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História Os dias eram assim - Lágrimas de sangue


Escrita por: ladyjack

Notas do Autor


Olá. Como vocês estão? Espero que bem. Gostaria de agradecer a todos pelo apoio, comentários e favoritos. Vocês não imaginam o quanto isso me ajuda a seguir escrevendo. Muito obrigado.
Trago aqui mais um capítulo. Espero que gostem.
Boa leitura.

Capítulo 50 - Lágrimas de sangue


•Meaux¹, março de 1941


O movimento constante a deixava enjoada, devido a dor que sentia irradiar de seu ferimento. Sentia frio. As pontas dos seus dedos, congelados, ao mesmo tempo que suava, causando uma estranha sensação. Sabia que era devido a seu estado febril, e a visão turva das coisas a sua volta não ajudava muito no processo de acalmar seu estômago rebelde, que hora ou outra se embrulhava, quase a obrigando a colocar tudo para fora. Mas, segurava, se mantendo firme para não passar mal na frente de todos. Naquele momento a última coisa que queria era os deixar ainda mais preocupados do que já estavam.

Respirou fundo o ar gélido, inalando, ao mesmo tempo, o perfume suave da pele de seu companheiro, que a levava em suas costas, para evitar que se exaurisse ainda mais durante uma longa caminhada. Não gostava muito da ideia de ser carregada, mas aceitava, pois, só Deus sabia que ela não tinha mais forças para dar um passo se quer.

Bufou frustrada, olhando para o céu cinzento, com nuvens grossas a correr ligeiramente, indicando que logo mais choveria. E, com o sol baixo, quase se escondendo no horizonte, não deixava as perspectivas tão boas, pois, se não encontrassem um abrigo o quanto antes, iriam passar a noite no relento, tendo a chuva como companheira. Sorriu minimante com tal pensamento. Sabia que se isso acontecesse, as chances de sua febre piorar e sua saúde declinar ainda mais eram grandes, mas não podia deixar de pensar no quão agradável seria ter a sensação da água gélida a beijar sua pele morna.

Gemeu baixinho, fechando os olhos, na tentativa de amenizar o forte ardor em seu quadril, torcendo em pensamentos para que Itachi não tivesse a ouvido, já que naquele dia era ele que a levava. O que a agradava, já que podiam conversar de forma mais íntima, sem chamar a atenção dos outros dois. Esses momentos eram os melhores. É claro que também gostava de passar um tempo com seu irmão, pois, ele a divertia com suas conversas exageradas e brincalhonas para poder distraí-la. Mas nada se comparava a ficar perto do moreno, pois, ele a transmitia uma segurança que mais ninguém conseguia. Estar em seus braços a fazia se sentir segura e feliz.

Sorriu com tais pensamentos, inspirando discretamente a pele da curva de seu pescoço, aproveitando da situação para sentir cada parte do seu corpo ao encontro do seu, produzindo um calor aconchegante e harmonioso. Cada pedaço de sua pele em contato com seu corpo produzia milhares de comichões e uma sensação maravilhosa cada vez mais crescente dentro de si. Sorriu largamente, deixando um leve rubor surgir em sua face com tais pensamentos pecaminosos. Mas, não conseguia evitar.

Sentiu um leve solavanco, e suas pernas serem apertadas com mais intensidade, percebendo que os passos do moreno tinham aumentado de velocidade. Tal movimento a fez voltar a realidade, fazendo com que sentisse mais uma onda de náusea e uma forte vertigem, juntamente com mais uma forte pontada de dor. Mas, engoliu tudo.

Se segurando com maior intensidade, perguntou:

-Aconteceu alguma coisa? – Sua voz soou mais baixa do que o esperado, fazendo sua garganta arranhar com a falta de água.

-Não. – Balançou a cabeça em negativa, virando um pouco a cabeça na tentativa de visualizá-la, com uma voz séria, mas bastante convicta.

Assentiu, olhando para frente e vendo bem mais adiante, Naruto e Sasuke, que andavam lado a lado, atentos a tudo o que acontecia a sua volta, preparados para agir caso fosse preciso.

-Não está acontecendo nada. Mas, não gosto deste lugar. Tem muitos morros. Não dá para ver o que tem mais a frente. É um lugar perfeito para emboscadas. – Itachi voltou a falar, chamando novamente a atenção para si.

-Você acha que algo pode acontecer? – Inqueriu suspirando em seu pescoço. Sua voz estava séria e vacilante. Estava com medo.

A última coisa que queria era passar por mais algumas daquelas situações. 

Olhou a sua volta, na tentativa de tentar compreender o que o perturbava, percebendo que a topografia daquela região era desregular e de difícil visualização. Além do mais, logo a frente se erguia de forma gradativa, ruínas de antigas construções, que deveriam ter sido destruídas devido a bombardeios, deixando apenas esqueletos de concreto, madeira e ferro a subir em direção ao céu. Não entendia muito bem de estratégias de combate, mas sabia que aquele lugar era ruim, a fazendo compreender o porquê da apreensão do moreno. E isso, só fazia com que sua tensão e medo se exacerbasse ainda mais.

-Não, não vai acontecer nada. Estamos mais perto do que nunca de Paris. Falta apenas alguns poucos quilômetros. Se tudo ocorrer como o esperado, chegaremos amanhã. – O ouviu dizer, ficando nítido sua tentativa de acalmá-la.

-Já estamos tão perto assim? – Perguntou curiosa, tentando se levar por um caminho mais fácil, e se esquecer do que tinha logo a sua frente.

-Sim. Já consigo sentir o cheiro da sujeira e de toda a poluição. – Sua voz soou divertida, ficando claro que estava tentando distraí-la.

-Isso não me parece muito agradável. – Murmurou desgostosa, entrando na brincadeira.

-Ora, Paris é enorme. O que esperava? Que cheirasse a flores campestres? – Disse brincalhão, arrancando um sonoro riso que amenizou toda a sua tensão, apesar de fazer os pontos no ferimento se repuxarem, reclamando desgostosos do movimento brusco e inesperado.

-Tem razão. Mas, quando se ouve falar de Paris, essa é a última coisa a ser mencionada. – Voltou a falar, ignorando a dor latente.

-É claro que não. Paris tem muito mais a oferecer do que você pode imaginar. Tenho certeza que irá amar. Não vejo a hora de a ver de boca aberta, embasbacada com todas as maravilhas da cidade luz. – Falou se vangloriando com orgulho de sua cidade natal.

-Será? Não se esqueça que também venho de uma capital. Berlim é uma cidade bastante imponente e com vários atrativos. – Não pôde deixar de falar de sua cidade, sua casa. 

A nostalgia e saudades se apoderaram de imediato de si, ao se lembrar de todas as aventuras que vivera naquele lugar tão distante.

-Não duvido. Mas, posso lhe garantir que não existe lugar mais deslumbrante. Você vai amar.

-Vamos descobrir quando chegarmos. – Deu de ombros, o segurando com mais firmeza pelos ombros, não se importando com os cortes nas mãos. Queria aumentar cada vez mais o contato entre seus corpos, pois, só assim se sentiria completamente segura novamente. Deixando um leve e travesso sorriso transparecer em seus lábios.

-Tenho certeza que vai amar. E, vou ter o maior prazer em te dizer: eu avisei. –Itachi continuou a falar, animado com a conversa. - Além do mais, devo alertá-la de que deverá se acostumar e, bastante com o lugar, pois, essa será a cidade que irá morar pelo resto de seus dias, depois que nos casarmos. - Se calou no mesmo instante, ao perceber o que tinha acabado de falar.

