O jovem Uzumaki estava abismado com as novas memórias que havia invadido sua mente. Os quatros dias que a segunda personalidade de Naruto, havia usado para quebrar completamente a sua vida cotidiana, ainda parecia uma ideia turva e difícil de ser digerida. Naruto estava com as mãos manchadas de sangue, além de estar sendo visto como um foragido. Em meio a esse rebuliço, ainda a duvida sobre onde Naruto esteve hospedado após Kurama provocar um incêndio a casa de Tsunade.
“Nos mudamos para a casa do seu primo” – Disse Kurama adiantando a duvida do Uzumaki.
Naruto permaneceu imóvel, com o olhar desfocado observando a parede da área de estoque da loja. Se passaram apenas um segundo. O segundo mais longa da vida do Uzumaki, e o mais revelador. Naruto precisava de tempo para pensar no que havia acontecido. Precisava digerir o que havia recebido da sua segunda personalidade, e analisar suas opções.
O temeroso Uzumaki se dirigiu apreensivo para as escadas, no entanto, seu passo estagnou logo que ele se lembrou do seu amigo Killer Bee. Não seria justo deixá-lo sozinho naquela situação. Além do mais, Naruto possuía uma parcela de responsabilidade.
“Tem certeza que quer fazer isso? Você terá estômago para isso?”
Naruto suava frio. O cheiro do sangue ainda pairava ao ar daquele cômodo fechado. Era nauseante estar ali. Naruto sentia-se sufocado com tamanha melancolia. Apenas em pensar nos corpos, Naruto já fraquejava e tremia involuntariamente. Permanecer de pé se tornara um desafio para ele. Sua testa tornou-se como um orvalho que rega o ambiente com minúcias gotas de água pela madrugada. Uma leve gota deslizou pelo seu nariz, espalhando lentamente pelo piso cinza do local. Seus olhos se remexeram em direção a uma mosca que pairava perto do seu rosto. O zumbido das suas asas era o pior ruído que ele já ouvira. Aquele barulho em meio ao silêncio mórbido era torturante. Naruto rapidamente levou sua palma em direção ao inseto, distribuindo a agonia sentida em uma pequena parcela de raiva.
- Desgraça!
Naruto rangeu os dentes. Sentiu a pressão que sua mandíbula fazia. Aquele momento, sua ira contra aquele inseto, era muito corriqueiro a ele. Jiraya achava cômica a irritação de Naruto com as moscas. O Uzumaki sempre largava o que estivesse fazendo, para espantar aquele inseto tão azucrinante. A cena era tão cômica quanto traumatizante.
“Você sabe que eles vão atrair ainda mais moscas não é? Vai ser só quando vocês remexerem os cadáveres para a loucura começar”.
A feição de Naruto se envolveu em desgosto. A situação estava piorando cada vez mais.
Killer Bee estava de volta com mascaras de respiração descartáveis, cobertores grossos e alguns produtos de limpeza.
- Toma.
- Boa ideia. – Disse Naruto colocando a mascara ao seu rosto.
- Eu não sei se isso vai funcionar, mas... – Bee fez uma pequena pausa enquanto encarava a porta fechada – Tomara que funcione.
- Bee-No chan!
- O que foi? – Killer Bee falava pausadamente, como se cada palavra necessitasse tremendo esforço.
- É a primeira vez que você passa por algo assim?
Killer Bee expressou seu semblante surpreso.
- Está tão claro assim?
- Mais ou menos. – Naruto desenrolou um dos cobertores - Eu achei que você já tivesse passado por algo mais ou menos parecido com isso.
- Meu irmão era o mais experiente. Ele serviu mais tempo no exército. Viu muito mais coisa do que eu. Eu servi em tempo um pouco mais amistoso.
Os amigos perderam algum tempo encarando a porta em silêncio. Não havia razão de evitar aquele momento. Eles precisavam passar por aquele desafio emocional. Bee colocou a mascara e abriu a porta com os olhos fechados. Os corpos estavam intactos. Naruto se viu decepcionado, pois seu coração acreditava que nada daquilo estava acontecendo.
- Ok! Primeiro o garoto.
Naruto segurou os pés de Kabuto e o arrastou um pouco em direção a porta. A bala havia atingido o seu olho esquerdo, deixando um minucioso buraco em sua cabeça. O mais tenebroso era a expressão alarmada de Kabuto que ainda estava marcada em seu rosto com seu olho direito dilatado. Killer Bee segurou os pulsos da vítima. Os dois levaram o corpo até o cobertor que Naruto havia desenrolado anteriormente. A ferida da bala deixou um leve rastro de sangue pelo caminho. O corpo foi colocado na ponta do cobertor e depois foi empurrado para ser acobertado pelo tecido.
- Quase lá.
