História Os Irmãos Eaton - Capítulo 42

[...]

- Olá?

- Senti tanta a sua falta, querida.- reconheço essa voz!- Me senti tão sozinha sem você.

- Quem é você? - perguntei somente para confirmar minhas suspeitas.

- Você sabe quem sou, querida. - ela diz próxima a mim e então consigo ver seu rosto.

Mesmo desconfiado não gostaria de saber que é ela. Arfo em surpresa e cambaleio para trás.

- Que saudades, meu amor.- ela diz e sinto meus olhos marejarem.

- Jeanine!

[...]

Beatrice

- Você é meu dono?- pergunto estupefada.

- Claro que não, meu amor.- ela diz carinhosamente.

Por mais que ela esteja aqui, envolvida com isso, seu jeito carinhoso não parece ter sido deixado de lado.

- Então quem é?- pergunto colocando a mão no bolso do meu moletom.

Estranhamente sinto algo rígido, pequeno e gelado contra meus dedos. Apalpo e aperto um botão sentindo a tesoura  sendo disparada.

Ah, um canivete...!

Flashback on

- Tome cuidado, meu amor. Eu estarei aqui fora, pronto para entrar a qualquer momento, mas mesmo assim tome  cuidado.- diz Caleb me abraçando e sua mão se demora na lateral da minha cintura...

Flashback off

Então era isso.

- Você vai descobrir logo, querida.- ela diz- Agora... me dê um abraço? Senti tanta falta da minha princesa.- ela diz e eu a encaro desconfiada.

Aperto o botão do canivete com mais força, liberando todas as suas opções. Tateio até achar a faca enquando tento entreter Jeanine.

- Quer um abraço? Está envolvida com tudo isso, ameaçou a minha família, meu namorado e agora quer um abraço?- pergunto calma, sem mostrar meu nervosismo. Ouço meu coração batendo forte, como se batesse contra meu ouvido.

- Isso tudo não quer dizer que eu não goste de você, Beatrice.- ela diz com as sobrancelhas abaixadas, como se estivesse chateada.

Encaro bem seus olhos e fecho o canivete, deixando apenas a faca.

Me levanto e vou até ela.

Tobias murmura contra a mordaça, se debatendo rapidamente.

Olho em seus olhos e eles estão mais escuros que o normal. Vejo a raiva e o ódio transbordar e sigo seu olhar, acompanhando uma sombra se movimentando na escuridão.

Aperto mais o canivete em minhas mãos e me afasto de Jeanine. Me abaixo ao lado do Tobias, fingindo um desespero maior do que o meu próprio e entrego o canivete em suas mãos. Abaixo meu rosto encostando no ombro de Tobias. Ouço o mesmo rosnar e sinto a movimentação de seus braços, tentando abrir a algema com o canivete, e então sinto minhas pálpebras ficarem mais escuras sobre meus olhos, alguém está parado a minha frente, impedindo a pouca luminosidade chegar até mim.

Sinto uma mão em minha coxa e com receio de descobrir quem é abro meus olhos devagar.

Caleb

Estavamos dentro do carro, olhávamos para o visor do celular e então o vimos.

- Então era ele esse tempo todo!- tia Evelyn diz, espantada.

- Ele quem?

Beatrice

- Eric?- pergunto realmente muito espantada.

- Como vai, meu anjo?- ele diz e leva suas mãos até meu rosto afagando minha bochecha, mas eu tiro sua mão rapidamente de mim, ao mesmo tempo Tobias rosna, olhando com um olhar doentio na direção de Eric.

- Cachorrinho está raivo?- Eric zomba- Cala tua boca!- ele dá um tapão no rosto de Tobias com as costas da mão e um grito pula da minha garganta.

- Eric, para!- peço depois.

Ele respira fundo e se vira para mim sorrindo.

- Era para ser uma surpresa para você.- ele diz como se fosse algo bom- E parece que consegui, então... surpresa!- ele levanta as mãos e eu me levanto.

- Por que, Eric?- pergunto me aproximando dele e percebo o olhar de Jeanine em Tobias que continua se debatendo olhando para mim e para Eric.- Por que, Jeanine? Você dizia que me amava, que iria me adotar porque me amava...

- Mas eu amo.- ela como se quisesse se redimir.

- Aham. E você, Eric?- pergunto voltando meu olhar para ele- Quando nos conhecemos você disse que iria me proteger de tudo e de todos quando eu devia estar me protegendo de você!- eu digo mais alto e ouço Tobias urrar.