Ela também o percebeu, ficando momentaneamente sem palavras. Era isso mesmo o que tinha ouvido? Ele pretendia se casar com ela? Ou era somente um delírio causado pela febre? Não sabia dizer, e isso a desconcertava. Mas, queria falar alguma coisa, falar que se importava. Mas, como dizer algo, sendo que nem ao menos tinha certeza do que tinha escutado? Não sabia. Mas, tinha total certeza de que deveria falar, mesmo que fosse para acalmá-lo, e para que soubesse que estava tudo bem e de que ela sempre estaria ao seu lado.

-Tenho certeza que esse deve ter sido o pior pedido de casamento da história. – Falou tensa, logo começando a rir, tentando descontrair o clima.

Mas, tal comentário só acabou os deixando ainda mais desconfortáveis. E o calor intenso em suas bochechas só indicava o quão envergonhada estava de suas palavras. Tinha dito tal coisa na tentativa de o acalmar, e pensara que se o fizesse de forma descontraída, poderia dar certo, mas agora via que tinha escolhido mal as palavras. Porque tinha dito tal coisa? Estava realmente delirando.

-Bem... – Sua voz soou rouca e falha, na tentativa de dizer algo, mas acabou parando de falar na metade, parecendo não conseguir continuar.

-Acho que o deixei sem palavras. Não precisa se preocupar. Só estava brincando. Não quero que pense que estou desesperada. – Tomito falou, rindo com cada palavra proferida, não querendo mais prolongar tal constrangimento. O melhor era apenas seguir em frente e esquecer que tinham tocado no assunto. Até porque, ainda era muito cedo, e com toda a certeza ele não a pediria em casamento com tanta pressa. Isso seria uma loucura.

-Tomito? – Ele chamou calmamente por seu nome. Seu coração se acelerou em um rompante e nada mais importava a sua volta, apenas nas palavras que seriam proferidas por seus lábios. – Você quer casar comigo? – Perguntou nervoso.

Prendeu o ar de imediato. Era realmente isso que tinha escutado? Ele realmente tinha a pedido em casamento? Não estava louca, alucinando tudo, e quando menos esperasse iria despertar e perceber que tudo não tinha passado de um delírio insano? Desejou com todas forças que não fosse fruto de sua cabeça, mas sim a realidade.

Engoliu em seco, sentindo seus olhos marejarem e um vento gélido tocar em sua face, juntamente com mais uma forte pontada de dor. Quase reclamou, mas parou no ato, percebendo o que estava acontecendo. Se estava sentindo dor, então era a realidade, não um sonho. Tudo aquilo era real. Ele realmente tinha feito a proposta.

Sorriu exultante, mal conseguindo respirar com a alegria que a inundou, preenchendo cada canto de seu ser. Sentia seu coração palpitar intensamente em seu peito, parecendo querer sair pela boca e, um frio latente, mas prazeroso, a subir por suas entranhas. Aquela sensação era maravilhosa e inebriante e, a única coisa que Tomito desejava naquele momento era de que Itachi desfrutasse da mesma sensação. Sorriu maravilhada, pronta para retribuir as palavras.

Sentia seus músculos se retesarem sob seus braços, tensos pela demora na resposta. Não tardou em abraçá-lo com intensidade redobrada, com afeto e carinho, na tentativa de deixar bem claro que nunca o abandonaria.

-Ja!² – Disse chorosa e quase inaudível, com uma voz embargada de emoção. –Ich liebe dich.³

Estava tão feliz e emocionada que, até mesmo, esqueceu de como se falava em inglês. A única coisa que conseguiu dizer foi em alemão, pois, seu cérebro estava em pane e não conseguia raciocinar direito com tamanha emoção.

-O que? – O ouvi inquerir, percebendo que ele ainda não sabia qual era sua resposta, pois não entendia alemão.

Suspirando para poder se controlar, conseguiu agrupar as palavras em sua cabeça, falando por fim:

-Eu disse, sim. Sim! Eu quero me casar com você. – Falou mais exasperada, alto o suficiente para que a escutassem de longe, não se importando se iriam escutá-la. O que mais importava naquele momento era expressar o quanto o amava.

–Não...

-Eu te amo! – Falou rápido, se sentindo pronta naquele momento para dizer o que já tinha vontade a algum tempo, mas agora em alto e bom som, para que os ventos levassem tais palavras para os quatro cantos do mundo, para que todos soubessem o quanto o amava.

O sentiu a apertando ainda mais contra si, segurando com intensidade suas pernas, na tentativa de mantê-la firme em suas costas. Sentia através do tecido grosso da roupa seu coração acelerado, batendo forte no peito, lhe dando certeza de que ele tinha gostado das palavras. Daria tudo para ver seu rosto neste momento e poder desfrutar do gosto de seus lábios. Quase pediu para que parasse de andar e a colocasse no chão, de pé, para que pudesse olhar em seus olhos e repetir novamente que o amava. Queria que ele a visse por inteiro quando dissesse novamente.

Mas, antes de proferir qualquer palavra, escutou um estampido alto, que a trouxe de volta para a realidade, a assustando.

Só teve tempo de reparar que estava no meio das construções. Até aquele instante não tinha se dando conta de onde estava. E, que não via mais seu irmão. Viu balas ricocheteando nas paredes a sua volta, sentindo seu corpo ser jogado ao chão.

[...]

Seu coração batia acelerado com a adrenalina que percorria todo o seu sistema o mantendo em alerta total. Não sabia o que estava acontecendo de fato, além de estar sendo alvo de tiros. O que o obrigava a ficar deitado no chão, para diminuir a visão de seus atacantes, se escondendo entre a relva dourada e queimada pelo frio.

Sasuke tinha tido o azar de cair de costas no chão, e cada simples movimento que fazia, era o suficiente para chamar a atenção dos atiradores, o obrigando a ficar naquela posição, o que o deixava em grande desvantagem, pois, não conseguir ver o que estava acontecendo ao seu redor.

Por isso, se vali de seus sentidos, aguçando como podia seus ouvidos, que o permitia a ouvir os estalidos dos sons dos tiros misturados com o barulho do vento que aumentava gradativamente, fazendo com que a grama a sua volta balançasse freneticamente. Olhava para o céu, vendo as nuvens ficando cada vez mais cinzas e densas, prestes a deixar suas águas caírem sobre eles.

Inspirou profundamente, tentando se acalmar, pois, estava muito nervoso e preocupado com seu irmão que tinha ficado bem mais atrás de si, em uma posição desprivilegiada. E, tais pensamentos o distraiam, também o deixando vulnerável.

Notava apenas o movimento mínimo e quase imperceptível de Naruto, que estava deitado ao seu lado, também se protegendo dos projéteis que hora ou outra ricocheteava na terra a sua volta. Sabia que o loiro tinha uma melhor visão a sua volta, pois, estava deitado de bruços, como o recomendado.

-O que está acontecendo? Consegue ver alguma coisa? –Inqueriu inquieto, se sentindo vulnerável por depender de terceiros para conseguir se situar.

Confiava em Naruto, mas não o suficiente. Apesar de tudo o que passaram juntos, ainda não depositava uma confiança plena nas habilidades do rapaz. Sabia que essa posição era única e exclusiva de Itachi. Se tivesse sido o contrário, e fosse seu irmão que estivesse ali do seu lado, faria tudo de olhos fechados, pois, confiava sua vida ao moreno.

-Estamos sendo atacados por algum atirador. Mas, me parece que não deve se tratar de mais de duas pessoas. Mesmo assim, me parece que um deles deve possuir uma arma de longo alcance, pois, consegue percebe cada mínimo movimento.

-Não acha que pode ser algum atirador de elite? – Perguntou receoso. Cada mínimo detalhe era importante para poder elaborar um contra-ataque.

-Não acredito que seja.

