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História Os dias eram assim - O convite


Escrita por: ladyjack

Notas do Autor


Oie.
Como vocês estão? Espero que bem.
Passando para agradecer a todos vocês. Pelos comentários, curtidas. Vocês são incríveis e me incentivam a continuar escrevendo cada vez mais.
Espero que gostem!
Boa leitura!

Capítulo 52 - O convite



• Londres, abril de 1941


O clima estava bastante agradável. Com uma brisa suave a balançar o cortinado ao passar pela janela aberta. Era final de tarde e tinham acabado de voltar de um de seus passeios pelo centro.

Temari estava sentada no costumeiro sofá da sala de estar de Sakura. Vestindo um belo vestido fresco de seda na cor rosa-claro, com botões prata se estendendo desde o colarinho até o busto, com mangas curtas e fofas, e acinturado, com pregas descendo por toda a saia arredondada que chegava a altura do tornozelo. Sakura, sentada ao seu lado, não estava muito diferente, com suas vestes de tecido mais encorpado, com a saia no tom bege, que descia justo pelo corpo até um pouco abaixo do joelho, por cima ela usava um casaquinho azul-marinho de manga curta e um lenço branco de bolinhas amarrado ao pescoço.

Hinata não estava presente.

Tinha dito que não se sentia muito bem e se recolhido aos aposentos. A loira achou estranho tal atitude, mas nada falou. Apesar de ter notado que a morena estava um pouco estranha, muito mais quieta e apreensiva do que o de costume. Parecia que algo estava acontecendo, mas não sabia o que era e a mais nova não parecia que iria contar coisa alguma.

E isso a frustrava.

Odiava ficar de lado, sem saber o que estava acontecendo, pois, se sentia como uma criança que não sabia lidar com problemas. Além de odiar ser a última a saber dos fatos. Sakura compartilhava de seus pensamentos, e ambas viviam a questionar a morena sobre o que estava a afligindo, e quando não recebiam resposta, ficavam a reclamar. Mas, Hinata se mostrou muito determinada ao não pronunciar nada, apenas falando que era impressão delas e que nada acontecia. Mas, todas sabiam que estava mentindo e o clima entre elas acabou esfriando, e a amizade que tinha começado a surgir, deu grandes saltos para trás, onde elas nem ao menos conversavam direito.

Suspirou, olhando para a rosada que estava a olhar fixamente para a poltrona a sua frente, que há tempos não era mais ocupada. Sabia o que passava pela cabeça da amiga. Há dias ela vinha falando sobre a mesma coisa. Sobre como o seu marido estava demorando a voltar. Mesmo que não querendo admitir, Sakura estava sentindo saudades dele.

-Você não acha estranho que ele não esteja mais entrando em contato como antes? – Ela inqueriu pensativa, com um olhar baixo, tristonho.

-Tenho certeza que deve ter um ótimo motivo para isso. O senhor Hatake deve estar com muitos afazeres, e não está encontrando tempo viável para ligar. Mas, quando conseguir, ele vai. Não precisa se preocupar.

-Eu sei, mas, faz muito tempo que não conversamos. E, ele nunca deixou de telefonar.

Segurou na mão da amiga, na tentativa de confortá-la. Sabia como era a sensação de ficar sem notícias de alguém importante por tanto tempo. Isso era realmente de matar. Ela mesma passava por tal situação, já que seu irmão, Gaara, até aquele momento ainda estava desaparecido. Era angustiante não saber onde ele estava e se estava bem. Já tinha perdido as contas de quantas noites tinha passado em claro a pensar com angústia em seu irmão. Mas, não tinha muito afazer, e apenas ficava a rezar para que tudo ficasse bem.

Mas, pareceu que a amiga nem ao menos a escutou, de tão absorta que estava em seus pensamentos. Estava prestes a continuar a falar quando ouviu a porta de correr se abrindo e por ela passando Shikamaru.

Ficou surpresa com sua presença, sentindo suas bochechas queimarem no mesmo instante. Fazia tempos que não o via, e isso a deixou muito feliz. Não conseguindo disfarçar, deixou um largo sorriso estampar em sua face.

-Shikamaru? – Falou surpresa, se levantando para poder cumprimentá-lo.

-Temari. – Ele falou no costumeiro tom entediado, com as mãos dentro dos bolsos. – Como as senhoritas estão? – Ele perguntou as cumprimentando com um inclinar de cabeça.

-Bem. E você? –Disse ansiosa por saber mais.

-Apesar do clima tenso dos últimos dias, e do trabalho exaustivo, estou bem. – O moreno comentou dando de ombros.

Tal comentário não passou despercebido. Reparou que ele parecia estar muito cansado, com grandes olheiras a demarcar sua face pálida. Parecia que fazia dias que ele não dormia.

-Parece que anda passando por mal bocados. –Sakura comentou apenas por educação, já que até aquele momento nada tinha dito.

-Sim, mas nada que não posso lidar. Onde está Hinata? – Ele questionou olhando a sua volta.

-Lá encima, no quarto. – Disse desentendida.

-Certo, obrigado. Preciso conversar com ela. Se me derem licença. – Falou, dando as costas e saindo.

Sentiu seu sorriso morrendo na face, e uma forte dor no peito. Ele tinha ido até ali apenas para ver Hinata? Era isso mesmo?

Shikamaru a ignorou completamente. Nem se importando com sua presença. Aquilo era um absurdo! Sentiu seu corpo tremer de raiva.

Então, parecia que ele tinha encontrado outra amiga para conversar, e a deixado de lado. Isso não era surpresa. Já fazia tempos que eles vinham a manter segredinhos, e, o fato dela ser mais jovem e bonita, ajudava muito nesse caso. Sentiu ódio, ódio por ele ter a abandonado sem ao menos se dignar a lhe falar algo.