O calor aumentava cada vez mais. O ambiente estava abafado. Naruto e Killer Bee suavam intensamente. À medida que os pingos de suor caiam ao chão, ruídos de assas minuciosas aumentavam cada vez mais.
- Ah não. Deixei a janela aberta. – Disse Killer Bee.
- Merda!
“Eu avisei”
Os dois caminharam em direção ao segundo corpo. Naruto tremia constantemente para afastar as moscas. Ele rangia e bufava.
“Eu faço isso por você. Te devolvo depois que resolvermos tudo isso.” – Disse Kurama.
“O que me garante que você não irá fazer mais coisas como essas?” – Pensou Naruto.
“Quer enfrentar isso? Por mim, tanto faz.” – Disse Kurama com desdém.
Naruto rangeu os dentes e acabou cedendo. Cerrou os olhos e se perdeu na escuridão lentamente como num sono.
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Hinata estava com o rosto enterrado ao travesseiro. O mesmo estava encharcado pelas lágrimas da Hyuuga que não davam sinal de chegar ao fim. Seu cabelo embaraçado, sua maquiagem borrada; Hinata havia se tornado no que sempre combateu – a imagem de uma pessoa fraca e encabulada. Aquela sensação desesperadora. O soluço preso a sua garganta. O peso do fracasso às suas costas. Tudo levava a Hyuuga até o dia que ela recebera a noticia da morte de sua mãe. Hinata chorou rios naquele dia e nos dias posteriores. Não havia ninguém que pudesse consolá-la. Mas é claro; ela havia perdido a sua mãe. Ninguém a culpava por chorar. No entanto, Hinata sentia-se mal. Sentia-se acusada quando era vista pelos outros naquela situação. Ela prometeu a si mesma jamais mostrar as suas lágrimas em público, apesar de nunca conseguir cumprir tal promessa. Hinata continuava. Procurava não fraquejar novamente.
A porta foi aberta rapidamente - por sua irmã mais nova.
- Nee-San! Acalme-se! Não sabemos ainda o que aconteceu com ele.
Aquela era a terceira vez que Hanabi tentava consolar a sua irmã naquele dia. Hinata ousou conter algumas lágrimas. Forçou os dentes e engoliu o choro.
- Mas é isso que me preocupa, Hanabi. Talvez isso nunca chegue ao fim. Eu não quero que ele fique desaparecido para sempre. – Hinata encarava a janela que ficava acima da sua cama. A chuva ao lado de fora caia tristemente. Uma leve garoa banhava a cidade com melancolia.
Hanabi fechou o cenho. A pequena Hyuuga não sabia mais como consolar sua irmã mais velha. Ela saiu do quarto sem dizer uma palavra, e fechou a porta. Hinata sentou-se à cama e curvou-se levando o rosto às mãos. Naruto não atendia suas ligações, não aparecia no colégio e nesse mesmo dia Hinata recebeu a noticia que a casa de Tsunade havia sido incendiada. A policia estava à procura do Uzumaki, mas o temor maior era que ele havia sido silenciado de uma vez por todas.
Hinata levantou-se e abriu a última gaveta do seu armário. Ela sentou-se ao chão, cruzando as pernas. Vasculhou a gaveta, revirando algumas blusas até encontrar uma garrafa de vidro com um bilhete dentro. Naruto havia dado-a para ela quando eles completaram seis meses de namoro. No momento, a Hyuuga não havia compreendido o motivo para Naruto dar lhe aquilo como presente. O Uzumaki fez a sua namorada prometer que apenas veria o conteúdo daquela garrafa no dia que seu coração estivesse extremamente pesado. Hinata nunca foi uma pessoa curiosa, mas naquele momento tudo o que ela mais queria fazer era abrir aquela garrafa. No entanto, ela conseguiu manter aquela pequena promessa que fez ao namorado.
Hoje, havia completado sete meses do namoro entre Naruto e Hinata. Por acaso, a Hyuuga lembrou-se das palavras do namorado. Será que Naruto já pressentia que algo ruim pudesse acontecer com ele?
Hinata abriu a garrafa e puxou o conteúdo. O papel era grosso. Estava bem dobrado com uma fita vermelha circundando-o. Ao abrir, Hinata se surpreendeu com algo que caiu aos seus pés – que estava preso ao papel. Um pequeno objeto prateado e circular. Um anel, com uma tímida pedrinha brilhante.
- Oh meu Deus!
A perplexa Hyuuga agarrou o objeto completamente assustada. Depositando extremo cuidado como se aquilo fosse à coisa mais sensível e preciosa que já existiu. Ela levou as mãos até seu peito e admirou o anel reluzente. Toda a tristeza deu lugar ao encanto – a tal ponto saudosista – que levava Hinata de volta à intensa paixão mesclada com felicidade quando estava ao lado de Naruto.
- Naruto-Kun. Onde você está?
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