- Será que eu posso falar com ela? - ele perguntou baixo e eu o soltei devagar, olhando em seus olhos.
- Você quer?
Não queria que ele fizesse isso se achasse que seria uma obrigação.
- Sim. Sim, e-eu quero. - ele sorriu fraco.
- Sobe. Ela está no quarto. Primeira porta à direita.
Ele assentiu e subiu os degraus. Eu sorri.
Esperei muito tempo por isso.
~Gabriel~
- Bella? - chamei ao bater na porta.
- Entra, moço!
Eu sofri e entrei, deixando a porta entreaberta atrás de mim, pois eu sabia que Melissa iria dar uma espiada, mesmo que não admitisse.
- Olá - falei.
Ela estava sentada na cama, jogando um jogo de moto no tablet, super concentrada.
- Que jogo é esse? - perguntei.
- Um aí. Não sei falar o nome direito, mas qualquer coisa já faz o carinha morrer... AI TA VENDO? MORRI. - ela ficou nervosa.
Eu ri.
- Calma. - falei segurando a risada. - Posso tentar?
- Você não vai conseguir. Esse é o nível mais difícil!
- Posso?
Ela ergueu o queixo e levantou a sobrancelha, a primeira mania da Melissa e a segunda era minha. Meu coração amoleceu.
- Tudo bem. Se você ganhar, você me paga um sorvete. - ela disse e me entregou o tablet. Eu me sentei na cama e estudei alguns "botões" de comando do jogo. Marcha, embreagem, acelerador, freio. Para virar era só virar o aparelho.
Simples.
- Apostado. - falei e iniciei.
Era um circuito que tinha que percorrer. Nada muito extravagante. Meus anos jogando videogame me ajudaram e eu demorei apenas 3 minutos para completar o circuito e zerar o jogo.
Ela ficou boquiaberta.
- Como você fez isso?!
- Eu tenho uma moto igual a essa. - falei.
- É vermelha?
- Sim!
- Posso ver?!!!
- Gosta de motos?
- Eu amo motos! - ela disse feliz - Principalmente aquelas que fazem um barulho muito alto e empinam e... São perfeitas!
Sorri. Ela havia herdado de mim a paixão por motos.
- Ela está na minha casa. - falei - Parece que vou ter que pagar um sorvete pra você.
- Que pena, não é? - ela riu.
- Amanhã?
- Só se você me levar para ver sua moto!
- E o que eu ganho com isso? - brinquei e cruzei os braços
- Eu deixo você se casar com a mamãe e ser meu pai!
Meu coração acelerou.
- Parece um bom prêmio. Amanhã eu passo aqui então, OK? Às 16:00?
- Pode ser. - ela sorriu. - Quero ir na sorveteria da tia Brunna.
- Você é quem manda - dei uma piscadinha e ela retribuiu rindo. - Até amanhã. - me levantei.
- Até.
Quando eu ia saindo...
- Gabriel! - ela chamou e eu me virei.
Ela me olhava com os olhinhos brilhando.
- Sim?
- Eu queria que você fosse meu pai de verdade. - ela falou baixo.
Eu me aproximei novamente dela, me sentei ao seu lado de novo e passei as mãos em seus cabelos.
A olhando agora bem de perto, ela tinha a cara da Mirella. Era uma mistura perfeita. Meus olhos azuis, o rosto com o formato da Melissa e os cabelos iguais ao da minha irmã.
Antes que eu pudesse pensar, ela pulou em meu colo e me abraçou. No começo eu estranhei um pouco, mas fechei os olhos e a abracei de volta. Então, me peguei pensando em como ela era pequena. Pequena e frágil, mas inteligente.
Ela precisava de mim.
- Jura que vem amanhã? - ela perguntou.
- Juro - falei e a soltei devagar
- De dedinho?
- De dedinho. - respondi rindo e ela juntou nossos dedos mindinhos.
- Tchau, Moço.
- Tchau, Bella. - sorri e saí do quarto.
Estranho. Melissa não está aqui.
Desci as escadas e a encontrei na cozinha, de costas para a porta. Quando pensei ter ouvido um suspiro, me aproximei dela por trás.
Ela chorava.
- O que foi? - perguntei, virando seu rosto para mim.
- Nada - ela riu. Sim, ela riu.
Sabia. Ela havia ido lá em cima.
- Você viu, não viu? - perguntei.
- Sim. - ela disse - Sim, eu vi. Foi tão....
- Fofo?
Ela soltou uma risada.
- Para, idiota.
- Lindo? Maravilhoso? - brinquei.
- Para!
- Posso tomar sorvete com ela amanhã?
Seus olhos castanhos brilharam.
- Claro. Claro que sim! - ela riu. - Pode vir a hora que você quiser.
- Tudo bem - falei e ela me acompanhou até a porta da frente.
- Não quer que eu te deixe em casa? - ela perguntou.
- Não, não precisa. Eu ainda preciso pensar. Vai ser bom caminhar um pouco. - falei.
- Tudo bem. - ela disse. - Então, tchau.
- Tchau...
Virei as costas e comecei a andar, mas minha cabeça gritava comigo, então me virei para ela novamente e a puxei para um beijo.
~Melissa~
Ele me pegou de surpresa, claro, mas era a cara dele fazer isso. Surpresas.
Era o nosso segundo ou terceiro beijo, e eu não me cansava.
Nunca.
- Melissa o que você..?
Ouvimos uma voz atrás de nós. Uma voz que eu conhecia até bem demais.
Renato..
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