1. Spirit Fanfics >
  2. Os dias eram assim >
  3. Você só precisa existir

História Os dias eram assim - Você só precisa existir


Escrita por: ladyjack

Notas do Autor


Oi pessoal, tudo bem? Estou postando mais um capítulo quentinho.
Espero que gostem 😀😀
Até a próxima!

Capítulo 35 - Você só precisa existir


· Londres, novembro de 1940

Já fazia mais ou menos duas horas que estavam naquele abrigo antiaéreo, à espera do término de mais um ataque. Já era aproximadamente cinco horas da tarde. O clima estava frio. Tinha chovido praticamente a noite inteira e boa parte da manhã, contribuindo para que ficasse ainda mais frio.

Mas, Temari não reclamava.

Devido ao clima desfavorável, a frequência dos ataques tinham diminuído consideravelmente, já que os caças nazistas não conseguiam ter uma visão clara dos alvos, dificultando os ataques. Nunca imaginou que um dia iria agradecer por estar frio e pela chuva incessante, pois, era devido a isso que Londres conseguia respirar novamente. É claro, que isso não impedia que arriscassem alguns ataques de vez em quando, mas agora eram em intervalos bem esparsos e rápidos. O último ataque que sofreram antes daquele, tinha ocorrido há três dias. E isso era um alívio, se comparado a todas as ondas de ataques que sofreram durante setembro e outubro.

Já tinha se acostumado tanto àquela rotina que quando escutava as sirenes tocando, agia no automático. Não tinha mais desespero e nervosismo, havia apenas exaustão. Não via a hora que tudo aquilo acabasse e, finalmente, conseguisse dormir tranquilamente.

Estava sentada em seu lugar de costume, ao lado de uma pilastra, localizada naquela já tão conhecida passarela de metrô, que era utilizada como abrigo. Hinata estava sentada ao seu lado, nervosa como sempre. Apesar de todo aquele tempo sua aflição por lugares fechados e apertados ainda não tinha passado. Não sabia o porquê daquilo. Talvez algum trauma de infância. Um dia, levada pela curiosidade, criou coragem para perguntar à morena o porquê, mas como resposta recebeu um sonoro e ríspido não, deixando bem claro de que não iria responder. Respeitou sua vontade, mas isso não queria dizer que iria deixar sua curiosidade de lado e, tinha toda a certeza, que um dia iria acabar descobrindo.

Sakura estava sentada do outro lado, serena como sempre, apesar das olheiras serem bastante evidentes em sua face. Apesar de Sakura não admitir, Temari sabia muito bem que a amiga estava passando por um forte estresse, e sabia muito bem o porquê. O motivo de toda a sua aflição era Kakashi, já que o mesmo não aparecia há dias. Somente sabiam que ainda estava vivo, devido a bilhetes, com poucas palavras que não falavam nada além de que ainda continuava no Parlamento, ao lado do primeiro-ministro, tentando encontrar alguma solução para aquele problema.

Ainda estava morando com os Hatakes, mesmo assim, não se lembrava da última vez que o viu, indicando que já fazia um bom tempo que o dono da casa não aparecia. Sakura, podia até ser fria em relação ao seu casamento e, até mesmo, não gostar muito daquela união, mas, o prateado era seu marido e aquele sumiço a preocupava. Entendia muito bem aquele sentimento, pois, ela mesma passava pelo mesmo, já que fazia alguns dias que não via Shikamaru. No seu caso, achava que era bem pior, porque nem mesmo um recado ela tinha recebido para saber o que estava acontecendo. Sabia que não podia exigir nada, já que eram apenas amigos e, ele não tinha o porquê de falar o que estava acontecendo. Mas, esses pensamentos não a tranquilizavam em nada, pelo contrário, só a deixava mais desesperada. Não sabia muito bem do que se tratava o trabalho do moreno, mas, tinha uma leve ideia que se tratava de algo no mínimo complexo e perigoso. E, tinha uma leve desconfiança de que Hinata sabia o que era e que tinha uma pouco de participação em tudo aquilo. Por vezes, pensou na possibilidade de perguntar para ela, mas logo refutou tal ideia, pois, sabia qual seria a resposta. Hinata era quieta, analítica, uma mulher bastante inteligente e misteriosa, segura com as palavras, e sem dúvida alguma, sabia como ninguém como guardar um segredo. Temari achava que seria muito mais fácil conseguir entrar no coração do terceiro Reich do que tirar alguma informação da morena. Mas, é claro que isso não iria impedi-la de tentar. Era uma Sabaku No e Sabaku Nos não desistiam tão facilmente e, com certeza, iria até o fim.

Lembrar da família fez com que suspirasse em descrença, soltando todo o ar dos pulmões, olhando para frente sem nada ver. Gaara estava longe de ser encontrado, sem ter notícia alguma dele. Não tinha ideia do que estava acontecendo com o irmão e isso contribuía, consideravelmente, para ficar mais aflita. Se não bastasse isso, Kankuro voltou para a Irlanda dois dias depois de ter o reencontrado. Seu irmão ainda tentou a convencer de ir com ele, mas foi em vão. Estava decidida a permanecer ali e não seria naquele momento, que finalmente tinha encontrado algo de útil para conseguir ajudar, que não iria embora mesmo. Mesmo a contragosto, ele foi embora sozinho, visivelmente chateado e contrariado. Ficou um pouco triste, pois, sabia que ele estava apenas preocupado, não queria que ela permanecesse em um lugar que estava constantemente sob ataque. Mas, foi contra todos os seus argumentos, batendo o pé firme, ficando no mesmo lugar.

Não demorou sequer uma semana desde sua partida para receber um telegrama, nada agradável, de seu querido pai. Tinha quase certeza que Rasa teria escrito algumas palavras de baixo calão naquele papel se lhe fosse permitido. Era visível ler em cada uma de suas palavras o quão irritado estava, por ter sido contrariado e por terem omitido fatos. Agora era oficial, o senhor Rasa sabia de tudo o que estava acontecendo e tinha deixado bem claro que iria fazer de tudo para encontrar Gaara, se fosse preciso, iria até mesmo no inferno para buscá-lo. E, Temari sabia que quando seu pai queria uma coisa, ele conseguia. Podia demorar um pouco, mas o resultado no final sempre seria o mesmo. Ele sempre ganhava. Naquele momento, só se via na espera de alguma notícia de quando o ruivo fosse encontrado. E, não sabia como iria se sentir quando recebesse tal notícia. Se sentiria aliviada por seu irmão ter sido encontrado ou ficaria ainda mais desesperada por saber que ele estaria nas mãos de uma pessoa furiosa que estava disposta a fazê-lo pagar por suas atitudes inconsequentes? A única coisa que conseguia fazer naquele momento era rezar para que o ruivo estivesse bem e que seu pai demorasse o maior tempo possível para encontrá-lo.

Suspirou novamente, agora em frustração. A angústia crescia cada vez mais forte dentro de si, estava prestes a explodir. Precisava agir, se distrair para deixar todos aqueles problemas de lado, nem que fosse por um instante.

Olhou para o lado, vendo Sakura a olhar intensamente, como se estivesse a analisando. A viu arqueando uma sobrancelha em indagação. Já fazia algum tempo que estavam juntas e já conheciam seus gestos, expressões. Com certeza, Sakura já deveria ter reparado em seu estado deprimente. Apenas deu de ombros, balançando levemente a cabeça em negativa, voltando-se para a morena, que estava do outro lado. Hinata estava estática, com olhos vidrados a olhar o nada, abraçando suas pernas, que estavam encolhidas próximas do peito. Dali não iria conseguir nada. Quando Hinata entrava em seu próprio mundo, não havia nada que conseguia tirá-la de lá.

Sentiu um leve empurrão em seu braço e ao olhar para a outra, a viu perguntar:

-O que está acontecendo?

-Nada demais. Apenas as mesmas preocupações de sempre.

-Ah. E, por acaso, essas preocupações se resumem a Gaara, Senhor Rasa e em um certo Nara? – Falava ao mesmo tempo que os enumerava levantando os dedos.

-Pode-se dizer que sim.

Se sentia desanimada naquele momento, não se importando com a citação descarada do nome Nara.

-Se não rebate é porque a coisa é séria. – Falou sorrindo, fazendo com que ela também sorrisse.

 

Sakura estava apenas tentando animá-la um pouco.

A rosada, ao falar de Shikamaru, imaginou que ela iria esbravejar, discutir e, consequentemente, esquecer dos problemas a sua volta. Apreciou tal atitude, apesar de no momento não ter tido tanto efeito.

-Você está realmente preocupada, não é?

-Você nem faz ideia.

-Dê tempo ao tempo. – A rosada falou fazendo com que a olhasse em indagação, pedindo para que continuasse. – Sim. Não adianta de nada ficar se torturando por tais pensamentos, com coisas que talvez nunca venham a acontecer. O que está passando por sua cabeça nesse momento não passam de suposições. Apenas de imaginação. Mas, isso não quer dizer que irá acontecer. E se for, daremos um jeito. De qualquer forma, não adianta nada ficar se martirizando. Você precisa pensar no hoje, no agora. Temos muitas coisas para fazer neste momento, principalmente, depois que esse ataque acabar. Você não pode ficar distraída, precisa estar focada, porque tem pessoas que precisam de sua ajuda. Eu sei que não entendo muito bem pelo que você está passando. É verdade. Mas, sei que é uma mulher forte, corajosa e que nunca vai se deixar abalar. Então, apenas olhe para frente, levante a cabeça e siga em frente, dando um passo de cada vez. Permita pensar em cada coisa apenas quando o momento chegar, não antes disso.

Sorriu com tais palavras, maneando a cabeça em afirmação.

-Tem toda a razão. Mas o problema é que quando penso em tudo o que está acontecendo, é difícil de não ficar assim. Gaara é meu irmãozinho, entende? E tenho tanto medo do que pode acontecer.

-Sabe Temari, não consigo entender. O que seu pai seria capaz de fazer? Seu irmão está desaparecido e no meio de uma guerra, propenso a todos os tipos de coisas, que se quer consigo imaginar. O que seu pai pode fazer que seja pior que isso?

-Você não o conhece, Sakura.

-O que? Ele vai prendê-lo? Torturá-lo? Matá-lo? – Ia enumerando por enquanto que a olhava com apreensão.

-É claro que não. Ele nunca faria isso. Gaara é seu filho.

-Então, o que? O que pode ser pior que isso?

