Depois de passar a noite acordado observado o sono de Jin, Suga despertou sobressaltado com o barulho que o outro fizera ao sair da cama. Levantou-se rapidamente da cadeira para ajudá-lo.
Jin apoiara-se na parede e gesticulava com urgência para o banheiro. Levou-o rapidamente, embora com dificuldade. Uma vez lá dentro Jin escorregou para a cerâmica e despejou o vazio do estômago no sanitário.
- Calma cara, está tudo bem. - Suga.
Outro golfo e o estômago deu como registrada a sua reclamação, e esgotado Jin se afastou para a parede oposta, apoiando a cabeça e dobrando uma perna para se manter equilibrado. Franziu o cenho com o sabor desagradável na boca até que Suga lhe trouxesse um pouco de água. Molhou a boca e cuspiu no sanitário.
- Ontem… - Jin.
- Não se preocupe com isso. Jung e RapMo já não moram aqui. - Suga.
- Minha cabeça… Estou um farrapo...
- É, eu sei. Não há mal em beber às vezes. Uma chuveirada deve ajudar. Amanhã deve estar inteiro de novo.
- Inteiro… - Jin sorriu da escolha de palavras.
- Desculpe.
Suga ajudou-o com os botões da camisa e da calça, e a se livrar do cinto, mas o restante deixou por sua conta. Jin não se deu ao trabalho de fechar a porta do box, e Suga se manteve no banheiro por não saber se ou quando o irmão desmoronaria.
A água desceu fria pela cabeça, grudando o cabelo à testa e à nuca. De olhos fechados Jin suportava o baixo ruído do chuveiro. Deixou que escorresse pelo meio das costas, e tentava desembaraçar a mente. Mas o mais suave mover lhe dava fortes pontadas que distorciam até os azulejos.
Vestiu o roupão felpudo e de padrões de vários tons rosados, e sentou-se na cadeira antes ocupada deixando poças que o denunciavam. Não percebeu quando Suga foi para trás com uma toalha, pressionando suavemente para que o cabelo secasse sem provocar mais dor.
- Como eu pude esquecer...
Foi quando Suga percebeu os soluços silenciosos nos ombros do outro,e as lágrimas quentes caíam nas mãos ainda frias. Por isso permaneceu afagando a cabeça mesmo que o cabelo estivesse seco, até que o choro cessasse.
Jin manteve a cabeça baixa ao ser levado para a cama e ser coberto, com Suga lhe dizendo que precisava descansar, e ficando com ele até que dormisse novamente. Então desceu para uma casa que havia amanhecido tarde e silenciosa.
Pegou um prato sobre a mesa, e sentou-se na copa para comer o pedido do delivery, após Jungkook dispensar a cozinha da casa, e ir descansar melhor.
❦ ❧
Ao ouvir alguns ruídos no corredor de cima, Jungkook foi até lá falar com os únicos despertos da casa. Bateu à porta e entrou no quarto já não tão vazio.
- Vou me aprontar pra sair essa tarde, caso o Suga pergunte. Devo voltar após o jantar. - Jungkook.
- Certo. - Jimin.
- Notícias de Jin. - V-Kim.
- Suga subiu para o quarto, então Jin deve estar bem. Deve se sentir melhor em algumas horas. - Jungkook.
- Certo então. Bom encontro.
Saiu fechando a porta e V-Kim continuou a mexer no gabinete de um computador ligado à uma tela pendurada na parede. Pediu à Jimin que usasse o controle e em seguida estava ligada à internet, com alguns programas, mas escolheu acessar o YouTube.
- O que quer ver primeiro? - V-Kim.
- Aquele que o RapMo falou, passos de funk clássico. Coloca legendas, porque não quero dançar nada que não saiba o que está dizendo, ou pior. Que diga coisas ruins. Só quero ganhar do Sehun, não perder ações da nossa empresa. - Jimin.
- Parece que os investidores já especularam de RapMo quanto a isso. Não gostaram de ele estar relacionado ao Brasil, então estão fazendo alguma pressão para que seja apresentado.
- Mesmo? Como sabe disso?
- Hackeei alguns emails de Jin. Como RapMo chamou mesmo? Passinhos? Isso é…
Abriu outra aba com o tradutor. V-Kim digitou a pesquisa Passinhos anos 90, o endereço https://www.youtube.com/watch?v=yhpqB0JD-4I. O vídeo começou na tela, mas Jimin o encarava, preocupado.
- Você não me hackeou, não é? - Jimin.
- Não! O Jin sabe. É para o caso de ele não poder dizer algo, para que saibamos de tudo. Ou aconteça algo e não tenhamos que passar por todos aqueles procedimentos judiciais só pra saber de algo que ajudasse na investigação ou nos protegesse. - V-Kim. - Um hackeio legal.
- Isso é muito… mórbido.
- Sim. E eu não estou interessado nos seus vídeos de recordistas.
- Certo. Então põe o vídeo do início. Vou apagar a luz.
Assistiram o vídeo uma vez, e na metade V-Kim já arriscava alguns passos incompletos. Assistiram a segunda vez, realizando os passos mesmo que imperfeitos, até que pegassem o ritmo e os pés se arrastando hesitantes. Na terceira vez era possível ouvir os tênis batendo no carpete, com confiança. Mas ainda faltava algo.
- Essa volta. Não conseguimos fazer isso direito. Parece um movimento fluído, que a gente pára pra fazer o próximo. - V-Kim.
- Depois RapMo ajuda a fazer, vamos aprender o máximo possível desse. - Jimin.
