— Sarada poderia segurar um pouco o seu irmão pra mim? Preciso terminar a sua lancheira.
A menininha de olhos tão negros quantos os seus desviou o olhar da Tv para olhar o pai que a observava na entrada da sala de estar com o bebê nos braços que dormirá após beber todo o leite da mamadeira. Sarada fungou o nariz uma vez e se ajeitou o melhor possível no sofá, abriu os braçinhos de um jeito que pudesse segurar o irmãozinho sem problemas e Sasuke se apressou ao deixar o pequeno bebê descansar nos braços dela.
Sarada olhou para Hiroto, seu irmãozinho, que dormia profundamente em seu colo e apertou de leve os braços em volta do menino de um jeito protetor, com medo de deixá-lo cair. Voltou a prestar atenção na Tv logo depois interessada no estranho desenho de um cachorro covarde.
Dá cozinha Sasuke olhava a cena com um sorriso tranquilo no rosto. Tinha muita sorte. Sua filha era a criança mais pacífica do mundo assim como o pequeno Hiroto que não chorava muito e não lhe dava tanto trabalho quando ele esperava ter. Para um homem que a dois meses atrás não sabia cuidar de crianças ele estava indo muito bem diga-se de passagem. Sim, a dois meses atrás ele não fazia ideia de como trocar uma fralda.
Sasuke tinha relacionamento instável com Sakura, mãe dos seus filhos, mas não poderia chamar o que tinham de um casamento feliz. Por sorte não eram casados no papel e isso o ajudou para ter a guarda definitiva dos filhos mesmo que tudo tivesse ocorrido rápido demais. Foi tudo muito estranho e Sasuke ainda se pega indagando o que de fato a fez ir embora, certo de que a culpa fosse tanto dela quanto sua. Ele sabe que nunca foi tão presente em sua vida, que passava mais tempo no trabalho que em casa, mas não justifica nada a mulher de repente arrumar suas malas, colocar uma carta em cima da cama, deixar os filhos com a madrinha deles e simplesmente ir embora. Ela não abandonou Sasuke, ela abandonou os filhos. Os próprios filhos – filhos que alegava amar mais que tudo – e nunca mais se soube dela. Sasuke nem sabe o que poderia fazer caso visse aquela maldita outra vez em sua frente.
E hoje faz exatamente dois meses desde o acontecimento.
Tentou não pensar mais sobre o assunto enquanto colocava dois sanduíches de presunto e tomates dentro de um pequeno pote plástico – a filha também amava tomates assim como ele – juntamente com a garrafinha cor-de-rosa com o suco natural de morango e uma maçã madura logo ao lado. Fechou a pequena lancheira da menina e olhou para o relógio de pulso onde marcava 7:30h. Ótimo, a escola de Sarada abria exatamente as oito mas Sasuke tinha a mania pontual de sempre chegar mais cedo.
Passou mais uma vez pela sala garantindo que a filha ainda estava lá segurando o irmão e caminhou direto para a garagem destrancado o veículo estacionado. Deixou a mochila da filha no banco do carona e verificou as duas cadeirinhas no banco traseiro antes de voltar para dentro de casa mandando a menina desligar a Tv.
Sarada se apressou em se levantar, com todo cuidado pois ainda segurava o irmão, e esperou o pai se aproximar para pegá-lo. Assim feito ela caminhou sozinha para o carro enquanto Sasuke pegava a bolsa do bebê e as chaves de casa.
O Uchiha verificou três vezes antes se não tinha esquecido o forno ligado até se convencer que estava tudo em ordem e trancar a casa.
— Papai não esqueceu de nada? — Indagou a menina ao moreno que brigava um pouco para fechar a cadeirinha de Hiroto. Sasuke ergueu uma sobrancelha para a filha. — A sua bolsa de trabalho.
Ele balançou a cabeça surpreso. — Oh, sim. Obrigado filha. — Se afastou do carro apressado em destrancar a casa de novo e ir buscar sua bolsa assim como a pasta que havia esquecido em cima da cama.
Meio minuto depois ele já estava de volta dentro do carro saindo de sua garagem e dirigindo tranquilo pelas ruas de Konoha. As ruas pouco movimentadas pela manhã causava poucos transtornos no trânsito e isso deixava o humor do Uchiha bem mais leve – o que era raro – e com isso ele conseguia observar os filhos pelo espelho retrovisor garantindo que estavam bem. O pequeno Hiroto continuava dormindo tranquilamente na cadeirinha, a chupeta azul marinho com um estranho formato de um hipopótamo subia e descia junto com a respiração da criança que quase não se mexia. Sarada não estava muito diferente do irmão, tirando o fato que não usava chupeta. A moreninha de apenas 7 anos usava uma blusa branca de mangas compridas e um macacão cheio de bolsinhos na cor vermelha por cima. Sapatilhas marrons ocupavam seus pés e uma pequena presilha rosa segurava a franja fina da menina. Ainda bem que os cabelos da filha eram curtos e Sasuke não tinha complicações na hora de os pentear.
