História Os Marotos (Livro 1) - Por que eu?

(P.O.V. Sirius)

...

- Por que me trouxe aqui? – Remus me perguntou assim que entrou na Torre de Astronomia.

- O que você acha?

- Se eu soubesse, eu não estaria te perguntando, Sirius.

- Touch, Remuxo. – Dei uma batidinha ao meu lado e abracei minhas próprias pernas. – Por que você não se senta aqui e, então... talvez, só talvez... eu posso te revelar os meus motivos... hum?

- Pronto. É só falar agora – disparou de uma só vez quando se sentou.

- Respira, Remmie! Você já viu como o céu tá estrelado hoje?

- Você pode, por favor, parar de me enrolar, Sirius?

- Observa o céu, por favor. Não tô te enrolando, só quero que você observe.

- Ok, tô observando.

- Excelente! Tá vendo bem ali...? – Apontei na direção da constelação para que Remus visse.

- Sim, tô vendo, Sirius. Você tá apontando pra constelação de Órion, se eu não estiver enganado, é claro...

- Tá certíssimo! E, logo ali... estão as constelações de Cão Maior e Cão Menor, viu? – Apontei novamente na direção para que Remus pudesse ver.

- Você é bom mesmo em astronomia, né? Eu entendo um pouco do assunto, mas jamais conseguiria simplesmente apontar e saber exatamente qual é a constelação...

- Prática, Remmie. Isso se chama prática! Me acostumei a ficar observando o céu pra me animar. Quando percebi... já conseguia achar cada membro da minha família no céu... – Encolhi um pouco os ombros ao olhar de novo para a constelação de Órion.

- Você pode me mostrar?

- Te mostrar...? O quê? – Me virei para olhá-lo e percebi sua timidez ficando ainda mais aparente.

- Deixa quieto...

- Não! Não ouse me deixar curioso, Remus John Lupin! Diz de uma vez!

- Eu queria saber onde... er... a sua estrela fica...

- Minha estrela? – Arqueei as sobrancelhas ao ouvi-lo.

- Você entendeu!

- Claro que entendi. – Meus olhos se voltaram para o céu enquanto um sorriso largo se formava em meus lábios. – Bem ali. – Meu dedo indicou-a. – Fica a sudeste das conhecidas como Três Marias. Não sei você vai conseguir perceber o grande triângulo que a “minha” – ele pigarreou e eu ri antes de continuar – estrela faz com as estrelas Betelgeuse e Procyon. Mas como Sirius é a estrela mais brilhante da constelação de Cão Maior, não é muito difícil de ser vista e reconhecida.

- É por isso que me trouxe aqui? Pra ficar se exibindo? – Remus satirizou.

- Isso me ofende, Rem! Foi você quem pediu pra que eu mostrasse "minha" estrela.

- Então, por que não me fala a razão de estarmos aqui? – perguntou, voltando seu olhar para o céu.

- Se você insiste tanto... Eu gostaria muito que você me explicasse o que tá acontecendo com você.

- Não tá aconte...

- Remus John Lupin, olha no fundo dos meus olhos e repete o que você ia dizer, sem desviar o olhar.

- Tenha dó, Sirius, isso é ridículo! – resmungou.

- Tá vendo, você...

- Por que você insiste tanto que tem algo de errado, Sirius? Eu já não deixei claro que tá tudo bem? – bravejou de uma só vez sem quebrar o nosso contato visual.

- Eu sei que tem alguma coisa... Algo que você tem medo de contar e, por isso, tá sempre tentando se afastar. Olha, se nós fizemos algo que te desagradou, pode me falar, mas não se afasta. Me explica o que é, eu juro que vou tentar resolver. Me deixa tentar te entender. Me deixa... – Braços me rodearam e lágrimas romperam rente ao meu ombro direito, me interrompendo.

- P... por que s... se importa t... tanto comigo? – perguntou em meio ao choro, voltando a me olhar diretamente. – N... não faz sentido...

- Claro que faz. – Enxuguei seu rosto calmamente com meu polegar e sorri. – Somos “Os Marotos”, esqueceu?

- E...?

- E que você, assim como o James e o Peter, é parte da minha família.

- P... por que eu?

- Como?

- P... por que dentre todos os alunos de Hogwarts v... vocês me escolheram?