- Parece que você gosta de dança.
- Parece mais divertido agora. Mais do que exercícios.
- Não deixa de ser exercício.
- Mas os outros eram mais trabalho do que hobby. Vai, coloca outra vez.
- Não quer ver outro vídeo, com outros movimentos? Ou até outro tipo de música?
- Não. Gostei desse. É bem diferente. Sehun nunca vai imaginar que vou trabalhar nisso.
- Certo. Parece que isso fica melhor em grupo. Como vai fazer, se a disputa é apenas entre vocês dois?
- Não sei. Consegue colocar um telão com sombras? Podia colocar uma gravação sua fazendo junto comigo.
- Esqueça.
- Então talvez RapMo possa.
- Acho que ele não se importaria. Nós temos que descobrir qual música usar e fazer uma coreografia com os movimentos que aprendermos. Quanto mais movimentos, melhor a coreografia.
- Certo, vamos ver outro vídeo.
- Não esquece que tenho que ajudar Raina no trabalho da biblioteca hoje, já que Jin tirou uma licença indevida. Vai ficar bem sozinho?
- Eu não estarei sozinho. Tenho muitos vídeos pra estudar.
❦ ❧
No segundo encontro, em um café substituindo o jantar, chegou às 16 horas, conforme o combinado. Por um padrão repetitivo soube exatamente para qual mesa se dirigir. A aparência da mulher era impecável e dócil, delicada como todas as anteriores. E como elas, esta também exalava nervosismo e ansiedade sob todo o capricho.
- Annyeong hashimnikka! - Jungkook.
- Annyeong-hasimnikka. - Im Jinah.
Jungkook sorriu, educadamente, e chamou a garçonete para anotar o pedido. Pediu petit fours e café, e ela uma fatia de bolo de chocolate e suco de morango, previsível. Ele preferiu aguardar os pedidos serem colocados à mesa e adoçar o café antes de conversarem. Ela percebeu o distanciamento entre eles e achou melhor se aproximarem.
- Você é muito popular entre as garotas. Preciso dizer que estou surpresa, e nervosa, por ter sido convidada por você. Foi tão repentino. - Im Jinah.
Jungkook suspirou tentando parecer à vontade. Eram tantas e tão iguais… Cheias de expectativas e todas erradas, que falavam tudo o que não era relevante.
- Como está o bolo? - Jungkook.
- Delicioso ‘Kook. Posso te chamar assim? Qual o tipo de mulher que procura? Espero que seja como eu! - Im Jinah.
Incrivelmente previsíveis…
- Porque, eu acho… Não, eu tenho certeza de que eu sou essa pessoa. - Im Jinah.
Era o suficiente para ele, precisava encontrar um meio de descobrir se era ela, do modo mais direto e educado que pudesse encontrar. Afinal, querendo ou não poderia ser ela.
- Você é de Seul, Im Jinah? - Jungkook.
- Não. Eu sou de Daegu. Sei que um de seus irmãos é de fora da cidade, de Daegu também. Sinceramente espero que eu e todos eles possamos nos dar bem. - Im Jinah.
Essa garota é louca?
Agora vai falar como…
...se tivessemos algo?
Não, não, e não.
Im Jinah não é pra mim.
Preciso saber mais,
e dar o fora daqui.
- Verdade? Soube que é um ótimo local. Então, se você nasceu lá, os seus pais são de lá? - Jungkook.
- Minha mãe, apenas. Meu pai é de Uijongbu. Ele foi para a cidade da minha mãe, buscando algo mais calmo. - Im Jinah.
Droga, preciso ser mais direto do que isso,
e colocar um fim.
Está ficando ridículo…
- Os seus pais trabalham em que área? Qual o nome deles? - Jungkook.
Ela pareceu desconcertada e baixou os olhos. Sabia estar sendo observada, mas a última frase que escutou deixara a situação mais evidente.
- Claro que os meus pais nunca… foram tão importantes quanto o seu pai, que fundou uma grande empresa de entretenimento. - Im Jinah. - Minha mãe cuidava de uma pequena loja de vegetais, no centro de Daegu, e o meu pai era vendedor de porta em porta, nas ruas. Tiveram muitas dificuldades em me criar.
Jungkook culpou-se um pouco por fazê-la se sentir mal por estar na presença dele. Talvez ainda pudesse fazer algo.
- Entendi. Andaram bastante pelo país. Você nasceu em que ano? - Jungkook.
- No ano do macaco. Minha mãe diz que é por isso que sou tão falante. Sei que nossos signos não são compatíveis, mas pelo horóscopo ocidental, tudo depende do ascendente, do vênus, e do decágono. Acho que eles nos favorecem, com certeza. - Im Jinah.
Jungkook sorriu quando a culpa passou, e bebeu um longo gole do café antes de colocar na boca um petit four para não ter de responder. Olhou para o relógio de pulso e suspirou.
- Eu sinto muito. Um dos meus irmãos não está bem, e prometi não demorar. - Jungkook.
Ela levantou-se de imediato, curvando-se compreensiva.
- Sim, claro! É o V-Kim? Vi nos noticiários, uma coisa horrível. Que bom que foram presos. Também vi o Jung, nas revistas, mas não quero que pense que sou uma tola que acredita em tudo. - Im Jinah. - Sei que Jung está bem.
- Preciso mesmo ir. - Jungkook.
Ele deixou o dinheiro na mesa e vestiu o casaco, saía ainda ouvindo a voz de Im Jinah.
- Espero que seu irmão melhore! Você liga? Certo, eu ligo. - Im Jinah.
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