-Não acredita ou tem certeza?

-Tenha certeza! Se fosse, já estaríamos mortos. Estávamos desprevenidos, e ele podia ter nos acertado na cabeça e nem se quer teríamos percebido de onde veio.

Bufou descontente. Aquilo era verdade. Se fosse realmente um sniper, estariam mortos e nem teriam percebido. Saber disso abria uma possibilidade, não muita, mas tinham uma chance.

-Isso quer dizer que vai dar trabalho. – Murmurou desgostoso. Detestava aqueles tipos de armas, que possibilitava seu usurário conseguir atirar a longas distâncias, sem perder o alvo com tanta facilidade.

-Sim, e muito. Mas, não se desanime ainda, Sasuke. Ainda temos chances de revidar.

Sabia disso. Apesar de seu rifle ser simples, Sasuke possuía uma boa mira, devido ao contato íntimo que teve com armas desde muito cedo. E, já tinha tido prova que o loiro também era bom, com uma boa mira, além de ser bastante centrado quando se tratava de situações de risco, sabendo agir conforme o necessário. Mesmo assim, não conseguia ficar calmo, pois, Itachi estava em uma área menos privilegiada e poderia ser atacado a qualquer momento.

Tinha o visto entre as ruínas das construções, segundos antes do ataque começar, o que indicava que ele tinha sido obrigado a se proteger naquela área. E, também sabia que aquele era o pior lugar de se estar durante uma emboscada, pois, bloqueava qualquer tipo visão, não permitindo uma antecipação adequada. Se fossem atacados, só perceberiam quando o inimigo estivesse encima, sendo tarde demais.

Resmungou com tal perspectiva, xingando em pensamento. Tinham que agir rápido para ajudar os outros dois, que estavam em grande perigo.

-Naruto. – Chamou novamente, olhando de esguelha, vendo apenas as costas tensas do companheiro. – Você consegue ver nossos irmãos?

-Não. Estou olhando diretamente para as construções, mas não consigo ver nada. Nenhum sinal. – Sua voz estava grossa e áspera, indicando a apreensão que o afligia.

-Droga. – Tal resposta só o deixou ainda mais preocupado.

-Isso não deve significar nada. Só devem estar se escondendo entre a vegetação, assim como nós. Eles vão ficar bem. – Ele dizia mais para si, parecendo tentar se convencer.

Não o culpava. Naruto já tinha passado por uma péssima experiência com a irmã há poucos dias, que tinha escapado por pouco da morte. Além disso, ela não parecia estar muito bem, o que deixava tudo mais intenso, devido à urgência de chegarem quanto antes a Paris.

-Temos que voltar. – Disse por fim, ciente de que aquela era a melhor resposta.

-Eu sei. – Naruto disse baixo, resmungando. – Droga! Não vou permitir que minha irmã seja ferida novamente.

-Isso não vai acontecer, porque vamos voltar para ajudá-los. – Disse, apesar de não saber se realmente conseguiriam. Se havia um sniper entre eles, no momento que esboçassem um movimento, seriam atingidos e tudo estaria acabado.

-É claro que não, porque não vou permitir. – Falou severo, pronto para começar a agir.

-Então, vamos até lá.

-Sim. Mas, droga. Espero que estejam bem e que não foram atingidos. Aquele lugar é ruim. Eles podem ser pegos desprevenidos.

-Exatamente. Por isso vamos voltar agora.

-Ok, vamos fazer isso. – Disse exasperado, pronto para seguir em frente.

-Não consigo ver nada. Preciso confiar em você para poder me levantar sem ser atingido. - Sabia que se Naruto falhasse em lhe dar cobertura, seria atingindo fatalmente.

-Tudo bem. O aviso quando for o melhor momento.

-É o que espero. – Murmurou não muito convicto.

-Mas, como vamos fazer isso?

-Vamos contar juntos até três. Quando a contagem terminar, ambos levantamos. Como você está em uma posição privilegiada, já pode levantar atirando, o que vai acabar coagindo nosso atacante, me dando tempo para levantar e também começar a atirar. Assim, vamos correr até a construção mais próxima, para nos protegermos, e assim, encontrá-los.

-Entendi. E, em todo o momento, estaremos atirando para coagir esses bastardos.

-Isso. Mas, lembre-se que podemos ser atingidos.

-E se um de nós for? – Inqueriu com uma voz entrecortada e desconfortável, aquela era uma possibilidade bastante plausível.

-Se um de nós for atingido, o outro continua.

-O que? Não posso fazer isso. Se você for atingido, não posso o abandonar. – Ele voltou a se exasperar, se contorcendo para o ver. No mesmo instante uma bala ricocheteou bem próximo de sua coxa, os paralisando no mesmo lugar.

-Não se mexa. – O repreendeu nervoso.

-Eu sei. Mas, o que me disse é muito absurdo. – Não conseguia ver seu rosto, mas tinha certeza que estava estampado em sua face indignação. Ainda não sabia como Naruto ainda estava vivo com toda aquela bondade.

-Não se preocupe comigo. Se eu for atingindo e não for grave, ficarei deitado, e quando der, tento alcançá-los.

-Fala como se fosse você a ser atingido. As chances de eu ser atingindo são as mesmas que as suas.

-E, não vou hesitar em o deixar para trás. – Soou duro, tentando o fazer compreender o que era mais importante. Mas, não duvidava que só tinha dito aquilo na tentativa de se enganar, pois, nem ele sabia se conseguiria fazer isso.

-É claro que vai deixar. – Naruto falou risonho, misturado com um tom de amargura evidente, o deixando desconfortável de imediato. – Você é um idiota. Mas, tem razão. Não posso deixar minha irmã correndo perigo. Temos que fazer alguma coisa.

-Então, está de acordo? – O questionou querendo ter certeza de que o loiro tinha o entendido.

-De acordo.

-Ótimo. Então, no três, nós corremos.

-No três.

-Um...

-Dois...

Um instante de silêncio se fez presente, e o mundo parou a sua volta. Sabia que era um truque de sua mente o pregando uma peça, e que era seu cérebro diminuindo a velocidade dos acontecimentos, devido à tensão que sofria. Aquele seria o momento da verdade. Arriscaria tudo para ajudá-los.

-Três. – Falou se levantando, ao mesmo tempo que escutava tiros reverberando cada vez mais alto.

A única coisa que conseguiu fazer foi correr, depositando sua vida nas mãos daquele rapaz que tinha conhecido a tão pouco tempo, e que tecnicamente eram inimigos. Mas naquele instante nada disso importava. Sabia com todo o seu ser que Naruto faria de tudo para protegê-lo e isso, estranhamente, o tranquilizava. Apertou o gatilho, direcionando o cano do rifle na direção que acreditava ser a correta. Mas, não tinha certeza se estava fazendo o certo e, muito menos, se Naruto ainda estava a seu lado.

[...]

Sentia a grama alta a roçar em seus braços, conforme o vento a balançava, e do cascalho que incomodava suas palmas com o contato que fazia com o chão duro da terra onde estava deitado de bruços, na tentativa de se proteger. A posição o incomodava, já que não tinha uma boa visão do que acontecia a sua volta. E, a única coisa que conseguia ver era as nuvens negras a correr sobre sua cabeça e de muros de tijolos enegrecidos e embolorados pelo tempo, e que os rodeavam. Mas, naquele momento, isso era o que menos importava. Itachi estava apreensivo, diria que até mesmo assustado com o que via.

Tomito estava sentada mais a sua frente, escorada em um dos muros, segurando a lateral de seu corpo, deixando transparecer uma expressão de dor, por enquanto que sangue vertia de alguma parte de seu corpo, sujando sua blusa branca e sua mão. Estava com medo dela ter sido atingida.