- Eu estou te protegendo. Estou te protegendo deles...- ele aponta para porta do balcão- E dele.- aponta para Tobias que revira os olhos, provavelmente pela desculpa tola dada por ele.

- Isso não me parece proteção.- digo me afastando.

- Mas é!- ele diz se aproximando.

A cada dois passos meus, era um tranquilo seu. Continuo a recuar até que ouço um protesto de Tobias e paro. Olho para trás e vejo o grande anzol do guincho próximo a minha cabeça e me assusto, cambaleando para trás.

- Calma, meu amor.- Tobias solta uma bufada de ar, se contorcendo no chão. Droga! Ele ainda não se soltou?- Cuidado.

- Me solta.- digo quando sinto suas mãos na minha cintura para me equilibrar.

Suas mãos sobem em rendição e eu suspiro, me afastando.

- Será que agora eu já posso saber de tudo?- pergunto intercalando o olhar entre Eric, Jeanine e Tobias, que vejo sua mão mais afastada da outra e um alivio me domina por ele ter se soltado.

- Quer saber a história?- Eric me pergunta.

- Se eu perguntei...- digo e ele bufa.

- Pois bem...- um barulho forte ecoa pelo balcão e sua cabeça se vira rapidamente- Esses incompetentes.- ele diz revirando os olhos.

- Diga.- insisto.

- Seu pai é contador de algumas clínicas minhas. Quando fiquei sabendo do dote, por meio do meu advogado, não hesitei em ter uma reunião com Marcus. Depois de muita conversa, discussão, e mais umas duas reuniões, o dote foi finalmente vendido.- ele diz e eu reviro os olhos, sentindo refluxo e um gosto amargo na minha boca- Quando enfim o projeto foi traçado e completo, você foi enviada para Londres. E então vi a oportunidade de te conquistar. Mas não.- sua voz exala puro desdém-  Tinha o playboy no meio.- Tobias levanta seu olhar, encando-o confuria, um rosnar salta de seus lábios, e ele se debate, provavelmente fingindo ainda estar preso- Então... resolvi tirá-lo do meu caminho. Algo que não foi muito difícil já que espalhei caras por toda Londres e logo o bebêzinho se perdeu.- ele zomba fazendo um biquinho para Tobias.

A raiva e o ódio de Tobias eram tão grande que me pareciam palpáveis. Seus olhos queimavam Eric por completo e imagino que em sua cabeça ele está bolando diversos modos de acabar com ele.

- Levei Tobias de volta para o Brasil, o encaminhei para uma das minhas boates e por lá ele ficou. Soube que tentou fugir, mas foi pego... fumou crack, ficou tão louco que te viu na cama e transou com o travesseiro. - Eric zomba rindo, então um baque me atinge.

Viro minha cabeça vagarosamente em direção à Tobias, que abaixa a cabeça.

- Fumou crack? - pergunto e ele não me responde. Depois de alguns segundos o observando volto a falar- Seu silêncio era o que eu precisava.

- Não ligou para parte que ele transou com o travesseiro?- Eric ri- Nita o viu nu, metendo no pobre travesseiro. Ela o viu nu. - ele me provoca, mas respiro fundo. Não vou me alterar já que é isso que ele quer.

- Continua logo essa porra!- digo alto.

- Tudo bem, estressadinha. Então ele tentou fugir de novo, dessa vez com a ajuda da Nivaca. E não é que conseguiu? Mas sentiu minha falta e voltou, não é amigão?!- Tobias rosna de novo e Eric ri- Não adianta ficar nervosinho.

Eric se aproxima de Tobias e começa a conversar com ele, baixo, rouco e assustador.

Olho em volta e não vejo Jeanine. Procuro algo no chão ou nas peredes que possa me ajudar, ou ajudar Tobias contra Eric. Começo a olhar em volta e vejo uma pequena faca. Em um canto, um pouco maior do que a do canivete.

Puxo ela com o pé, devagar. Me abaixo fingindo que vou amarrar meus tênis e pego a faca, colocando-a no cós da minha calça.

Suspiro ao perceber que Eric continua lá, agachado conversando com Tobias.

Me aproximo novamente e cruzo meus braços.

- Eric, continua!- digo entre dentes.

- Bom... basicamente foi isso. Quanto a sua mãe? Ela foi bem tosca, não? Ela, idiota, nem desconfiou. Seu pai não disse nada a ela e ela amou a ideia de me ter como genro.- provoca novamente.

Tobias fica quieto, apenas percebo sua respiração pesada, seu ódio se espalhando.