Bufou embravecida, sentando bruscamente no sofá, com a expressão séria e os braços cruzados a frente do corpo. Escutou Sakura falando, parecendo nem ao menos notar.

-Não deveria ter ignorado todas aquelas ligações. Porque, agora ele não liga mais. Você acha que eu deveria entrar em contato com ele?

A questiona pensativa, mas Temari lhe ignorou de bom grado. Se não tinha o apoio da amiga naquele momento, não seria ela que a ajudaria.

-Temari? Não está me ouvindo? Fiz uma pergunta. – A rosada a repreendeu, a olhando fixamente.

-Faça o que achar melhor. – Cuspiu raivosa, logo percebendo que tinha sido rude, e tentando consertar, completou. – Mas, acho que deveria ligar sim. É o seu marido. Seria estranho se não ligasse.

-Tem razão. Acho que mais tarde vou ligar para ele, já que ainda é cedo em Washington e ele ainda deve estar na rua.

Apenas deu de ombros, querendo deixar claro que não estava com ânimo para continuar a conversa. Naquele momento tinha perdido toda a paciência, e a única coisa que queria era se retirar a seus aposentos para poder descansar um pouco, colocar a cabeça no lugar e tentar lidar com seus sentimentos conturbados.

Mas, era tão difícil. Com toda certeza perderia o sono naquela noite. Mas, agora o motivo seria outro. Seria por causa do Nara, que escolheu a abandonar sem dar satisfações. Aquilo era ridículo! Deveria confrontá-lo, isso sim. O humilhar, pôr a deixar em tal situação. Tinha agido feito uma idiota quando o cumprimentou toda sorridente e cheia de gracejos, para receber em troca um olhar distante, palavras escassas e suas costas, ao vê-lo saindo a procura de outra.

O ódio borbulhava dentro de si. Estava com ciúmes, admitia isso, e não se importava. Apenas queria bater em algo, de preferência nele. A cabeça estava começando a doer com todo o nervosismo e o calor que a consumia por dentro. Se não fizesse algo, iria acabar passando mal.

Estava prestes a se levantar para se retirar, quando a porta foi novamente aberta, e por ela viu novamente o Nara, agora acompanhado da morena, que estava muito bonita com sua roupa prateada, com a saia descendo reta até o tornozelo, com mangas compridas e gola alta e uma faixa na cintura que a deixava exuberante.

Fechou a expressão de imediato, desviando o olhar, apertando as mãos com forças para que não fizesse algo de errado.

-Passei aqui apenas para poder nos despedir. – Ele comentou.

Sentiu seus olhos a queimando, a olhando com intensidade. Sabia que deveria devolver o olhar, mas se ateve a olhar para a frente. Mas, sem conseguir se segurar, disparou:

-Fazia tempo que não nos víamos, Nara. – Sua voz soou áspera e distante, engoliu em seco tentando se acalmar.

-Sim. Estou com muito trabalho e não tenho muito tempo.

-Entendo. Mas, o senhor conseguiu encontrar um tempo para vir visitar Hinata. – Não conseguiu mais disfarçar a irritação, rosnando de raiva. Não se importava mais em esconder a fúria que sentia por ser ignorada.

-Temari? – Sakura a chamou, chocada com as palavras rudes, a olhando fixamente.

Apenas deu de ombros, se levantando para sair.

Neste momento conseguiu vê-lo. Ele estava parado ao lado da porta, não mais com as mãos dentro dos bolsos, a olhando com intensidade. Viu quando seus ombros se levantaram e caíram em um nítido suspiro de descaso. Isso foi o suficiente para a destroçar por dentro. Ele nem ao menos se dignava a fingir que se importava.

Mas, Temari tinha que manter a compostura, se limitando a desviar o olhar, rumando para a outra porta, que dava acesso à sala de jantar, para não precisar ter que passar por ele.

Ao colocar a mão na maçaneta o ouviu falando:

-Temari.... Temari, você quer ir jantar comigo? – Sua voz saiu em um gaguejo, perdendo toda a segurança. Soou baixa, mas bastante nítida a seus ouvidos.

Parou no mesmo lugar, surpresa pela pergunta. Se virou apressada, o olhando desconfiada, com medo que estivesse a brincar.

-O que? -Inqueriu paralisada, tendo apenas tempo de o ver se aproximar decidido, segurando por seu pulso com cuidado e a puxando para a saída.

Foi pega de surpresa com a atitude, o olhando assustada ao perceber o que isso significava.

-Não posso ir agora. Tenho que me arrumar. – Disparou afoita.

-Temari, você está perfeita do jeito que está. Não precisa se arrumar. Vamos sair agora. O The Rules¹ já deve estar aberto neste momento.

Ficou rubra com suas palavras, desviando o olhar para as meninas que os olhavam com grande interesse.

-Tudo bem. Mas, preciso pegar minha bolsa. Me de uns minutos e já volto. – Conseguiu falar, ainda muito surpresa para conseguir pensar direito.

-Ok. Estarei lhe esperando. – Shikamaru disse a soltando com delicadeza, sorrindo gentilmente, fazendo suas pernas tremerem, tirando seu rumo.

Engoliu em seco, ansiosa, saindo sem olhar para trás. Foi ao roupeiro, que ficava no corredor que dava acesso à biblioteca, onde sabia que tinha deixado sua bolsa sobre um aparador.

Ao encontrá-la, sorriu animada, a pegando com determinação. Se apoiou na mobília na tentativa de se acalmar e organizar o turbilhão de pensamentos e sentimentos que a acometiam no momento. Não sabia como se sentir. Com raiva por ter sido preciso o pressionar para que fizesse algo ou felicidade por Shikamaru ter a chamado para sair? Mas, aquilo era um encontro ou apenas uma forma de se desculpar com ela? Não tinha como saber, mas, no momento não importava. Teria a sua companhia apenas para si por algumas horas, e isso seria muito bom.