- Remmie, você é o melhor amigo que qualquer um no mundo inteiro iria querer ter, foi você quem nos escolheu quando aceitou entrar naquela cabine. Foi a partir daquele momento que o nosso pacto de amizade eterna se formou!

- Pacto de amizade eterna? Desde quando você ficou tão piegas assim, Sirius Órion Black?

- Acho que desde o momento em que a tia Euph me levou pra comprar isso aqui... – Coloquei a mão no bolso de minha veste e retirei o presente de lá.

- Sirius, o que é isso?

- Seu presente de natal!

- O natal já passou... e eu não te dei presente ne...

- Não preciso de outro presente. Já tenho o meu colar. E eu sei, Remmie, que o natal já passou, mas você deixou bem claro nas cartas que não podia receber visitas e por mais que eu confie na Fly pra levar cartas, presentes e esse tipo de coisas, eu queria te entregar pessoalmente pra ver sua reação.

- E o que isso seria?

- Abra o seu presente e verá.

Remus pegou o presente de minha mão e começou a abri-lo. A reação de choque ao perceber o que ele carregava em mãos e, principalmente, seus dedos passando levemente pela escrita charmosa da capa do livro "Orgulho e Preconceito" de Jane Austen, fizeram meu coração saltitar de felicidade.

- Caramba... Não acredito que você fez isso...

- Você me disse que estava louco pra ler esse livro, só tô te dando um empurrãozinho pra que você consiga realizar seu desejo.

- Quem diria que Sirius Black estaria me incentivando a ler mais, hein?

- Pode ler o quanto quiser, desde que seu colo esteja sempre livre pra eu poder deitar enquanto você me faz cafuné.

- Você é um idiota manhoso, sabia, Sirius?

- Sei que sou, Rem.

- Isso é muito injusto! – O olhei confuso.

- O quê?

- Você tem vários apelidos pra mim e eu não tenho nenhum pra você.

- E daí?

- Quero um apelido pra você.

- É só criar um.

- Eu sou péssimo com essas coisas – murmurou, ainda admirando o livro em seu colo.

- Ok, não acredito que vou fazer isso, mas... – Respirei fundo antes de continuar a falar. – Eu tenho um apelido de infância que somente duas pessoas usam, que são justamente as pessoas que me deram esse apelido, eu tô te dando permissão pra ser o terceiro, só porque você aguenta os apelidos que eu te dou. Você é a primeira pessoa pra quem eu conto isso, que fique claro.

- Tá bom. E qual seria o apelido?

- Pelas barbas de Merlin, não tô acreditando que eu vou falar isso... Meu apelido de infância é... Six.

- Six?

- É, não tem nenhum motivo muito específico. Foi o Reg que me deu esse apelido e acabou ficando esse mesmo... Eu sei que é meio ridículo, mas...

- Eu gostei!

- Tá falando sério? – Nossos olhos se fixaram e ele assentiu.

- Eu gostei do seu apelido, Six. Vou passar a utilizá-lo! – exclamou, caindo na risada junto comigo.

Ficamos um tempo ali sem falar nada, deitados um do lado do outro, apenas admirando o infinito céu estrelado acima de nós. Então, eu virei minha cabeça em sua direção e o chamei:

- Remmie?

- Six?

- Por que você não podia receber visitas em casa? – perguntei, voltando a ficar sério.

- É que... – Remus parou de falar. – Você não quer que eu minta, certo?

- Certo – respondi, fazendo com que o olhar de Remmie voltasse para mim.

- Eu não tô preparado pra contar isso pra ninguém... Sei que você e os meninos só querem o meu bem e agradeço muito por isso, Six, mas não tô pronto pra falar desse assunto ainda, espero que você me entenda e não...

- Tá tudo bem. Você se surpreenderia se eu te falasse o quanto te entendo. – Sorri ao pegar sua mão e aperta-la. – Só se lembra que eu tô aqui com você para o que der e vier!

- É bom saber disso, Six.

Ficamos conversando na Torre de Astronomia até o amanhecer, pois, infelizmente, tínhamos que voltar ao dormitório e nos trocarmos para irmos às nossas primeiras aulas do dia. Para ser sincero, por mim, eu poderia continuar naquela torre com Remmie para todo sempre e, mesmo assim, o "sempre" ainda seria muito pouco.

...continua no próximo capítulo...