- Bom... agora você vai embora comigo, certo princesa? A troca era essa, não?! O princesa pelo playboy.- ele diz rindo, mas logo seu sorriso se fecha e sua voz engrossa- Venha, Tris.

Eric me puxa com ele, e vai caminhando com a sua mãos espalmada em minhas costas.

- Chegando em casa você será minha, eu te farei minha!- ele diz com uma voz maliciosa e eu sinto nojo.

Droga Tobias, não tirou a porra da algema?

- Não sou sua!- digo.

- Eu disse que farei!- ele diz e parece estressado- Vou foder você a noite toda!- coloco a mão no cós da calça para tirar a faca, mas nem foi preciso.

- Ah, mas não vai mesmo!- ouço a voz de Tobias, seu punho passa rente ao meu rosto, prendendo o pescoço do Eric entre o braço e o peito.

A mão livre puxa o canivete e o encosta no pescoço do Eric.

- O que você vai fazer mesmo?- Tobias pergunta.

- Foder a sua namoradinha a noite toda!- ele diz convicto e com enorme desdém.

- Não escutei.- passo para o outro lado tiro a faca do cós e entrego a Tobias.

- Eu vou foder a Beatrice a noite inteira!- ele ruge e Tobias enfia a pequena faca do canivete em seu abdômen.

Fecho meus olhos com força quando ouço o urro de dor do Eric.

- Seu desgraçado!- ele grita entre gemidos de dor.

- Desgraçado é você! Não pense que vai mexer com a minha mulher e vai ficar na boa, não pense muito menos que vou deixar você encostar um dedo nela!- Tobias ruge. 

- Me larga filho da puta!- Eric se contorce tentando se soltar.

- Minha mãe não iria gostar desse apelido.- diz Tobias com falsa tristeza- Cala tua boca e para se mexer se não cravo outra no seu pescoço!

Eric para. Ele olha para os lados e logo solta um assovio. Olho ao redor e nada acontece. Franzo o cenho. Ele assobia, talvez por não ter obtido resposta, e então Jeanine aparece. Seu rosto ostenta um expressão assustada.

- Não tem ninguém, filho.- ela diz e meu cenho, que havia relaxado, volta a se franzir.

- Filho?- pergunto olhando para Eric.

- É.- ele solta um rápido urro de dor. A pequena faca continua cravada em seu abdômen.

Tobias olha para mim e trocamos olhares. Ele não sabe quem é Jeanine.

- Então é por isso que estava ajudando ele?- pergunto.

- Claro! Ele é meu filho.- ela diz.

- Poderia ter educado melhor, não acha?- Tobias se manifesta e vejo os olhos de Jeanine pegarem fogo.

- Cala a boca!- ela grita apontando para ele- Você não sabe o que eu passei!

Tobias dá de ombros e continua apertando o pescoço do Eric.

- Onde estão aqueles inúteis?- ele ruge sem ar, seu rosto já estava vermelho.

- Eu os procurei, não há ninguém! Estamos só. Nem fora do balcão. 

Um calafrio sobe por meu corpo. Eles me deixaram mesmo? Mas eles não iriam pegar o Tobias?

Abaixo minha cabeça. Não! Eles devem ter algo planejado, não é possível.

Olho para Tobias e ele me lança um sorriso discreto. Seu olhar me tranquiliza, me dizendo que está tudo sob controle.

Um alívio passa por meu corpo, camuflando meus calafrios e eu respiro fundo.

Jeanine volta para onde quer que ela estava. Tobias acena com a cabeça para que eu a siga.

Assinto e saio atrás dela.

Ouço um assobio e Tobias acena de novo e me lança uma faca. Vou um pouco para lateral, deixando que a mesma acerte o chão a uma distância segura. Fecho minha mão envolta de seu cabo e me ponho a correr atrás dela.

Droga, e se for uma armadilha?

O caminho começa a ficar escuro e meu coração começa a disparar e vou desacelerando meus movimentos.

Volto devagar. Olho para trás e para frente novamente. Vou andando de costas, na direção em que vim.

Começo a sentir o pouco da luminosidade do salão do balcão e continuei a andar de costas.

Me volto para o lugar onde Tobias e Eric estavam e vejo Tobias e Eric no chão. Era tudo um borrão.

Os dois rolavam juntos. Eu via diversos punhos, vultos e uma faca, espero que na mão de Tobias.

Me aproximo dos dois com cuidado, o medo de que Tobias se machuque ainda mais toma meu coração de forma violenta.