Sorriu envergonhada, como se fosse uma garotinha a descobrir o primeiro amor, mas não se importou. Ao se virar para sair, acabou vendo uma das empregadas, Judith, saindo do escritório do Hatake. A mesma a olhou surpresa, por não esperar a sua presença ali. Achou a atitude suspeita, como se estivesse a esconder algo. A olhou com intensidade quando passou por si, lhe direcionando um leve sorriso e um abaixar de cabeça como sinal de respeito. Olhou na direção que a outra tinha surgido, a procura de alguma coisa, mas nada viu. Balançou a cabeça, dando de ombros. Ela era empregada da casa e era normal que tivesse acesso a todos os cômodos para que pudesse organizá-los.

Acabou voltando para onde estava o Nara, esquecendo de imediato o que presenciara. Aquilo não era importante.

-Então, vamos? – Ele perguntou arqueando uma sobrancelha, com seu jeito despreocupado de sempre.

Apenas concordou com um manear de cabeça, despendido de Sakura que sorria. Com toda a certeza a rosada a faria contar todos os detalhes depois.

Adentraram no veículo, rumo ao seu destino. Conforme se deslocavam ficava cada vez mais nítido a destruição que os bombardeios causavam na cidade. Ficou desanimada de imediato, algo que não passou despercebido pelo Nara.

-Aconteceu alguma coisa?

-Ultimamente não tenho tido ânimo para sair de casa. Para todos os lados que olho, vejo apenas destruição.

-Eu entendo. As coisas andam muito complicadas.

-E pensar que tantas vidas inocentes foram perdidas.

-Isso, com toda a certeza, é o pior. Segundo o último relatório do dia 28 de março, foi anunciado que 28.859 civis britânicos morreram em sete meses de bombardeamentos aéreos e mais de 40.166 ficaram gravemente feridos. Somente em março morreram 4.259 civis entre os quais 598 eram menores de 16 anos. ² – Ele narrou no automático, muito atento ao que falava.

-Tantos assim? – Ficou chocada com os números de civis mortos em um curto espaço de tempo. E saber que muitas dessas vidas perdidas eram de crianças, só a deixava ainda mais perturbada.

Nada mais falaram, e cada um ficou absorto em seus próprios pensamentos, tristes pela realidade que os acometiam.

O resto do trajeto foi rápido e silencioso. Ficaram apenas a olhar pela rua escura e das nuvens rápidas que percorriam o céu. Logo chegaram ao local. Nara a ajudou a descer do carro e a acompanhou até a entrada. O restaurante era muito bonito, com suas decorações bastante suntuosas, com suas paredes de um tom dourado, e luminárias que projetavam suas luzes, dando a impressão de ser feito de ouro. Além das paredes serem cobertas por vários afrescos que davam um toque a mais. No centro havia uma cúpula de vidro com arabescos no tom esverdeado, como ramos de galhos. O chão era todo acarpetado com um veludo vermelho com detalhes dourados, que contrastava perfeitamente bem com as mesas de mogno negro e o estofado vermelho sangue, cobertas por toalhas de linho branco delicadamente bordadas.

Logo foram atendidos por uma jovem garçonete de sorriso fácil, que os acompanhou até uma mesa mais ao canto. Pediram o que comer. Como estava ansiosa, seu estômago estava embrulhado, a deixando enjoada, por isso, não estava com muito ânimo para comidas, assim, acabou por pedir apenas uma salada com peixe e uma taça de vinho.

Isso rendeu uma piada do moreno.

-Pelo o que me lembro, você gostava de comer mais do que isso. Está de dieta?

-Não preciso comer mais do que isso. E, nesses últimos dias, onde a comida está cada vez mais escassa, é bom racionar um pouco. Estou surpresa por esse restaurante ainda estar funcionando. Pelo que me lembro, ele é um dos mais caro da cidade.

-Eles dão o seu jeito. Se ainda existem pessoas que pagam, eles continuam funcionando. – Comentou olhando a sua volta.

Ela o seguiu, reparando que havia apenas uns poucos lugares ocupados. Não seria o suficiente para manter um negócio aberto. Ainda mais com toda aquela crise.

-Acho que essa não é a questão. Deve ser outra coisa. – Falou desconfiada.

-Bem, não reclamo. Isso significa que essas pessoas aqui ainda estão empregadas e conseguem ter um dinheiro para sustentar a família.

-Isso foi uma crítica?

-Porque pensa assim?

-Porque eu sou rica e vivo em uma mansão, e não saberia dizer como é ter que racionar alimentos ou ter que trabalhar para viver. E devido a essa ignorância da vida, estou aqui a questionar sobre algo que providência o sustento de várias famílias. Já que, teoricamente, não me importo.

-Não estava me referindo a você. – Ele interveio, a olhando com intensidade. – Se pareceu, me desculpe.

-Calma. Não precisa ficar assim. Eu entendo. Seria muito hipócrita se não dissesse que os mais ricos são mais privilegiados e não sofremos como a classe trabalhadora. É um fato.

-Tudo bem. Não vamos ficar aqui a falar sobre política e direitos civis. Não essa noite. Você deveria estar mais preocupada em comer esse peixe com salada, porque, sinceramente, não sei como vai caber tudo isso no seu estômago. – Ele ironizou, olhando para seu parco conteúdo no prato.

Riu abertamente, feliz por terem voltado a um assunto mais tranquilo.

