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História Os malmequeres - Bem me quer


Escrita por: Lullaby

Notas do Autor


chansoo são os namoradinhos da nação. Então espero que em algum universo paralelo eles andem de mãos dadas e façam juras de amor (e o amor) em sofás confortáveis e desbotados.

Eu já queria escrever esta história há algum tempo, mas não estava a gostar de como a andava a iniciar, então acabava por apagar tudo. Mas hoje peguei nela, e escrevia-a do início. E gostei do resultado.

Ela pode ser um bocado paradita no início, mas acho que depois fica com um ritmo melhor de ler. Foi escrita com [i]o[/i] carinho asfgahsa

está escrita no presente e no passado (porque eu estava com sono quando a escrevi, mas vamos fingir que é porque é narrada em primeira pessoa e em jeito de pensamento)

a quem for ler, boa leitura <3

Capítulo 1 - Bem me quer


 

O malmequer que tenho na mão tem dezassete pétalas. Se começar no bem-me-quer, vou acabar no bem-me-quer na mesma.

Se tivesse dezoito pétalas, teria de começar no mal-me-quer, para que a última pétala branca a ser arrancada do botãozinho amarelo não fosse mal-me-quer também.

 

A minha avó, quando eu era pequeno, cantava-me, e à minha irmã, a canção d’Os malmequeres. (Agora já não a canta mais porque temos dois dígitos na idade e menos tempo para passar com ela).

Os primeiros versos da canção eram mais ou menos assim: “Tu não queres que eu goste dos malmequeres, mas eu gosto deles com razão. Porque são só eles, os malmequeres, que dizem se gostas de mim ou não”.

Enquanto os outros avós cantavam, aos seus netos, canções que falavam do gato da tia Anica, ou do mar que enrolava na areia, ou da aranha que subia pelo cano, a minha avó cantava-nos acerca dos malmequeres. Talvez porque a casa da praia da avó e do avô tivesse um quintal submerso do branco e do amarelo dos malmequeres.

 

Então, aqui estou eu. Com um malmequer de dezassete pétalas na mão. Sentado na primeira escada de pedra que dá para a entrada da casa de praia dos meus avós.

A brisa é gentil e fresca. Arrepia os pelinhos dos braços quando estão molhados. O céu de final de tarde é um azul quase púrpura.

A cerca de madeira, que separa o quintal da casa do resto do mundo, impede que eu veja o mar, sentado como estou. Se me levantar posso ver que o sol laranja está a um suspiro de tocar nas ondas calmas e prateadas.

Há o grito das gaivotas e o cheiro a maresia. Há o quintal, que é um quadrado, repleto de malmequeres.   

E, dentro de casa, há alguém à minha espera.

 

Kyungsoo vira-se para mim quando entro porta adentro.

Está de pernas cruzadas em cima do sofá, com uma toalha enrolada no pescoço e uma taça de cereais de mel sobre o colo.

O cabelo ainda está húmido do banho recém tomado, os óculos de hastes pretas repousam-lhe na cana do nariz e os calções que usa ficam-lhe ligeiramente largos, acima dos joelhos.

Olha para mim com as bochechas cheias de honey-pops.

Eu inclino-me no sofá. Ele esvazia as bochechas. Coloca mais uma colherada dos cereais, que tinham uma abelha simpática na caixa, na boca.

— Olha o que eu trouxe. — Digo-lhe, a mostrar-lhe o malmequer. Rodo a flor nos dedos e ela dá uma vagarosa pirueta sobre si, como se fosse uma bailarina.

Kyungsoo abana a cabeça em negativo. Os cabelos dele exalam um cheirinho bom de camomila. Inclino-me mais no sofá.

— O que é que as pobres flores te fizeram de mal? — Pergunta.

Fecho os olhos, como se estivesse indignado, e faço a minha melhor cara de desentendido.

— Ó flor! — Olho para o malmequer, mas sei que Kyungsso está a olhar para mim — Preciso de saber se o meu namorado bonito e carinhoso e teimoso e rabugento, gosta de mim ou não. Dá-me respostas!

Kyungsoo revira os olhos, mas os seus lábios em forma de coração tornam-se num coração que se quer repartir num sorriso. — Oh meu Deus. — Suspira. Deixou os seus honey pops de lado para olhar para mim. É uma conquista.

Pronto, não é uma conquista assim tão grande. Na verdade Kyungsoo deixa muitas coisas de lado para olhar para mim. Especialmente quando acha que eu não estou a ver.

Ele ajeita-se no sofá velhinho e eu começo a contagem.

— Bem-me-quer, — arranco uma pétala branca, que cai sobre a cor acinzentada, que há trinta anos foi verde, do sofá— mal-me-quer… bem me quer, mal me quer, bem me quer… — E continuo a contagem. O lugar ao lado de Kyungsoo enche-se de pétalas brancas. A última é uma bem me quer. — Estás a ver, Soo, os malmequeres não enganam. — Digo eu, com um sorrisinho. — Até eles dizem que tu gostas de mim. Mas eu sou irresistível, não te condeno.  