-Às vezes uma palavra pode machucar muito mais fundo do que qualquer tipo de ferimento. Nosso pai é muito bom com palavras. Quando se trata de ferir alguém com elas, ele é o melhor. Senhor Rasa usa de tortura psicológica. E é muito bom nisso. Ele sabe muito bem qual é o ponto fraco de Gaara, e não vai hesitar em usá-lo.

-Posso saber o que é?

Ficou a olhá-la por alguns instantes, ponderando se deveria ou não falar. Achava que era um assunto bem delicado e íntimo de seu irmão e, não pensava que seria certo contar, mesmo se tratando de Sakura.

-Sinto muito, mas é algo que diz respeito a ele e não acho que tenho o direito de contar.

-Entendo. Tem toda razão. É algo particular e não quero me intrometer.

-As duas vão continuar fofocando ou vão se levantar daí? – Hinata disse alto, já estando em pé a sua frente, as olhando séria, e bem agitada para sair dali o mais rápido possível.

Olhou a sua volta, percebendo, pela primeira vez, a movimentação, indicando que os ataques tinham findado e estavam liberados para sair daquele buraco. Suspirou em alívio, ao perceber que tinham sobrevivido a mais um dia.

-Vamos logo, se levantem. Precisamos trabalhar. – A morena continuou a falar, batendo as mãos para apreçá-las.

Sorriu com isso, já que tinha algo útil para fazer. Levantou-se rapidamente, com Sakura a imitando, apesar da mesma estar resmungando:

-Veja lá como fala comigo. Não sou nenhuma vaca pra você ficar batendo palmas para me apressar. – Sakura ralhou com a morena, a olhando séria.

Eram sempre assim, sempre a trocar farpas ou palavras mais duras. Mesmo assim, estavam se dando bem melhor do que antes. Tinham voltado a conversar e, até mesmo de vez em quando, mesmo sendo raro, as via juntas a cochichar em um canto. Demonstrando que tinham deixado as adversidades de lado e que estavam empenhadas a se darem bem. Admitia que o relacionamento delas era um pouco conturbado e, até mesmo, estranho, já que mais brigavam do que qualquer outra coisa, mas até que se davam bem.

Saiu do abrigo, reparando que, assim como das outras vezes, aquela região estava intacta. Ficou feliz, pois, significava que ainda tinham um teto para dormir. Hinata andava um pouco mais a frente, agitada e animada para agir o mais rápido possível. Sakura não estava tão diferente, pois, a partir daquele momento iriam poder agir. Desde o dia que Hinata teve um plano para que pudessem ajudar quem precisava, gostou da ideia de imediato. Era simples, mas bem eficiente e, com aquilo, podiam ajudar muitas pessoas necessitadas. Com certeza, ninguém iria reclamar daquilo. Hinata foi esperta o suficiente para perceber que nos lugares onde os ataques eram mais intensos e a destruição mais evidente, as ambulâncias tinham bastante dificuldades de chegarem ao local e, mesmo as que conseguiam, não era em número o suficiente para socorrer todos os feridos¹. Assim, já que Sakura tinha um carro e sabiam dirigir, não demorou muito para surgir a ideia de que poderiam usar o veículo como uma ambulância improvisada, para levarem os feridos até o hospital. Era algo simples, mas que ajudava bastante. E, tinham consciência que com tal atitude já tinham salvado muitas pessoas. É claro, que no começo tiveram que aprender o básico sobre os primeiros socorros, mas Hinata não demorou muito para ensiná-las, o que a surpreendeu bastante, ao descobrir que a morena sabia, e demonstrava uma destreza absurda, sem perder o controle. Sakura também demonstrou ter um grande dom para a medicina, aprendendo rapidamente todos os procedimentos e, até mesmo, ficando melhor do que Hinata. Temari até a sugeriu se tornar enfermeira, no qual a rosada descartou tal ideia de imediato, pois, como a perfeita patricinha que era, falou que achava nojento e que só estava fazendo aquilo porque era preciso, mas caso não fosse, com certeza não iria colocar suas mãos em ninguém. Tal comentário rendeu uma bela de uma discussão com Hinata, ao passo que Temari ficou apenas a observar e rir da rosada e dos seus chiliques. A loira, por outro lado, não passava mal com o que via e nem achava nojento, mas era desastrada, com a mão pesada, fazendo tudo errado, mesmo que decorando todos os procedimentos. Logo perceberam isso e a encarregaram de dirigir o carro ou guiar os pedestres que não estavam feridos, para lugares mais seguros. Não reclamava, pois, o que fazia também era útil e suas habilidades como motorista tinham melhorado consideravelmente. Naquele momento podia se intitular a melhor motorista das três.

Não demoraram muito para chegar à frente da casa de Sakura. Entraram rapidamente na mesma, seguindo para a biblioteca, onde tinham deixado as roupas que iriam usar. Não saiam com vestidos pelas ruas para auxiliar as pessoas pois, atrapalhava e não era nada prático. Assim, também sendo uma ideia de Hinata, começarem a usar calças. Temari não reclamava, achando muito mais confortável. A morena parecia já ser acostumada com tal vestimenta, ao passo que Sakura não gostou muito da ideia no começo, falando que eram inapropriadas e nenhum pouco bonitas, mas logo cedeu e, depois de perceber que eram bem úteis, não reclamou mais.

Trocaram-se rapidamente, já estando acostumadas com aquela rotina, logo, saindo novamente, evitando ao máximo que alguém conhecido as vissem, já que até aquele momento ninguém sabia o que faziam.

O carro estava parado a frente da casa e Temari não hesitou em seguir para o banco do motorista, o ligando. Hinata sentou ao seu lado, seguido por Sakura, que foi para o banco de trás. Colocou o carro em movimento. Ainda não tinha ideia de onde tinha ocorrido os ataques, por isso, decidiu ir para uma avenida principal, a Kensington roand², passando pela Charing Cross³ que dava acesso a vários outros bairros, além do centro da cidade. Não demoraram muito para ver carros de bombeiros passarem apressadamente. Sem pensar duas vezes, começou a segui-los, pois, sabia que para onde eles iam era o local onde as maiores concentrações de bombardeios teriam acontecido. Após passado alguns minutos, começou a visualizar, na linha do horizonte, uma coluna de fumaça a subir alta e densa, se misturando com o céu acinzentado daquele dia. Se espalhava rapidamente, já que o vento soprava forte, carregando pesadas nuvens de chuva, indicando que logo iria voltar a chover.

O barulho das sirenes dos carros ficava cada vez mais alto e ensurdecedor e o movimento de pedestres aumentava cada vez mais, sendo possível ver seus semblantes tristes e assustados, desesperados para fugir daquele lugar. Seguiam em direção a Hackeney (4), na Stole Newington (5).

Conforme iam se aproximando os escombros começaram a ficar visíveis, prédios caídos, alguns apenas faltando alguma parede, outros, completamente tomados por chamas.

Temari reduziu a velocidade, já que havia muitas pessoas a sua volta, no meio da rua. Era uma mistura de rostos curiosos, assustados e tristes, quase todos estando encobertos por poeira, produzida pelos escombros, e das cinzas que rodopiavam por perto.

-Acho melhor parar aqui, não vamos conseguir seguir mais em frente. – Hinata falou ao perceber o aglomerado de pessoas logo a frente, bloqueando a rua.

Seguindo os conselhos da amiga, estacionou o carro de frente para um prédio, que se encontrava incólume no meio de toda aquela destruição.

Hinata saiu de imediato, abrindo a porta de trás para Sakura, perguntando:

-As bolsas de primeiros socorros estão todas aí?

-Sim, estão. Me ajude aqui a tirá-las. – A rosada falou a passando uma bolsa, logo em seguida pegando a sua, saindo do veículo.

-Lembre-se que devemos separar os feridos por cores. – Hinata continuou a falar, agora como se ditasse um mantra, falando as mesmas palavras todos os dias, ao mesmo tempo que pegava um saquinho cheio de fitinhas as distribuindo um punhado. – As verdes são para pessoas com leves ferimentos, com algumas escoriações e cortes. Nada que uma boa água e atadura não resolva. As amarelas são para ferimentos de média intensidade, como fraturas e cortes que necessitam de sutura. E as vermelhas...

-Para quem está morrendo. – Sakura falou fazendo com que ambas a olhassem. – Tudo bem. Hemorragias intensas e perda de consciência ou algum tipo de ferimento que nem Deus resolve.

-Não tem graça. – Hinata a repreendeu.

-E quem disse que estou brincando?

-Ok. Os verdes até eu mesmo posso dar um jeito. – Começou a falar.

–Sim, os verdes podemos dar um jeito aqui mesmo. Os amarelos temos que levar para o hospital e os vermelhos tentamos dar suporte até que chegue a emergência.  – Sakura terminou, olhando indiferente para a morena.

-Não vão começar a brigar, isso não é hora para isso. – Temari as repreendeu, pegando as fitinhas, as colocando no bolso da calça, deu as costas, se misturando no meio da multidão.

-Só mais uma coisa, Temari. – Escutou Hinata a chamando.

Apenas deu uma olhada para trás a vendo falar:

-Em meia hora nos encontramos.

-Eu sei. – Falou simplesmente, voltando a andar, as deixando para trás.

Sakura e Hinata eram ótimas amigas, mas toda aquela implicância as vezes tirava sua paciência. Naquele momento, não estava a fim de ficar parando discussões idiotas e desnecessárias. Tinha muito mais o que fazer.

Como já tinha dito, era um desastre quando se tratava de cuidar dos feridos, mas isso não a impedia de tentar.

A multidão ficava cada vez mais intensa, se reunindo envolta de alguma coisa que Temari não conseguia ver naquele momento. Para conseguir andar tinha que se esgueirar entre as pessoas, muitas vezes tendo que pedir permissão para conseguir prosseguir em frente. Estava começando a se sentir claustrofóbica com tantas pessoas a sua volta a empurrando e a espremendo. Se Hinata estivesse ali não iria demorar muito para começar a surtar. Ainda bem que a morena era esperta o suficiente para não entrar em tais lugares. Bem diferente dela, que não era esperta o suficiente para isso. Estava começando a perder a paciência com aquelas pessoas a empurrá-la para todos os lados, a impedindo de continuar a andar. Estava quase começando a gritar e disparar palavrões para, quem sabe, a deixar passar. Naquele dia, em particular, sua paciência parecia não estar das melhores. Por sorte, estava chegando a uma intercessão entre duas ruas, fazendo com que o aperto a sua volta se suavizasse, permitindo que se locomovesse com maior facilidade.

