

[...]

Ao chegar em casa, uma enorme mansão localizada no bairro mais rico da cidade, surpreendeu-se ao se deparar com seu marido sentando em uma poltrona da sala de estar, de costas para ela, a observar as chamas da lareira. 

Mal colocou os pés na sala, ele falou:

-Oi! – Disse, logo em seguida a olhando. - Imagine qual foi minha surpresa quando chego em casa e não encontro ninguém.

Ele tinha todos os seus cabelos prateados, um pouco grandes e espetados, seus olhos eram negros, o que fazia um belo contraste com seu rosto queimado do sol, e uma pequena pinta no canto da boca do lado esquerdo, além de ser bem alto e ter um bom porte atlético, apesar de sua idade um pouco avançada, de 41 anos. Até mesmo Sakura, tinha que admitir que ele era o típico homem que fazia qualquer mulher pecar em pensamentos só em olhá-lo. E, o fato dele possuir uma cicatriz na vertical, sobre seu olho esquerdo, só intensificava ainda mais isso. A cicatriz tinha sido um presente dos dias como soldado no fronte, durante a Grande Guerra(7), o que, também o rendera o título de coronel e um condecoração com a Cruz Vitória(8). No qual, Sakura nem fazia ideia do que significava.

-Ah! É que eu saí para conversar com minha mãe. - Respondeu um pouco surpresa.

-Você me parece assustada ou é impressão minha? – Disse a examinando.

-Não, é que eu não esperava que você chegasse hoje. - Se aproximou ficando de frente para ele.

-É que eu consegui adiantar um pouco os negócios na Califórnia, e assim, acabei chegando mais cedo. É sempre bom chegar em casa. – Disse dando um pequeno sorriso de lado.

-Sim.

-Que bom que estava com a sua mãe. Estava começando a ficar preocupado, pelo fato de você não ir mais à casa dela.

-É, estamos voltando a nos falar.

- Que bom! Fico feliz por isso.

-Mas, você deve estar cansado, querendo tomar um banho ou comer alguma coisa. Vou pedir para as empregadas arrumarem tudo para você. – Ela começou a se agitar mediante essa tarefa.

-Não é preciso. Já tomei banho e não estou com fome no momento. – Disse com uma de suas mãos levantadas para tranquilizá-la.

-Então, quer dizer que já faz algum tempo que você chegou? – Se surpreendeu novamente.

-Faz mais ou menos umas duas horas.

-E, não mandou ninguém me procurar?

-Para que? Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você iria chegar. Não havia pressa. Você está realmente bem apreensiva. O que aconteceu? - Disse ao reparar no rosto assustado da esposa.

-Não é nada demais. - Falou tentando desviar do assunto.

-Sério? Você está me deixando preocupado. – Disse com uma expressão séria no rosto.

-Sim. São apenas coisas de mulheres. Não precisa se preocupar.

-Eu sei que você está triste. - Levantou se aproximando dela, olhando-a nos olhos. - Vejo no seu olhar que você está muito triste. E, você não imagina o quanto isso me deixa triste também.

-Prometo que vou tentar ficar mais alegre.

-Não me importo comigo, me importo com você. - Ele segurou o queixo dela com seu dedo, fazendo com que o fita-se. - Meu bem, eu sei que você não me ama. E, você não sabe o que eu seria capaz de fazer para que me amasse, e principalmente, para que fosse feliz. Mas, a gente não escolhe quem a gente ama, não é mesmo?

Sakura se desvencilhou dele e se sentou em um dos sofás, com a cabeça baixa.

-Kakashi, eu...

-Eu sei que você não gosta do fato de ser casada com um homem bem mais velho que você, com um sotaque britânico irritante e que vive viajando todo o tempo. Isso realmente deve ser um fardo.

-Não acho o seu sotaque irritante. - Com esse comentário ambos deram um pequeno sorriso.

-Estive pensando, e estou disposto a deixar você em paz, livre para que possa fazer o que bem entender. Sem nenhum ressentimento. Você pode fazer o que quiser, pode ir embora...

-O que!? Não, não mesmo! - Falou apressada ao compreender o que ele estava tentando insinuar. - Eu não quero isso. - Ela se levantou rapidamente. - Você está querendo se separar de mim?

-Não é que eu queira, mas se for o melhor para você...

-Não é o melhor pra mim! O melhor para mim, é ficar aqui do seu lado. Eu prometo que vou me esforçar ainda mais, para ficar feliz. Só estou passando por uns dias ruins, nada mais do que isso. Mas, prometo que vou melhorar. Eu prometo que vou ser muito feliz e prometo que ainda vou amá-lo um dia, e muito! Porque, você merece isso. Você sempre foi muito bom comigo e com minha família e você merece todo o amor que eu possa oferecer.

-Não quero que você aprenda a me amar, eu quero que você me ame de verdade, do fundo do seu coração.

-Garanto que isso não vai ser difícil de acontecer. Eu já o admiro tanto e amá-lo não vai ser tão difícil, até porque, não amo ninguém e nunca amei. Então, porque eu não posso amá-lo? É só questão de tempo, prometo.

-Tudo bem. Eu acho que vou descansar um pouco, estou todo dolorido da viagem.

-Claro. - Ela falou mais aliviada com a mudança de assunto e se sentou novamente.

- O que foi? Você quer me dizer mais alguma coisa? - Falou se aproximando novamente, esperando por uma resposta.

-Não.

