História Os Estudantes Transferidos - Nada Mau (Editado)

Tinham acabado de sair da droga do hospital. Natsu suspirou em desânimo. Pelo menos estava de barriga cheia, pelo menos não tinha sido uma perda total já que a "tia" do refeitório tinha lhe feito uma porção enorme de bife. Ele adorava bife. Bem... não só ele, mas Romeu também. Na verdade, ele parecia uma versão mirim de Natsu. Estavam indo em direção a sua casa por que Erza tinha tido a brilhante ideia de começar o treinamento de combate com Jellal nessa madrugada. Natsu sinceramente não sabia o que esperar, levando em conta o tempo em que Jellal levou para manifestar seu Armamento Real. Tinha passado quinze dias pra isso, sendo que Erza conseguiu em três dias. Mas se tinha alguma coisa que ele tinha aprendido enquanto trabalhava nesse ramo, era que "Não se deve julgar um livro pela capa".

— Irmão, vocês encontraram o que faltava? — Romeu perguntou. Ainda estava com Natsu e Erza. Com o serviço já feito ele podia muito bem voltar para sua casa mas provavelmente não precisaria escoltar nenhum padre ainda hoje. Tinha um tempo livre e além do mais, o próprio Natsu tinha lhe pedido para que ele viesse junto.

— Sim, achamos o violeta. — Natsu colocou a mão na boca contendo um enorme bocejo. — Vamos começar o treino dele hoje. Poderia ajudar a gente Romeu? É que, você sabe. — Falou meio constrangido.

— Oh, claro. — Romeu pensou por uns segundos. Sabia muito bem o por que de Natsu estar pedindo isso. O garoto tinha uma vasta noção da fama de guerreiro brutal que seu mestre tinha e sabia que ele não conseguia medir forças na hora de bater em alguém. Romeu foi treinado por Natsu quando ele estava com 15 anos. Se o rosado já era forte com essa idade, com 17 ele poderia matar o Rei Violeta já que ele era completamente inexperiente em combate. Tanto em corpo a corpo, quando em combate armado. Iriam ensinar combate corpo-a-corpo primeiro, depois o manejo de armamento.

Andaram por mais uns minutos até que chegaram em casa e Natsu se sentou no batente na frente dela. Erza tinha ligado para Meredy enquanto eles estavam no hospital e tinha dito para eles os encontrarem do lado de fora da casa, mas parece que nem ela nem Jellal tinham entendido aquilo. Ou estavam esperando algum tipo de aviso para poderem sair. Sim, isso era bom. Bocejou mais uma vez olhando Erza entrar em casa e em seguida foi para trás da casa. Como o já especificado, a casa deles ficava muito próxima a floresta e iriam aproveitar isso para treinar Jellal. Além de ser um lugar calmo, não havia a possibilidade deles serem pegos por alguém. Natsu e Romeu entraram na floresta. Tinha uma área mais pra dentro dela que ele e Erza costumavam usar para testar suas habilidades e, quando eu digo testar, quero dizer lutar um contra o outro. Nada tão intenso assim, na maioria eram rounds de um golpe. Continuaram a andar até que chegaram a uma área onde a copa das árvores era meio aberta, permitindo assim que a luz da lua iluminasse algumas partes do local. Se sentaram em uma pedra.

— Alguma noticia? — Perguntou olhando para Romeu que apenas soltou um suspiro longo e desanimado.

— O conselho tem pesquisado sobre os rituais de bruxaria que requerem 39 ou 40 sacrifícios, mas não encontraram nada. — Ele suspirou em desânimo. — Ainda que todos os rituais conhecidos fossem pesquisados e eles foram os que envolviam eclipses, invocação e os que mexiam com o tempo e mais uma variante imensa de outros.

— Nada tão difícil de se desfazer. — Natsu suspirou. — Uns rituais assim em sua maioria são ligados ao seu conjurador. Basta matar quem ativou o ritual. Simples assim.

— Quem o visse de longe pensaria que você só consegue resolver as coisas com violência. — Era quase possível ver uma gota na cabeça de Romeu.