-Bem, não queria o deixar constrangido quando fosse pagar a conta. Se pensa que vou dar algum dinheiro aqui, está muito enganado. Foi você que convidou, e quem convida tem que pagar. Essa é a regra.

Ele riu alto, balançando a cabeça em negativa, por enquanto que bebericava de sua bebida.

-Não sabia que agentes do governo ganhavam tão bem, para poder frequentar esse restaurante. Quer dizer, até eu acho que aqui é um pouco caro. Nem todo mundo tem o mesmo poder dos Hatakes, para poder pagar por isso.

-Está querendo me dizer que você não pode? – Perguntou irônico, arqueando a sobrancelha.

-Tudo bem. Admito que posso, mas isso não quer dizer que eu queira pagar.

-Não sabia que era tão mão fechada, senhorita Sabaku No.

-É de família. – Disse dando uma leve piscadela, sorrindo de lado.

-Bem. Não ganho tão bem quanto está a sugerir, mas conheço o dono do estabelecimento, e uma vez o ajudei com alguns problemas e ele ficou me devendo um favor.

-E, agora ele está pagando esse favor?

-Exatamente.

-Deve ter sido um favor e tanto para custar tanto.

-Pode-se dizer que sim. E, isso significa que a senhorita pode pedir o que quiser do cardápio. – Falou deslizando o cardápio de capa dura vermelho na sua direção, a fazendo sorrir.

-O favor tem a ver com o fato deles ainda estarem funcionando? – Inqueriu fingindo desinteresse, o olhando de lado.

-Posso ter tido algo a ver com isso. Mas, não precisa se preocupar. Está tudo dentro dos conformes. Não estão infringindo nenhuma lei.

-Porque você faz parte da lei, não é mesmo?

-Isso. – Falou sem rodeios, a olhando dentro dos olhos.

Limpou a garganta, constrangida pela intensidade do olhar, desviando seus olhos para seu prato, fingindo interesse na comida.

-Bem, já que é um homem da lei, então, acredito que deve estar por dentro dos últimos acontecimentos da guerra.

-Você quer saber sobre os últimos fatos?

-Adoraria. Se puder me contar, é claro.

-Tudo bem, não precisa se preocupar. Não trabalho na linha de frente. Quando as notícias chegam até mim, já estão velhas e gastas. Não tem problema alguma em te contar.

-Então, vou saber apenas das velharias? – Questionou franzindo a testa e torcendo o nariz, fingindo desagrado, logo sorrindo de canto.

-Sinto muito. Mas, é a única coisa que tenho no momento.

-Não me importo. Vamos lá. O que tem a me dizer? – Falou animada, e ansiosa pelas novidades. Tal conversa a fazia se lembrar do passado, quando tinham acabado de se conhecer e as coisas eram muito mais fáceis de lidar.

-Bem, os nazistas tinham feito um pacto com a Iugoslávia, para que fizesse parte do Eixo. Mas, apesar de o príncipe ter aceitado o acordo, muitos membros do governo não quiseram, assim houve um golpe de estado e o príncipe foi deposto. Com isso, Hitler perdeu o apoio da Iugoslávia, e a passagem até a Grécia. Assim, no começo do mês, os nazistas iniciaram um bombardeamento a Belgrado, iniciando a batalha da Iugoslávia³. E com muita rapidez e brutalidade, eles foram derrotados. Soube que morreram em apenas um dia dezessete mil civis.

Era uma novidade e tanto. Não sabia nada sobre tais detalhes, nem que os nazistas tinham invadido a Iugoslávia. E, saber da perda de mais vidas só a deixava ainda mais triste.

-Não tinha ouvido falar sobre essa invasão.

-Bem, acabou de acontecer. Foi no começo do mês. E as notícias estão demorando um pouco a chegarem até aqui. Posso te garantir que logo será noticiado em todos os jornais.

-Compreendo. Mas, o que aconteceu depois? Eles foram derrotados?

-O que acha? – Indagou pretensioso.

-Que sim.

Shikamaru suspirou, levando a boca um pedaço suculento de carne, a mastigando por alguns segundos, antes de engolir e voltar a falar:

-Foi como das outras vezes. Primeiro em Varsóvia, em setembro de 1939, depois em Roterdã, em maio de 1940 e agora em Belgrado. Uma população inteira de inocentes foi surpreendida por ataques aéreos que perduraram ao longo do dia.

-Isso é horrível. Atacar inocentes que nem se quer tem a chance de se defender é ultrajante. Devíamos fazer algo contra isso quanto antes.

-E de fato fizemos.

-Como assim?

-como represália, mandamos bombardeiros lançarem bombas explosivas e incendiarias sobre o centro de Berlim (4). Não sabemos quais foram as extensões dos danos, mas acredito que não foram tão grandes.

-Então, também atacamos civis.

-Estamos em guerra, e algo assim seria inevitável. Infelizmente, temos que mostrar a eles que também somos capazes de atacar sua capital.

-Tudo isso é tão brutal e horrível. Tantas vidas perdidas por nada.

-Essa é a essência da guerra.

-Mesmo assim, é difícil de aceitar.

-Qualquer ser humano com um mínimo de empatia, diria a mesma coisa.

-E qual foi o desfecho?

-No dia 13, Belgrado foi ocupado, sendo a oitava capital europeia a cair em mãos alemãs em um período de dezoito meses, e no dia 17 o governo iugoslavo assinou sua rendição.

-Então, eles também caíram. – Suspirou pesarosa, sentindo a comida pesar no estômago, parecia que estava prestes a jogar a comida fora.

-Infelizmente. Agora, partiram para a Grécia e é apenas uma questão de momento até a ocuparem também. Até porque, esse era o objetivo deles desde o começo, quando a Grécia se mostrou uma forte inimiga, ao terem escorraçado os italianos de volta para suas casas.