Respirou satisfeita ao conseguir se mover sem dificuldades, sem ter que relar em outra pessoa. Sentiu o vento gelado a lhe beijar a face. Era aconchegante e revigorador, apesar do mesmo trazer consigo fuligem e poeira, a sujando. Não se importava. Naquele momento o que importava era encontrar alguém que precisasse de sua ajuda.

Alguns passos mais à frente viu um prédio com metade de sua construção caída, tendo a parte que sobrou, hora ou outra deixando cair alguns pedaços de cimento, indicando que não demoraria muito para que  viesse a ruir por completo. Aquilo era bastante perigoso. Sabia que a polícia precisava chegar o mais rápido possível, para interditar as proximidades e impedir que os curiosos se aproximassem e não se ferissem. Precisava avisar alguém sobre aquilo. Por sorte, há alguns dias, teve uma boa ideia para que o trio mantesse a comunicação, mesmo que separadas. Olhou a sua volta, sorrindo ao ver um rapaz de aproximadamente quinze anos, sozinho a olhar com curiosidade para todos os lados. Aproximou-se rapidamente, colocando a mão em seu ombro para chamar a atenção. Ele acabou se sobressaltando com o contato, a olhando desconfiado e em alerta.

-Desculpe. – Falou para tentar acalmá-lo. – Posso saber o que está fazendo aqui parado e sozinho? Não sabe que é perigoso? – Disse séria, olhando intensamente dentro de seus olhos verdes bem parecidos com os seus.

Ele era novo, mas já tinha a sua altura, o que não era pouco, e tudo indicava que iria crescer ainda mais, até atingir a idade adulta. Seus cabelos eram em um tom vermelho e possuía sardas em suas bochechas, que se misturaram com algumas espinhas.

-Desculpa moça, só estou olhando.

-Onde estão seus pais?

-Não moro por aqui, minha casa fica na região leste.

-Parentes?

-Não, nada. Só estava passando por aqui quando tudo começou. Só isso.

-Ok. Quero que faça um pequeno favor para mim. – Disse por enquanto que pegava um bloco de notas que estava na bolsa em suas costas, juntamente com uma caneta tinteiro e seu pote de tinta, anotando algumas instruções por enquanto que continuava a falar. – Você vai sair daqui imediatamente e vai embora para a sua casa, sem desviar de seu caminho, entendeu? Essa é uma área de risco, tem prédios caindo, diversos focos de incêndios e pessoas feridas. Não tem nada para você aqui. Apenas vá embora. Tenha o maior cuidado possível.

-Sim senhora. – Disse balançando a cabeça, visivelmente assustando.

-Mas, antes. – Disse colocando a mão em seu peito, para impedi-lo de sair, antes de terminar de falar. – Quero que entregue um recado para mim, por favor.

-O que? – Disse desconfiado, sem entender o que estava acontecendo.

Nem sequer lhe deu atenção. Rasgou a folha, no qual tinha anotado uma comunicação a Sakura, de que um prédio estava para desabar e que precisavam chamar a polícia e os bombeiros o mais rápido possível. Dobrou o papel, o colocando na mão do rapaz, ao mesmo tempo que pegava de seu outro bolso uma bolsinha de moedas.

-Acho que duas libras devem ser o suficiente. – Disse as depositando em sua mão. – Siga nessa direção e entregue para uma moça. Ela é bem bonita, não sendo difícil encontrá-la. Está vestida como eu, tem olhos verdes no tom esmeralda e um cabelo róseo bem diferente. Não vai ser difícil reconhecê-la, ela se destaca no meio da multidão. Seu nome é Sakura. Diga a ela que uma amiga está a enviando este recado. Depois que fazer isso, dê o fora. – Falou firme o olhando intensamente.

-Sim senhora. – Disse gaguejando, guardando o papel em seu bolso, começando a andar.

Ficou o olhando se afastar, para ter certeza que iria fazer o que tinha lhe dito. Não demorou muito para o ver se perder no meio da multidão. 

Resolveu seguir seu próprio caminho.  Agora, só podia torcer para que ele conseguisse encontrar Sakura.

Ao dobrar a esquina, acabou vendo diversos destroços espalhados pela rua, tendo aproximadamente umas cinco pessoas sentadas pelas calçadas. Aproximou-se rapidamente da mais próxima, uma moça suja de fuligem, com seus cabelos pretos soltos a caírem por sua face, ocultando seus olhos de cor castanho. Estava bastante assustada, sentada no meio-fio, abraçando suas pernas e tremendo, lágrimas escorriam de seus olhos. Temari pegou uma garrafa d’água a estendendo.

-Você está bem?

A outra apenas se limitou a balançar a cabeça, bebendo em grandes goles aquela água.

-Algum machucado? Sente dor? – Perguntava por enquanto que a analisava.

-Não. – Disse quase em um sussurro.

-Isso é bom. Vem, você precisa sair daqui. – A estendeu as mãos para ajudá-la a levantar. – Não é seguro ficar aqui, muitas construções estão danificadas e podem desabar. Não é seguro ficar na rua. Precisa sair daqui o mais rápido possível. – Olhou mais ao lado, vendo um senhor sentado e voltando-se para ela continuou. – Espere por um instante aqui.

-Ok.

Temari não lhe deu mais atenção, seguiu em frente, indo em direção aquele senhor de cabelos tão brancos como algodão, que no momento estavam acinzentados devido as cinzas que se depositavam sobre ele, seus olhos azuis estavam apáticos, sem prestar muita atenção a sua volta.

-O senhor está bem? – Disse aproximando-se do mesmo, que estava sentando no chão, escorado na parede, com uma de suas pernas esticada e suja sangue. – O senhor se cortou? Sente alguma dor? – Perguntou se abaixando ao seu lado, lhe estendendo a mesma garrafa com água.

-Sinto dor no joelho direito.

-Deixa eu dar uma olhada. – Falou colocando a mão sobre a perna ferida. Sua mão ficou um pouco suja de sangue, mas não muito. Jogou água sobre o local para retirar o resto de sujeira, reparando que se tratava de um corte mínimo que nem precisaria de sutura para cicatrizar. Massageou envolta do lugar para saber se tinha alguma fratura, percebendo que estava tudo bem. Pegou uma fita de cor verde a amarrando em seu pulso.

-O senhor consegue se levantar?

Ele concordou e com sua ajuda conseguiu colocá-lo de pé.

-E andar?

-Acho que consigo, mas com alguma dificuldade.

Olhou para o lado, vendo a moça que tinha pedido para esperar, a chamando e falando:

-Ajude-o a sair daqui. – Falou apoiando um dos braços do homem nas costas da outra. – Está vendo essa fita aqui? Quando chegar na rua Windus road (6) vai encontrar duas moças que irão ajudá-lo melhor. Apenas as mostre essa fita que elas saberão o que fazer.

Ele apenas concordou e aparado pela moça, começaram a andar.

Olhou a sua volta à procura de mais alguém que precisasse de ajuda. Não demorou muito para ser abordada por uma mulher, que deveria ter aproximadamente sua idade, com seus cabelos castanho soltos e desgrenhados, emoldurando sua face morena, e seus olhos em uma cor de mel a brilharem. Ela estava com os olhos arregalados de medo, parecendo estar muito nervosa e desesperada, tendo lágrimas escorrendo por seu rosto, deixando marcas por sua pele suja.

-Você está bem? – Perguntou preocupada.

-Você precisa me ajudar. – Falou apressada, olhando em todas as direções com inquietação, pegando em sua mão a puxando em sua direção, começou a andar, fazendo que a seguisse.

-O que está acontecendo? Não vá por aí, é perigoso. – Falou ao ver uma densa fumaça se formando logo a frente, oriunda de um prédio em chamas.

-Você precisa me ajudar. – Ela continuava a repetir as mesmas palavras, a puxando com força para que a seguisse.

-Não. Espere. O que está acontecendo? – Tentava impedi-la de continuar a andar, o que demonstrou ser difícil.

A mulher estava determinada a seguir em frente e a levá-la consigo.

-Calma! Você precisa me explicar o que está acontecendo. –Disse dando um forte puxão em seu braço, finalmente conseguindo se soltar. – O que está acontecendo? – Perguntou a mesma coisa pela terceira vez, tentando manter-se calma.

-Você precisa me ajudar. Minha filha está lá dentro e não me deixam entrar. Você precisa me ajudar a encontrá-la.

-Sua filha? Onde?

-Venha, me siga. – Falou começando a correr, fazendo com que Temari a seguisse.

Não demorou muito para ver algumas pessoas paradas em frente de um prédio de cinco andares, que tinha algumas labaredas a escaparem pelas janelas do último andar, juntamente com uma densa fumaça negra.

-Ela está lá dentro e não me deixam entrar. Tenho que salvar minha filha. – Falava chorando em desespero. – Ninguém faz nada para ajudá-la, estou desesperada.

-Entendi. Fique aqui e tente encontrar alguma ajuda, algum bombeiro, um policial. Qualquer coisa, entendeu? Vou tentar dar um jeito nisso. – Falou o mais tranquilamente possível, tentando transmitir confiança, lhe dando as costas, rumou para o prédio.

-Ela se chama Sophie. – Gritou para que escutasse, chamando sua atenção. – E ela deve estar no terceiro andar.

-Tudo bem, tente se acalmar e encontrar alguma ajuda. – Falou voltando-se novamente para a entrada do prédio.

Olhou para cima, vendo um prédio de pedra de cinco andares com sua estrutura intacta, apesar de ser possível ver no andar mais superior labaredas saírem por suas janelas. Tudo indicava que o incêndio deveria ter surgido a partir dos edifícios vizinhos que tinham desabado completamente com o impacto de uma bomba. Analisou suas chances, pensando no tempo que gastaria e se conseguiria. Se fosse rápida o suficiente conseguiria chegar ao terceiro andar, encontrar a menina e sair sem que as chamas as atingissem.

Mas, não podia ficar a pensar por tanto tempo, já que cada segundo era precioso.

Olhou para os lados, procurando no meio daquele aglomerado de pessoas se alguém a observava. Ao perceber que todos estavam distraídos a olhar em outra direção, não hesitou em correr para a porta, o adentrando.