— Não posso dizer que está totalmente errado mas isso se deve ao fato de que... — Natsu inclinou a cabeça soltando mais um bocejo — ...você vai morrer se tentar conversar com alguma Corff ou Orchid. Elas não escutam ninguém. — Ele falou e Romeu soltou uma risada. Ele estava completamente correto. As únicas pessoas que tentaram conversar e chegar a uma solução sem derramamento de sangue foram mortas. Isso serve de exemplo.

— Sim, irmão, ouvi um padre dizer que tinha uma bruxa na Fairy Tail. Você estuda lá. Não é? — Romeu avisou. — Eles só não sabem quem é. Não sabem se é boa ou má. Estão dizendo que vão até monitorar aquela escola por um tempo.

— Entendo... — soltou um bocejo maior ainda — parece que esses padres continuam inúteis — Romeu inclinou a cabeça expressando sua confusão. Natsu explicou. — Já sei quem é essa bruxa. Foi ela quem ajudou a quebrar o Kekkai que tinha em volta do ginásio um mês atrás. Ela não representa ameaça. Ela é uma aliada.

— Os padres dizem que qualquer bruxa é uma ameaça. — Romeu mencionou.

— É exatamente por isso que as Priests não trabalham juntas a igreja. — Natsu falou erguendo dois dedos. Dobrou o primeiro. — Não gostam de ser controladas — dobrou o segundo — Elas não vão ajudar quem não confia nelas.

— Irmão parece conhecer muitas bruxas.

— Muitas. Mas as íntimas mesmo são poucas. — Ele falou sorrindo.

— Íntimas? — Ouviu uma voz. — Me conte mais, por favor. — Natsu olhou para trás.

Era Meredy. Ela estava uma calça de moletom e vestia um casaco fechado até o pescoço. Seus cabelos estavam soltos esvoaçavam com a ação do vento. Ela lhe estendeu, ao que parecia ser uma latinha de energético. Romeu olhou impressionado para ela e para Natsu afinal, nunca tinha visto Natsu com nenhuma garota que não fosse sua irmã então, isso era meio que uma novidade para ele. Natsu sorriu enquanto olhava sua expressão. Parecia calma mas seu tom de voz denunciava seus ciúmes. Por mais que se divertisse vendo Meredy naquele estado, ele achou melhor explicar melhor o que tinha dito.

— As íntimas que eu falei, são aquelas que me ajudariam em combate — ele sorriu — caso eu precisasse. — Pegou a o energético e o abriu.

"..." — ela continuou o encarando com seus olhos vermelhos como se procurasse mentira em suas palavras. — Entendo — se sentou do lado dele. Romeu ainda estava com aquela expressão confusa, notando isso, Natsu explicou ao discípulo e irmão de consideração.

— Ah... Romeu, essa é a Meredy. Minha namorada. — Ele falou e Meredy fez um leve aceno com a mão direita. Romeu retribuiu com um sorriso. Nesse momento, Erza tinha chegado com Jellal. A ruiva estava ajudando Jellal a materializar seu Armamento. Ele ainda tinha um pouco de dificuldades em materializar e mais dificuldades ainda em manter.

— Como consegue ficar vestido assim? — Meredy falou abraçando o próprio corpo. — Está muito frio. Você deveria estar congelando.

— São os ossos do ofício além do mais... — Natsu murmurou, pegou a mão dela e colocou em seu rosto. Meredy se assustou. O corpo dele estava quente — viu? Meu corpo é quente. — Ele sorriu pra ela.

"Minha namorada." Natsu ultimamente vinha se sentindo feliz só em falar isso pra si mesmo. Sendo sincero, quando a conheceu Natsu mal podia imaginar que passaria a ama-la dessa forma. Tanto é que a primeira vez que a encontrou na sala de aula foi por pura coincidência e se dependesse dele, iria continuar assim. Mas Meredy era uma garota insistente. Insistia em conversar, até mesmo levava almoço pra ele. Então era meio que impossível que sua relação não mudasse depois de se aproximarem tanto assim. Mudou pra melhor. Natsu e seus métodos estranhos e radicais. Foi preciso ele literalmente, matar alguém na frente de Meredy para que ele confiasse e se sentisse à vontade com ela. Soltou um suspiro satisfeito quando Meredy deitou de leve em seu ombro esquerdo.