-Espero que os gregos consigam se sobressair novamente.

-Isso será bem difícil. Da outra vez, os alemães estavam mais preocupados a invadir a França, mas agora estão totalmente focados neles.

-Rezarei para que isso não aconteça e que não ocorra mais mortes.

-Faça isso, já que é a única coisa que podemos fazer no momento. Mas, acredito que ainda haverá muitas mortes antes do final.

-Pois, espero que não. – Retrucou triste, desolada com tal perspectiva. – Não teria um outro assunto?

-Tem razão. O clima ficou um pouco pesado. Sobre o que gostaria de conversar? – A inqueriu prestativo, parecendo perceber seu estado de espírito deprimido.

Não sabia sobre o que gostaria de falar, mas passado alguns minutos, acabou por falar:

-Sakura não para de reclamar da demora de seu marido para lhe fazer uma ligação. – Sabia que aquele não era o melhor assunto, ficar a fofocar sobre o casal, mas foi a única coisa que lhe surgiu na cabeça naquele momento.

-Mesmo? Estranho. Ele me ligou ontem mesmo, para saber como as coisas estavam e também para contar que tinha conseguido fazer um acordo com Roosevelt. Um plano de defesa (5) ou algo do gênero. Ele não me deu muitos detalhes, mas parece ter sido uma grande vitória.

-Fico feliz por saber disso. Mas, porque será que ele não ligou para casa? – Inqueriu curiosa.

-Não faço a menor ideia. Ele me perguntou como Sakura estava, se tudo estava como nos conforme, mas estava tão feliz com a novidade, começou a falar sobre o assunto e nada mais disse sobre a senhora Hatake. Mas, você acha que aconteceu alguma coisa?

-Não sei. Mas, não o culpo. Sakura ignorou no mínimo unas quatro ligações dele, sendo que podia ter atendido.

-Ela fez isso?

-Sim. – Falou com ênfase, animada por saber de algo que o Nara não sabia. – É claro que entendo que o casamento deles não é às mil maravilhas e que ela se casou obrigada, mas acredito que não teria a matado se ela tivesse o atendido que fosse apenas uma vez. Agora está preocupada de que tenha acontecido algo.

-Não acho que Sakura se casou obrigada. Pelo que soube, foi ela que escolheu se casar. Bem diferente de você, que lhe foi totalmente imposto, sem nem ao menos uma chance de opinar.

-Sim, mas seus pais estavam a pressionado, já que estavam falidos. E, convenhamos Shikamaru, Sakura tinha somente dezessete anos na época, ela não sabia quais seriam as consequências de suas escolhas. Nem se quer tinha uma ideia. Com toda a certeza seus pais fizeram sua cabeça. E, Kakashi poderia ter dado outra opção além dessa. Na verdade, acho que ele nem se quer deveria ter a proposto em casamento, já que sabia que ela não o amava.

-Eu sei que tal assunto mexe com você, Temari. E, casamentos arranjados devem ser extintos. Mas, não há nada que possamos fazer com relação a esse casal em específico. Eles já estão casados, há anos, e devem saber como se relacionar. Não somos nós que vamos intervir e dar nossa opinião. Esqueça isso. Se Sakura não quis conversar com ele, então deveria ter um bom motivo. E, o mesmo digo sobre Kakashi. Deve ter uma boa explicação para ele não entrar mais em contato.

-Eu sei que não devo me meter na relação deles, mas se torna difícil com Sakura a ficar reclamando todo o tempo.

-Apenas tente. – Ele disse sorrindo, bebericando de seu vinho tinto.

-É, eu vou. Mas, se ela continuar a me infernizar, vou dizer umas boas. Pode ter certeza.

-Não tenho dúvidas quanto a isso.

Sorriu do comentário, se sentindo um pouco mais disposta a comer algumas folhas de alface.

-E como está no trabalho? Me disse que não estava tendo tempo para nada. O que anda fazendo de tão importante que acaba ocupando todas as horas do seu dia?

Shikamaru bebericou um pouco de sua bebida, revirando em seu prato, antes de dar de ombros e começar a falar:

-Como meu departamento é importante para as questões da guerra, mesmo que for algo simples, sempre temos que estar de prontidão caso seja necessário.

-Entendo. – Não quis mais prologar o assunto ao perceber que ele não parecia muito confortável em conversar sobre o trabalho. Talvez não fosse permitido a ele revelar muitas coisas, já que trabalhava no setor de inteligência britânica, e tudo deveria ser muito sigiloso. Mas, tomada pela coragem, acabou por perguntar o que vinha a incomodando a tempos. – Onde você conheceu Hinata? Quem é ela?

-Não posso falar sobre esse assunto. – Disse seco, ficando sério de imediato.

Tal atitude a deixou com ciúmes e raiva. Até aquele momento ele tinha falado sobre praticamente tudo, de forma bem aberta. Mas, parecia que falar sobre Hinata era algo que ele não faria, como se fosse proibido. Aquilo a deixou possessa, se levantando da cadeira. Disposta a ir embora e o deixar sozinho. Se virou apressada para a saída, mas sentiu sua mão sendo segurada e puxada, a impedindo de continuar. Voltou a olhá-lo, pronta para cuspir palavreados nada agradáveis, mas ele foi mais rápido, disparando:

-Não irei dizer nada sobre ela, porque penso que deveria ser ela a lhe contar sobre isso. Tal assunto não me diz respeito. Mas, se quer realmente saber, deveria a questionar. Talvez ela te diga algo.

Estreitou os olhos, ponderando se deveria ou não aceitar as desculpas, mas, acabou por aceitar.

-Tudo bem. Tem razão. Devo perguntar a ela. – Falou voltando a se sentar, mais calma.