A recepção estava vazia e escura, mas seu ar era fresco, indicando que não tinha nenhum foco de incêndio nos andares inferiores. Viu a escada a sua direita, rumando naquela direção, a subindo de dois em dois degraus, o mais rápido que conseguia. Ao chegar no segundo andar, viu uma leve fumaça a pairar no corredor, a preocupando. Mas, sem pensar muito no que poderia encontrar a sua frente, subiu o próximo lance de escadas. Precisava chegar ao terceiro andar. Conforme subia sentia a temperatura ficar cada vez mais alta, com suor começando a escorrer por sua face, e sua respiração ficando um pouco mais pesada, indicando que o fogo estava muito próximo. Ao chegar no corredor do terceiro andar, seus olhos arderam com o sopro de ar quente misturado com fuligem que a atingiu. Os fechou com força, na tentativa de amenizar a ardência que sentia.

-Terceiro andar, terceiro andar... - Murmurava para si, andando vagarosamente, olhando as portas a sua volta. Não sabia em qual entrar.

-Sophie! – Começou a gritar pela garota. – Sophie! Onde você está? Vim ajudá-la. Sua mãe me enviou para pegá-la. Sophie! Cadê você? – Falava o mais alto que conseguia, começando a abrir as portas a sua volta.

Algumas estavam trancadas, e ela não tinha tempo e nem forças para tentar abri-las. Suas mãos estavam ficando avermelhadas e ardiam, devido ao contato com o ferro quente das maçanetas.

-Sophie! – Chamou mais uma vez, aproximando-se da última porta do corredor, conseguindo a abrir.

Escutou um leve choro ser emitido de dentro daquele apartamento. Viu a sua frente uma pequena sala, com diversos móveis de aparência aconchegante. Uma densa fumaça começou a se acumular dentro daquele cômodo, fazendo com que seus olhos ardessem ainda mais e uma coceira na garganta, seguida por uma tosse seca e insuportável, começasse. Seus olhos lacrimejavam, mas não podia sair dali antes de encontrar a garota. Seguiu para o próximo cômodo, reconhecendo se tratar da cozinha. Viu uma forte fumaça passando pelo vão de uma porta, que ficava do outro lado. Seguiu por um corredor em direção aos quartos.

-Sophie! - Chamou novamente, recebendo como resposta um choro. Parou de andar de imediato. - Sophie, onde você está? Sua mãe pediu para vir buscá-la. Sophie.

-Mamãe.

Escutou um murmúrio vindo de um quarto, o adentrando. Viu no canto mais afastado, encolhida no chão, uma pequena garotinha de aproximadamente cinco anos, com seus cabelos e olhos idênticos aos da mãe. Aproximou-se rapidamente, a pegando no colo. Estava tossindo incessantemente, não parecendo estar muito bem. Já deveria ter inalado muito daquela fumaça, sendo bastante perigoso. Viu uma toalha mais ao lado, a pegando e colocando sobre a cabeça da pequena, para poder protegê-la.

-Não a tire de sua cabeça, ok. Vou te tirar daqui agora. Vou te levar para sua mãe. – Falou apoiando sua cabeça em seu ombro, a ajeitando como podia em seus braços, voltando a andar.

Ao aproximar-se novamente da cozinha, viu labaredas consumindo a porta. Começou a se desesperar. Aquelas chamas estavam se espalhando muito rápido. Conseguiu chegar ao corredor, vendo que a metade do mesmo já tinha sido consumido por labaredas e a fumaça que produzia era praticamente insuportável. Colocou sua mão livre sobre seu nariz, na tentativa de amenizar o máximo que podia a inalação daquela fumaça tóxica. Virou na direção da escada, não sendo a mesma que tinha vindo, já que daquele lado não era mais possível seguir. Tinha sorte que aquele prédio possuía escadas nas duas extremidades dos corredores. Rumou-se naquela direção, mas acabou sentindo um forte tremor que a fez perder o equilíbrio, conseguindo se manter em pé apenas quando se escorou na parede, que acabou por queimar seu braço, devia ao calor que emanava. Olhou para cima, vendo o teto trincar e imediatamente um bloco cair logo a sua frente. Assustou-se, virando de costas e se abaixando, na tentativa de protegê-las. Tudo a sua volta foi preenchido por um breu total, sendo possível apenas visualizar uma fumaça densa a sua volta. Já não conseguia mais parar de tossir. Nunca antes tinha sentido tanto calor como naquele momento. Parecia que suas roupas estavam queimando e a sola do sapato derretendo sob seus pés.

-Mamãe. – A menina chorava em seus braços, muito assustada.

Ela não era a única. Temari também estava desesperada, não sabendo o que fazer. Voltou a olhar na direção de onde tinha despencado o teto, vendo que tinha caído apenas algumas vigas, bloqueando parcialmente sua passagem. Ainda ia conseguir passar, mas para isso teria que se deitar. Colocou a menina no chão, a olhando nos olhos, disse:

-Preciso que você engatinhe até o outro lado. Tudo bem? Preciso que passe por essa abertura até o outro lado. Pode fazer isso por mim? – Perguntou carinhosamente, passando delicadamente suas mãos por seu rosto, na tentativa de acalmá-la, fazendo com que a mesma apenas balançasse a cabeça em concordância. – Ótimo. Quero que passe por essa abertura e me espere. Prometo que estarei logo atrás de você.

A menina concordou, logo depois se abaixando e começando a engatinhar, passando pela abertura.

-Sophie? Está tudo bem? Já estou indo. Me espere. – Falou um pouco mais alto para que a escutasse.

Deitou-se de bruços, sentindo suas mãos arderem. Sabia que ficaria com algumas queimaduras pelo corpo, mas no momento não importava. Precisava sair dali o quanto antes. Tinha sorte de ser esguia e bem magra, o que a permitia passar por aquela abertura. Se fosse uma pessoa um pouco maior, algum homem, não iria conseguir. Conseguiu atingir a outra extremidade, vendo a garota abraçada a toalha, que ainda estava envolta de seu corpo, a olhando em expectativa e com muito medo.

-Muito bem. Você é uma garota muito corajosa, Sophie. Sabia disso? Agora vamos embora. – Falou a pegando novamente nos braços, começando a correr para as escadas, as descendo.

Todo o trajeto tinha sido tomado por uma fumaça densa, bloqueando muito de sua visão. Sentia muita falta de ar. Sabia que se não saísse dali o quanto antes, iria desmaiar. Já estava no segundo andar, faltando mais quatros vãos de escadas para chegar a recepção, foi novamente pega de surpresa por mais um desabamento. Agora da escada. Conseguiu se salvar por pouco. Sentiu seu corpo ser todo encoberto por areia e pedrinhas que caiam a sua volta. Levantou-se com algum custo. Olhou para o teto, não vendo nada além de um enorme buraco consumido por chamas. Arregalou os olhos com aquela visão. Parecia que as portas do inferno tinham sido abertas diante de si. As labaredas estavam muito perto, não conseguindo andar totalmente ereta sem que as mesmas chamuscassem seu cabelo.

-Droga. – Resmungou tentando pensar em alguma coisa para passar por aquele inferno.

Viu as escadas a sua frente, tendo alguns degraus começando a serem consumidos pelo fogo que a rodeava. Sabia que ia se queimar, e muito, mas era preciso. Respirou fundo para tomar coragem, começando as descer as escadas o mais rápido que podia. Sentia seu rosto, suas pernas, seus braços queimarem dolorosamente, mas isso não a impediu de continuar a seguir em frente sem hesitar. A única coisa que tentava ao máximo, era proteger a menina das chamas, para que não se queimasse. Ao chegar ao último andar, faltando apenas mais um vão de escadas, o teto acima de si já tinha sido totalmente consumido. Olhou para frente, reparando que faltava três degraus, que tinham caído, deixando uma abertura que descia para dentro das entranhas daquele prédio. Para conseguir passar teria que pular, sendo muito arriscado com a garota em seu colo. A colocou no chão ao seu lado, falando:

-Que tal fazermos uma pequena brincadeira? – Disse tentando transmitir confiança, tentando ficar o mais calma possível para passar tranquilidade. – Você vai ficar bem aqui, por enquanto que vou pular para o outro lado. E depois, quando eu já estiver lá, você vai pular em meus braços. Entendeu? A única coisa que vai ter que fazer é pular o mais longe possível.

-Entendi. – Disse baixinho avaliando a missão que tinha pela frente.

-Ok. Então espere aqui até que eu diga que pode ir. – Disse virando-se para a frente, calculando a distância, pulou.

Conseguiu firmar-se do outro lado com algum custo, mas dando certo. Voltou-se para a pequena, balançando as mãos em sua direção, para incentivá-la.

-Venha. Pule. Não precisa se preocupar, estou aqui para segurá-la. Lembre-se que é apenas uma brincadeira. Confie em mim. Venha. – Falava a incentivando.

Sophie hesitou por algum tempo, fazendo com que Temari temesse que ela não iria fazer o que pedia. E, se isso acontecesse, não sabia o que iria fazer, pois, não ia conseguir voltar para pegá-la.

-Anda, venha. Sua mãe está nos esperando. – Disse sorrindo gentilmente.

Ela ainda demorou por alguns instantes, mas quando um forte estampido de algo se quebrando se fez presente, a assustou, fazendo com que gritasse, se jogando para frente, em sua direção. Se assustou com aquela atitude repentina, mas conseguiu se recompor rápido o suficiente para conseguir segurá-la a tempo, a puxando sobre seu corpo, a amparando. O impacto foi forte o suficiente para que a fizesse cair para trás. Escorregou uns cinco degraus, batendo forte seu joelho em um deles, fazendo com que a madeira rachasse e sua perna o adentrasse. Sophie estava bem, apesar de um pequeno corte em sua fronte, que começou a verter sangue, fazendo com que chorasse ainda mais.

-Está tudo bem. Você foi muito bem. – Falou a abraçando fortemente, logo depois a colocando no chão ao seu lado, para tentar se levantar.

Mas, para seu desesperou, sua perna estava presa, a impedindo de se locomover.

-Era só o que me faltava. – Falou, e olhando para a menina, completou. – Vai. Corre. Siga em frente. A saída está logo ali. Vai para a sua mãe e fale que preciso de ajuda. Anda. Corre. – Disse insistentemente a incentivando.

A menina apenas a olhou por alguns instantes, antes de lhe dar as costas e começar a correr.

Suspirou de alívio, ao saber que pelo menos a garota iria ficar bem. Mas, agora algo muito mais urgente surgia. O fato do fogo estar crescendo cada vez mais a sua volta e dela estava presa.