Por Deus, esperava que não fosse isso.

Tinha que fazer alguma coisa para tirá-la dali, pois, ela estava correndo um sério risco de vida, pois, parecia estar perdendo muito sangue.

-Não se preocupe. Estou bem. – A ouviu falar receosa, com uma voz tensa, na tentativa tranquilizá-lo. – Durante a queda um dos pontos deve ter aberto, mas se eu continuar pressionando, logo vai parar. - Disse em uma voz falha e quase inaudível, que não transmitia muita confiança.

-Tem certeza que não foi atingida? – Perguntou desesperado.

-Não. Acho que saberia se tivesse sido. Não precisa se preocupar, logo vai melhorar.

-Tudo bem. – Murmurou um pouco mais tranquilo, mas não muito, já que ela ainda estava perdendo sangue.

Começou a olhar a sua volta, na tentativa de buscar alguma solução para poder ajudá-la. Mas quanto mais tentava pensar em algo, mais sua mente ficava em branco, o fazendo emitir gruídos revoltados com sua falta de capacidade.

– Preciso de minha arma. Na posição que estamos, podemos ser atacados a qualquer momento. Preciso estar armando quando isso acontecer. – Foi a única coisa que conseguiu pensar no momento, que precisava de sua arma.

Ambos olharam na mesma direção no mesmo instante, para o rifle que estava caído há alguns metros de distância dos dois.

-Você está mais perto. – Ele comentou, no qual ela constatou o mesmo.

Sabia que se ela esticasse uma de seus pés, conseguiria puxá-la para perto.

-Posso tentar. – Disse, segurando com mais força no quadril ferido, emitindo uma careta de dor, o deixando aflito no mesmo instante.

Aquela era uma péssima ideia, não podia arriscar que Tomito se machucasse ainda mais. Teria que pensar em uma solução melhor.

-Quer saber? Esquece. Não se mecha. Parece que entre nossos atacantes, tem um com uma ótima mira, talvez um atirador de elite. Não podemos arriscar que se mexa, pois, ele pode vê-la e atingi-la.

A viu parando o movimento no mesmo instante, pressionado como podia seu corpo contra a parede. Sua respiração ficou um pouco mais acelerada, com seus olhos a começar a lacrimejar, com o que deduziu, se tratar de medo. Seu coração se apertou de imediato com tal visão. A última coisa que queria era vê-la com medo, acuada, aterrorizada. Mas, era o que ela sentia naquele momento, e sabia que era o seu dever tentar acalmá-la.

Olhou para o céu, percebendo que uma garoa fina caia sobre si, fazendo com que seus cabelos ficassem grudados envolta de seu rosto, e sua roupa ao corpo. Suspirou, vendo uma fumaça branca preencher seu campo de visão. A temperatura tinha caído drasticamente, mas o medo não tinha permitido com que notasse tal mudança, até aquele momento. E cada estampido que escutava das balas ricocheteando tão próximo, só aumentava seu desespero. Era um cântico de morte. E, o fato de não conseguir saber se seu irmão estava bem, só piorava a situação.

-Sabe, não precisa se preocupar. Confio minha vida ao meu irmão, e tenho certeza que você confia a sua no seu. E, eles vão dar um jeito de nos tirar dessa enrascada. Por isso, não precisa se preocupar. – Falou na tentativa de convencê-la que tudo ficaria bem, apesar dele mesmo não ter muita certeza sobre isso.

Mas não desistiria de tentar. Pensaria em alguma solução. Estava disposto a nunca mais vê-la sofrendo, ferida e quase morrendo em suas mãos. Já tinha tido uma boa experiência, e nunca mais queria passar pela mesma situação novamente. Preferia morrer do que ter que presenciar mais um segundo daquele desespero. Não suportaria saber que poderia perdê-la.

-Você não está preocupado? – Inqueriu desconfiada, por enquanto que a água da chuva escorria por seus fios negros, impregnando sua roupa, a deixando molhada. Ela estava linda.

-Estaria mentindo se disse que não estou, mas, como já disse, confio neles. Então, sei que vai ficar tudo bem. É só esperarmos. – A olhava com intensidade dentro dos olhos. Sua voz era calma e límpida, tentando transmitindo um pouco de paz, a fazendo balançar a cabeça em concordância. – Acredito que fomos interrompidos no meio de um assunto muito importante. – Voltou a falar, pensando em uma maneira de distrai-la.

Era o melhor a se fazer naquele momento, deixá-la mais à vontade, por enquanto que tentava pensar em alguma solução para tirá-los daquela enrascada. Era verdade quando tinha dito que confiava sua vida a Sasuke. Sabia muito bem que o irmão estava pensando em uma maneira de tirá-los daquela situação.

-Sim. – Disse tímida, sorrindo minimamente de lado, pensativa.

-E, como estamos aqui parados sem poder fazer muita coisa, acredito que podemos continuar a conversar. – Continuou a falar, pensando em alguma maneira de distraí-la daqueles sons horripilantes de balas a ricochetear, e da nítida dor que sentia.

-E sobre o que gostaria de falar?

-Não sei. Mas acredito que devemos falar sobre alguns planos para o futuro. –Disse ao se lembrar do recente pedido de casamento. Sabia que tinha sido algo inesperado. Ele mesmo não sabia que iria fazer tal pedido até chegar o momento, mas não se arrependia. Pelo contrário. Se sentia muito feliz.

-Planos? Que tipo de planos?

-Não sei. Quem sabe sobre a data do casamento, quem vai estar presente, onde vamos morar, ter filhos. Essas coisas.

- Filhos? Você quer ter filhos?

Aquela era uma boa pergunta. Ele queria ter filhos? Sabia que a resposta era sim. Toda vez que olhava para a morena, a única coisa que conseguia pensar era tê-la para sempre ao seu lado, e junto a eles, vários filhos. Era o que queria.

-Por que não? – Respondeu dando de ombros. – Você não quer?

-Não! Quer dizer, quero! Não sei. – Falou toda atrapalhada, não sabendo o que dizer.

-Você me deu todas as repostas possíveis. Mas, tudo bem. Compreendo que foi pega de surpresa. – Disse com um sorriso travesso na face, apesar de saber que não atingia seus olhos, que estavam sérios. Tentava se ater aquela conversa, mas era difícil, já que não conseguia parar de olhar em todas as direções a procurar de alguma coisa.

-Eu não sei. Nunca pensei nessa possibilidade. Mas, quem sabe. – Falou indecisa.

-Pois, quero que saiba que quero ter vários. Pelo menos uns sete. – Não hesitou em falar. Era a verdade.

-Sete? Você está doido? Não podemos ter sete filhos. – Disse assustada, desesperada com tal possibilidade.

-Por que não? Muitos casais têm sete filhos ou mais.

-Mas, não nós. – Disse convicta, com o semblante espantado com tal possibilidade.

-É claro que vamos. Quero ter vários filhos e filhas, todos eles com seus lindos olhos. – Falou descontraído, querendo ver até onde aquela conversa chegaria.

Admitia que estava se divertindo um pouco com o espanto da mais nova. E, não conseguia evitar o olhar malicioso, ao se lembrar no que era preciso fazer para se ter filhos. Sabia que aquele era o pior momento para pensar em tal coisa, mas era inevitável.

E o fato de ver que o ferimento não mais sangrava só lhe deu mais ânimo para continuar com tal assunto.

-Não tente me enganar com tais elogios. Não vamos ter tantos filhos assim. – Tomito retrucou, severa, não desviando o olhar por nenhum segundo.

-Mas, é claro que vamos ter. Eu quero.