Neste momento, percebeu que ainda estão de mãos dadas, agora depositadas sobre a mesa, parecendo de fato um casal. Sentiu um calor a invadindo e a vermelhidão na face a consumir, de tão envergonhada que ficou. Desviou o olhar, olhando a sua volta, afastando de forma vagarosa sua mão por debaixo da dele, que acabou por perceber o gesto, a retirando de cima. Limpando a garganta para criar coragem, acabou falando:

-Está um pouco tarde, acho que deveríamos ir embora. Não me sinto muito à vontade para ficar fora de casa até tarde, ainda mais com o risco de sermos bombardeados a qualquer momento.

-Tem toda a razão. Devemos ir embora. – Falou tranquilamente, acenando para a garçonete para avisar que tinham terminado e que estavam de saída, a ajudando a se levantar para saírem.

Ficou agradecida pelo gesto e com seu coração a palpitar com a aproximação.

[...]

Estar ao lado de Temari o proporcionava um turbilhão de emoções. Ansiedade, nervosismo, medo, alegria, carinho, amor e tantos outros. Eram tantas emoções conflitantes dentro de si, que mal sabia como agir. Por isso, tentava seguir seus treinamentos como a gente, para poder se controlar o máximo que conseguia. Sabia que só conseguiria se manter o mais calmo possível se fumasse. Mas sabia que a loira detestava tal hábito, por isso, resolveu que não tocaria em um cigarro por enquanto que estivesse por perto. O que se mostrou muito complicado, pois, agora não sabia o que fazer, o que falar, como agir, e isso o deixava louco, porque sempre esteve acostumado a estar no controle da situação. Mas, naquele exato momento a última coisa que estava, era no controle. Por isso, apenas respirava profundamente na tentativa de se acalmar, prestando bastante atenção na rua a sua frente, por enquanto que dirigia de volta para a casa dos Hatakes. Temari estava sentada a seu lado, bastante centrada na paisagem a sua volta, mas hora outra desviava seus belos olhos verdes em sua direção, o deixando fora de rumo no mesmo instante, sentindo uma comichão incômodo o invadir por dentro.

Já fazia algum tempo que descobrira seus sentimentos por Temari, mas nunca tivera uma boa oportunidade, o momento ideal, para revelar tais sentimentos, e sempre foi adiando o momento. Por isso, decidiu que quando tivesse um tempo livre iria à sua procura para poder lhe contar. Mas quando o momento chegou quase falhou. Quando a viu tão bela naquela sala, a coragem sumiu, o deixando desesperado, não conseguindo falar nada do que tinha planejado antes. Mas, quando a viu nervosa por ele não estar lhe dando tanta atenção, isso acabou o despertando, dando coragem para a convidar para saírem.

Apesar de toda a vergonha e constrangimento, acreditava que tinha se saído bem durante todo o jantar. Conversaram de forma bastante amigável, como sempre o faziam. Mas, esse era o problema, não queria continuar a fazer a mesma coisa de sempre, queria dar um passo adiante. E, sentia que se não o fizesse naquele momento, perderia a oportunidade.

Remoía tais pensamentos, criando coragem para começar a falar, quando viu a mansão surgir a sua frente. Tinha chegado a reta final, e deveria agir agora.

Desligou o carro, a olhando com serenidade. Temari apenas sorriu amigavelmente, abrindo a porta para sair. Se desesperou, apressado para poder ajudá-la como um exímio cavaleiro deveria fazer.

-Espero, eu a ajudo. – Disse afoito, descendo do automóvel, indo até à porta do passageiro, para a ajudar a sair.

-Muito obrigado, mas não precisava. – Ela disse sorridente, retirando a mão da sua, se afastando para a calçada.

Fechou a porta a acompanhando através da entrada, até a porta. A cada passo que dava, sentia suas pernas mais pesadas, seu coração acelerado e sua respiração descompassada. Parecia que ia desmaiar a qualquer momento. Nunca antes tinha imaginado o quão difícil podia ser se declarar a uma mulher, e achava que suas missões como a gente tinham sido muito mais fáceis do que aquela. Mas, se ele tinha conseguido perseguir espiões muito mais temíveis e perigosos do que Temari, achava que também iria conseguir lidar com isso.

-Então, chegamos. – Ela comentou, parando na frente da porta, se virando para ele a espera de algo.

Até parecia que ela estava a adivinhar suas intenções, o dando a chance de dizer algo. Aquele era o seu momento.

Assim, inspirando fundo, abriu a boca para falar:

-Sim. Chegamos.... – Foi a única coisa que disse, não conseguindo pronunciar mais palavra alguma. Estava paralisado a olhando. Como podia ser tão covarde? Aquilo era ridículo. Vamos, Shikamaru, reaja! Diga algo além disso!

-Sim, chegamos. A noite está bonita. Até está dando para ver algumas estrelas. – Ela comentou despreocupada, olhando para o cel.

-Sim. – Falou seguindo seu olhar, tentado se aproveitar do intervalo para se recuperar e poder tentar novamente.

-Então, boa noite. – A loira falou, menos animada, se virando para abrir a porta.

-Boa noite. - Sussurrou triste consigo mesmo por ser um covarde e não conseguir falar outra coisa.

Ela apenas acenou em concordância, se virando para entrar, mas acabou por parar o movimento, voltando para si, questionando:

-Porque você me beijou naquele dia? – Sua expressão estava séria e determinada.

Seu coração falhou por alguns segundos, e sua mente o levou para aquele dia, onde tivera a coragem necessária para beijá-la. Aquele tinha sido o melhor dia de toda a sua vida.

Ficou embasbacado com a coragem da mulher. Mas, não era algo de se surpreender, já que Temari era uma mulher determinada e de opinião forte, e se tinha algo a dizer, falava sem se importar.

