~Gabriel~
Que pergunta era aquela? A resposta era óbvia.
Mas como uma garotinha de 10 anos pensa assim? Claro que ela quer ver a mãe e o pai juntos, mas Bella é direta demais.
– Só depende da sua mãe – foi o que respondi.
~Melissa~
No sábado, teve a festinha da Bella no salão de festas. Gabriel disse que seria melhor ele não ir por enquanto. Quer dizer, eu não sei o que nós temos, mas estou gostando disso.
Bella e as amigas aproveitaram até. Todos os amiguinhos da escola dela foram e se divertiram até o final. Ela gastou o domingo todo abrindo presentes e brincando com eles, ou se olhando no espelho com acessórios e roupas, coisas que ela amava.
Mas na segunda, eu tive que faltar ao hospital, pois Bella chegou brava da escola, batendo portas e jogando as coisas no chão.
– Que isso, Bella?! O que foi?! – perguntei.
– Aquela vaca daquela professora nova!
– Que professora nova?
– A minha antiga professora de ciências saiu da escola e entrou essa coisa chata! Ela me odeia!
– Para de gritar, você está assuntando a Luka! – peguei a cachorrinha no colo.
– Mãe, você ouviu? Ele me ODEIA! Pedi pra sair da sala, ela disse não, e deixou todo mundo que pediu! Aí eu xinguei ela!
– Você fez o que?!
– Eu xinguei ela, mãe! Ficou surda?
– Me dê 3 bons motivos para não te deixar de castigo – falei séria.
– Ela não me deixou ir no banheiro, eu tava morrendo de vontade de fazer xixi, deixou sair todo mundo que pediu sair, e não gosta de mim!
– Não me convenceu. Está de castigo.
– O que?! Aquela vaca não gosta de mim e eu que fico de castigo?!
– Bella, olha essa boca! – gritei – Sobe para o seu quarto agora, e sem tablet!
– Odeio aquela idiota... – ela subiu as escadas, desceu, pegou Luka do meu colo e subiu de novo – ELA CHAMOU VOCÊ E O PAPAI PARA IR LÁ HOJE. – gritou do quarto.
– Você tá bem encrencada, mocinha!
Peguei o telefone e disquei o número de Gabriel.
– Oi, Mel.
Estremeci.
– Oi... Você está ocupado hoje?
– Na verdade, não. Tenho faculdade á noite. Por quê?
Ele fazia faculdade?
– Bom... Porque a nossa filha fez uma pequena merda na escola. Fomos chamados lá.
– Essa é minha garota – percebi sua voz alegre.
– Gabriel!
– Estou brincando! Eu passo aí para te buscar.
– Daqui meia hora?
– Marcado.
Desliguei e fui trocar de roupa.
Do que será que ele fazia faculdade? Desenho? Pintura? Exatas? Engenharia? Todas essas coisas eram a cara dele.
– Olá – ele me cumprimentou assim que chegou – Bella vai junto?
– Não, está de castigo – entrei no carro e ele deu partida.
– O que ela fez, afinal?
– Eu acho que ela não me contou a história inteira, mas disse que xingou a professora.
Ele soltou uma risada alta, gostosa de se ouvir.
– Deixou ela de castigo por causa disso?
– Vai dizer que é certo xingar uma professora?
– Eu fazia isso direto!
– Eu lembro! – ri – Você era o terror na escola!
– E Bella vai passar isso a diante!
Eu dei um tapa em seu braço.
– Está orgulhoso dela?
– Claro! Ela é igualzinha ao pai dela. Só falta mais algumas advertências para ficar quite.
Eu ri.
– Não começa com suas ideias, hein!
– Que ideias? Sou um santo – ele colocou a mão na minha coxa.
Quando éramos mais novos e andávamos de carro, era assim que ele dirigia. Vidro aberto, olhando para a rua, uma mão no volante e outra em minha perna.
Ele não perdeu essa mania.
– Sim, sim.
Chegando lá, fomos até a sala onde Bella tem aula, a professora nos esperava lá.
Ela estava de costas, olhando pela janela que tinha vista do parquinho, e quando se virou, vi Gabriel ficar tenso.
– Vocês devem ser os pais da Bella. – ela disse, dando uma medida de cima a baixo em Gabriel.
– Sim – falei.
– Sou Ella – estendeu a mão.
– Sou Melissa, e esse é o...
– Gabriel – ela me cortou – Eu me lembro de você.
Ella conhecia Gabriel?
Pelo olhar safado que ela deu nele, percebi que conhecia muito mais do que eu esperava.
– Sentem-se – ela disse – Chamei vocês aqui porque Bella teve o comportamento meio alterado hoje, mas, claro, se eu soubesse que você era o pai dela, teria te chamado para outro lugar.
Que atrevimento era esse mesmo?
Quando eu ia falar alguma coisa, me calei. Eu e Gabriel não estávamos namorando, nem nada. Então, bem... Eu não podia falar nada.
– Voltando ao assunto da Bella... – falei.
– Sim, bom, ela estava colando na atividade, e como castigo, não a deixei sair. Ela me xingou de algo que me recuso a repetir e fez todos os colegas rirem de mim. A filha de vocês me ridicularizou na frente de todos e eu pensei muito bem antes de manda-la para a direção.
Bella, você está muito ferrada, pensei.
Ella era meio ruiva, olhos castanhos, o cabelo preso em um coque. Não parecia ter mais de 30 anos. Um corpo até que bom, se julgar pela idade.
– Só isso? – perguntei – Ou tem mais?
– Se tivesse mais, vocês teriam vindo buscar sua filha na coordenação – ela respondeu cínica.
Estava na cara que ela estava com ciúmes e inveja por eu ter uma filha com Gabriel, seja lá o que eles tiveram.
– Se for para responder assim, não precisaria ter chamado – falei.
E Gabriel continuava quieto.
– Se eu soubesse que ele era o pai dela, eu não teria escrito "pais" na agenda. Seria só "pai".
– Que ótimo, então pode ficar com ele aí.
Dizendo isso, saí da sala. Professora abusada, idiota, ridícula! Tem cara de pônei e fica dando uma de gostosa!
Ah, tenha a santa paciência!
Ao chegar no estacionamento, parei. Me lembrei que eu tinha vindo com Gabriel, o carro era dele, as chaves estavam com ele.
Merda.
Saí do lugar a pé, e comecei a andar pela avenida.
Cinco minutos depois, alguém estaciona perto de mim e buzina. Eu não paro de andar, pois sei quem é.
Gabriel me acompanha com o carro enquanto ando, tentando me convencer a ir com ele.
– Não estava bom lá com ela? – perguntei – Pode ir lá com aquela vadia, já que ela nem teria me chamado.
– Para de criancices e entra nesse carro, antes que você seja assaltada! – ele falou alto – Anda logo, Melissa.
Bufei e entrei na droga do carro, batendo a porta com força de propósito.
– Olha...
– Não fala comigo – falei.
Fomos até em casa no completo silêncio.
Desci do carro e abri o portão e a porta, quando pensei que Gabriel iria embora, ele desceu do carro e veio até mim. Minha vontade era fechar a porta, mas o encarei.
– Fala. – falei seca – O que aquela cara de cavalo teve com você? Mais uma vagabunda que você pegou?
– Não.
– Então o que ela era?! Pra te comer com os olhos daquele jeito, teve que ser uma coisa bem importante pra você!
– Ela era minha ex namorada.
– O que?!
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