-É claro que quer, não é você que vai ter que trazer eles para esse mundo. Já vi partos o suficiente para saber que não são nada fáceis. Não, muito obrigado. Não sou louca a esse ponto.

-Está sendo dramática. – Retrucou divertido. Sabia que não era algo fácil, mas estava ansioso pela resposta.

-Não estou não. – Falou séria, mas ao vê-lo com aquele olhar triste e pidão, seu coração se derreteu. – Tudo bem, podemos ter um filho, quem sabe dois. Mas, não mais do que isso. – Completou severa, o olhando com intensidade, dando o assunto por encerrando.

Sorriu em satisfação, sentindo seu coração palpitar com a ideia de ter um filho. Construir uma família. Era algo novo, mas aconchegante. A única coisa que podia fazer era agradecer por ela o aceitar.

-Obrigado. Sei que nossos filhos serão maravilhosos, ainda mais se forem iguais a você.

-Não me superestime tanto. Se eu fosse você não desejaria tanto isso, ou eles podem acabar nascendo pequenos e rabugentos, e vão te infernizar por toda a vida.

Itachi começou a rir, pela primeira vez, ficando realmente feliz.

-Eu faria um filho com você neste exato momento, mas, infelizmente, a situação em que nos encontramos não permite. É uma pena. Já consigo a imaginar grávida. Você vai ficar linda. – Sonhou alto, imaginando o futuro não tão distante.

-A gravidez não é tão agradável assim, é cheia de dores, alterações de humor, vertigens e.... – Parou no mesmo instante, levando a mão a boca, paralisada, com os olhos fixos em algo.

-Aconteceu alguma coisa? Você ficou séria de repente. – Perguntou preocupado. Será que estava sentindo alguma coisa?

-Não .... – Começou a falar, mas se sobressaltou com uma nova saraivada de tiros, altos à distância.

Não pôde deixar de sentir seu coração se acelerar, e a ansiedade a dominá-lo. Esperava que os outros dois estivessem bem.

-Não se preocupe, vai ficar tudo bem. –Disse, sabendo que ela estava com medo do irmão ser ferido. Mas, nem ele mesmo acreditava em suas palavras.

Ela concordou, logo olhando assustada para o lado.

-O que foi isso? – Disse sobressaltada.

-Tente se acalmar e não se mova. – Falou tenso, sabendo muito bem do que ela falava, já que ele também tinha ouvido um barulho de cascalho a ser esmagado.

Suspirou, torcendo para que não fosse o que estava imaginando. Seria muito azar.

-E se um deles estiver se aproximando? –Inqueriu chorosa, ganhando como resposta apenas um pedido silencioso para que ficasse quieta.

Olhou novamente para o rifle caído ao chão. Poderia tentar pegá-lo. Era sua única chance de sobreviver.

Voltou a atenção para a morena, no qual sinalizava com a cabeça que iria tentar pegá-la. Ele balançou a cabeça em negativa, mas, no fundo, sabia que era o que precisava ser feito.

Engoliu em seco, tentando pensar em algo, mas já era tarde. Viu quando Tomito se movimentou um pouco para o lado, tentando usar o pé para puxar a arma. Mas, a única coisa que conseguiu, foi fazer com que a afastasse um pouco mais. A obrigando a inclinar o tronco para a frente, conseguindo, finalmente, a pegar na mão.

Sorriu em vitória, mas ele logo morreu em seu rosto, ao ver uma pessoa surgir logo a sua frente.

Devido ao susto e ao instinto de sobrevivência, se levantou em um sobressalto, não conseguindo distinguir muita coisa devido à tensão e o fluxo constante de adrenalina. As únicas coisas que conseguiu ver, além de uma arma apontada na direção de Tomito, foi a de vê-la paralisada no mesmo lugar, sem reação.

Quando deu por si, já tinha se movido. Tudo foi tão rápido que nem prestou muito atenção no que fazia, até ouvir o som de tiros reverberando alto e, no mesmo instante, sentir borrifos se um líquido quente a sujar toda a sua roupa, e uma dor avassaladora o invadir por inteiro, sentido um gosto metálico invadir sua boca. Sua primeira reação foi tentar cuspir, mas não teve tempo, sentindo seu corpo ser empurrado para trás com o impacto sofrido, caindo com um baque no chão, com algo amortecendo sua queda. Suas pernas perderam as forças de imediato.

Antes que pudesse abrir os olhos para saber o que tinha acontecido, acabou por escutar mais um tiro ao longe, e o barulho de algo a cair no chão.

Notou que seu corpo tinha sido levantado, mas sua percepção era mínima. A única coisa que conseguia sentir era a dor. Parecia que suas entranhas estavam queimando. Seu coração estava desesperado a bater, na tentativa de circular seu sangue pelos órgãos vitais, tentando manter o organismo vivo a funcionar. Mas, sabia que a cada segundo que passava, seu corpo falhava. Estava morrendo aos poucos. Sua morte era inevitável.

Olhou para cima, vendo aqueles olhos azuis o fitando estática, assombrada. Tentava guardar cada um de seus detalhes, pois, sabia que seria a última vez que teria chances de vê-la. Mas, o fato de ter grossas lágrimas a cair, juntamente aos respingos de sangue, que se misturavam em sua bela face pálida, não ajudava. Aquele sangue era dele. Sabia disso. Seu sangue vertia de suas feridas como cascatas.

Trincou os dentes na tentativa de evitar um gruído de dor. Sentindo seu coração se apertar de medo e tristeza. Não queria que a última imagem dela fosse chorando.

-Não... chore... – Disse arquejando, com dificuldade, sentindo muita dificuldade. Seus pulmões reclamaram, os sentia encharcados de sangue. Estava se afogando no próprio sangue.

Tentava se manter forte, mas segurava com muita força sua barriga e peito ensanguentados, sua respiração estava muito acelerada e a cada inspiração, uma ardência cada vez mais crescente o dominava. Ele gemia e se contorcia de dor.

Notou um movimento mais ao lado de alguém se abaixado, vendo que se tratava de Sasuke.

Como o esperado, Sasuke tinha dado um jeito de chegar até eles, e com toda a certeza ele tinha matado o homem que tinha o ferido. Mas, naquele momento, o semblante do irmão era de completo desespero.

-Precisamos fazer algo. – Sasuke começou a falar aflito, pressionando como podia sua barriga, que já estava ensopada de sangue. – Precisamos fazer alguma coisa. Vamos! Você é uma enfermeira, não fique parada. Faça alguma coisa! – Gritava desesperado, tentando estancar todo aquele sangue.

Apenas conseguiu o fitar, sem nada falar. Não conseguia mover um único músculo. Pois, qualquer mínimo movimento já lhe proporcionava uma explosão de dor.

-Por favor, faça alguma coisa. – Ele implorava, com grossas lágrimas a escorrer de sua face transtornada.

Tentou falar algo, para acalmar o irmão. Mas, por um bom tempo, não conseguiu. Estava muito dolorido. Cada respiração, cada mínimo movimento era o suficiente para o fazer gritar de dor. Nunca em toda a sua vida podia ter imaginado como podia ser doloroso e solitário morrer. Sabia que não estava sozinho, estava deitado no colo da mulher que amava e seu irmão estava ajoelhado ao seu lado, tentando ajudá-lo. Mas não conseguia evitar a sensação de solidão. O desespero de tentar se manter agarrado a vida, e o desalento de saber que seria impossível, era aterrorizante. Aquele era o seu fim.

Só tinha chegado até ali.

Isso o deixava ainda mais triste, pois, nunca poderia realizar seus sonhos. Nunca iria se casar com Tomito, nunca sentira a sensação de segurar um filho nos braços. Nunca saberia como seria envelhecer. Nunca sentira nenhuma dessas sensações.