"..." — suspirou ao olhar para Jellal. Ele tinha conseguido, depois de alguns segundos, materializar seu Armamento e com isso, veio sua marca de Rei... nada em seu corpo mudou, exceto pelo fato de ter aparecido uma capa roxa com um capuz. A capa não era muito grande, mas se Jellal tentasse se cobrir com ela, conseguiria facilmente cobrir todo o corpo.

— Isso não apareceu da última vez. — Jellal passou a mão por sua capa. — Isso é bom. Eu acho.

— Sim... — Erza concordou. Natsu se levantou de onde estava e Erza se sentou em seu lugar.

— Primeiro de tudo... — ele ficou em pé frente a Jellal — Agora você está fraco então, não vai conseguir manter seu Armamento por muito tempo. — Ele falou e Jellal olhou para seu punhal meio arroxeado. — Segundo: Sua arma é de curto alcance. Vai precisar ficar perto para acertar. Terceiro: Se mantenha sempre em equilíbrio. Não caia de forma alguma. Risco de morte. Quarto: Pense em sua arma como se fosse uma extensão do seu braço. Por último... — Natsu suspirou fazendo Jellal sentir um frio na espinha — Não reclame dos métodos de treino. Eles vão salvar sua vida.

— Está me assustando. — Jellal falou sendo ignorado logo em seguida.

— Romeu — Natsu acenou com a mão direita, respondendo a isso Romeu se levantou e veio andando até parar ao lado dele — aqui está o seu oponente. Me mostre o que consegue fazer. — Jellal parecia incrédulo. Ele iria realmente enfrentar aquele garoto? — Romeu, pegue leve, okay. — Ele pediu e o garoto acenou em concordância. — Apenas dê umas dicas a ele.

— Pode deixar. — Ele sorriu empolgado.

— Ei. Isso não é meio, sei lá, injusto? — Meredy estava confusa. — Jellal era bem maior que Romeu e ainda por cima estava usando um Armamento Real. Romeu não estava usando nada. Ela estava realmente preocupada mas Erza não.

— Esta preocupada com o Romeu? — Erza perguntou e Meredy acenou que sim. Era meio óbvio. — Apenas assista. O Natsu não vai deixar acontecer nada de ruim com ‘ele’. — Ela sorriu mais ainda e Meredy teve a sensação de que esse "ele" dito por Erza, ficou meio em aberto.

Natsu andou por uns metros e subiu numa árvore. Se posicionando em um dos galhos mais baixos ele se encostou no tronco. Parecia que estava prestes a assistir ao show de sua banda favorita. Romeu não parecia ser forte, nem um pouco. Parecia uma criança comum. Ele andou em direção a Jellal e estendeu a mão. Estava tentando cumprimenta-lo.

— Muito prazer. Sou Romeu  — ele estendeu a mão esquerda para Jellal.

— Oh, eu sou Je... — ele não conseguiu terminar a frase pois foi arremessado a uns cinco metros de distância. Romeu tinha dado um soco extremamente potente nele que não aguentou a pancada e caiu de costas no chão. Jellal estava pasmo, e zonzo. Como um garoto como ele poderia ter uma força tão grande? — Isso foi trapaça — falou ficando de joelhos, mas quando ia se levantar, foi atingido por uma joelhada bem no nariz. Dessa vez o golpe foi tão forte que produziu um barulho característico. Dessa vez, Jellal foi empurrado até parar de costas para uma árvore.

— Trapaça? — Natsu sorriu em cima da árvore. — Bruxas não vão lutar contra você de maneira justa. — Ele falou e Jellal se levantou rápido.