— Chanyeollie. — A voz de Kyungsoo é perfeita. É veludo e profundidade e café forte. E enquadra-se bem na sua figura pequena. O meu coração acha que pode dar saltos quando ele diz o meu nome com ela.

— O que foi?

— A tua avó sabe? — Pergunta Kyungsoo, com os olhos escuros e enormes a olharem para mim. Ótimo. Por momentos esqueço-me do meu sobrenome. Essa informação deve ter sido relegada para segundo plano, enquanto o meu cérebro pensa nos tipos de castanho que existem e como se chamará o que habita nas íris de Kyungsoo. Não, Chanyeol, castanho-mais-bonito-do-mundo não existe.

Mas se existisse era mesmo essa a cor de que seriam os olhos dele.

— A tua avó sabe que lhe andas a arrancar metade dos malmequeres do quintal? — Pergunta Kyungsoo, de novo. Enterro-lhe a mão nos cabelos. São macios e pretos como os de um filhote de gato.

— Não. Mas…! — Espeto o dedo indicador da mão esquerda no ar, com um certo dramatismo — Ela sabe que namoro contigo.

Os olhos de Kyungsoo abriram-se ainda mais. Não se abriram em medo, ou em reprovação. Era surpresa. Estava surpreso, e cauteloso. Ele era sempre cauteloso.

Eu embrenhei ainda mais os dedos no seu cabelo ainda húmido, em movimentos calmos. Abri um sorriso para ele e Kyungsoo, qual espelho, sorriu para mim. Um sorriso ainda cauteloso.

Quanta cautela, homem!

— Contaste? — Perguntou ele, ao fim de alguns segundos, que pareceram anos de Júpiter. Os seus olhos muito grandes e redondos. Os seus lábios em forma de coração entreabertos. Deviam saber a mel. Sabiam a mel, de certeza. — Porque é que contaste?

Ele estava feliz. Porque os cantos dos lábios estavam ligeiramente repuxados para cima. E os olhos dele estavam ligeiramente apertados. E a voz dele desceu um ligeiro meio tom.

— Porque eu amo-te, Soo. E eu sei… eu sei que nós não sabemos o futuro, e que às vezes é estúpido dizer que é para sempre, mas eu sei que o que nós temos é para sempre. Eu não sei explicar, eu só sei que sim. Eu sei que tu és o meu amor de uma vida. Só isso… então, eu gosto muito da minha avó e eu queria partilhar a minha felicidade com ela. E contei-lhe, que gostava muito de ti. E ela gosta de ti. És o meu amor pequenino.

Desta vez, Kyungsoo não se moveu com cautela quando tomou de assalto os meus lábios. Ainda assim, os seus movimentos foram calmos, impregnados com carinho. E os lábios dele, a saliva, a língua, sabiam a mel.

Sabiam a mel e a sonhos bons.

Eu sinto as bochechas quentes. As mãos de Kyungsoo estão pousadas nos meus ombros. Os lábios dele, o nariz pequeno, os olhos grandes, a pequena, ínfima, quase inexistente falha que ele tem nos dentes da frente, tudo é ainda mais bonito quando ele está tão perto de mim. Sinto a sua pele irradiar calor, o aroma da camomila nos cabelos escuros.

— Não precisas de chorar. — A voz dele é grave, quando usa o polegar para limpar as gotículas que se prendem aos meus cílios. Mas eu não estou a chorar. Estou a chorar? Oh, céus. Porque é que estou a chorar?!

Abano efusivamente a cabeça, mas não o suficiente para afastar Kyungsoo de mim. Isso, nunca. Esboço um sorriso.

— São lágrimas de felicidade. — Solto uma gargalhada, mas esta mais parece um soluçar. Meu Deus. — Soo, eu disse umas coisas mesmo lindas. O teu namorado, além de ter a altura de um super modelo, é poeta. A minha avó bem dizia que eu fui uma bênção que foi colocada no mundo. Bom, ela também diz isso da Yoora, sabes como são as avós, os netos são todos iguais e blá, blá, blá… — Dou um riso nervoso, não consigo olhar para ele, devo ser um metro e oitenta e cinco de vergonha. As palavras jorram da minha boca. — Mas, enfim, Soo, és um sortudo. Sem a minha ajuda, como é que conseguirias agarrar-te às pegas do autocarro? — Chanyeol, cala-te. — Ou como é que conseguirias tirar a tostadeira da prateleira mais alta? — Chanyeol, por favor. — Ou como é que irias sobreviver a um ataque zombie, sem alguém alto para te avisar dos inimigos? — Cá-la-te. — Ou como é que…

Felizmente, Kyungsoo tem o método ideal para me silenciar.

Primeiro, a mão dele acaricia a minha orelha. A outra escorrega para o meu pescoço. As pontas dos dedos dele são suaves na minha pele.

Os lábios dele colam-se aos meus e impedem-me de dizer mais parvoíces. Apesar de ele nunca dizer que são parvoíces, pelo menos, não em voz alta.