-Espero que alguém venha me ajudar. – Falou alto, ainda tentando se soltar.

[...]

Quando Sakura veio lhe contar que tinha recebido um recado de Temari, falando que tinha um edifício prestes a desabar e que precisavam encontrar alguém que fosse lá para interditar as proximidades, não hesitaram em ir atrás de quem pudesse ajudá-las. Não demoraram muito para encontrar alguns policiais, que ao receberem a notícia, seguiram para o local. Logo que ajudaram todos que podiam, também seguiram naquela direção. Ao aproximarem do provável local, viram um aglomerado de pessoas envolta de um prédio que ardia em chamas. Hinata procurou Temari na multidão, não a encontrando. Achou estranho, pois sabia que ela não teria se afastado tanto. Aproximou-se o máximo que podia, logo sendo repreendida e impedida de continuar por alguns policiais, que tentavam afastar a multidão. Procurava avidamente pela loira a sua volta, mas não conseguia vê-la. Escutava murmúrios por todos os lados. Acabou escutando uma moça a chorar desesperada por sua filha. Aproximou-se da mesma, perguntando amavelmente:

-Aconteceu alguma coisa com sua filha? Posso ajudar com alguma coisa?

-Ela está lá dentro. – Falava com uma voz embargada por uma crise de choro. – Minha filha está lá dentro. Aquela moça foi tentar encontrá-la, mas até agora não saíram. Tenho medo do que possa ter acontecido. – Terminou de falar chorando ainda mais forte, cobrindo o rosto com as mãos.

-Moça? Que moça? – Sakura, que tinha acabado de se aproximar, perguntou afoita. – Vamos, me responda. – Insistiu, olhando séria e friamente para a mulher, que chorava desesperadamente, a assustando.

-Era uma moça loira que entrou no prédio para encontrar minha Sophie. Já faz um tempo que ela entrou, e até agora nada.

Viu Sakura arregalando os olhos ao constatar o que ela mesma já tinha.

-Temari. – A rosada murmurou assustada, indo em direção a entrada do prédio, mas foi impedida de prosseguir por um policial que entrou em sua frente.

-Parada aí. O que pensa que está fazendo? É perigoso, se afaste.

-Mas nossa amiga está aí dentro. Precisamos encontrá-la. – Falou se aproximando, também sendo impedida de prosseguir.

-Sinto muito, mas ninguém, além dos bombeiros, pode entrar. – O policial disse firme.

-Bombeiros! Que bombeiros!? Não estou vendo nenhum bombeiro aqui. – Sakura disse exaltada, estando visivelmente transtornada com a situação.

-Senhoritas, essa é uma ordem e vocês tem que respeitar. Nenhum civil pode entrar no prédio. É uma área de alto risco.

-Mas, tem pessoas lá dentro. – Sakura continuava a esbravejar, praticamente espumando pela boca de tanto ódio. Precisando ser contida por um policial para que não agredisse o outro.

Hinata ficou apenas a olhar a sua volta, tentando pensar em alguma solução, por enquanto que procurava por qualquer entrada, qualquer brecha para poder entrar e encontrar Temari. Mas, antes da oportunidade surgir, viu um pequeno vulto surgir na porta da frente, coberta por uma toalha. Escutou um grito agudo logo atrás de si, logo em seguida, vendo aquela mesma mulher que conversou a instantes atrás, passar ao seu lado desesperada, indo em direção a pequena, abraçando aquele pequeno ser com todas as suas forças.

-Minha Sophie. Graças a Deus você está bem, meu amor. – Falava por enquanto que distribuía beijos por todo seu rosto sujo, a abraçando novamente.

A menina estava toda coberta por fuligem e poeira, visivelmente assustada, com o rosto marcado por lágrimas, além de pequenas queimaduras espalhadas pelo corpo. Mas parecia estar bem, apesar de uma forte tosse. Se aproximou, perguntando:

-Garotinha, tinha alguma moça com você? Uma moça bonita de cabelos loiros. Você a encontrou? Onde ela está? – Falou séria a olhando com intensidade, fazendo com que a pequena apenas se encolhesse nos braços da mãe, balançando a cabeça em negativa, ao mesmo tempo que apontava um dedo para dentro.

Não precisava de mais nada para saber que Temari ainda estava lá dentro. Tinha ficado para trás.  Alguma coisa deveria ter acontecido. Esperava que não fosse o pior.

-Temos que entrar. – Falou ao se postar ao lado de Sakura, sussurrando para que apenas a outra a ouvisse.

-É, eu sei disso. – Disse rosnando, logo depois falando mais alto para que quem estivesse a sua volta a ouvisse. – Hei, seus idiotas, tem uma pessoa lá dentro precisando de ajuda. Precisam fazer alguma coisa ou ela vai morrer. – Esbravejava o mais alto que conseguia, chamando a atenção para si.

-Cuidado com o palavreado, está se dirigindo a uma autoridade. Se não se recompor serei obrigado a prendê-la por desacato.

-Como se eu me importasse. Saia logo da minha frente ou não sei o que serei capaz de fazer. – Falou séria, dando a entender que iria começar a correr para a entrada do prédio, sendo impedida de imediato, chamando a atenção de todos para si.

Naquele instante Hinata viu uma oportunidade surgir. Tinha sido deixada de lado pelo teatro bem feito que Sakura fazia naquele momento. Aquela comoção fez com que os policias se distraíssem com a rosada, a dando a oportunidade perfeita para agir. Não pensou duas vezes antes de se pôr a correr em direção a entrada. Ouviu um forte estampido de vidro estourando, provavelmente sendo um som oriundo de alguma janela se quebrando com o calor intenso. Não se importou por um segundo, continuando a correr. Quando estava se aproximando da porta, viu a mesma se abrindo e por ela passar aquela que estava procurando.

Temari saiu desesperada, toda suja, com fortes tosses. Seus olhos estavam semiabertos, cambaleava. Era possível ver fortes marcas de queimadura por todo seu corpo.

Antes mesmo de poder perguntar alguma coisa, a viu tombando a sua frente. Projetou seu corpo o mais longe que conseguia, para ampará-la. Ela caiu com força em seus braços a levando consigo para o chão.

-Temari! – Disse ao mesmo tempo que se levantava e a virava para si.

Viu no mesmo instante Sakura se postar ao seu lado, desesperada.

-Temari! Acorde! – A rosada começou a falar, dando leves palmadas em sua face, na tentativa de acordá-la. Mas, a loira estava totalmente apagada.

Sakura não demorou a sentir seu pulso, falando em seguida:

-O pulso está fraco.

-Imaginei. – Hinata falou por enquanto que colocava o ouvido sobre seu peito, para escutar seus batimentos cardíacos, que estavam presentes, rítmicos, mas bem fracos. – Ela sofreu muitas queimaduras, tendo muita perda líquida, deve estar entrando em choque hipovolêmico. – Ia citando o que conseguia lembrar de suas aulas de emergência. – Também deve ter inalado muita fumaça, que é tóxica, prejudicando a respiração.

Sabia que o que tinha em mãos não iria ajudar naquele momento. Temari precisava urgentemente de fluídos e oxigênio. Precisavam socorrê-la o mais rápido possível, ou nem conseguia imaginar o que poderia acontecer.

-Temos que levá-la ao hospital. – Sakura falou, parecendo ter lido sua mente.

-Sim, e o mais rápido possível. – Disse se virando para o policial. – Precisamos de ajuda, agora! Ela precisa ir para um hospital urgentemente.

Um dos policiais se aproximou falando:

-Do que precisam?

-Precisamos levá-la até o nosso carro.

-Tudo bem, posso levá-la. – Disse se abaixando e segurando Temari em seus braços, a levantando. – Onde ele está?

-Está a um quarteirão daqui. Vamos logo. – Sakura falou sem pestanejar, começando a correr, sendo seguida.

Hinata apenas parou por um instante, para olhar para a menina que ainda estava abraçada a sua mãe, falando:

-Vocês duas, venham comigo. Rápido! Ela também precisa de cuidados. Tem algumas queimaduras e inalou aquela fumaça, sendo perigoso. Venham comigo. – Falou pegando no braço da mulher, a puxando junto com a filha, para que andassem.

Chegaram rapidamente no carro, o adentrando. Hinata foi direto para o banco do motorista. 

Naquele momento precisavam dirigir bem rápido e ela era a mais qualificada para a situação. Não hesitou em pisar no acelerador, seguindo para o hospital de St Mary (7), que ficava a apenas oito quilômetros dali. Só espera que Temari ainda tivesse tempo. Não seria nada agradável se algo acontecesse.

[...]

Estava em um sonho no mínimo bem esquisito. Andava sobre uma pequena passarela, que atravessava um rio de proporções gigantescas, não conseguindo ver onde eram suas margens. Se segurava no corrimão, com medo de cair naquelas águas que pareciam ser gélidas e profundas. No começo se sentia sozinha, mas logo começou a ver outras pessoas a surgir. Estranhou o fato de todos serem rapazes vestidos de uniformes militares. Soldados de expressões abatidas, como se estivessem seguindo para mais um campo de batalha. Achou muito estranho, não entendendo o porquê de estar ali no meio deles. Acabou olhando para si mesma, notando que não vestia as roupas de antes, mas sim o mesmo uniforme do exército. Se sentiu esquisita, virando-se para o lado para olhar seu reflexo na água. Assustou-se, cambaleando para trás ao ver um rosto que não era o seu. Tal susto fez com que perdesse o equilíbrio, caindo da ponte. Soltou um forte grito, mas nenhum som saiu. Estava caindo em queda livre, mas estranhamente, não tocava aquela água que parecia estar tão próxima. Sentiu quando tudo começou a ficar mais quente, mais abafado. Ao olhar novamente para baixo, viu que a água tinha sido substituída por altas labaredas que estavam prontas para tragá-la. Gritou novamente, ao mesmo tempo que um forte som de uma trombeta reverberou a sua volta, parecendo ser provinda do céu. O barulho a adentrou, a arrepiando dos pés à cabeça, fazendo com que prendesse a respiração. No mesmo instante, tudo mudou. Uma forte luz atingiu seus olhos a obrigando a fechá-los de imediato. Sua respiração estava acelerada, mas não a impediu de perceber que estava deitada em uma cama. Permitiu-se respirar mais calmamente, para se tranquilizar, ao perceber que tudo aquilo não tinha passado de um sonho e que tinha acordado. Mas, aquela sensação estranha dentro de si, aquele calafrio pós pesadelo, ainda borbulhava em suas entranhas.