Começou a chorar com tais pensamentos. Estava desesperado. Não queria morrer. Admitia. Estava com muito medo. Mas, também tinha a consciência que aqueles que estavam a sua volta ainda estavam vivos e tinham essa chance, e era o seu dever os lembrar disso. Os lembrar de que deveriam seguir com suas vidas.

Tinha que falar algo, mas não conseguia. Tentou falar por diversas vezes, mas a falta de ar e toda a agonia que sentia o impediam de falar. E isso o enlouquecia.

Percebeu que Tomito segurava com firmeza em sua farda, com mãos trêmulas. Ela estava em choque, paralisada. Sem saber o que fazer. E ele a entedia muito bem. Sabia como era a sensação de ver a pessoa que amava morrendo na sua frente e não poder fazer nada para impedir seu sofrimento. Era desesperador, angustiante. Um fardo muito pesado.

Queria falar que entendia, que compreendia e estava tudo bem, mas não conseguia. Sentiu o ar faltar em seus pulmões, e uma angústia crescente surgir em seu peito, parecendo que iria explodir. Estava entrando em pânico.

-Faça alguma coisa! – Ouviu Sasuke aos berros, olhando para Tomito em frustração.

-Sasuke... Tudo bem... pare. – Finalmente conseguiu falar, cada palavra um sofrimento. Sua garganta ardia e seu peito se apertava. Sentindo seus pulmões se encherem do seu próprio sangue e suas entranhas se esvaindo.

Com muito custo conseguiu segurar as mãos ensanguentadas do irmão, o olhando com serenidade.

-Temos que fazer alguma coisa. – O mais novo choramingou, relutante.

-Não.... Não há nada a fazer.... Estou morrendo.... E Tomito sabe disso. Por isso, não grite com ela.

Cada palavra um sofrimento. Mas, sabia que tinha que continuar a falar. Somente assim conseguiria se manter lúcido por tempo o suficiente. Somente assim conseguiria viver por alguns segundos a mais. Sabia que estava pedindo muito, mas era o que queria. Alguns segundos a mais.

-Vai ficar tudo bem. – Voltou a falar, cada vez com maior dificuldade. Sua voz falhava e hora ou outra tossia com a dificuldade crescente de respirar. O sangue preenchia toda a sua boca.

-Não está nada bem. Você foi ferido. – Sasuke continuou a falar desesperado.

-Sim... E, sei que estou morrendo. Sinto que a cada segundo minha vida se esvai um pouco mais. Por isso....

-É por esse motivo....

-Por isso... – Ele disse um pouco mais alto, cortando o irmão, deixando claro que queria continuar a falar. Tal esforço o fez sofrer, como se seu peito fosse esmagado por concreto. – Quero que me deixe falar. Eu preciso falar. Você pode ficar calmo para que eu possa falar? Por favor? –Inqueriu amoroso, levantando, com dificuldades, uma de suas mãos na direção do rosto do irmão, o acariciando com carinho.

Sasuke, mesmo que relutante, anuiu em concordância, segurando com força sua mão.

-Eu sei que tudo o que vou falar vai soar muito clichê. Mas, não me importo. Sei que estou morrendo, porque, a cada instante que passa, meus sentidos ficam mais fracos. Minhas vistas já estão escurecendo, e mal consigo respirar.

Engoliu o choro que subiu por sua garganta, inspirando fundo na tentativa de manter os olhos abertos. Se fechasse, estaria morto.

Mesmo assim, não conseguia impedir suas lágrimas caírem.

-Por isso, quero que prestem bastante atenção, porque essas serão minhas últimas palavras. – Falava com bastante dificuldade, arrastado, e muito fraco. Cada palavra era intercalada por crises de tosse, que saia juntamente com filetes de sangue. – Eu quero que todos vocês sigam em frente e continuem vivendo suas vidas. Porque, vocês ainda têm muito o que viver. Não quero que se deixem abalar. Sei que vai doer por alguns dias, mas não se prendam a isso. Sigam em frente e vivam. Apesar das coisas ruins que estão acontecendo, lembrem-se que a vida é preciosa. Vocês são preciosos e o futuro vai ser incrível. Por isso, não se prendam ao passado, não se prendam a esse dia. – Parou de falar por alguns instantes, reunindo forçar para conseguir continuar a falar. Estava ficando cada vez mais fraco. Naquele momento já não sentia mais tanta dor. Mas, sentia frio. Estava com muito frio. Seus dedos estavam gelados e sua boca começava a tremer. Mesmo assim, se mantinha forte, voltando a olhar para a mulher que amava, reunindo coragem para falar o que pretendia. – Tomito, viva sua vida. Vá atrás de seus sonhos. Se torne médica, conheça o mundo. Reencontre sua mãe e forme uma família. –A última sentença foi a mais dolorida. Não queria a ver com outra pessoa que não fosse ele. Mas, não podia ser egoísta. Não naquele momento. Ele tinha que lhe dar uma chance de recomeçar.

Ela balançou em negativa a cabeça, murmurando um não.

-Não se desespere. Eu sei que você deve estar pensando que não, que isso é impossível. Mas, te digo que não é. Eu sei que existe alguém nesse mundo que será maravilhoso para você. Que te fará feliz, e te aceitará exatamente como você é. O que eu quero é que quando você encontrar essa pessoa, não hesite em aceitá-la em sua vida. Case-se com ele e nunca olhe para trás. Seja feliz. – Era a única cosia que queria. Que ela fosse feliz, mesmo que não fosse com ele.

-Não posso. – Murmurou desgostosa.

-É claro que pode e eu sei que vai. – Terminou de falar sorrindo, beijando o dorso de sua mão que estava bem ao lado de seu rosto, sentindo a textura macia e o calor aconchegante, contrastado com sua pele fria. Logo depois, voltou a olhar para o irmão, não lhe dando tempo de contra argumentar. – Sasuke. Digo o mesmo a você. Viva sua vida plenamente, encontre uma mulher maravilhosa e que lhe faça bem, não pense duas vezes em se casar com ela e tenha filhos. De preferência, vários. Isso vai te fazer bem. E, o mais importante. Encontre um emprego descente. Saia dessa vida. Você é novo e pode ter muito mais. – Era o que queria ter dito ao irmão tempos atrás, mas somente agora conseguia. E, era o que desejava a ele, que vivesse uma vida plena e feliz, longe de tudo aquilo no qual viveram por toda vida. Ele não teve a chance de sair daquela vida, mas queria que o irmão tivesse, assim como o primo.

-Você sabe que Obito...

-Esqueça o Obito. Você é quem sabe o que é melhor para você. Não ele.

-Eu sei...

-Me promete que vai abandonar aquilo? Vai seguir uma vida digna? Sasuke? – Disse o segurando com firmeza pelo braço, ansioso por uma resposta.

-Prometo.

-Obrigado. – Mais uma crise de tosse se fez presente, agora com muito mais sangue, sujando todo o seu rosto. Tomito acabou o virando um pouco de lado para que não se sufocasse. O movimento foi extremamente doloroso. Depois de passados mais algumas crises, voltou a falar. – Preciso que peça o mesmo ao Shisui.

-Tudo bem.

-Agora, quero que me prometa outra coisa. – Era o que mais o preocupava, depois disso poderia morrer em paz. Precisava ter certeza de que Tomito ficaria bem. E sabia que Sasuke a ajudaria, se pedisse.

-Qualquer coisa. É só pedir.

-Quero que me prometa que irá cuidar e proteger Tomito, não importa o que aconteça.

-Não precisa... – ela começou a falar, mas Sasuke a cortou de imediato.

-Eu prometo. – O mais novo disse sério, e convicto, olhando com bastante intensidade para o irmão.