Toda a atenção da menina estava na paisagem do lado de fora da janela, distraidamente, ela cutucava o vidro com um dedo de maneira relaxada. Sasuke se perguntava o que estaria se passando pela cabeça dela.
Não teve muito tempo para continuar a linha de raciocínio já que voltando a atenção para a estrada notou o prédio esbranquiçado da escolinha bem a frente. Sarada se remexeu no assento, pronta para descer. Andando pelos corredores Sasuke segurava a mochila da filha com a mão esquerda enquanto carregava um Hiroto já desperto com a direita. Sarada andava logo ao lado do pai segurando um pequeno caderninho em mãos – era o diário da pequena – juntamente com seu lápis da sorte favorito de cor laranja.
A professora já os esperava na frente da sala.
— Senhor Uchiha. — Comprimentou a mulher.
— Kurenai. — Retribuiu Sasuke com a mesma educação.
Sasuke passou a mochila para as mãos da professora enquanto se abaixava minimamente na altura de Sarada que o olhava tranquila, já sabendo o que viria a seguir.
— Comporte-se. E qualquer coisa chame a professora e ela me avisará, ok? — Sasuke ouviu um "Sim papai" antes da filha dar-lhe um beijinho estalado na bochecha que ele retribuiu com outro em sua testa. Sarada sorriu timidamente e acenou para o irmãozinho antes de se afastar entrando na sala de aula onde algumas crianças já estavam brincando a todo vapor.
Quando se pôs ereto novamente Kurenai o olhava admirada e em seguida segurará na mãozinha pequena de Hiroto que a olhou em confusão mas logo sorria animado.
— Seus filhos são maravilhosos Sasuke, está se saindo tão bem. — Confessou a mulher, feliz.
— Obrigado. Mirai, como está?
— Cada dia mais parecida comigo — Sorriu debochada, arrancando um sorriso mínimo do Uchiha. — Deveria vir nós visitar logo sabia? Mirai adoraria ver Sarada novamente e Asuma ficaria muito feliz. — Comentou empolgada.
O Uchiha assentiu.
— Quando possível o farei agora preciso ir. A creche do Hiroto é um pouco longe e não quero me atrasar pro trabalho. — Desviou o olhar para o pulso, já eram 7:50h.
— Está certo. Tenha um bom trabalho e não se preocupe com as outras professoras tentarei calar a boca delas. — Piscou divertida a mulher dando um beijinho na mãozinha de Hiroto até solta-la.
Agradeceu formalmente e se despediu logo entrando em seu carro novamente. Antes de ir para o banco do motorista verificou se Hiroto estava com a fralda suja ou se tinha fome e frio. Com a criança bem Sasuke deixou o cobertor favorito dele em suas mãos e foi para o banco do motorista pronto para voltar a estrada. Claro, verificando sempre pelo espelho retrovisor se o filho estava bem.
•••
O que logicamente ele não estava agora.
— Sasuke! O Itachi já pediu pela terceira vez a xerox da nova planta do prédio. Cadê ela, criatura?
— Tá saindo, porra!
— Segura esse palavreado comigo, viado!
— Vá tomar no seu cú, vai.
Sim, aquelas eram palavras trocadas amorosamente por Deidara e seu querido cunhado favorito, vulgo Sasuke, que pareciam ser os verdadeiros infernos daquela empresa. Quando o pai dos irmãos Uchiha morreu deixou em seu testamento toda a fortuna e a empresa de arquitetura nas mãos dos únicos filhos e como Sasuke tinha acabado de ser largado pela esposa Itachi assumiu toda a responsabilidade – Sasuke não estava com cabeça pra isso – mas claro que o moreno trabalha lá como secretário do próprio Itachi. E podem acreditar, ele está muito feliz trabalhando assim.
Menos agora.
— Como se atreve? Menino ingrato. — Reclamou o loiro batendo com força a prancheta que tinha em mãos na cabeça do moreno. — Se continuar assim vou ter que avisar ao Itachi pra trocar de secretário.
— Vá a merda, Deidara!
— Amor, deixa o meu irmão em paz. — Declarou o Uchiha mais velho dando um fim na discussão.