Abriu novamente os olhos, vendo um teto branco surgir. Mexeu os braços, sentindo o tecido grosseiro do lençol se mover abaixo de seus dedos. Virou o rosto para o lado esquerdo, vendo uma ampla janela de vidro com cortinas brancas a balançarem ao vento. Logo ao lado tinha uma bolsa de soro que estava presa em um suporte, com seu equipo se estendendo até uma agulha, que perfurava sua mão. Percebeu de imediato que estava em um hospital. Tentou se mover minimamente, mas seu corpo estava todo dolorido, pesado como se fosse de chumbo, não conseguindo se movimentar como desejava. Mas, não precisou fazer tanto esforço para ver duas pessoas surgirem em seu campo de visão.

Sakura e Hinata se postaram de imediato ao lado de sua cama, com semblantes sérios e preocupados, a olhando com curiosidade.

Percebeu que ambas suas mãos estavam completamente enfaixadas, permitindo que apenas as pontas de seus dedos ficassem para fora. Lembrou das maçanetas quentes queimando suas mãos. Tal lembrança foi como se fosse um gatilho, fazendo com que seu corpo começasse a arder, mandando mensagens ao seu cérebro para que sentisse dor. Deixou escapar uma careta de dor. Não eram só suas mãos que doíam, mas também algumas partes de suas pernas, braços, peito e, principalmente, de seu rosto. Era como se ainda estivesse queimando. Soltou um gemido de dor.

-Graças a Deus que você acordou, faz mais de cinco horas que estava desacordada, e olha que os médicos falaram que nem tinha sido tão grave. Você está sentindo alguma coisa? – Sakura perguntou preocupada.

-Estou queimando. – Disse com dificuldades. Sua voz saiu rouca e sua garganta ardeu, fazendo com que começasse a tossir.

-Não é para menos... – Hinata disse, e ao receber um olhar de reprovação da rosada, continuou a falar. - Você sofreu muitas queimaduras. Apesar de não serem tão graves, é o suficiente para fazê-la sentir muita dor.

-Onde você estava com a cabeça para entrar naquele prédio? – Sakura a questionou.

-Precisava ajudar.

-É claro que precisava.

-Tudo dói. – Resmungou baixo, tentando se levantar.

-Nem parece que está tudo doendo, se não, não iria querer fazer isso. – Sakura disse por enquanto que a ajudava se sentar, a encostando na cabeceira.

-Preciso de remédios, muitos remédios para dor. Pelo amor de Deus, alguém chama um médico para ele me dar essas drogas de remédios.

-Ele já passou todos os remédios que deveria. Só vai receber os próximos quando for a hora.

Uma quarta voz soou no ambiente, fazendo com que todas olhassem para a porta, vendo parado ali, a última pessoa que queria ver naquele momento. Shikamaru. E, para seu total desagrado, sua expressão não era das melhores. Ambas as garotas olharam para Temari com apreensão, tão surpresas quanto ela.

-Como você sabia que estávamos aqui? – Sakura perguntou receosa, deixando claro que nenhuma delas tinha o chamado.

-E, por acaso acontece alguma coisa nessa cidade que eu não saiba? – Sua voz soou séria e bem analítica para o seu gosto.

O silêncio perdurou por alguns instantes, mas logo foi quebrado por ele, que continuou a falar:

-Ah, é verdade. Tem sim algo que acontece por aqui e eu não sei. O fato de vocês saírem por aí fazendo loucuras.

-Não fizemos nada demais. – Hinata começou a falar, mas logo foi impedida quando ele levantou uma mão, a cortando.

-Não diga mais nada. A última coisa que me interessa no momento é uma explicação sua. Neste instante só quero conversar com as outras duas.

Ambas se entreolharam sem saber o que fazer, no mesmo instante que Shikamaru abria a porta, indicando com uma mão para que Hinata saísse. Ela hesitou por alguns instantes, mas logo o obedeceu. Por enquanto que ela passava pelo batente da porta ele completou:

-Espere no corredor.

E sem esperar uma resposta, fechou a porta.

Voltou a olhá-las com frieza, parecendo perscrutar suas almas. Nunca antes tinha o visto tão sério. A dor que sentia nem parecia ser tão significante naquele momento. Estava começando a pensar se deveria se preocupar com sua vida.

-Sakura. – Ele voltou a falar, a sobressaltando. – Essa atitude não é algo inimaginável se tratando das senhoritas Sabaku No e Hyuuga, mas nunca imaginei que a senhorita também seria capaz. Mas, aparentemente, eu, que me julgava uma pessoa que sabia ler as pessoas, se enganou e muito. Estou surpreso, como nunca, com as senhoritas. Se já estou surpreso, imagina quando o senhor Hatake também descobrir. Por que é o que vai acontecer. No momento que eu sair daqui irei contar para ele. E, tenho quase certeza que ele vai ter uma ou duas coisinhas para falar sobre isso. Coisas que não cabe a mim dizer, mas sim ele. Por esse motivo, senhora Hatake, também irei pedir que espere junto com a Hyuuga, no corredor. – Ao terminar de falar, nem mesmo deu alguma chance de resposta, abrindo novamente a porta, dando espaço para que Sakura passasse.

Sakura estava estática ao seu lado, o olhando sem saber o que fazer. Temari estava do mesmo jeito, já que nunca o tinha visto falar daquela maneira. A tratando tão formalmente e de forma tão distante, como se fossem completos desconhecidos.

-Shikamaru. – Começou a falar, mas ele a lançou um olhar tão cortante, como se mil facas a atravessassem, a calando de imediato.

-Converso com você daqui a pouco. Agora, estou pedindo para a senhora Hatake se retirar, por favor.

Apenas olhou para a amiga para saber o que faria.

-Tudo bem. – Sakura disse gaguejando um pouco, parecendo acordar de um transe. Virou-se em sua direção por uns breves segundos, a lançando um olhar de conforto e cumplicidade, parecendo querer lhe transmitir forças para aguentar, seja lá o que fosse acontecer dali a pouco. Logo depois saiu, os deixando finalmente sozinhos.

O barulho da tranca da porta se fez presente, fazendo com que o olhasse intensamente. Por que ele tinha trancado a porta? O que queria com aquilo? Nada disse, esperando apenas pela enxurrada de sermões. Mas, para sua surpresa, ele nada falou. Ficou parado no mesmo lugar, apenas a olhando, parecendo pensar no que fazer.

Os segundos se tornaram minutos e aquele silêncio estava se tornando insuportável. E, querendo saber logo o que ele estava tramando, disse:

-Diga o que quer e acabe logo com isso. E depois que sair, mande a droga de um médico vir aqui me dar analgésicos. Não estou aguentando essas dores.

-Sinto muito se estou lhe incomodando, mas acredito que não vai ter nenhum remédio para você.

Arregalou os olhos diante de tal comentário, no qual ele prosseguiu falando:

-Você precisa sentir dor para que ela lembre a você do quão inconsequente foi. E, consequentemente, faça que não o repita nunca mais.

-Do que está falando? Não podem negligenciar remédios. Estou precisando.

-Eu sei disso. E quem disse que alguém vai negligenciar alguma coisa? Longe disso. Você vai receber o tratamento que merece, assim como todos os outros pacientes. Isso significa, que medicamentos tão preciosos como analgésicos, que infelizmente estão em falta ultimamente devia a guerra do qual estamos passando, estão sendo redirecionados para pacientes com maiores necessidades. Apesar de você ter sofrido várias queimaduras e ter tido uma leve desidratação, isso não te enquadra na categoria de paciente grave. E, isso significa, que você vai ter que passar um pouco de dor. – Terminou de falar, finalmente saindo do lugar que se encontrava desde o instante que apareceu naquele quarto.

Aproximou-se vagarosamente, parando aos pés da cama. A analisava, parecendo esperar pela próxima rodada de palavras, no qual ela estava pronta para despejá-las. Mas, querendo contrariá-lo, fechou a boca, engolindo todas as palavras, que desceram secas, rasgando sua garganta. Apenas desviou o olhar, olhando através da janela, fechando seu semblante. Não iria discutir sobre aquilo, pois o que tinha escutado era verdade e não podia contrariar. É claro, que dado a seu status social, podia conseguir um tratamento melhor do que qualquer um dentro daquele hospital, mas não seria justo tirar as medicações de quem realmente precisava somente para satisfazer seus caprichos. Ia mostrar para todo mundo e, até mesmo para si mesma, que era capaz de aguentar um pouco de dor. Não ia morrer com isso.

-Você pode olhar para mim? – Ele falou novamente, no qual apenas o ignorou, continuando a olhar as cortinas que balançavam freneticamente. – Estou falando com você, então tenha o mínimo de educação e olhe para mim.

-O que você quer? – Falou brava, começando a perder a paciência, deixando uma fúria adentrar em si, o lançando um olhar mortífero. Será que ele não conseguia entender que o que ela fez foi para ajudar uma pessoa? O que tinha de tão errado naquilo? - Não te entendo. O que você quer? Diga logo e pare de enrolar.

Ele apenas suspirou, colocando os dedos em sua fronte, a massageando, parecendo estar sentindo dor naquela região. Que estivesse explodindo a cabeça, não se importaria.

Continuou o encarando, com uma sobrancelha arqueada. Se ele queria falar, pois bem, que falasse. Ia escutar, e depois ia falar muito mais, pois não era ela que iria ficar por baixo.

-Você sabe o quão irresponsável e inconsequente vocês foram? Ao irem para uma área de risco, com prédios desmoronando, casas em chamas e, até mesmo com bombas que caíram, mas não detonaram e que podiam explodir a qualquer momento. Vocês só podem estar loucas para ir em um lugar desses. O que passou pela cabeça de vocês quando decidiram ir lá? E, o principal de tudo isso, o que estava passando na sua cabeça para entrar em um prédio em chamas? – Falava alto, quase perdendo a compostura, algo que nunca antes tinha acontecido, mas Temari nem se importava, naquele momento queria falar ainda mais alto do que ele.