- Tobias, para! Para! Tobias!- grito, mas ele continua com os socos, eu vejo a faca brilhando contra a luz, mas não consigo ver na mão de quem ela está.

- Solta ele!- uma voz grita me assustando.

Eric para, olhando para o lado e abrindo um sorriso que logo é fechado pela mão em punho de Tobias, mas logo seus movimentos também cessam.

Olho na direção da voz e vejo Jeanine segurando uma pistola 9mm. Arregalo meus olhos quando a mesma é apontada para mim.

- Solta ele, ou eu atiro.- ela diz e eu olho para Tobias.

Ele larga o Eric e se afasta rapidamente, se levantando e se colocando a minha frente.

- Calma.- ele diz.

- Não me pede para ficar calma, eu estou calma. Saia da frente dela.

Tobias não se afasta.

- Ou você sai ou eu atiro em você. - ela diz e ele apenas move seus braços para trás, me abraçando meio desajeitado.

Encosto minha cabeça de lado em suas costas e posso ouvir seu coração batendo forte, igual ao meu. Tenho medo de perdê-lo. Sinto meu corpo começar a tremer com a possibilidade.

- Se não sair atiro em você e depois nela.- ela diz e ele levanta os braços em rendição.

- Prometa não machucá-la. Por favor.- ele pede.

- Claro que prometo, eu amo essa menina, agora sai daí!

Tobias se afasta para o lado, devagar, sem movimentos bruscos.

- Beatrice, venha até mim.- ela diz.

- Credo, parece até o diabo. - sussurro.

Tobias suspira e sei que se não estivéssemos nessa situação ele riria.

- Venha.

- Calma!- Tobias pede- Sei que vai levá-la. Deixe-me despedir dela. Por favor.

Eric olha na sua direção e ela revira os olhos.

- Vamos lá, Eric. Depois disso ela será sua.

Ele bufa.

Me aproximo de Tobias e toco seu rosto.

- Me perdoa.- digo sentindo meus olhos marejados, passando o polegar envolta de seu lábio inferior cortado, logo subindo para o inchaço de sua maçã esquerta e sua sobrancelha cortada no mesmo lado.

- Te perdoar pelo quê? - ele sustenta um olhar intenso.

- Por bagunçar a sua vida.

- Não diga mais isso! Você foi a melhor coisa que me aconteceu. Eu te amo, Tris.- ele diz encostando sua testa na minha- Eu que tenho que me desculpar por não ter impedido.

Meneio a cabeça e me encosto em seu peito, o abraçando pela cintura, enquanto seus braços circundam meus ombros.

- Eu te amo.- sinto seu peito vibrar ao pronunciar essas palavras o meu vibra ao recebê-las.

- Eu também te amo.- digo e ele beija minha cabeça- Prometa que vai se cuidar.

- Eu prometo. Não vou te dizer o mesmo, porque vai ter outro alguém cuidando de você.- ele diz e eu reviro meus olhos. Eric não vai cuidar de mim.

Ele abaixa um pouco a cabeça e aperta seus lábios sensíveis pelo corte contra os meus e eu estremesso ao sentir seu corte contra minha boca.

Meu corpo pinica na intenção de cuidar do seu, mas logo a voz de Jeanine nos interrompe.

- Pronto!

Me separo de Tobias e ele me olha com intensidade, seus olhos dizendo que me amam e eu sorrio.

Me afasto devagar, deixando as mãos por último. Caminho até Jeanine e ela agarra meu pescoço e logo sinto o cano gelado da pistola ser encostado contra minha têmpora.

Meu corpo estremesse e ela se vira para Tobias.

- Não venha atrás se não quiser que ela morra.

Começamos a caminhar pelo mesmo corredo no qual ela tinha sumido da última vez.

A escuridão me assusta ainda mais, deixa a situação pior.

Nos aproximamos de uma porta, e pelas paredes serem de madeira desgastada deixava entrar um pouco de luz no ambiente, me fazendo enchergar melhor o lugar.

- Abre.- ela pede ao Eric.

O mesmo abre a porta e nos dá passagem para sair.

Jeanine desacelera seus passos para que possamos passar as duas pela porta. Aperto meus olhos quando ela pressiona o cano da arma com um pouco mais de força contra minha têmpora.

Seus movimentos se aquietam e sinto seu corpo tencionar atrás do meu.

- Se você atirar nela ou fazer algum movimento brusco, você morre.

E então, enfim, meu coração se aquieta.