Deidara fez um biquinho, emburrado, ato que fez o mais velho aproximar-se faminto logo dando um beijo quente, digno de um filme, no loiro irritadinho. Só tiveram que parar pelos grunhidos de desagrado do Uchiha mais novo.
— Arrumem um quarto pra vocês, isso é uma empresa não um motel! — Reclamou o moreno.
— Há! Só porque você não transa não precisa empatar a minha foda! — Protestou Deidara arrancando um gemido relativamente alto de Itachi.
– Amor não faz isso — Deidara o olhou sem entender até Itachi revirar os olhos — Estamos na empresa e segura essa boca suja perto do meu irmão.
Sem escolhas Deidara aceitou a bronca e voltou para sua sala mais emburrado que antes.
— Desculpe Sasuke — Declarou o mais velho, levemente constrangido. — Deidara tem estado terrivelmente instável esses dias. Até parece uma mulher grávida.
Sasuke riu da comparação.
— Sem problemas, aniki' — Itachi sorriu pelo modo que foi chamado e estendeu a mão direita para os papéis que Sasuke lhe entregava. — E aqui estão as plantas. A máquina estava sem tinta por isso a demora.
— Preciso avisar a Temari para não esquecer de reabastecer essa coisa de novo. — Riu consigo mesmo olhando o irmão nos olhos. — Como estão meus sobrinhos?
— Eles estão bem — Confirmou. — Bem… na medida do possível. Sarada continua tranquila como sempre assim como Hiroto. — Itachi notou um leve desconforto no modo como o irmão disse aquilo.
— Sasuke está tendo algum problema com eles? — Perguntou aflito recebendo um olhar cansado do irmão. Com a empresa e milhares de funcionários nas suas costas Itachi quase não tinha tempo livre para visitar o irmão e ver seus sobrinhos mas se preocupava com eles tanto quanto qualquer outro tio. Não só com eles mas com o irmão também que agora tinha que cuidar da casa, dos filhos e de si mesmo tudo sozinho e como era orgulhoso sempre dizia estar bem quando não estava. Esse idiota consegue deixá-lo preocupado mesmo não querendo.
— Estão ótimos para mim, só não para aquelas professoras ridículas da escola da Sarada. — Soltou as palavras irritado. Já estava com vontade de colocar tudo pra fora há tempos só esperava uma oportunidade. — Mas não vamos conversar sobre isso aqui na empresa, temos trabalho a fazer. — Declarou por fim. Afinal tinham que lembrar onde estavam.
Itachi suspirou.
— Ok, você vai me explicar direito essa história depois. — Com um aceno de cabeça Itachi seguiu para sua sala sendo acompanhado por Sasuke – já que a mesa dele ficava na mesma sala – e ambos voltaram ao trabalho normalmente.
•••
As seis e ponto Sasuke tinha que estar na creche para buscar Hiroto e logo depois continuaria o trajeto até a escola da filha. Claro, isso se Ino não tivesse aparecido na escola na sua frente e já acenava do lado de fora de mãos dadas com Sarada, que estava calma porém sorria animada.
— Oi, oi, oii! — Saudou a Yamanaka alegremente. Hiroto ainda dentro do carro soltou um gritinho por reconhecer a voz da madrinha. Sasuke abaixou os vidros e encarou a loira duvidoso, erguendo uma sobrancelha, se indagando o porque diabos ela estava ali.
— O quê? Eu posso muito bem querer ver os meus queridinhos e você não pode me proibir disso. — Sasuke tentou argumentar sem sucesso já que a Yamanaka abrirá a porta do carro e já ajudava Sarada a se arrumar em sua cadeirinha. Deu dois beijinhos nas bochechas gordinhas de Hiroto que gargalhou animado segurando com cuidado os fios loiros da madrinha. Ino se afastou da mão gordinha – mesmo que a contragosto – e fechou a porta do carro sentando ao lado de Sasuke no carona. — Que tal irmos em um café? — Sugeriu a loira e olhando o rostinho ansioso da filha Sasuke só pode concordar e dar a partida.
O café em que escolheram era aquele típico lugar que sempre lhe traz alguma lembrança nostálgica. Um bom ambiente, pouco movimento e um gostoso cheiro de café forte. Do jeitinho que Sasuke gostava. Ino e Sarada foram as primeiras a entrar tratando de procurar um lugar para se sentarem enquanto Sasuke – carregando o filho na cadeirinha removível – ia direto para o caixa pedir duas fatias de bolo de chocolate para Sarada, um café amargo para si e um capuccino que Ino pedirá. Por sorte a mesa que escolheram tinha quadro cadeiras e Sasuke pode deixar a cadeirinha do filho em uma delas, próximo de si.