Agora tudo estava resolvido. Era o que queria e estava satisfeito.

Queria continuar a falar, pois, significava que ainda lutava pela vida. Mas, sabia que logo tudo isso iria acabar, e não demoraria muito. Por isso, resolveu aceitar que aquele era o momento.

Sua respiração ficou cada vez mais ruidosa e acelerada. Cada vez mais sentindo os efeitos da falta de ar. Não existia mais dor, apenas frio. Suas vistas estavam turvas e sua mente vaga. Sabia que a qualquer momento desmaiaria, sendo tragado pela escuridão, para nunca mais voltar. Sentiu Tomito segurar com força em suas mãos, para lhe transmitir conforto. Ele a olhou com intensidade, logo depois sorrindo. Ela estava tão bonita. Como se uma luz divina tocasse em sua pele. Parecia um anjo de tão bela em sua tristeza.

-Como você é linda. Parece um anjo que está a chorar lágrimas de sangue por mim. Por favor, não chore mais por mim, meu anjo. – Mais uma forte onda de tosse se fez presente, o fazendo tremer de dor, deixando lágrimas escorrerem por sua face. Ele a olhou novamente, mas agora era diferente, parecia estar vendo através dela, como se algo a mais estivesse o observando, esperando por ele. Estava alucinando. – Você é meu anjo? – Inqueriu maravilhado. No final das contas, a morte não era tão assustadora. – Tenho sorte... de ter.... um belo anjo como você... a me velar. – Sua voz soou cada vez mais falha. Nada mais sentia. Sua respiração, antes tão acelerada, agora diminuía gradativamente. Seu corpo cada vez mais leve, em um estado de estupor. Era calmo. Tranquilo. Estava feliz por não sentir mais dor.

Suspirou. Já não tinha mais forças.

Suas vistas ficaram cada vez mais escuras, até se apagarem. Nada mais sentia. Nem frio, nem dor, nem medo ou desespero. Era tudo muito calmo e aconchegante.

[...]

Mesmo estando um pouco mais afastado, percebeu quando a mão de Itachi, que estavam segurando com força as mãos de Tomito, se soltarem, caindo pesadamente sobre o chão. Seus olhos ficando fixos a olhar o céu e sua respiração se acalmar até parar, em um último suspiro.

Ele tinha morrido.

Não demorou para ver sua irmã a deixar lágrimas a cair por sua face suja, o beijando, por enquanto que cerrava seus olhos para a escuridão eterna, do qual nunca mais se abririam. E escutar Sasuke se desesperar, chorando em fortes convulsões.

Estava em choque. Sem saber o que fazer. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. O irmão de Sasuke estava morto. Tudo tinha sido tão rápido. Estavam correndo por enquanto que trocavam tiros. Sabia que tinha acetado um deles, pois, as balas que ricocheteavam a sua volta, cessaram. Mas, quando chegaram as construções, perceberam que era tarde demais. Itachi tinha sido atingido por, no mínimo, três tiros a queima roupa e, infelizmente, não resistido.

Olhou para o homem que tinha disparado tais tiros. Era alto e de cabelos claros, mas suas feições eram difíceis de discernir, por ter sido desfigurado pelo tiro que tinha levando na cabeça. Deveriam ser os únicos, mas não podiam arriscar. Não podiam ficar por muito tempo naquele lugar ou podiam ser atacados novamente.

Desviou o olhar para Sasuke, que ainda chorava desesperado, deitado sobre o corpo do irmão. Era uma visão muito triste. Mas, não era isso que o deixava perturbado e, sim, o olhar opaco e distante de sua irmã a olhar para o nada. Ela parecia tão vazia. Era como se não estivesse mais lá.

Sabia que a situação era bastante crítica. Tinham perdido uma pessoa. Estavam em luto. Mas, Naruto também sabia que aquele não era o momento de ficarem parados a lamentar. Deveriam fazer algo. Podia até ser insensível de sua parte, mas era a verdade, e ele sabia que era sua obrigação a ajudá-los a compreender tal fato.

Engolindo em seco, aproximou alguns passos, chamando a atenção do moreno:

-Sasuke! Sasuke. – chamou algumas vezes, sem resultado. Parecia que o outro nem o escutava, mas tinha que continuar a tentar. – Sasuke, sei que é difícil, mas agora não é o momento de se desesperar. Não podemos ficar aqui parados. É perigoso, podemos ser atacados novamente.

Sasuke nada disse, nem ao menos se dignando a olhá-lo, estando perdido em seu próprio sofrimento.

-Sei que é difícil, mas não podemos nos dar ao luxo de ficar aqui. Ele morreu, não há mais nada a fazer. Devemos partir agora.

-E deixá-lo aqui? – Ele inqueriu rude, olhando fixamente para a frente.

-Sim.

Sasuke levantou de supetão, o agarrado pela blusa, desferindo um belo soco em sua bochecha esquerda, que ardeu de imediato, o jogando para trás.

-Seu desgraçado, ele é meu irmão! Como pode ter a coragem de sugerir algo assim? – Sasuke cuspiu revoltado, o olhando com ódio.

-Sinto muito, mas não podemos ficar aqui. Você sabe disse. Por favor, Sasuke, me escute. – Argumentou desesperado, massageando o rosto dolorido, engolindo o orgulho, para não revidar.

Sasuke estava muito nervoso. Não estava em seu estado normal. Ele compreendia. Mas também sabia que não deviam ficar por muito mais tempo naquele lugar. Se Sasuke queria ficar ali, que ficasse, mas levaria sua irmã. Não a deixaria correr ainda mais perigo.

-Se quer ficar, tudo bem. Não irei impedir. Mas, vou tirar minha irmã daqui. – Falou pausadamente, tentando se manter calmo.

Sasuke bufava de frustração, chorando desesperado. Mas, parecia tentar se controlar, respirando fundo.

-Vou enterrá-lo. – Por fim falou em um fio de voz. Olhando a sua volta à procura de alguma coisa.

Naruto balançou a cabeça em concordância. Era algo que demandaria tempo, mas não podia o negar tal desejo. Iria o ajudar no que fosse necessário.

-Ok. Podemos usar essa pá. – Disse pegando a pá que carregava desde o dia que se encontraram naquela cabana. A mesma que Tomito quase tinha o ferido. A carregava consigo, pois, poderia ser ultimo de alguma maneira. E, agora percebia que tinha sido uma boa escolha.

O moreno apenas pegou o objeto de sua mão, se afastando. Indo na direção de uma jovem árvore, a enfincando com força na terra molhada.

Naruto se aproximou na tentativa de ajudar, mas foi impelido com raiva.

-Não se aproxime ou irei machucá-lo. Pretendo fazer isso sozinho.

-Mas, se o ajudar será mais rápido.

-Dá um fora daqui agora! – Ele rosnou descontrolado, com grossas lágrimas a cair por sua face.

A única coisa que pôde fazer foi suspirar em frustração. Se sentia impotente. Não podia fazer nada para ajudar.

Olhou na direção de sua irmã, que ainda estava na mesma posição. Sentada no chão, com a cabeça de Itachi sobre seu colo. Ela o olhava fixamente, não se mexendo um único milímetro, parecia uma estátua. Não conseguia olhá-la. Era angustiante. Tal visão o fazia se sentir mal.

-Vou dar uma volta para vigiar o perímetro. – Murmurou para ninguém em específico. A única coisa que queria fazer era se afastar daquela cena angustiante.

Começou a se afastar gradativamente, escutando logo atrás de si o choro incessante de Sasuke, e um forte ruído de terra sendo revolvida com fúria. Precisa sair dali ou iria começar a surtar. Não deveria olhar para trás ou estaria perdido.