-Bem...- Começou a falar, mas parou para limpar a garganta. – Naquele momento eu estava um pouco perdido, já que você desatou a falar, não ficando quieta por um segundo.

-Então, está me dizendo que apenas me beijou para que eu ficasse quieta? – Seu tom de voz soou mais alto, não parecendo muito satisfeita com o que ouviu. – Se esse foi o caso, acredito que pelo menos deveria ter tido a decência de me procura depois, para se justificar, ao invés de ter me deixado sem saber o que tinha acontecido para o levar a fazer isso.

-O que? Não. Você me entendeu mal. Eu não a beijei por este motivo. E, pode ter certeza que quis aparecer antes, para conversarmos. Mas o trabalho me impediu.

-Sempre o trabalho, não é mesmo? – Falou irritada. – Então, Shikamaru, se esse não foi o motivo do beijo, então, qual foi?

Aquele era o momento decisivo, sua chance de se declarar, e falar sobre todos os seus sentimentos. Sentiu um forte frio no estômago. Seu coração já não cabia dentro de si, parecendo que sairia por sua boca a qualquer momento.

Se armando de toda a coragem que possuía, a olhou com intensidade dentro dos olhos. Segurou em uma de suas mãos, ficando sério, o que a deixou apreensiva no mesmo instante.

-Temari, eu....

Parou de falar ao perceber uma aproximação logo atrás de si. Temari também percebeu, olhando na mesma direção. Notou que se tratava da Hyuuga que estava se aproximando envolta por um grande xale, como se fosse uma manta.

-Hinata... – Temari sussurrou com desagrado, soltando de sua mão no mesmo instante.

Olhou para a loira, vendo raiva faiscando por entre seus olhos.

-Tenho que entrar, já esta tarde. Preciso dormir. – Ela narrou nem um pouco satisfeita, fazendo toda sua felicidade morrer em seu peito e a coragem fugir para longe.

Não conseguiria falar mais nada do que pretendia naquele momento, muito menos com um expectador. Assim, mesmo com o coração partido, a única coisa que pode fazer foi concordar.

-É claro. Tem toda a razão. Boa noite, Temari. – Falou da forma mais calma que conseguia, mas, diferente de todas as outras vezes que apenas se limitava a acenar com a cabeça, dessa vez resolveu segurar em sua mão, a beijando com carinho, logo em seguida depositando um leve beijo em sua face, a deixando rubra de imediato.

Ela nada disse, parecendo atordoada, entrando na casa meio trôpega, sem olhar para trás. Se sentiu feliz, pois significava que tal gesto tinha surtido algum efeito.

-Temari é uma ótima pessoa. Espero que cuide dela, como ela merece.

Escutou Hinata falando logo atrás de si, se aproximando gradativamente, até ficarem um de frente para o outro.

-Não precisa se preocupar quanto a isso. Temari merece o melhor. – Falou docilmente, a vendo sorrir de canto. – Mas, o que está fazendo fora de casa a uma hora dessas? – Inqueriu ao se lembrar do horário que se encontravam. Não era que estivesse preocupado com a morena, já que ela podia se cuidar muito bem sozinha, mas, porque não era muito comum a ver fazendo isso.

-Estava dando uma voltar pelo quarteirão para ter certeza de que não tinha ninguém a vigiar a cada. Felizmente, não encontrei nada. – Falou em um tom cansado, com fortes olheiras a preencher sua face pálida.

-Entendo. Muito obrigado por estar ajudando. Você não sabe o quanto fico mais tranquilo por saber que está aqui. Estou muito preocupado desde o dia que me contou o que viu no escritório de Kakashi.

-Eu também fiquei. Talvez não queria dizer nada, mas não podemos arriscar.

-Sim. Tem toda a razão. Muito obrigado novamente, por estar as vigiando.

-Só estou fazendo o que deve ser feito. Mas, agora vou entrar, para tentar descansar um pouco. Apesar de não saber se vou conseguir dormir tendo em mente que alguém pode tentar invadir a casa a qualquer momento e fazer algo ruim às duas.

-Vou ligar para o departamento e pedir para que enviem um dos meus agentes para cá, para que fique de vigia durante a noite.

-Isso seria de grande serventia. Muito obrigado.

-Só estou fazendo o que posso.

-Agora vou entrar. Boa noite. – Disse, entrando na casa, sem olhar para trás.

Suspirou resignado por toda essa situação e por ter perdido a chance de se declarar a Temari. Mas logo a tristeza deu lugar a felicidade ao se lembrar do encontro com Temari.

Sorrindo bobamente, colou as mãos dentro dos bolsos, voltando para o carro de forma despreocupada, a olhar para as estrelas no céu. Mas, ao atravessar o portão de ferro, acabou vendo um estranho a se debruçar pela janela de seu carro. Se assustou com o imprevisto, logo reagindo, chamando sua atenção:

-Ei, o que está fazendo? – Disse alto, indo na sua direção.

A pessoa, ao perceber sua presença, apenas se virou e saiu a correr.

Não conseguiu ver o rosto, pois estava com um sobretudo de capuz, que encobria toda a sua face. Mas, parecia ser um homem pela altura e a largura dos ombros.

Decidiu ir atrás, começando a correr em seu encalço. O fugitivo era ágil e rápido, descendo a rua o mais ligeiro que conseguia. Para sua sorte, Shikamaru nunca deixou de treinar, e por ser pequeno e magro, sempre tinha sido muito rápido. Começou a diminuir a distância cada vez mais, quase se aproximando. Estava o perseguindo apreensivo, pois não sabia se aquele estranho tinha conseguido pegar algo em seu carro.