— Certo já pode começar — Falou de uma vez recebendo um olhar confuso e falsamente inocente da Yamanaka. — Não se faça de desentendida, Ino. Nós trouxe aqui por um motivo já pode falar o porquê.
— Aff, tá bom. — Suspirou a loira derrotada. A mesma disfarçou brincando com o pequeno Hiroto que soltava risadinhas gostosas pelos carinhos da mulher. — Sasuke você é um homem jovem, acredite sim, 34 anos não é ser velho. — Cortou-lhe a loira ao perceber que Sasuke iria protestar. — E sei que está dando tudo de si para criar seus filhos mas você tem uma vida também, sabia? Não é só deles, precisa cuidar mais de si mesmo.
— Ino se for mais uma de suas ideias de me influenciar para ir aos seus encontros às cegas, pode esquecer. — Pós um fim na discussão antes mesmo da loira usar mais de suas cartadas na manga. Sarada olhava os dois adultos perdida na conversa, não sabia do que falavam por isso ficou aliviada quando seu bolo de chocolate chegou. Ino observou Sasuke deixando dois guardanapos ao lado da filha e o cuidado com que ele tirava Hiroto da cadeirinha para lhe dar a mamadeira quentinha que tirava da bolsa térmica. O cuidado que ele tinha com aquelas crianças sempre a deixava pasma.
Ele estava se saindo tão bem mas… Não parecia ser o suficiente. Alguma coisa faltava. Era isso que a loira queria resolver.
— Sasuke — Chamou pelo mesmo com um sorriso amarelo ao vê-lo com o típico olhar frio dos Uchihas direcionado a si. Ele sempre usava essa tática quando queria terminar com um assunto de vez. Só que desta vez Ino não desistiria. — Se não quer ir nesses encontros não poderia ir então em um dos clubes que administro?
— Hn. — Resmungou o Uchiha sem paciência mas não impediu a mulher de continuar. — Você vai gostar, é sério! — Afirmou a loira destemida. Ela tinha certeza de que sua ideia era boa, faria bem a Sasuke e até mesmo a seus filhos, o Uchiha só tinha que lhe dar uma chance.
Sasuke limpou a boca do filho o erguendo com cuidado em seus braços, deixou a cabeça do menino descansar em seus ombros enquanto dava leves batidas em suas costas, com intenção de fazê-lo arrotar.
— E o que eu ganharia com isso? — Perguntou sem olhar para a loira se ocupando em ver a filha limpar tanto os dedinhos melados quanto a boca com um pouco de chocolate grudado. Sorriu um pouco puxando mais um guardanapo para a menina que agradeceu educada como sempre.
— Mu… Muitos amigos! — Balbuciou a loira constrangida. Tinha se derretido com as cenas de cuidado de Sasuke com os filhos e só confirmou sua certeza de que precisava levá-lo até lá.
Sasuke porém não parecia concordar com isso.
— Estou bem, Ino. Não preciso de amigos e muito menos de relacionamentos. — A loira não teve tempo de protestar pois o Uchiha já se levantava com o bebê nos braços, ajeitando a bolsa nos ombros e segurando a cadeirinha vazia. Sarada já estava em pé ao lado do pai. — Se me der licença preciso ir agora. Já passou da hora das crianças tomarem banho e ainda preciso ajudar a Sarada no dever de casa.
— Até outro dia, dinda Ino. — Sarada acenava para a loira seguindo o pai que já se apressava para sair do café sem dar chance da mulher conseguir alcançá-los.
Derrotada, Ino se ajeitou na cadeira e pediu a conta dos bolos e como sempre descobrindo que já foram pagos pelo Uchiha. Sorriu de canto, um sorriso triste, lembrando-se do quanto Sakura dizia que amava aquele moreno, amava estar grávida e amava a vida que iria levar ao lado daquele que sempre desejou.
— Por que fez isso, Sakura? — Perguntou ao nada, especificamente. Os longos cabelos loiros caíram sobre seus ombros enquanto a mesma os penteava com os dedos. — Por que os abandonou depois de tudo? Sua vadia'.
Suspirou derrotada. No final não era bom guardar mágoas ela sabia disso só não conseguia deixar de odiar a rosada. Poxa, elas eram melhores amigas, Sakura contava tudo de sua vida a loira assim como Ino descarregava tudo que lhe acontecia a rosada para que um dia ela sumisse do nada abandonado os filhos, o marido e não ter dado notícias nem mesmo para ela que era sua melhor amiga.
Depois de tudo ela sabe que se um dia voltassem a se reencontrar, não seria mais o mesmo.
Não seria mais.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.