-Você não sabe o que estava passando na minha cabeça? Então, vou te dizer o que era. – Falava, deixando todo o ódio emergir dentro de si, se levantando da cama. Nem se importava com as dores que sentia por todo o corpo. Aproximou-se o quanto o equipo de seu soro permitia, parando a apenas alguns centímetros. – Pois vou te dizer o que estava passando por nossa cabeça. O fato de que estávamos vendo pessoas sangrando, sofrendo, morrendo na nossa frente. A única coisa que percebemos era que devíamos fazer alguma coisa para ajudar, para que, pelo menos, com o pouco que fizéssemos fosse o suficiente para que uma vida fosse salva. Foi por esse motivo que fizemos isso. Se não consegue entende, então, definitivamente, não o conheço. Pelo menos não como eu achava. E, com certeza vou pensar e muito sobre a nossa amizade.

-Você acha que eu não entendo? É claro que compreendo, e muito bem. O problema é vocês que não entendem. Ainda não perceberam que isso aqui é um campo de batalha? E pessoas morrem, a centenas, aos milhares, e você não está imune a isso. E hoje foi a prova disso. Olhe só para você, quase morreu queimada. Tudo isso por pura inconsequência. – Falava cada vez mais alterado, se aproximando ainda mais, quase relando seu corpo no dela, a olhando intensamente nos olhos.

-Não me importo. Tinha uma criança lá dentro que precisava de mim e fui. Faria isso novamente quantas vezes fosse preciso, sem pensar duas vezes. Pela primeira vez em toda a minha vida me senti útil, importante. Eu salvei uma vida. Quantas vezes você pode dizer a mesma coisa, Shikamaru?

-Você não precisa salvar uma vida para ser importante para alguém, só precisa existir. Esse é o princípio básico e inicial para fazer com que alguém se importe com você. Para fazer com que alguém veja que você existe, se preocupe, te ame e, principalmente, queira o seu bem.

-Do que está falando?

Ele balançou a cabeça em negativa:

-Nem eu sei o que estou falando. Você me deixa perdido, Temari. Nem estou mais conseguindo raciocinar direito. – Disse começando a mexer dentro do bolso de seu paletó, a procura de algo. – De qualquer forma, vou contar para Kakashi o que aconteceu e essa sua miniaventura vai acabar aqui e agora. Pode ter certeza disso. Isso não vai mais continuar. – Ele soltou uma risada anasalada, segurando algo nas mãos, no qual não se importou muito em olhar. – Isso nem se quer deveria ter começado.

-Do que você está falando? Você é um idiota. É claro que não vamos parar. Começamos e vamos seguir até o fim. Até quando for necessário.

-Não, não vão.

-Porque não vou? Você nem se quer deveria estar conversando comigo sobre isso. Você não é meu pai, não é nada meu.

-Esse é o problema. – Ele disse pegando um cigarro, tentando acendê-lo com um isqueiro. – Disse a seu irmão que você estava segura aqui. Que nada de ruim iria acontecer. Garanti isso a ele e, consequentemente, ao seu pai, que você iria ficar bem, que eu iria cuidar de você. E veja só o que aconteceu. Só foi eu dar as costas e você quase se matou.

-Ah, entendi. Então, não está realmente preocupado comigo, está apenas preocupado com o que prometeu a meu irmão. – Pensar em tal possibilidade a fez sentir tanta raiva como nunca antes sentiu. Todo ódio, amargura e ressentimento recaiu sobre si. A vontade que tinha era de gritar, esmurrar, espancá-lo até a morte, de tanto ódio que a aflingia.

É claro que ele não se importaria com ela. Por que faria isso? Estava apenas se importando consigo mesmo.

-Você é um idiota. Você é muito, mais muito idiota. E, não precisa perder seu tempo comigo, eu sei muito bem como me cuidar. E além do mais, pare de fumar esse maldito cigarro. – Disse aos berros, ao vê-lo soltando uma nuvem de fumaça. – Você sabe que eu detesto isso. Detesto isso com todas as minhas forças. – Falou ríspida, levantando a mão, retirando o cigarro com brusquidão de sua mão, indo em direção a janela, o jogando. – Detesto esse cheiro, essa fumaça e você nunca mais vai fumar na minha frente, entendeu? – Falava apontando o dedo enfaixado para seu rosto, por enquanto que ele a olhava sem reação alguma. – Quer saber? Não me importo. Não me importo mesmo. Talvez nós nunca mais vamos nos ver novamente. Porque, pode ter certeza que não quero que alguém como você fique perto de mim para...

Nem teve tempo de terminar de falar o que quer que fosse que pretendia, pois, no mesmo instante, sentiu mãos a segurar fortemente pelos ombros, a puxando para frente, tendo de imediato seus lábios silenciados com os lábios dele, que encostaram em sua boca em um beijo casto, mas ao mesmo tempo forte e desesperador. Esqueceu de tudo o que estava acontecendo a sua volta. Nem se quer sabia mais onde estava. Tinha certeza que se naquele exato momento a perguntassem seu nome, não saberia responder. Sentiu um calor preencher todo seu corpo, mas agora não era como aquele calor de antes, que a incomodava.  Era outro. Que vinha de dentro de si a aconchegando. Seu coração não cabia mais dentro de seu peito de tão acelerado que estava. Tinha quase certeza que iria sair pela boca. No primeiro instante ficou com seus olhos abertos, sem saber o que fazer, mas logo se deixou levar, os fechando e sentindo aquela sensação de seus lábios macios sobre os seus. Eram tão diferentes do que se lembrava dos outros beijos que recebeu ao longo de sua vida. Aquele era muito mais quente, muito mais desejado. Perdeu o fôlego. Suas pernas estavam como gelatina. Sabia que se não fosse por ele a segurando pelos braços, iria desabar.

Apesar de saber que o beijo não demorou mais do que alguns segundos, para ela pareceu uma eternidade. Mas não era por ter achado ruim, pelo contrário. Foi por fazê-la sentir todas aquelas sensações, aquelas misturas de sentimentos, que eram ao mesmo tempo tão controversos e desesperadamente bons. Era algo que nunca tinha sentido antes, nem mesmo com Sebastian.

Sentiu-o se afastando vagarosamente, a olhando intensamente, logo depois se afastando ao andar para trás. O olhou por mais algum tempo. Se sentia tão perdida. Foi pega de surpresa. Aquela era a última coisa que imaginava poder acontecer, e não sabia como reagir. Apenas ficou olhando embasbacada, sem acreditar que ele tinha feito aquilo.

-Você precisa descansar, para que melhore. Até mais. – Terminou de falar lhe dando as costas, saindo do quarto, a deixando parada no mesmo lugar, atônita e sem palavras.

Ele tinha simplesmente ido embora sem nada falar sobre o beijo, a deixando totalmente perdida, com o coração dando pulos em seu peito. A última coisa que queria naquele momento era que ele tivesse ido embora.

[..]

Hinata estava sentada naquele banco de madeira, localizado no corredor do hospital, balançando a perna, impaciente para saber o que estava acontecendo dentro daquele quarto. Escutou alguns gritos, o que se tratando de Temari não foi uma surpresa. Isso acabou chamando a atenção de algumas pessoas, fazendo com que Sakura e ela tivessem que inventar algumas desculpas. O pior tinha acontecido, o Nara tinha descoberto e agora tinha a plena certeza que seu plano tinha ido por água a baixo. Foi bom enquanto durou, mas aquele era o fim. Tinha toda a certeza disso.

Sakura estava andando a sua frente, visivelmente nervosa. Aquela já deveria ser a décima vez que ela passa a sua frente, aflita a roer as unhas. Algo inédito a seu ver, já que Sakura nunca iria macular suas unhas perfeitas. Isso só podia indicar que estava realmente preocupada. Não a culpava. Shikamaru saber disso era o mesmo que Kakashi já saber, o que indicava que não iria demorar muito para a rosada ganhar a sua dose de bronca. É claro que ela também não iria sair impune. Ao contrário das outras, não ia receber reclamações, ninguém iria discutir. Ia ser bem diferente. Iam simplesmente puni-la. E, agora só restava saber qual seria o seu castigo. Dada as feições nada agradáveis de Shikamaru, só podia concluir que estava muito encrencada. Principalmente naquele momento, no qual o acordo que fizera com o mesmo tinha acabado. Não tinha mais nomes para delatar ao moreno. Sua barganha tinha chegado ao fim. Não tinha mais com o que se defender. E, aquele era o momento perfeito para ele fazer o que queria desde o começo, acabar com ela.

Suspirou, balançando ainda mais freneticamente as pernas, olhando fixamente a porta a sua frente. Tinha que pensar em alguma coisa o mais rápido possível. Se saísse dali naquele mesmo instante, teria alguns minutos de dianteira. Podia encontrar algum lugar para se esconder, até planejar algo decentemente bom para sair daquele país. Não via tantas opções, tinha quase certeza que se ficasse por ali iria ser seu fim.

Estava absorta em seus pensamentos quando viu a porta ser aberta, vendo a estrela dos seus piores pesadelos surgir a sua frente. Seu semblante não era agradável, mas parecia estar bem mais calmo do que antes. Apesar de saber que aquilo só podia ser uma máscara para não as assustar.

Sakura parou de andar de imediato, indo em sua direção, falou:

- O que aconteceu lá dentro? Vocês estavam aos berros.

-Só estávamos conversando, deixando as coisas bem claras.

-Conversando? Pensei que iriam se matar.

-Só quis deixar bem claro o que penso sobre tudo isso. Vocês precisam parar com essa loucura. Não quero voltar novamente nesse hospital por causa de vocês. Eu sei que queriam ajudar, mas vocês não foram preparadas para isso, e é muito perigoso. Então, simplesmente voltem a fazer o que faziam antes.

-Ficar em casa esperando para que alguém nos fale o que devemos ou não fazer? – Sakura disse ríspida.

-Não. Nos ajudar a manter a ordem com as pessoas a sua volta, e não sair por aí nos deixando preocupados, sem saber o que pode  ter acontecido a vocês.

-Isso não é justo.

-A vida não é justa. É uma boa intenção, mas é muito perigoso.

-Entendi. – A rosada falou desanimada, parecendo estar cansada de falar. – Vou entrar para ver como Temari está.

-Faça isso. Diga a ela para descansar e que logo ficará bem. Não vai ficar por muito tempo aqui.

Hinata ficou apenas a observar o diálogo. Ao ver Sakura rumando para a porta do quarto, levantou-se para segui-la, mas foi impedida de prosseguir por Shikamaru, que se postou a sua frente, bloqueando sua passagem.

-Gostaria de conversar com a senhorita em particular.

Seus temores se concretizavam, a desanimando de imediato. Admitia que sentia um calafrio percorrer sua espinha ao olhá-lo.