Agora, só faltava três metros os separando, percebendo que se continuassem naquele ritmo, logo o alcançaria. Mas, o encapuzado pareceu notar também, se virando e apontando algo em sua direção.

Devido ao extinto e os anos de treinamento, a primeira coisa que fez foi se jogar no chão para poder se proteger. Mas, não escutou nada, apenas algo a estralar, com se tivesse falhado. Suspirou de alívio, voltando a se levantar do chão de pedra úmido. Mas, o outro aproveitou e já tinha voltado a correr, virando em uma viela. Quando chegou no lugar, percebeu que era um beco sem saída, com um muro alto, e o outro tinha desaparecido.

Parou no lugar, retomando o fôlego, olhando a sua volta atento a qualquer aproximação. Mas, nada ocorreu. Seja lá quem fosse, estava sozinho e tinha fugido.

Desanimado e sem conseguir nada, resolveu voltar rapidamente para o carro. Entrou no mesmo, afoito por abrir o porta-luvas, percebendo que sua arma tinha sumido. Expirou em derrota, se jogando no assento, passando as mãos pela face suada. Percebendo que a arma que tinha sido apontada para si era a sua, e que ela não tinha disparado porque ele sempre a deixava descarregada, guardando a munição em seu bolso. Assim, caso fosse necessário usá-la, a carregava rapidamente.

Agradeceu a Deus por tal hábito, pois se a manteasse com os cartuchos, provavelmente, teria sido atingido.

Depois de se acalmar um pouco, voltou a olhar para a rua a procura de uma cabine telefônica. Ao ver uma cabine vermelha no final da rua, seguiu naquela direção, disposto a ligar para o escritório. Entrando na cabine, discou para a central que redirecionou sua ligação para o departamento. Logo a voz tão conhecida de Sarah se fez presente. Não querendo enrolar, seguiu direto ao assunto:

-Sarah, sou eu, o Nara. Estou ligando para reportar que fui roubado. Pegaram minha arma de dentro do carro e fugiram. Tentei a recuperar, mas o ladrão era bem rápido e atirou em minha direção.

-O senhor foi ferido? –Ela inqueriu preocupada.

-Não. Por sorte a arma estava descarregada e não houve disparo algum. Mas, faça o boletim de ocorrência. Temos que conseguir recuperar essa arma quanto antes.

-Sim senhor. Já estou fazendo o boletim de ocorrência.

-Ótimo. Mais uma coisa, peça para que o agente que estiver de plantão hoje, venha para a casa do coronel Hatake imediatamente.

-Aconteceu alguma coisa?

-Por enquanto, não. Mas, quero prevenir. Nãos sei se é algo isolado, ou se tem ligação com a invasão da mansão. Mas, não quero arriscar. Ficarei aqui até que ele apareça. Então, espero que não demore muito, porque vou saber.

-Sim senhor. Já estou o enviando.

-Ótimo. Até mais. – Terminou, desligando e voltando para o carro.

Sua noite tinha acabado. Não teria mais sossego sabendo que as meninas corriam perigo. Nunca se perdoaria se permitisse que algo acontecesse a elas, principalmente a Temari. No final das contas, sabia que não conseguiria sair dali. Que passaria o resto da noite a zelar pelo sono da loira daquele carro frio. Mas, não se importava, pois, o que mais valia era que elas ficassem bem. Tinha que ter certeza de que estavam seguras.


Notas Finais


Espero que tem gostado.

Gostaria de aproveitar para anunciar meu novo projeto. É na categoria de Game of Thrones. Quem tiver interesse, passa por lá para dar uma olhadinha.
Esse é o link:

https://www.spiritfanfiction.com/historia/destinos-entrelacados-20872786

Notas:

1) The Rules é um restaurante britânico, situado em Londres. Foi fundando por Thomas Rule em 1798, sendo o restaurante mais antigo de Londres. Ele serve comida tradicional britânica.
Se tiverem interesse, segue o link do site do restaurante: https://rules.co.uk/restaurant/

2) Informação tirada do livro Segunda Guerra Mundial: Os 2.174 dias que mudaram o mundo, por Martin Gilbert.

3) Como uma forma de resposta aos ataques feitos em Belgrado, a Inglaterra enviou seus bombardeiros até Berlim, destruindo vários edifícios públicos.

4) A batalha da Iugoslávia iniciou-se em 1941, quando as tropas nazistas invadiram o país e criaram um Estado fantoche controlado pelos croatas. A partir daí, os grupos internos passaram a lutar entre si pelo controle da região ao mesmo tempo em que resistiam contra a presença nazista. Os nazistas coagiram o príncipe Paulo a aderir ao Eixo em março de 1941. Como a Iugoslávia não possuía condições de rejeitar o ultimato nazista, aceitou e aderiu ao Eixo. A união com o Eixo fez com que nacionalistas sérvios depusessem o príncipe Paulo do poder, o que motivou a invasão nazista em 6 de abril de 1941. Essa invasão gerou um total rearranjamento da estrutura de poder na região. Primeiramente, a Alemanha realizou a divisão territorial de parte da Iugoslávia e forneceu territórios iugoslavos para Itália, Bulgária e Hungria. Parte foi ocupada pela Alemanha, e outra parte considerável foi utilizada para a criação do Estado Independente da Croácia.

5) Em 27 de março as negociações militares anglo-americanas levaram a aprovação um plano básico de guerra nª 1 que tinha em vista o conflito contra as potencias do eixo. O plano determinava em pormenores quais seriam as posições das forças terrestres, navais e aéreas de ambos os países após uma eventual entrada em combate por parte dos americanos. Também conhecido como plano de defesa nª1, visava, em primeiro lugar, a derrota da Alemanha e do Japão.

Até a próxima!


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