E eu não sei quando é que fechei os olhos, mas eles estão fechados.

Inclino-me mais para ele e ele endireita-se no sofá. Embrenho os dedos nos cabelos dele. Deixo que ele experimente os meus lábios e experimento os dele. Numa coisa que, na verdade, já deixou de ser experimentação há anos.

Depois são as línguas, e o calor, e os sons molhados e as respirações engasgadas com gemidos e sussurros.

São os toques mais livres, as mãos mais curiosas. Os beijos um infinito de vezes mais apaixonados e melhores.

É a brisa fresca a soprar nas peles frias. Nas peles quentes, aquecidas pelas mãos alheias. Kyungsoo tirou-me a t-shirt no processo. Depois as calças. Depois a capacidade de raciocínio. Arrancou-me alguns gemidos. Limpou as minhas lágrimas com beijos. Disse o meu nome uma série de vezes. Talvez mais vezes do que os malmequeres que há lá fora. E eu fiz-lhe o mesmo.

No sofá cinzento. Que foi verde, um dia, muitos dias atrás.

 

 

A brisa é fresca contra as minhas costas despidas. Mas a pele de Kyungsoo é quentinha em contacto com a minha. A cabeça dele repousa no meu braço, no meu ombro, e ele ajeita o meu casaco sobre os dois corpos. Escorrega a peça de roupa pelas minhas costas e encosta as costas dele contra o sofá, em busca de calor.

Ele é perfeito.

A pele dourada e doce e quente, sob a luz de final de tarde. Macia e dura. O ritmo do seu coração a começar a normalizar, como um corredor que termina a maratona.

 

Eu estou perdidamente apaixonado e já o sei há cinco anos. Há cem anos. Há milhares de anos. Desde uma outra vida.

 

As pestanas de Kyungsoo são curtas, mas densas. Ele também é pequeno, mas denso.

 

— Yeollie. — Kyungsoo inclina ligeiramente a cabeça, para me olhar nos olhos e ficarmos mais ou menos ao mesmo nível. Ele continua a cheirar a camomila, mas agora eu também cheiro. — Não precisas de contar malmequeres para saberes se gosto de ti ou não. Eu gosto de ti. Eu gosto de ti desde… eu gostei de ti desde o primeiro dia que falaste comigo, e depois amei-te, pouco tempo depois. E fiquei assustado e radiante, da primeira vez que me beijaste. E fiquei um caco com a nossa primeira discussão a sério. E soube que nunca mais te queria perder, quando fizemos as pazes. Por isso — os seus lábios de coração esboçaram um sorriso e os seus olhos transformaram-se em pequenas meias luas — podes deixar de estragar o quintal à tua avó. Podes deixar de destruir malmequeres.

Aperto Kyungsoo nos meus braços, num abraço apertado, e junto o meu riso ao dele. Dou-lhe um beijo na testa.

— Às vezes também sabes dizer coisas bonitas. Pensava que era eu o poeta da relação.

Os dedos dele tocam-me na testa, muito suavemente. Afastam fios de cabelo. Os meus olhos teimam em fechar-se, mas não fecham.

— Já és o mais alto da relação. Não podes querer tudo.

O meu riso soa-me feliz quando encosto a testa à dele.

— Prometo ser um namorado exemplar e estar sempre presente para te tirar a tostadeira das prateleiras altas.

Kyungsoo ri. A sua expressão é suave. Olha-me com um sorriso e com alguma seriedade. Uma seriedade amena, confortável.

— Chanyeollie. — O meu nome fica mesmo bem na voz dele, possivelmente tudo fica bem na voz dele — Daqui a dez, vinte, trinta, cem anos, não importa o tempo que passar, vamos ficar sempre juntos.

Os dedos dele continuam a afagar muito suavemente os meus cabelos e a minha testa. Muito suavemente. Os meus olhos teimam em fechar-se.

Os meus olhos fecham-se. Mas tudo é perfeito.

O cheiro a mel e a camomila; a pele quente de Kyungsoo contra a minha. A brisa lenta que vem da janela aberta. A quase ausência de luz.

Eu adormeço com o pensamento de que nunca mais vou ter de contar as pétalas dos malmequeres de antemão. A canção que a minha avó costumava cantar-me é sussurrada baixinho, algures de um canto infantil e com as luzes de final de tarde do meu subconsciente.

 

 

Tu não queres que eu gostei dos malmequeres, mas eu gosto deles com razão. Porque só são eles, os malmequeres, que dizem se gostas de mim ou não.

Se me dizem se gostas de mim ou não, porque de ti sempre hei-de gostar. Esses são para sempre os malmequeres, não queiram que me queiras enganar.


Notas Finais


Esta músiquinha existe mesmo, e é uma das minhas favoritas <3
Eu vou tentar colocar aqui um link posteriormente, com a música, porque ela não é assim fácil de encontrar.

Tenham uma boa noite/tarde/dia <3


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