Se afastou por algum tempo, e vários metros mais a frente, acabou percebendo que estava escondido entre muros altos e enegrecidos. Sabia que ninguém podia vê-lo. Sentia que deveria fazer algo, mas o que? Ele não possuía poder algum. Estava impotente e isso era frustrante e desesperador. Sentia que se não fizesse algo, e logo, iria explodir.

Olhou para a parede mais ao lado e, sem pensar, começou a socá-la. A cada soco que desferia no tijolo duro, sua raiva se intensificava ainda mais. Não conseguia mais parar, precisava dissipar toda sua ira. E, se isso significasse ficar a socar aquela parede até quebrar seus ossos, o faria. Aquilo não era justo. Ele não deveria ter morrido.

A cada soco desferido, a dor que irradiava por seus dedos, era como um bálsamo reconfortante. Era o que precisava. Precisava se acalmar e colocar seus pensamentos em ordem. Sabia que naquele momento era o único que conseguiria fazer alguma coisa de forma sensata e, era ele que deveria tomar as próximas decisões. Já que os outros dois não tinham condição alguma de o fazer. Para todos os efeitos, ele era o menos atingido com toda aquela situação. Era ele que deveria liderar os outros. Era o seu dever os proteger.

Se permitiu continuar a socar a parede, a manchando com seu sangue. Não se importou. Isso o tranquilizava. Se permitiu chorar por alguns segundos, mas logo as engoliu, secando seu rosto. Já tinha tido o seu momento de desabafo, e a partir dali deveria agir como um líder.

Suspirando, deu meia volta, voltando pelo mesmo caminho que tinha percorrido. Estava decidido a acelerar as coisas para que saíssem dali o mais rápido possível. Sabia que era o que Itachi iria querer. Que eles sobrevivessem a tudo aquilo!

Logo viu a irmã, que ainda estava na mesma posição. Seu rosto estava todo sujo de sangue seco, a deixando com uma aparência macabra. Aproximou, pegando um lenço, se abaixou ao seu lado, começando a limpá-la. Ela não esboçou reação alguma. Estava tão apática, tão distante. Vê-la tão sem vida deixava seu coração apertado. Teve vontade de chorar, mas se conteve, continuando a limpá-la com carinho e devoção, até não ver mais sangue algum.

-Vai ficar tudo bem. – Murmurou gentilmente, sorrindo carinhoso, a beijando na fronte. Queria que ela soubesse que estaria ao seu lado sempre.

Poderia ter ficado ali por mais algum tempo, mas sabia que tinha outras coisas a fazer.

Se levantou, vendo Sasuke a retirar terra de um pequeno buraco. Ele suava copiosamente, mas parecia nem ao menos notar. Estava vidrado na missão de cavar, por enquanto que lágrimas caiam copiosamente por sua face. Ele estava enfurecido, revoltado, retirando a terra com violência.

-Já está bom, Sasuke. Devemos enterrá-lo agora. – Disse se aproximando, reparando que a cova ainda era rasa, mas serviria. E, o fato de o dia ficar cada vez mais escuro só o dava ainda mais certeza de que deveriam agir rápido.

-Não. – Apenas disse seco, continuando com o trabalho, sem olhá-lo.

-Vamos, Sasuke. Saia daí. Já está bom.

-Não! – Ele retrucou colérico. Chorando ainda mais.

-Já está bom. – Falou firme, se aproximando e tomando o objeto de sua mão, o olhando severamente dentro dos olhos, que estavam irados, vermelhos de ódio, o agarrando pelo colarinho. – Se me bater irá o tranquilizar, então o faça. Mas nós iremos embora agora. Está anoitecendo e não podemos ficar por aqui por muito mais tempo. Então, o que vai escolher? Gastar seu tempo a me socar, ou a passar os últimos momentos com seu irmão?

-Como ousa? – O moreno murmurou revoltado.

-Sinto muito pela perda do seu irmão. Mas, Tomito está muito debilitada e não irei permitir que mais ninguém morra, muito menos minha irmã. Por isso, estou indo embora. Então, o que vai ser? Vai colaborar?

Sasuke ainda o olhava com uma mistura de raiva, revolta e nojo. Mas, no fim, pareceu que tais palavras surtiram efeito. Assim, o soltando, se afastou, indo na direção de seu irmão que estava caído no chão, ainda nos braços de Tomito.

Compreendendo que tinha chegado a hora, Naruto seguiu o moreno, se postando ao lado dos outros dois.

-Tomito, está na hora. – Disse amavelmente, sentindo uma forte pontada no peito.

Como da última vez, ela nada fez. Estava em estado de choque. Nem parecia que estava entre eles.

Tal pensamento o deixou arrepiado.

Engolindo em seco, se abaixou, afastando seus braços do rapaz, que estava com seus olhos fechados, parecendo que apenas estava a dormir, se não fosse pelo sangue seco espalhando por seu rosto, e do tom de pele muito branco.

-Vamos levá-lo. – Disse novamente, acenando para que Sasuke o ajudasse a retirar Itachi dos braços da irmã.

Sasuke apenas se abaixou, o puxando para seus próprios braços. Viu quando ele retirou a plaquinha de identificação do pescoço do irmão, a guardando em seu bolso.

Voltou a olhar para a irmã, preocupado com o que faria. Mas, ela nada fez, ainda continuou parada no mesmo lugar, a olhar para o nada. Só sabia que ainda estava viva devido a sua respiração leve, mas regular. Mas, não tinha muita certeza se permaneceria a respirar por muito tempo. Ela parecia tão pálida. Quase morta.

Mesmo não querendo abandonar a irmã, se afastou, pegando nas pernas do mais velho, ajudando Sasuke a levá-lo até a cova, o colando dentro.

Sasuke ficou a encarar o irmão, perdido, não sabendo o que fazer.

-Posso fazer isso. – Disse, se aproximando da pá, mas Sasuke apenas balançou a cabeça em negativa.

-Eu farei isso. Só não sei como o fazer. Não sei se consigo, por enquanto que vejo seu rosto.

-Tudo bem. – Disse retirando seu casaco e o colocando sobre o corpo do rapaz, tampando sua face. – Sei que isso não deixa as coisas mais fáceis, mas deve ser o suficiente.

O moreno apenas concordou, retirando a pá de suas mãos, pegando a terra ao seu lado e a jogando de volta no buraco. Lágrimas voltaram a verter de seus olhos tão vermelhos e inchados. Suas mãos tremiam e era nítido como sua respiração estava acelerada e desregular.

-Deixa que eu faço isso.

-Não! Eu vou fazer. – Retrucou raivoso, o olhando com intensidade.

Apenas o ignorou, empurrando como podia a terra. Sabia que era um momento muito triste, e difícil para Sasuke, mas a cada minuto que ficavam ali, sua irmã piorava cada vez mais, e não podia permitir isso. 

Apesar de duvidar que algum dia ela voltaria a ficar bem novamente. 


Notas Finais


Sinto muito por tudo isso. Mas, era preciso. Foi muito difícil escrever, doloroso e chorei horrores, pois amo muito esse personagem, assim como eu sei que vários de vocês também o amam. Por favor, não me odeiem. Espero que continuem ao meu lado até o final.
Ps: o proximo capítulo vai acontecer diretamente depois desse, para sabermos como eles estão lidando com a situação.
Obrigado por lerem até aqui.

Notas:
1) Meaux é uma comuna francesa localizada na região administrativa da Île-de-France, no departamento Sena e Marne. A comuna possui 53 526 habitantes. Fica a 41km se Paris, um dia de distância a pé.
2) Ja é a palavra alemã para sim.
3) ich liebe dich: frase em alemão para eu te amo.


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