-Pode dizer o que esta pensando. Não tem problema.

-Eu estava pensando de quando minha família estava precisando de ajuda e você disse que ajudaria, mas somente se eu me casasse com você. Porque você fez isso? Você não tinha nada a ganhar. Fiquei pensando nisso por muito tempo e não consegui encontrar nenhuma resposta.

-Fiz isso porque você é linda e, estava muito encantado por você. Admito que foi um ato egoísta de minha parte. Queria que você fosse a minha esposa, queria que você estivesse do meu lado. E, acabou surgindo essa oportunidade e não deixei escapar.

-E, estava tudo bem para você, se casar com alguém que não te desejasse? – Ela o fitou.

-Eu não queria me casar com alguém que me desejasse, eu só queria me casar com alguém que me fizesse companhia.

-Não entendo.

-Já sou um homem de idade, Sakura. E, um homem velho e sozinho é triste. Quando eu era mais novo, achava que estava tudo bem, não me importava, pois, podia ter quantas mulheres eu quisesse e quando eu quisesse. Mas depois, quando você vai ficando mais velho, começa a perceber que as coisas não são bem assim. A gente começa a querer ter alguém em casa, esperando por você e pensando em você. Como eu disse, foi um ato puramente egoísta de minha parte.

-Você quer ter filhos? - Ela disse sem nem ao menos pensar.

-Filhos? Nunca pensei nisso. Por quê? - Kakashi se surpreendeu com isso.

-Porque, ultimamente todo mundo anda perguntando quando nós iremos ter os nossos filhos.

-Ah! E o que você anda respondendo?

-Que estamos tentando.

-E, nós estamos tentando? - Disse arqueando uma sobrancelha.

-Você sabe que não.

-Foi o que pensei. Então, apenas diga isso a eles.

-Não posso simplesmente dizer isso.

-É claro que você pode. Da próxima vez, quando perguntarem, diga que não estamos tentando ter filhos e que nós não iremos ter filhos. – E completou o mais calmamente possível. – Mas, eu quero que você tenha isso em mente. Se um dia você começar a pensar em ter filhos, lembre-se que eu estou aqui. Adoraria ter filhos com você. – Disse passando as costas de sua mão no rosto dela, a acariciando.

-Obrigada. - Ela disse emocionada com o que ele acabara de falar.

Ele deu um leve acenar de cabeça e se retirou da sala, a deixando sozinha, para que pudesse pensar. No momento, Sakura se encontrava perdida com toda aquela situação. Sempre soube que foi ela mesma que se colocara naquela condição e que no momento não podia fazer nada para mudar. Mas, tinha esperanças que algum dia, sua escolha a fizesse se sentir bem e, principalmente, feliz.


Notas Finais


Notas:

1) O Hotel The Carlyle foi inaugurado em 1930, estando localizado no bairro Upper East Side. Seu designer é em estilo Art Déco e o seu nome é em homenagem ao escocês Thomas Carlyle. É um dos hotéis mais famosos de Nova York, sendo um dos prediletos de várias celebridades. Obs: todas as descrições do prédio e do restaurante presente neste capitulo são verdadeiras.

2) Upper East Side é um bairro nobre de Manhattan em Nova York, localizado entre o Central Park e o Rio East. Sendo considerado um pequeno pedaço de Manhattan que provavelmente abriga as pessoas mais ricas por metros quadrados nos Estados Unidos.

3) Art Déco é um estilo artístico de caráter decorativo que surgiu na Europa em 1920. Seu nome tem origem em uma expressão francesa Art décoratifs (arte decorativa), tendo como características principais linhas circulares ou retas estilizadas, uso de formas geométricas, design abstrato, influencia do construtivismo, futurismo e cubismo. Segue a baixo um link para que vocês possam ver melhor esse estilo:

https://topicsofcapricorn.files.wordpress.com/2011/11/the-carlyle-a-rosewood-hotel-50.jpg

4) Pierre-Joseph Redouté foi um pintor francês do século 19 que era conhecido por suas pinturas de flores em aquarelas, especialmente de rosas, ficando conhecido como Rafael das flores.

5) A Grande Depressão ou Crise de 1929 foi uma crise econômica que perdurou durante toda a década de 30, tendo seu fim apenas com a Segunda Guerra Mundial. Tendo inicio em 24 de outubro de 1929 quando houve a queda da bolsa de valores de Nova York, sendo considerado o pior e maior período de recessão econômica do século XX. Devido a isso houve um grande aumento de desemprego e pobreza nos países mais atingidos e aumento nos índices de suicídio acompanharam a crise, principalmente entre aqueles que perderam tudo de um dia para o outro.

6) Chelsea é um bairro histórico de Manhattan em Nova York.

7) A Grande Guerra, conhecida hoje como a Primeira Guerra Mundial, ocorreu de julho de 1914 a novembro de 1918. Foi um conflito que envolveu grandes potencias mundiais, tendo como palco a Europa, tendo como estopim o assassinato do príncipe austro-húngaro Francisco Ferdinando em uma visita a Saravejo. As batalhas se desenvolveram principalmente em trincheiras e utilização de novas tecnologias bélicas como tanques e aviões. A guerra gerou aproximadamente 10 milhões de mortos, o triplo de feridos e grandes prejuízos econômicos.

8) A Cruz de Vitória é a condecoração militar mais alta do Reino Unido, concedida por bravura na presença do inimigo para os membros das forças armadas.

Até a próxima...


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