Ele estava impressionado. Tinha levado duas pancadas muito fortes, porém só estava zonzo. Não tinha se ferido muito e tinha no máximo um filete de sangue escorrendo pelo canto de sua boca. Não estava sentindo dor. Não muita. Ao se levantar, ele pegou seu punhal e o ergueu frente ao corpo. Romeu seu aproximava rápido e assim que o garoto chegou perto, Jellal desferiu um golpe em diagonal. Se acertasse, com certeza faria um corte no braço dele. Mas óbvio que ele não acertou. Não por falta de mira, mas por que Romeu defendeu o golpe acertando um soco na parte "plana" da lâmina. A força com que Romeu o atingiu foi tanta que Jellal tombou um pouco para trás. Natsu continuou a falar.

— Se continuar assim vai morrer quando enfrentar a primeira bruxa. Seu golpe foi bom, mas lhe falta algo... — enquanto Natsu falava, Jellal fazia o possível para se defender das pancadas que Romeu lhe dava — intenção assassina. Ataque com intenção de matar. — Jellal pulou em direção a Romeu e atacou com um corte na altura da garganta. Romeu se abaixou para desviar e em seguida acertou outro golpe, entretanto Jellal defendeu. Foi empurrado para trás. — Quando for defender algum ataque pesado, deixe o pé esquerdo atrás. — Instruiu Natsu.

Meredy olhava aquilo respirando fundo. Aquilo parecia ser uma cena de filme. Os golpes eram tão fortes que pareciam que iam matar um ao outro cada vez que os atingiam e, o mais bizarro de tudo aquilo era Jellal estar apanhando para uma criança. Mas, que criança forte. Desviava os golpes de faca de Jellal com as mãos nuas como se tivesse feito aquilo milhares de vezes. Meredy estava realmente duvidando se ele era realmente humano ou não. Erza notou o olhar de dúvida que ela tinha, quando começou a falar...

— Ele é um dos guardas da igreja. — Explicou olhando Jellal levar mais alguns golpes.

— Desse tamanho? — Perguntou. — Quantos anos ele tem?

— Doze. Ele melhorou bastante. — Sorriu ao ver o modo como Romeu lutava. — Ele foi treinado pelo Natsu. — falou e dessa vez Meredy a olhou como se dissesse "sério?" — O pai dele foi morto por uma bruxa e ele queria ser um Instead para proteger a mãe que ainda tem, mas o conselho o julgou novo demais para isso. Romeu ficou decepcionado. Natsu tinha quinze anos na época e ficou com pena do garoto. 'Quer ficar forte, garoto? Eu vou lhe deixar forte' foi o que Natsu disse pra ele.

Meredy escutava tudo aquilo atentamente, mas ainda havia uma falha na história. Natsu lutava usando uma espada e Romeu usava os punhos. Se Romeu realmente foi treinado por Natsu, ele não deveria usar uma espada? Enquanto pensava, Erza continuou.

— Lembra do que aconteceu com Natsu, certo? — Era Perguntou. Meredy deduziu que ela tinha falado dele ter perdido o controle dos poderes. — Ele não usava armamento para lutar contra bruxas pois tinha medo que acontecesse de novo, por isso, ele se concentrou apenas em combate corpo-a-corpo. Só veio usar armamento três meses atrás. É um completo amador com o uso de espadas.

— Amador. — Meredy murmurou lembrando da noite que viu Natsu enfrentar a Lisanna falsa. Aqueles movimentos, aquele manejo da arma não era de um amador. Olhou para Natsu que continuava a soltar comandos de voz para Jellal. Como se fosse um pet. — Ele não me parecia um amador. Parecia tão forte.

— Ele é muito forte mas... — Erza sorriu. Abraçando os próprios joelhos. — Alguns dizem que ele fica mais forte quando não está usando espadas pra lutar.

— Uoooou — Meredy murmurou.

Nesse momento, um baque surdo pode ser ouvido. Meredy olhou e viu que Jellal estava caído no chão. Não parecia ferido mas estava muito cansado. Provavelmente não se levantaria por uns minutos. Sua capa tinha sumido junto com o Armamento que carregava, com certeza ele não aguentava mais lutar. Romeu estava em pé frente a ele, parecia estar apenas meio ofegante, já Natsu, desceu da árvore para ajudar o amigo. Agradeceu a Romeu e apoiou Jellal nos ombros sussurrando um "Nada mau. Para um amador" enquanto voltava pra casa.