Sakura os olhou de relance, sem nada falar. 

Não vendo muitas opções, apenas balançou a cabeça em concordância, o seguindo para um canto mais afastado. Esperaram Sakura adentrar o quarto para Shikamaru voltar a falar:

-Já se passaram quinze dias.

Sabia muito bem o que ele queria dizer com aquilo e suspirando, falou:

-Não tem mais nenhum nome. Vai me prender? – Foi direto ao ponto, não queria saber de enrolação. Se fosse prendê-la que fizesse de imediato.

Podia até tentar fugir, mas dada as suas condições atuais, sabia que não iria muito longe. E ele sabia muito bem disso.

O viu apenas dar de ombros, abrindo seu paletó, tirando uma pequena foto, a entregando. Analisou a figura de um homem de expressão séria, com um rosto quadrado e cabelos curtos. Apesar da foto ser em preto e branco, ficava bem nítido que seus cabelos eram bem claros. Assim como o tom da pele e dos olhos.

-Você o conhece?

-Não, nunca vi. – Falou balançando a cabeça, tentando recordar, sem êxito algum.

-Estamos atrás dele, mas até o momento não tivemos sorte em encontrá-lo. Ele se chama Frederick Kruger Zimmermann. É um espião alemão e estamos a sua procura. Infelizmente, no momento não estou tendo agentes o suficiente para participar desta missão. Todos que disponho já estão ocupados, e não posso abrir mão de nenhum deles. No momento, estou de mãos atadas e não posso deixá-lo fugir.

-Tudo bem. E porque está me contando isso? – Disse tentando o devolver a foto, no qual ele recusou pegar.

-Fique com ela. Sei que não tem mais nenhum nome para me falar, sei que sua lista já se esgotou. E, você tem razão, podia prendê-la, mandá-la para a cela mais profunda, escura e suja de uma prisão, e deixá-la apodrecendo lá. Mas, aí acabei pensando comigo, que isso seria um desperdício. Estou precisando de pessoas e porque eu não poderia usá-la?

-O que? Como assim?

-Estou querendo dizer que o nosso acordo acabou de ser alterado. Espero que não se importe. Não preciso saber de mais nomes o que preciso agora é que você os encontre para mim.

Não pôde deixar de demonstrar surpresa com aquela conversa. Ele queria que ela fosse atrás daquele homem? Estava custando a acreditar no que ouvia.

-Você quer que eu vá procurá-lo?

-Sim.

-Como pode ter certeza que vou fazer isso? O que te garante que eu não vá embora? Que você me perca.

-Acho que você já sabe a resposta.

- É, você tem razão. Eu sei. – Disse ao se lembrar do porquê de estar ali até aquele momento, o porquê de ainda não ter ido embora para casa, por não estar na Rússia.

Era porque ela simplesmente não conseguia sair dali. Estava presa e ninguém tinha vindo a seu socorro. Tinha sido deixada de lado, abandonada. Ninguém se importou com ela e com seu sumiço. Nem mesmo Neji. Tinha pensado que pelo menos ele não iria deixá-la, que não iria demorar muito para aparecer e tirá-la daquela prisão. Mas, para sua total frustração, se enganou. Ele não apareceu. Foi esquecida. Tinha quase certeza que já deveriam ter a desligado do programa, considerada morta. Agora era apenas um agente que foi perdido em campo e iria ser substituída. Essa não seria a primeira vez que algo assim acontecia. Já tinha perdido a conta de quantos colegas tinham desaparecido do nada, cortados, como eles mesmos diziam, do programa. Saiam para missões sem nunca mais voltar. E, ela sabia muito bem que ninguém era enviado para procurá-los. Também sabia o que acontecia com os que não voltavam. Falhas eram inadmissíveis e se o agente em questão não tivesse sido morto em missão, se tivesse conseguido escapar, ele logo era pego e eliminado pelos próprios colegas de trabalho. A KGB funcionava como qualquer outra empresa. Se os funcionários não produziam como o esperado, eram demitidos ou, como naquele caso, eliminados.

-Quando? – Perguntou por fim, ainda olhando para a foto, se vendo obrigada a aceitar.

-Imediatamente.

-Não posso simplesmente sumir. Elas vão desconfiar.

-Diga qualquer coisa.

-Você acha que é tão fácil enganá-las?

-Acredite, eu sei que não. Mas você vai ter que inventar alguma desculpa para sua ausência. E, eu sei que é capaz disso.

-É claro que sou.

-Tenho que ir.

-Tudo bem. – Falou balançando a cabeça no automático, o vendo começar a se afastar.

-Ah, só mais uma coisa. – Disse se voltando novamente para ela. – Tire essa ideia maluca da cabeça delas.

-Você acha isso possível?

-Não, mas pode ter certeza que se não for por bem vai ser por mal. Nem que eu tenha que prendê-las dentro daquela casa. Mas, elas não saem mais de lá.

-Vou ver o que posso fazer.

-Ótimo. Lembre-se que você precisa fazer o melhor para agradecer por toda a hospitalidade dos Hatakes.

-Não se preocupe, irei fazer o meu melhor.

Ele anuiu, lhe dando as costas e indo embora.

Suspirou em descrença. Agora tinha mais isso para se preocupar. Agora ia trabalhar como um agente duplo, ia trabalhar em prol de outro país. Não era porque queria, é claro, estava sendo obrigada. Sendo uma questão de sobrevivência, mas não se sentia muito bem diante disso. Nem queria saber o que Neji falaria se soubesse. Ele que era tão fiel a seus deveres e a seu país. Tinha certeza que se ele estivesse em seu lugar, iria recusar. Ele nunca aceitaria tal coisa. Mas, ela não era ele, ela era Hinata e, com certeza, Hinata pensava muito mais em si mesma do que em um país que nem se importava com ela.

Guardou a foto no bolso de sua calça, indo para o quarto de Temari. Ao entrar, viu a loira sentada na cama, olhando estática para frente, sem de fato ver, parecendo estar perdida em pensamentos. Nem se quer se dignando a olhá-la quando entrou. Só sabia que ainda estava viva porque a via respirando. Olhou para Sakura, que estava parada ao lado da cama, parecendo assustada a olhar para a amiga. Aproximou-se desconfiada, virando-se para a rosada, perguntou:

-O que foi?

-Não sei. Não faço ideia. – Sakura falou dando de ombros. – Desde a hora que entrei ela está do mesmo jeito. Não fala nada, não olha para nenhum outro lugar. Nem se quer se move. Já falei um monte de coisas, mas ela não reage. Será que ela está tendo algum tipo de problema? Será que chamamos alguma enfermeira? Será que ela está sentindo alguma coisa?

-Ela está parecida com aquela vez, quando sua casa foi atingida por uma bomba.

-É, eu sei. Será que aconteceu algo?

-Provavelmente Shikamaru disse alguma coisa que a deixou assim.

-Sim, mas o que?

-Sei lá.

-Temari, o que aconteceu? – Sakura perguntou novamente. – Shikamaru disse alguma coisa? Você sabe que pode nos contar, certo? Somos amigas. – Falou depositando uma das mãos em seu ombro, mas foi como se tivesse falado com uma parede, apenas silêncio.

Sem ter o que fazer, Sakura se afastou, começando a voltar a ficar agitada.

-Tenho certeza que não é nada demais. Logo ficará bem. De qualquer forma, preciso ir. – Hinata por fim falou.

-O que? Por que? – Sakura, pela primeira vez a olhou com interesse, curiosa para saber.

-É que vou viajar.

-Para onde?

-Shikamaru me falou que recebeu um recado da minha tia, falando que está doente e que precisa de minha ajuda.

-Tia? Que tia? – Perguntou desconfiada. – Pensei que não tivesse ninguém por aqui.

-É claro que tenho alguém. Ninguém é totalmente sozinho nesse mundo, Sakura. É uma tia que vive em um pequeno condado do interior. Vim para Londres a procura de emprego, para melhorar minha vida, e a deixei para trás. Mas, agora ela precisa de mim e preciso voltar. – As mentiras surgiam em sua boca conforme ia falando.

Era boa em mentir. Não tão boa como Neji, mas boa o suficiente para fazer com que acreditassem nela de imediato.

-Não sabia disso. O que é?

-Não sei, mas parece que é grave. Tenho que ir o mais rápido possível.

-Era sobre isso que Shikamaru queria falar com você?

-Sim, exatamente isso.

-Tudo bem. De qualquer forma, acho que não vamos fazer nada por um bom tempo. Não com Temari assim. Ela precisa se recuperar. Acho que vamos ter que tirar algumas férias. – Terminou de falar deixando surgir um leve sorriso no canto dos lábios, fazendo com que a morena também sorrisse.

Era até engraçado ver Sakura imaginando a possibilidade de que iriam continuar a sair por Londres a salvar pessoas, principalmente agora, que elas sabiam que era algo praticamente impossível. Ainda mais com ela tendo que sair e ir, sabe-se lá para onde, sem fazer ideia de quando iria voltar e, se iria voltar.


Notas Finais


Espero que tenham gostado.
T+

Notas:

1) Durante a segunda guerra mundial, com a maioria dos homens indo para a guerra, as mulheres tiveram que começar a fazer os trabalhos que antes eram destinados a eles. Primeiro, era apenas como voluntárias, ao trabalharem como enfermeiras, em fábricas, no Serviço auxiliar territorial, no serviço naval real das mulheres, corpo de mulheres do exército, corpo de transporte motorizado, serviço auxiliar de bombeiros, corpo de mulheres da aeronáutica, mensageiras. Sendo que em 1941 começaram até mesmo a serem convocadas, no início apenas solteiras, e depois até mesmo casadas que não tinham filhos menores de 14 anos. Durantes os ataques sofridos na Inglaterra, muitas mulheres saiam as ruas para ajudarem no que fosse necessário.

 

2) Kensington roand  é uma rua que passa pela Charing Cross.

 

 

3) Charing Cross é junção de três ruas, Strand, Whitehall e Cockspur em Westminster, dentro da Londres central. É um marco de referência a partir do qual todas as distancias da cidade são medidas.

 

4) Hackeney é um dos lugares mais pobres de Londres localizdo ao sudoeste de Londres.

5) Stole Newington é um destrino londrino de Hackney localizado a 8k a nordeste da charing cross.

 

6) Windus road é uma rua em Stole Newington

 

 

7) Hospital St Mary está localizdo em Westminster. Foi fundado em 1845.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...